28/04/2014

PONTUARÁ, SIM ("POR TE AMAR ASSIM", DE MARLON & MAICON)

Você filou de mim quando eu tinha a ata
Presenciou a classe sempre aplicada
Colou sem professor ter te fiscalizado
Ter nome esquecido na prova? Quem manda
Resposta assinalada ficar vendo? Anda
Sem revisar você, pois quer ser reprovado?

Zerar
Recreio pra você estudar, sim
Zerar
Mesmo que apostila tenha que testar
Tudo é decorado pra conhecimento

Pontuará, sim
Para faculdade está garantido
Porque teu professor dará o gabarito
Vai obtendo pontos, faz o exercício
Pontuará, sim
Concentrado em prova, logo vai fechá-la
Concentra em teu teste, marcando exata
Pra universidade, obtenha vaga
Pontuará, sim
Pontuará, sim


Pontuará
Assim vou estudando... Uma prova cansa!
Assisto às suas aulas, do mestre que conta
Do meu professor que me influencia
A turma vai passando, tendo como norte
O teste e simulado, sem ponto de corte
Testando os alunos que farão o ITA


Pontuará, sim

27/04/2014

OS INATACÁVEIS/ CAPÍTULO 4: EM PERIGO

Paulo põe a cabeça pra fora do caminhão e vê que diversos populares estão observando os cadáveres jogados no chão, completamente abismados com a impactante cena. Eles veem que da viatura policial começa a sair uma fumaça. O veículo começa a pegar fogo. O assaltante e líder do grupo não hesita: abre a porta e sai correndo.
-Vem logo, Rebeca!- fala em tom baixo, desesperado, ao se aproximar de Alexandre- O carro “tá” aqui perto.
-Não sem ele. O Alexandre não pode ficar. Ele ainda “tá” respirando!
-Dane-se o Alexandre! Pode morrer aí, que ninguém se importa! A gente tem que sair daqui.
-E se ele sobrevive, Paulo? A polícia pode forçar ele a dizer toda a verdade!
-Não seja por isso... Se afasta!- aponta o revólver para o comparsa desmaiado.
-Guarda essa arma, tem gente nessa avenida olhando! Daqui a pouco mais policial chega! Leva o Alexandre pra casa! Não complica mais a situação.
-Vou levar, sim- abre a porta- Mas pra dar um fim nele lá mesmo, nesse imbecil!- carrega o cúmplice, para em seguida Rebeca sair do caminhão. Os três entram no carro, e a moça é quem o dirige.
Paulo não consegue esconder o desconforto por estar se arriscando cada vez mais, enquanto a moça age friamente, para não levantar suspeitas.


Na prisão, voltando ao tempo atual, Irandir arde em febre na cela enquanto chama por um único nome.
-Bianca... Bianca... – Murilo se levanta e vai até a cama do companheiro de cela.
-O que é que você tem, Irandir? Acorda!- o prisioneiro desperta.
-O que houve?
-Você “tá” queimando de tanta febre.
-Não... Vai ficar tudo bem. Depois passa.
-Passa nada. Tem que chamar alguém pra tirar você daqui. Você “tá” doente, tem que vir alguém pra te dar uma medicação.
-Já disse que isso não vai demorar. Daqui a pouco eu melhoro.
-Quem é que você “tava” chamando agora há pouco, quando dormia?
-Eu chamei alguém?
-Uma tal de Bianca. Chamou umas duas vezes. Nunca falou esse nome aqui dentro.
-O nome da minha filha. É verdade, nunca falei dela aqui com ninguém.
-Filha? Mas você não recebe visita nenhuma. Pelo menos desde que eu cheguei aqui, não vi ninguém te visitando.
-Pedi pra minha mulher não deixar a Bianca vir me ver. E mesmo se eu deixasse, não sei se ela ia conseguir.
-Por que não? Ela não tem saudade?
-Morre de saudade de mim, mas não sei se consegue. ”Tá” fazendo um tratamento.
-E enquanto ela “tá” doente, você fica preso...
-Só fui preso por conta dela! O pastor, por acaso, pensa que é o único a fazer sacrifício pelos filhos? O único que é acusado de roubo pra salvar um filho? Mas não é, não. Não é mesmo! Roubei pra conseguir comprar os remédios que ela tava precisando. Se você visse o estado que ela “tava”, não pensava duas vezes antes de assaltar uma loja.
-Nunca falou da sua vida... Irandir, eu nem imaginava que você “tivesse” aqui por causa de uma filha.
-Se ela “tiver” com saúde, eu passo a vida trancado aqui nessa cela.
-Pelo menos, você sabe que um dia vai sair daqui.
-Como você também vai.
-Não é a mesma coisa.
-Em que você é diferente de mim, pastor?
-Quando você sair, vai encontrar um mundo que te odeia e uma filha te esperando, ainda que ela esteja doente. Porque a cura é difícil pra gente encontrar, mas nunca pra quem pode dar. Sua crença vai fazer você ver que o difícil e o impossível não existem. Já quando eu sair, vou encontrar o mesmo mundo me odiando e um filho que... Olha, eu nem sei se vou encontrar. Às vezes, eu fico pensando que, agora que eu “tô” preso aqui, alguma coisa pode ter acontecido e eu não pude impedir.
-Você “tá” falando da morte do seu filho?
-É um risco que eu tenho que correr. Mais um dos riscos que o meu filho me trouxe...


Natália tenta se explicar perante Murilo e Verônica.
-Por favor, vamos por partes. O filho de vocês não está em casa, é isso?
-Não, senhora. Não está- Verônica responde com pesar.
-Bom, então... Têm ideia de qual hora eu posso vir pra conversar com ele? Ou onde eu posso encontrá-lo?
-Senhora...
-Pode me chamar de Natália.
-Se o assunto é tão urgente pra falar com ele, é melhor a gente contar de uma vez.
-Murilo, não!
-Contar o quê?
-Murilo, eu proíbo você!
-Verônica, pode ser algo grave! Ela tem que saber.
-Mas a gente nunca viu essa mulher antes, você já quer falar da nossa vida particular?
-Da nossa, não! Do “Gigante”, que faz questão de nos envergonhar.
-O que está acontecendo, eu posso saber?
-Natália... É esse seu nome?
-Isso.
-O... O “Gigante” desapareceu.
-Como desapareceu? Foi raptado?
-Não, ele... Fugiu.
-Agora chega, Murilo!- Verônica levanta a voz para o marido- Chega! O que você quer? Me torturar com isso? O que você “tá” fazendo, comigo e com o seu filho é desumano, será que você não vê?
-Ele não é inocente, Verônica! Entenda!
-Não vou mais discutir com você sobre esse assunto! E você? Quer falar o quê com o meu filho?
Célio chega correndo à casa de Verônica e Murilo.
-Aconteceu uma desgraça!
-Com meu filho?
-Não, Murilo. Lá na igreja!
Verônica observa tudo afastada do marido, sentindo que a situação foi causada por seu filho.
-O que foi que aconteceu, Célio?
-Lar Celestial foi roubada!
-A igreja? A igreja de vocês foi assaltada? Mas o que levaram?
-O dinheiro das ofertas que ia servir pra comprar os seis bancos do templo.
-Célio, você tem certeza do que está dizendo?
-Não só tenho, Murilo, como também sei quem é o responsável por isso!
Verônica acaba desmaiando perto do sofá da sala.
-Verônica?- Murilo corre para acudi-la- Verônica, o que você tem? Fala comigo, Verônica!- Natália segura o pulso da esposa de um dos pastores.
-Ela está muito fria.
-Façam alguma coisa!
-Eu vou chamar a ambulância... – Murilo pega o celular.
-Não. Eu vou chamar um táxi. Nós vamos levá-la ao hospital- Natália começa a discar o número, e Murilo fica ainda mais apreensivo, já que continua sem saber o verdadeiro motivo da visita.


Rebeca abre a porta do apartamento.
-Vem rápido. Leva ele pro quarto- Paulo carrega Alexandre e o leva até o quarto do rapaz, onde o coloca na cama- Agora, pega uma tesoura e abre a camisa dele.
-Onde é que você vai?
-Vou buscar os instrumentos- A tesoura “tá” dentro da gaveta, não demora.
-Em qual gaveta ela colocou? Cadê... Ah, tá aqui. Achei!- fecha a última gaveta, quando olha para o rosto de Alexandre, ainda desacordado, segurando a tesoura com muita força- Melhor mesmo eu não me arrepender de deixar você vivo, Alexandre.
Rebeca volta ao quarto com um saco plástico transparente de instrumentos médicos.
-Você ainda não fez o que eu disse? Não dá pra perder tempo, Paulo! O cara pode morrer!
-“Tá”, “tá”, eu já vou cortar a camisa dele- vai ao outro lado da cama e faz a abertura necessária.
-Agora eu preciso que você fique segurando a cabeça do Alexandre.
-Rebeca, é arriscado deixar esse cara vivo.
-O Alexandre já “tá” aqui, Paulo. Se ele morrer, é pior. E a gente deu sorte de não ter visto ninguém no prédio, senão a polícia viria atrás da gente- Rebeca abre o saco e tira uma seringa cheia- Estende o braço dele.
-O que é isso?- pergunta, após obedecê-la.
-Anestesia, pra ver se ele aguenta a dor.
-O Alexandre “tá” muito pálido, Rebeca, ele não vai aguentar.
-Tem que aguentar. Além do mais, gente numa situação pior que a dele eu já vi não sei quantas vezes...
Com um bisturi, abre um pouco mais a ferida que está no corpo do assaltante. Em seguida, ela extrai a bala que o vitimou.
-Conseguiu...
-Agora é só fazer os pontos. Assim, ele vai parar de perder sangue.
-Mas e se ele não sobreviver?
-Depois a gente pensa em como se livrar do corpo. Mas do jeito que eu deixei, duvido que ele morra.
-E o dinheiro?
-Guardei no mesmo lugar que peguei os instrumentos. Se eu não tivesse roubado do hospital que eu trabalhava, o que ia ser dele agora?
-Você não acha que “tá” preocupada demais com esse cara?
-Me poupe disso, Paulo. É desse cara que depende a nossa liberdade.
-Por isso que eu achei melhor ter dado um fim nele ali mesmo.
-O idiota matou três policiais.
-E fez certo. Fez porque eu disse pra ele fazer. Se não fosse isso, a gente tava preso.
-Fez certo o escambau! Você atirou contra os policiais antes de eles passarem na frente do caminhão. Se eles sobreviveram, reconheceram a nossa cara. Quer mais uma morte nas costas pra quê? Raciocina, Paulo! A gente tem que calar a boca do Alexandre dando dinheiro pra ele, como ia ser desde o começo.
-Esse moleque que não me falhe, hein?
-Não vai falhar. Isso, eu garanto- o beija.


No corredor do hospital, Natália e Murilo esperam por notícias sobre o estado de saúde de Verônica, até que o médico chega.
-Qual de vocês é parente de Verônica Nobre?
-Sou marido dela. Como ela “tá”, doutor?
-Foi uma brusca queda de pressão, mas já normalizamos. Talvez tenha sido causada por algo de fundo emocional, alguma notícia que ela recebeu recentemente. Sua esposa vai ficar em observação por mais algumas horas. Depois, eu vou liberar pra você irem pra casa.
-E que recomendação o senhor faz?
-Aconselho que não a perturbem, que evitem qualquer tipo de desgaste. Não sabemos quando isso pode acontecer de novo. Por isso, poupem a Verônica de situações desagradáveis.
-Tudo bem. Muito obrigada, doutor.
-Posso entrar pra falar com ela?
-Sim, pode. Coloquei uma medicação contra a hipotensão no soro. Já está tomando. Pergunte ao rapaz da vigilância em que enfermaria ela está. Vocês vão me dar licença, mas eu tenho que atender os outros pacientes. Com licença.
-Melhor eu entrar, então.
-Não, por favor. Fica mais um pouco. Eu quero conversar com você. Aliás, com você e com a sua mulher, mas ela não está em condições ainda.
-Você foi à minha casa, mas não disse por quê. Sabe alguma coisa do meu filho?
-Do paradeiro dele, não. Eu nunca imaginei que ele tivesse desaparecido, não conheço as razões dele. Mas eu fui lá pra conhecer o “Gigante”.
-Que relação é a sua com ele? Não, não pode ser. ... Já sei: ele te roubou, não foi? A senhora vai denunciar meu filho?
-Murilo, não é nada disso. Queria conhecer o “Gigante” e falar com vocês por outro motivo. Tão ou mais sério que o desaparecimento dele.
-Eu não entendo.
-Como é que eu posso dizer isso pra que você me entenda?
-Seja o que for, não me esconda nada. Eu estou preparado pra ouvir qualquer coisa sobre o “Gigante”.
-Na verdade, sobre mim. Sou filha do Getúlio Veronese.
-Getúlio? Esse nome... Não consigo me lembrar.
-Foi o médico que ficou responsável pela fertilização in vitro da Verônica, sua mulher, que não conseguia ter filhos.
-Sim. Sim, agora eu me lembrei dele. Se não fosse ele, eu nunca conseguiria ser pai. Eu realizei o maior sonho da minha vida, e a minha mulher também.
-Verônica não realizou sonho nenhum. Você sim.
-Como assim “não realizou”? Nós temos um filho de dezoito anos.
-Vim de São Paulo pra contar toda a verdade pra vocês. Têm que saber de uma vez por todas...
-Que verdade? Do que a senhora “tá” falando?
-O ”Gigante”... O “Gigante” é seu filho, mas a Verônica... Não é a mãe dele.
-A senhora só pode ser louca... Que absurdo é esse? O “Gigante” não é filho da Verônica... Vai ser de quem, então?

-Sua esposa foi barriga de aluguel. O “Gigante” é seu filho, e a Verônica o gerou, sim. Mas o óvulo que estava nela era o meu. Meu pai não fez uma simples fertilização in vitro... Enganou a mim e a vocês dois. Você e a sua esposa não têm filhos em comum, porque a mãe do Gigante sou eu!

20/04/2014

OS INATACÁVEIS/ CAPÍTULO 3: EM CONFRONTO



Diversos presos começam a gritar, chamado por qualquer carcereiro que possa ajudá-los. Um homem está passando mal na cela que fica em frente à que está trancando Murilo e Irandir.
-O que é que esse homem tem?
-Problema de coração. Vez ou outra, ele tem esses ataques.
-Alguém tem que fazer alguma coisa. Esse homem vai acabar morrendo! Carcereiro!- começa a gritar- Alguém traz ajuda aqui!
-Não adianta, Murilo. Esse velho já passou mal não sei quantas vezes. Nunca ninguém faz nada.
-Como não faz? Tem que chamar um médico! E se esse homem morre?
-Sem médico. Faz mais de três meses que nenhum atende aqui. Acorda pra vida, rapaz. A gente “tá” num presídio! O Estado tem que proteger a gente, mas parece que a gente “tá” é solto por aí. Sem médico, droga rolando, o pessoal falando ao celular negociando droga, dinheiro e a vida dos outros. Não é o primeiro.
-Já foi, já foi... – fala um dos presos, sinalizando que o detento acaba de falecer. Os outros presos da cela se afastam.
-Ninguém... – Murilo lamenta, olhando para a cela- Ninguém foi até a direção pedir um médico?
-Pra quê?
-Alguém tem que interceder. E se isso acontece com outro?
-Já aconteceu, Murilo. Eu acabei de dizer. Com essas perdas a gente se acostuma. Só não aconteceu mais porque no mês passado, muita gente conseguiu fugir na rebelião.
-Só espero que, apesar disso, ele tenha encontrado a paz.
-Nesse inferno?
-A gente não sabe o que se passava no coração dele. Não posso julgar, você também não.
-Vai dizer que dentro de você, não culpa seu filho por toda essa desgraça?
-Culpo, mas não deixo de amar.
-Nunca mais você teve notícia do... Como é que vocês chamavam ele?
-Gigante. Apelido caiu como uma luva. Na igreja, a gente diz que gigante é uma adversidade, mas que ela é menor do que o nosso Deus. Talvez o meu filho seja a minha adversidade... –chora- Meu próprio filho, minha adversidade.


O caminhão com as revistas chega à loja de conveniência de um posto de gasolina, alvo de Paulo, Rebeca e Alexandre. O terceiro entra no local, um pouco tenso, mas se dirige à balconista.
-Onde é que fica batata frita?
-No último corredor à direita, lá no fim.
-Valeu- pega uma cesta e vai ao local indicado. Assim que os entregadores da editora chegam, cumprimentam a moça. Alexandre começa a colher diversos itens e os coloca na cesta. Não observa, portanto, que os dois rapazes conversam com a balconista.
Do lado de fora, Rebeca e Paulo colocam seus capuzes e arrancam as placas do caminhão. Paulo faz um sinal de que está pronto a entrar com a cúmplice, e o terceiro jovem vê pela vitrine da loja. Alexandre se abaixa, quando...
-Todo mundo abaixado! Todo mundo pro chão, agora! Anda, anda logo! Fica no chão- assustados, obedecem a Paulo. Alexandre tira a camisa azul, desviado da única câmera de segurança que há no local. Rebeca pula até o caixa, também munida de um revólver.
-Abre a caixa registradora logo. Ninguém vai machucar você!- a jovem ameaça.
-Por favor, não faz nada comigo! Eu tenho filho pequeno...
-Vou fazer se você não tirar o dinheiro todo! Vai! Rápido!
Alexandre tira outra camisa que está vestindo, de cor preta e, sem ser percebido pelo circuito interno, joga-lhe sobre a lente. Após isso, pega a camisa azul e a cesta, correndo para o lado de fora. Os dois entregadores estão sob a mira de Paulo, e não veem o rapaz saindo. A moça, assustada, coloca tudo num saco preto entregue por Rebeca.
Alexandre volta a vestir a camisa azul que estampava dentro do posto. Logo tira de seu bolso duas luvas e uma chave, abrindo com esta a porta do caminhão.
-Pronto?- Paulo pergunta à Rebeca.
-Tudo limpo.
-Agora você se abaixa! Se abaixa, pô! Eu”tô” mandando!- começa a gritar com a balconista- Olha só, essa é pros três, hein? Vocês vão contar até cinquenta e com a cabeça abaixada. Quem levantar antes disso leva um teco, “tão” entendendo? Começa a contar, vai!- aproxima a arma da moça que, chorando, continua a lhe obedecer. Os outros fazem a mesma coisa até que Paulo e Rebeca saiam da loja e encontrem Alexandre, que passa a dirigir o veículo.


Ao final de um culto vespertino na Igreja Lar Celestial, Célio Rebello canta um louvor enquanto recolhe os dízimos de alguns fieis. Todos os irmãos saem cantando o hino. O pastor é o mais entusiasmado, sempre dando um jeito de olhar para a cesta, repleta de dinheiro. Sobe até o púlpito, sem perceber que Natália, que o observava desde o final do culto na porta da igreja, o segue com um olhar de seriedade.
-A paz do Senhor, irmã.
-Amém- responde sem saber se é assim que se responde tal cumprimento.
-Desculpe, irmã, mas eu não me lembro da senhora aqui. É recém-convertida?
-Nem convertida sou- isso faz Célio ficar mais sério- Na verdade, eu entrei porque precisava de uma informação.
-Devia ter chegado mais cedo. Tenho certeza de que ia achar o nosso culto uma maravilha- Natália olha para o pastor, ainda segurando a cesta.
-Pro senhor deve ter sido mais, sem sombra de dúvida. Acompanhei o final do culto e esperei para falar com o senhor. Como é pastor daqui, vai saber me informar com precisão.
-Vejo que é urgente... Diga, o que quer saber?
-Onde está o pastor Murilo Nobre?
-O irmão Murilo não compareceu hoje à igreja. É muito estranho, ele nunca falta.
-Tem ideia de onde posso encontrá-lo?
-Ele mora nessa mesma rua. No final mesmo, a última casa do lado direito, de primeiro andar. Será que eu não posso ajudar? Também sou pastor daqui.
-Meu assunto é pessoal.
-Bom, se é assim... Só seguir o que eu falei.
-Obrigada- recoloca a bolsa em seu ombro e segue até a casa de Murilo.


Na residência de Murilo, Verônica está insone, com a mesma roupa da noite passada, na qual esperou Gigante chegar.
-Meu amor, vem almoçar. Você não comeu nada o dia todo.
-Não sinto fome, e eu não sei como você pode sentir com o seu filho desaparecido.
-Tudo o que eu fiz estava ao meu alcance, Verônica. Eu não posso jogar a toalha porque acho que o nosso filho tem jeito. Mas foi uma escolha dele.
-Que escolha é essa? Um filho escolhe abandonar os pais e sumir no mundo sem dar notícias? De onde está, se está bem, com quem está, o que anda fazendo?
-Sabemos o que ele fazia e faz.
-Por favor, não!
-O que a gente ganha fingindo que as coisas estão normais, Verônica? Ele começou... Começou roubando coisas dentro de casa, pegando nossos objetos pessoais pra comprar coisas que ele dizia ter direito, já que nunca tirei um centavo da igreja... Depois, entrou na casa dos vizinhos. Eles chamaram a polícia, mas só a gente sabia do que ele era capaz. Foi um milagre ninguém saber de nada
-Meu filho não é nenhum bandido, Murilo!
-Mas o meu é. Você sempre foi uma mãe carinhosa, protetora ao extremo, mas passou a se cegar. Fechou os olhos pra tudo que o Gigante vinha fazendo, mesmo com todos os exemplos que a gente sempre deu.
-O Gigante vai voltar! Eu tenho certeza disso, como eu tenho de morrer!
-Eu creio nisso. Você não sabe o quanto eu oro pra que ele se volte pro caminho de luz que ele seguia, Verônica. Mas eu abomino a mentira, e eu não vou mentir pra nós dois. Nosso filho é bandido, sim.
A campainha toca e Murilo vai atender.
-Eu estou procurando... – olha para o pastor- O senhor é Murilo Nobre?
-Sou. A senhora “tá” me procurando?
-Não. Procuro o seu filho. Tenho que falar com ele uma coisa urgente.
-Urgente? A senhora sabe onde ele está?
-Como “onde está”? Essa é a casa dele, não é?
-Eu sou o pai dele.
-E eu sou a mãe- Verônica se aproxima, curiosa.
-Ah, a mãe dele...
-O que é que a senhora quer dizer pro meu filho?- Murilo fica apreensivo, pensando que Natália pode saber de algo sobre o paradeiro de Gigante.


Célio vai até a urna que, há pouco tempo atrás, foi verificada por Murilo quando recebeu a oferta de Ivone para obras na Igreja Lar Celestial.
-Onde é que Murilo colocou a chave da urna? Não “tô” achando... Olha para o chão, nas proximidades da porta do recinto, onde o molho está caído. Apanha-o e se surpreende ao ver apenas a quantia entregue pela frequentadora.
-Não é possível... Sumiu... O dinheiro sumiu! Mas quem foi que roubou o dinheiro que... – começa a vasculhar em algumas gavetas, até que um único nome lhe vem à cabeça.
-Murilo... Ele sabe de alguma coisa. Ele deve saber do paradeiro desse dinheiro. Tem que saber!- coloca o montante que recebeu no culto vespertino na urna, para depois fechá-la e sair correndo.


Alexandre dirige o caminhão em alta velocidade. Rebeca se assusta.
-A gente não tá indo rápido demais? Não vai dar tempo nem dos dois entregadores prestarem queixa.
-Não, ele “tá” certo. A gente não pode bobear.
-Por favor, Paulo! Nós dois tiramos as placas do caminhão, não tem como eles acharem a gente. Pra completar, essa avenida não tem uma blitz sequer.
-Tô dentro do limite, Rebeca.
-Olha pra frente, Alexandre!- Paulo o repreende por se distrair.
-A gente vai pra onde agora, Paulo?
-Pra casa, não. Se alguém reconheceu a gente, vai ser o primeiro lugar onde vão procurar. Alexandre vai deixar o caminhão num lugar qualquer e a gente vai se hospedar numa pensão. Como a gente é novo no apartamento, ninguém vai dar pela nossa falta em dois dias. Só até a poeira abaixar.
-Paulo, “tão” seguindo a gente- o condutor olha o retrovisor.
-Quem?
-A polícia! Já “tá” bem atrás. Agora foi pro seu lado!
-Droga!- tira a arma do bolso.
-Paulo, não!- Rebeca implora.
-Não “tô” disposto a perder a minha liberdade, nem qualquer centavo desse dinheiro- coloca a arma para fora do caminhão, atirando contra a viatura duas vezes.
-Atira no pneu deles- Alexandre grita ao volante.
-Eu vou é matar quem “tiver” lá dentro. Só eles sabem da gente!
-Pra onde eles vão?- Rebeca vê a viatura se afastando e aumentando a velocidade cada vez mais.
-Desvia pra esquerda, Alexandre- o rapaz fica nervoso e acaba passando da curva que lhe é recomendada. Não vai dar pra recuar!
-Para o caminhão, ele vai bater!- Rebeca grita, ao perceber que a viatura se atravessa em plena avenida, o que impede a passagem dos outros veículos.
-O que é que a gente faz agora?
-Passa por cima!- sugere Paulo.
-Você ficou maluco?
-Ou isso ou a gente vai pra cadeia, Alexandre! É isso que você quer?
Dois policiais descem da viatura apontando armas e um delegado grita para os bandidos.
-Vocês não têm mais saída! Saiam do veículo imediatamente! Estão presos!
-Avança com o caminhão! Passa por cima!
-Eu não posso fazer isso!
-Melhor se entregar, Paulo!
-Avança com esse caminhão agora, Alexandre! Vai!
O garoto pisa no acelerador enquanto chora. Os policiais se aproximam.
-Vão matar a gente!- grita um deles.
-Atira! Atira pra ele parar!- o delegado ordena.
O segundo, sem recear, atira uma única vez em Alexandre, que cai desmaiado ao lado de Rebeca. O veículo avança e atropela os dois oficiais, batendo na viatura policial, jogando o delegado para o lado oposto da via.
Mas Paulo e Rebeca não saem ilesos quando Alexandre, ao não conduzir o veículo, bate numa árvore próxima aos destroços da viatura. A moça fica com um ferimento nos lábios e se apavora com Alexandre ao lado, baleado pela polícia. Ela coloca a mão no pulso dele.
-O Alexandre...
-Dançou, Rebeca. Já era.