(ABERTURA)
CENA 1
(fundo
musical: “Sentença (Voltech, Ethernal Soul and Deep motion remix)”- “só a minha
ausência/ vai te fazer notar/ quem realmente sou”)
Sorumbático,
Vlad está sentado num dos balanços do Colégio Providencial e relembra seu
“romance” com Letícia.
LETÍCIA:
E aí, curumim? Quer namorar comigo?
VLAD:
Oi?
LETÍCIA:
Tô falando sério. Quer ou não?
VLAD:
O que é que você viu em mim?
LETÍCIA:
Você tem cara de ser galã de filme internacional (pensa) Que mentira, uma
tartaruga ninja dessas...
VLAD:
Tá bom, eu aceito.
Em
seguida, sua mente retoma a revelação que Amanda lhe fez sobre Letícia.
AMANDA:
A Letícia, ela... Ela tá te usando.
VLAD:
Peraí, Amanda. Que história é essa?
AMANDA:
Ela namora outro carinha, o Jean. Ele é do terceiro ano.
Por
fim, o término com a adolescente mentirosa.
VLAD:
E o que foi aquilo que você me falou tem dois dias?
LETÍCIA:
Foi só pra que ele visse. Tá doido que eu vou querer um cara feito você, com o
Jean perto de mim?
VLAD:
Não precisa mentir mais, não. Agora vê se me faz um favor: até o dia que você
quiser estudar em outro lugar, não olha na minha cara. Aproveita o Jean, já que
ele deve ser melhor que eu.
Um
dos meninos que está perto do balanço comenta com outro.
ESTUDANTE
DO COLÉGIO PROVIDENCIAL: Deixa eu abaixar aqui pra me sentar...
Acontece
que um dos bancos está sobre a estrutura de madeira, ao mesmo tempo que Vlad
permanece distraído em cima do outro assento, este posicionado de maneira
correta. Entretanto, ao tentar tirar o banco da alta posição em que estava, o
estudante acaba acertando a cabeça da jovem versão de Vlaviano, levando-lhe ao
desfalecimento e causando-lhe um galo na testa.
(fundo
musical: “Se a gente pode sonhar (Zerky remix)”- parte instrumental)
CENA 2
Maria
Clara toca a campainha da casa de Paloma inúmeras vezes. A jornalista chega
perto da porta.
PALOMA:
Mas o que é isso aí fora, hein? Vai tirar a mãe da forca? (abre a porta) Ah, me
enganei: quem tá na forca é você. Maria Clara Anveres... Realmente eu não
esperava que você viesse até mim. A que devo a desonra da sua visita? Já sei:
deve estar tão desesperada a ponto de me pedir pra parar de fazer matérias
contra você. Reportagens que, segundo a dona da Pharmanveres, são totalmente
sensacionalistas. Mas tenho certeza de que ninguém pode impedir o trabalho da
imprensa. Muito menos você, que nem sequer está no pedestal que sempre te
colocaram. Portanto, acho bom você tomar muito cuidado, porque qualquer escuta
ou câmera escondida pode revelar o que você veio exigir de mim, e eu não sou
mulher disposta a concessões. Desculpe, queridinha, mas os meus princípios não
permitem que eu troque palavras com pessoas criminosas. Dê meia volta e suma
daqui.
MARIA
CLARA: Olha, se eu fosse realmente a criminosa que você quer que eu pareça pra
todo mundo, eu já teria te dado a lição que você merece. Mas você tem razão.
Uma mulher digna como eu não tem nada pra fazer aqui. (fica de costas para
Paloma) Só que uma criminosa tem. E eu vim pra corrigir o erro.
PALOMA:
Exatamente do que você tá falando?
MARIA
CLARA: Eu não sou uma delinquente, Paloma? Acertou. Mas meu crime não é nada
relacionado ao que tanto propaga naquele programa mequetrefe que você
apresenta. Sabia que eu vou ser indiciada, muito em breve, por lesão corporal?
PALOMA:
O quê? A poderosa da indústria farmacêutica sentando a mão na cara dos outros?
Essa história me interessa e muito. Fala aí: quem foi a vítima?
MARIA
CLARA: “Quem foi” não. “Quem é”.
(fundo
musical: “À francesa (Extended club mix)”- parte instrumental)
Paloma
leva uma bofetada e põe a mão no rosto, assustada.
Estamos
apresentando “Catch back”.
(fundo
musical: “Linha de fogo (DJ Corello soul inside remix)”- “dance, dance, dance
mania”)
NARRADOR:
Ele tem um futuro brilhante nas mãos, e o seu sucesso está lhe levando a
lugares inimagináveis.
FLÁVIO:
Qual é o nome do quadro mesmo?
ALAN:
“Mano Liso”. Muito realista.
NARRADOR:
Só que o desaparecimento de seu maior inimigo vai lhe colocar na mira da
polícia.
ALAN:
Mas eu não matei. Jamais matar-lhe-ia.
ERASMO:
Por acaso alguém aqui falou em matar?
(fundo
musical: “Aqueous”)
NARRADOR:
“Confissões prolixas de um exíguo mesoclítico”. Neste domingo, depois do
“Elástico”, no seu “Dormindo melhor”.
Voltamos
a apresentar “Catch back”.
(fundo
musical: “Linha de fogo (DJ Corello soul inside remix)”- “dance, dance, dance
mania”)
PALOMA:
Você ficou lesa de vez, foi? Como é que você tem coragem de vir até...
MARIA
CLARA: A Nicole confessou tudo, imbecil. Todos nós sabemos que você e ela
estiveram juntas esse tempo todo pra me incriminar. Que a culpa da intoxicação
das minhas cobaias é dela, orientada por você.
PALOMA:
Que fanfic pai d’égua que você
inventou, hein, Maria Clara? Será que você tá inspirada depois de se envolver
com o escritorzinho de nota de rodapé?
NARRADOR:
“PAI D'ÉGUA”: algo ou alguém muito bom.
MARIA
CLARA: Olha só que curioso, Paloma: se essa história fosse verdade mesmo,
seriam dois homens maravilhosos atrás de mim: o Vlaviano e o Ivan. Logo o que
te interessa.
PALOMA:
Tava demorando pra começar com a pavulagem de sempre.
NARRADOR:
“PAVULAGEM”: exibir-se, engrandecer a si próprio;
MARIA
CLARA: Mas você não tem motivo pra se preocupar, Paloma. Quem me interessa não
está tentando me conquistar, já está comigo. Ivan e eu estamos juntos.
PALOMA:
Isso é mentira.
MARIA
CLARA: E tem mais: maior do que a vontade do Ivan em ficar comigo é a de te
colocar na cadeia.
PALOMA:
Você não contou essa mentira do meu envolvimento com a Nicole pra ele, contou?
MARIA
CLARA: Deixa de ser idiota! O Ivan é praticamente o mentor do plano pra te
desmascarar! Porque ele, tanto quanto eu, tá louco pra te ver pegar o beco. De
preferência pra penitenciária!
NARRADOR:
“PEGAR O BECO”: sair de algum lugar.
PALOMA:
Acontece que vocês não têm provas da minha ligação com essa mulher. O que te
garante que a Nicole não te odiava a ponto de fazer tudo isso pra te jogar na
cadeia? Hein? Vai ver o que ela sente é uma paixão mal resolvida.
MARIA
CLARA: Vai tentar virar o jogo contra mim de novo?
PALOMA:
Não, eu só tô trabalhando com as possibilidades, faz parte da minha orientação profissional.
MARIA
CLARA: Qual seria? Teoria do recalque ou bacharelado em mitomania?
PALOMA:
Clarinha, pensa há quanto tempo que essa moça trabalha como sua secretária
particular. Ela sabe tudo o que acontece com a sua empresa. O que não garante
que ela não saiba mais ainda sobre a empresária. Se você fosse tão esperta
quanto se julga, deveria pensar que a Nicole realmente se apaixonou por você e
fez tudo isso pelo simples fato de que você jamais foi além com ela.
MARIA
CLARA: (fala baixo) Não fala mais nada. Pelo bem da sua linda cara de pau: cala
essa boca, Paloma.
PALOMA:
A verdade dói, minha querida, mas eu pretendo ir mais além. Quem sabe se, ao
invés da frustração de a Nicole de não ter conseguido te conquistar, o que moveu
esse plano foi o fato de ela já ter sido seduzida por você e desprezada em
seguida? O que garante ao coitado do Ivan que ele é o único a conhecer os
lindos lençóis importados da sua cama?
MARIA
CLARA: Como você é baixa! Mas eu sou subterrânea (novamente esbofeteia Paloma,
que ri após ser agredida)!
PALOMA:
Quem diria? O poço de elegância se rebaixando a discutir com uma “reles”
jornalista.
MARIA
CLARA: Poço de elegância? Eu sou praticamente a bacia amazônica da finesse, minha filha! Acontece que eu
não vou gastar as dicas de etiqueta que aprendi com Glória Kalil com uma mulher
feito você! E o pior é você acreditar que o Ivan um dia poderia querer ficar
contigo! Se olha no espelho, infeliz! Você não só não é páreo pra mim como
também não é pra nenhuma mulher que preste!
PALOMA:
Agora você tocou no ponto certo! Já que eu não posso ser a mulher da vida do
Ivan, eu vou acabar com a mulher da vida do Ivan! Esse amor nunca se
concretizou e não vai acontecer enquanto vida eu tiver!
MARIA
CLARA: Não me dê a chance de resolver isso pessoalmente, Paloma!
PALOMA:
Por que você não compra a Nicole, hein? Vai que ela em depoimento diz as
mentiras que você quer ouvir! Mas nada vai provar que eu tenho envolvimento
nesse crime!
MARIA
CLARA: Nesse crime e na falsa noite que você passou com o Ivan, não é? Porque
isso também foi armação sua!
PALOMA:
Foi isso que o Ivan te disse, que não aconteceu nada entre nós? Nada que
preste, só se for!
MARIA
CLARA: A Nicole colocou o sonífero que você mandou, sua ameba! E você ainda fez
com que ela te dopasse pra parecer tão vítima da situação quanto o Ivan! Mas só
dormindo mesmo que ele iria pra cama com você!
PALOMA:
Eu já disse que você não tem prova nenhuma das acusações que tá me fazendo!
MARIA
CLARA: Eu não. Mas a polícia vai ter!
PALOMA:
Como? Interrogando a mentirosa da Nick? Ou mandando uma intimação pra que ela
compareça à delegacia?
MARIA
CLARA: Ela já está na delegacia, Paloma. Presa.
(fundo
musical: “Perigo (Dallass remix)”- parte instrumental)
PALOMA:
A Nick... A Nicole foi detida?
MARIA
CLARA: Foi. E tudo graças ao homem que você, há anos, tenta chamar pra fazer a
dança do acasalamento ao som de “Fêmea”, do Fábio Júnior. E a polícia autorizou
a quebra de sigilo telefônico do celular da Nick, além de vasculhar os
depósitos que ela recebeu na conta do banco. Só uma questão de tempo até você
ser reduzida a pó.
PALOMA:
Você não vai me destruir...
MARIA
CLARA: Você já nasceu destruída, Paloma! E em breve vai ser varrida pra debaixo
do tapete. Não tinha dito que eu era criminosa? Pois então... Vamos dividir a
mesma cela. Te vejo na cadeia (Maria Clara deixa a casa de Paloma).
PALOMA:
Não, eu não vou deixar essa manauara dos infernos me vencer. Ela e o Ivan que
me aguardem. Isso não vai ficar assim! Não vai!
CENA 3
Vlaviano
volta ao seu apartamento à noite, após entregar um novo currículo. O jovem tira
o seu molho do bolso e tenta abrir a porta do apartamento, mas o deixa cair. O
celular do desempregado toca.
(fundo
musical: “Luz que me traz paz (Astronauts & Deep Motion remix)”- “eu vou
cantar pra ela/ que sem ela não existo mais/ eu vou cantar pra ela/ que eu
sempre a quero mais”)
VLAVIANO:
Alô?
IVAN:
(ao lado de Maria Clara, na casa da farmacêutica) A gente pode falar, Vlaviano?
VLAVIANO:
Dá pra ser depois, Ivan? Eu vim de uma entrevista de emprego, peguei metrô e
ônibus e tô morrendo de fome. Eu já não tenho muito peso, daqui a pouco eu fico
só o cuí.
NARRADOR:
“SÓ O CUÍ”: indicação de que alguém é muito magro.
IVAN:
Eu não vou demorar. O delegado esteve conversando com a Nick e autorizou o
vasculhamento de contas pessoais que pertencem a ela. E descobriu que houve
transferências feitas pela Paloma.
VLAVIANO:
Quem iria dizer que a mulher, com uma carreira respeitável de fofoqueira na
televisão, era bandida, né? Mas foi só por isso que você me ligou?
IVAN:
O delegado esteve aí no seu apartamento pra te intimar a comparecer lá amanhã.
VLAVIANO:
Pra alguma acareação com a Nick?
IVAN:
Não, isso ele vai fazer entre a Paloma e ela. Quer que você dê um depoimento.
Essa pode ser a chance de inocentar a Maria Clara.
VLAVIANO:
Espera, deixa eu apanhar as chaves que eu derrubei. Me fala: a que horas eu
tenho que chegar lá? (quando Vlaviano olha pra baixo, percebe que há um par de
sapatos vermelhos de salto alto atrás do molho) O que é isso?
Paloma
pressiona o nariz de Vlaviano com uma flanela molhada com clorofórmio. O rapaz
deixa o celular cair ao chão, junto às chaves.
IVAN:
Você ouviu o que eu falei, Vlaviano? Vlaviano, você ainda tá aí? Vlaviano?
PALOMA:
Oi, queridinho.
IVAN:
Paloma?
MARIA
CLARA: Ela tá com o Vlaviano?
IVAN:
O que você tá fazendo aí?
PALOMA:
Já viu aqueles comerciais sobre ômega 3, extraído dos peixes e que é ótimo pra
saúde? Pois então: chegou a hora do Vlaviano retribuir as proteínas que os
bichinhos fornecem... Virando comida do cardume.
IVAN:
Não se comporta feito uma menina barriguda, Paloma, pra não se arrepender
depois. Eu sei onde o Vlaviano tá, você não tem saída.
NARRADOR:
“MENINA BARRIGUDA”: alguém que só faz besteira.
PALOMA:
Mas não sabe pra onde eu vou levar esse escritor de meia pataca. Só vou te dar
uma dica, Ivan: quando vocês encontrarem o Vlaviano, vocês vão sentir duas
coisas: uma é o pitiú. A outra é sentimento de culpa. Porque foram vocês que
assinaram a sentença de morte dele!
NARRADOR:
“PITIÚ”: cheiro, geralmente associado ao odor de peixe.
MARIA
CLARA: O que foi, Ivan?
IVAN:
Ela tá fazendo o Vlaviano de refém.
PALOMA:
Ah, já estás refestelado na cama da cretina, Ivan? Você não perde tempo mesmo!
Eu prometi pra mim mesma que ia me vingar de vocês. Por isso, podem dar adeus à
esperança de salvar a Maria Clara da cadeia.
IVAN:
A polícia vai atrás de você também, deixa de ser idiota! Você não vai conseguir
mais nada além de se complicar com a lei!
PALOMA:
Sim, eu vou ser caçada pela Interpol provavelmente, mas o inquérito sobre a culpa
pela intoxicação contra a Maria Clara vai continuar. Ou vocês acham que a Nick
vai falar alguma coisa? Acorda, que o idiota aqui é você! Nem se a polícia
oferecer uma delação premiada ela diz que eu estou por trás disso!
IVAN:
O delegado já pediu pra grampear seu celular.
PALOMA:
Me admira muito que você tenha terminado o ensino fundamental, quanto mais uma
pós-graduação. Porque inteligência não é o seu forte!
IVAN:
Como é que você acha que não vai ser presa se nessa conversa você tá me
confessando tudo?
PALOMA:
Mais uma prova do quanto você é burro. Eu tô falando do celular do Vlaviano,
palerma! E não pretendo levá-lo comigo pra que o delegado me rastreie!
IVAN:
Devolve o Vlaviano, Paloma!
PALOMA:
Nem com nojo! (desliga o telefone móvel)
NARRADOR:
“NEM COM NOJO”: negação veemente de que algo irá acontecer.
IVAN:
Paloma? Paloma, fala comigo! Droga!
MARIA
CLARA: A cretina sequestrou o Vlaviano?
IVAN:
E não é só isso. A voz dela tava muito diferente do que eu tô acostumado a
ouvir. Paloma não vai parar por aí. Ela vai matar o Vlaviano.
MARIA
CLARA: Não... Não, Ivan, a gente não pode deixar isso acontecer!
IVAN:
Ela tá com ódio da gente, Maria Clara, por causa da prisão da Nick. E a Paloma
não tá preocupada só em escapar da justiça, não. O Vlaviano representa a tua
absolvição, e por isso ela quer dar um fim nele.
MARIA
CLARA: Como é que a gente vai descobrir onde essa desgraçada quer se meter com
ele?
IVAN:
Ela disse que o Vlaviano vai virar comida de cardume.
MARIA
CLARA: O mar... Ela vai tentar escapar pelo mar. Claro, a Paloma não pode usar
o passaporte pra escapar!
IVAN:
Mas ela pode ter falsificado um, Maria Clara...
MARIA
CLARA: Impossível, Ivan. Eu confrontei aquela megera há alguns minutos, não
daria tempo de ela mandar confeccionar um. Paloma não tinha como imaginar que a
Nicole abriria a boca... Fui eu que lhe alertei.
IVAN:
E agora?
MARIA
CLARA: A gente não pode deixar que ela mate o Vlaviano!
IVAN:
E como a gente impede isso? Me fala!
MARIA
CLARA: Já sei: você vai ligar pra todos os portos do Amazonas daqui a alguns
minutos.
IVAN:
E você?
MARIA
CLARA: Duas atitudes: a primeira é ligar pra polícia e avisar do sequestro. A
outra é caçar a Paloma.
IVAN:
Como você vai fazer isso?
MARIA
CLARA: Descobre se ela tomou alguma lancha e em que porto foi. Quanto ao
resgate... Deixa comigo.
CENA 4
Vlaviano
acorda amarrado numa lancha que Paloma dirige, à noite. Atordoado, ele a olha,
mas a imagem da jornalista está embaçada para o jovem.
VLAVIANO:
Onde é que eu fui parar?
PALOMA:
Por enquanto, em lugar nenhum. Mas daqui a pouco nós dois vamos. Juntos. Até o
fim.
VLAVIANO:
Você me sequestrou?
PALOMA:
Não, querido, resolvi te levar pra dar uma voltinha pela Ilha de Marajó... É
lógico, sequelado!
VLAVIANO:
Isso tudo é pra que eu não fosse à delegacia? Vai me prender até quando?
PALOMA:
Fica tranquilo, Vlaviano. Você não vai ficar preso por muito tempo.
VLAVIANO:
Quer dizer o quê? Que vai me enviar pra Terra dos Pés Juntos?
PALOMA:
Eu não. A vida. E vamos os dois.
VLAVIANO:
Mas que leseira é essa?
PALOMA:
Pensa bem, Vlaviano. Você deixando de existir é tudo que a justiça precisa pra
trancar a Maria Clara numa cela e jogar a chave no lixo. E eu indo pelos ares
impede a polícia de me prender.
VLAVIANO:
Sim, mas pra fugir tem que me raptar e me matar?
PALOMA:
Óbvio que não. Mas se eu não fosse cruel, que graça Paloma Oliveira teria?
VLAVIANO:
Ainda tá em tempo de pensar, Paloma. Você pode me largar em qualquer beco sujo,
sem precisar manchar as mãos de sangue.
PALOMA:
Comovente você, mas manter o meu rastro de destruição é mais excitante.
VLAVIANO:
O que tá pensando em fazer? Me jogar amarrado no mar e depois jogar essa lancha
contra um píer qualquer?
PALOMA:
Foi minha primeira ideia, mas achei uma solução mais prática que me permite nos
extinguir dessa terra plana.
VLAVIANO:
Você ficou maluca de vez...
PALOMA:
Mas isso é evidente. Voltando ao assunto: eu estava naqueles sites de venda de produtos seminovos e
comprei um material destrutivo, que vem com manual de instruções. Aprendi como
acionar, mas não como desativar, já que joguei o manual fora.
(fundo
musical: “Meu bem (Gabe Pereira remix)”- “mas eu não vejo graça e nem de graça
eu quero ela sem você/ pois não há cor”)
Vlaviano
olha para o lado e vê uma bomba-relógio no piso da lancha.
VLAVIANO:
Por que você fez isso?
PALOMA:
Detesto textos injuntivos. Minha maldade, minhas regras.
CENA 5
Um
helicóptero sobrevoa o mar do Amazonas. Vê-se uma luz acesa no veículo aéreo.
Trata-se de Ivan, segurando uma lanterna.
IVAN:
Tem certeza de que isso vai dar certo?
MARIA
CLARA: (pilota a nave) Claro que sim, já confirmei com os funcionários da
empresa que ela contatou pra alugar uma lancha. E avisei à polícia.
IVAN:
Então, por que não deixamos os agentes cuidarem do caso, enquanto eu faço uma
maratona de “Samantha” na Netflix?
MARIA
CLARA: Porque faço questão de colocar a mão na salafrária.
IVAN:
(aponta para a lancha) Ali!
VLAVIANO:
Para com essa loucura, a polícia vai vir atrás da gente! Se entrega de uma vez,
Paloma!
PALOMA:
Nunca! O quebra-cabeça dos meus crimes tá montado. Mas o que a polícia vai
encontrar são os pedaços que eu vou fornecer.
O
cenário é trocado para um hospital. Vlad, ainda desacordado e com um galo na
cabeça, é transferido numa maca.
MÉDICO:
Rápido, leva o curumim pra sala de radiografia.
De
volta ao mar, a cena exibe a bomba novamente, agora com seu cronômetro
mostrando que faltam dois minutos para o automóvel explodir.
IVAN:
(olha para a lancha através de um binóculo) Essa não.
MARIA
CLARA: O que foi agora, Ivan?
IVAN:
Ela vai explodir a lancha.
MARIA
CLARA: Como assim?
IVAN:
Parece que ela colocou uma bomba ao lado do Vlaviano.
O
médico de Vlad o coloca na máquina de radiografias.
MÉDICO:
Vira o paciente de lado pra ver a extensão do galo, mas já deu pra perceber que
ele está grande no balde.
NARRADOR:
“NO BALDE”: demais, em excesso.
Enquanto
a luz da máquina ilumina todo o rosto, a consciência de Vlad parece ser
submetida a um scanner, e o
adolescente acaba aparecendo na lancha ao lado de Vlad.
VLAD:
Caramba! A pancada foi forte mesmo, até alucinação eu tô tendo! Você de novo?
(fundo
musical: “Puro êxtase (Sax in the house version)”)
O
episódio é encerrado quando Vlaviano percebe a presença de Vlad.
(CRÉDITOS FINAIS)
(fundo
musical: “Dias melhores (KVSH & Flow remix)- “dias melhores/ dias
melhores”)
(VINHETA DA JOGA FORA NO LIXO PRODUÇÕES)
CHAMADA
(fundo
musical: “Dias e noites”- “viver algo novo/ tocar no seu rosto/ viver”)
NARRADOR:
Próxima quinta- uma eletrizante reta final te espera em “Catch back”. Maria
Clara e Ivan numa caçada literalmente explosiva para colocar Paloma atrás das
grades e salvar a vida de Vlaviano.
MARIA
CLARA: Joga a escada!
IVAN:
Não dá pra te ouvir direito!
MARIA
CLARA: Joga a escada pro Vlaviano, eu vou aproximar o helicóptero da lancha!
VLAVIANO:
Você vai me tirar daqui. Me desamarra antes que a bomba exploda.
PALOMA:
Nunca! Eu não vou ficar viva pra mofar na cadeia, nem vou deixar a única
testemunha da Maria Clara escapar!
VLAVIANO:
Telesé? Tô falando contigo, não!
NARRADOR:
Próxima quinta, depois do “Jornal Racional”- último episódio de “Catch back”. E
no dia 20 estreia a nova série de vídeos humorísticos pra você acompanhar...
Isso se não lamentar por eles: “Paródias internacionais”.