14/02/2025

MÃOS PROIBIDAS | CENA 5

 

Cena 5 (degrau do auditório/ sala de aula no segundo piso da escola)

O tempo corrente da ação volta a ser a época atual. William e Rodrigo levantam-se, colocando-se ao centro do degrau.

WILLIAM: Câmara de gás? Quantos morreram desse jeito?

RODRIGO: Acreditamos que quase 300 mil foram executados com esse programa.

WILLIAM: Isso é um absurdo!

RODRIGO: Não estou dizendo que seja fácil, mas hoje é melhor do que antes. Se a cor azul significava “opressão”, hoje ela representa o orgulho que uma pessoa surda sente.

WILLIAM: Eu sinto orgulho, sim. Mas acho que ninguém nunca vai entender a minha deficiência.

RODRIGO: Todas as pessoas são deficientes, em maior ou menor grau.

WILLIAM: Por que o senhor diz isso?

RODRIGO: A deficiência das pessoas é não querer ouvir o que você diz. Se o mundo te impede de aprender e de viver, o deficiente é ele. Mas sempre haverá alguém disposto a mostrar que é a diferença que nos torna iguais.

William e Rodrigo apertam as mãos.

(a câmera afasta-se do aluno e de seu professor)

O restante do elenco sobe ao degrau, agora falando em português.

(no filme, não é necessário que todos estejam juntos)

BERTA: Exclusão...

HILDA: Preconceito...

NICO: Barreira...

LUCA: Invisibilidade...

HANS: Proibição...

EMMA: Desumanidade...

OTTO: Se você respeita a comunidade surda, nunca dê ouvidos a nenhuma dessas palavras.

 

Créditos finais

 

originelle idee

ideia original

Fabio Henrique Mota

Luiz Henrique Cosme

 

regie, besetzung und drehbuch

direção, elenco e roteiro

Celia Bispo

“Berta”

Danilo Alves

“Nico”

Fabio Henrique Mota

“Rodrigo”

 

Fernanda Santos

“Emma”

Josinalda Félix

“Hilda”

Luiz Henrique Cosme

“William”

 

Pedro Lemos

“Otto”

Rafael Patrício

“Hans”

Thiago Barros

“Luca”

 

Professor

professor

Fabio Henrique Mota

 

Brasilianischer gebärdensprachdolmetscher

intérprete de Língua Brasileira de Sinais

Luiz Henrique Cosme

 

charakterisierung

caracterização

Danilo Alves

 

ausgabe

edição

CapCut

VSDC Video Editor

 

visuelle effekte

efeitos visuais

Microsoft Office Word

Paint

 

zusätzliche soundeffekte (CapCut)

efeitos sonoros adicionais (CapCut)

“String songs for drama and document”

“Good night/ baby/ dog/ cat/ music box (1076663)”

“Soft romantic underscore”

“FX such as general horror movie suspense (1287889)”

 

“Horror suspense scene change jingle (1480006)”

“Convenient suspense drama style music (2965)”

“Horror song with an eerie music box melody (845045)”

“Epic uplifting music”

 

fontes de pesquisa

Universidade Federal de Minas Gerais

“A história do setembro azul ou setembro surdo”

(Bárbara Vítor Silva, Dinalva Andrade Martins,

Matheus Pessoa Fonseca e Priscila G. Martins Silva)

 

Hand Talk

“Setembro azul: qual é o nosso papel no mês dos surdos?”

 

Brasil Escola

“Datas comemorativas: setembro azul”

(Daniel Neves Silva)

 

besonderer dank

agradecimentos especiais

Geralda Reis

Lídia e as demais auxiliares de serviços gerais da Erem Amaury de Medeiros

 

Dies ist ein unabhängiges und kollektives fiktionales Werk,

basierend auf freiem künstlerischem Schaffen und ohne Verpflichtung

mit der Realität.

Esta é uma obra independente e coletiva de ficção,

baseada na livre criação artística e sem compromisso

com a realidade.

 

© 2024 Regierung von Pernambuco/

Regionales Bildungsmanagement Recife – Süd/

Referenzschule der Amaury de Medeiros High School

© 2024 Governo de Pernambuco/

Gerência Regional de Educação Recife – Sul/

Escola de Referência em Ensino Médio Amaury de Medeiros

 

https://www.ufmg.br/espacodoconhecimento/a-historia-do-setembro-azul-ou-setembro-surdo/#:~:text=Marcado%20por%20um%20m%C3%AAs%20de,at%C3%A9%20os%20dias%20de%20hoje.

 

https://www.handtalk.me/br/blog/setembro-azul-mes-dos-surdos/

 

https://brasilescola.uol.com.br/datas-comemorativas/setembro-azul.htm

13/02/2025

MÃOS PROIBIDAS | CENA 4

 

Cena 4 (porta traseira do auditório / sala desocupada)

Hans está posicionado diante da porta traseira do auditório (aquela que possui um degrau). Ele ouve Luca bater à porta e atende o estudante, usando a linguagem oral.

HANS: Por que te mandaram até aqui?

LUCA: O quê? Eu não entendi.

HANS: (ri discretamente, virando o rosto. Em seguida, ele se comunica com Luca através da língua de sinais) Tudo bem. Conta pra mim o que aconteceu.

LUCA: A professora, ela não queria que eu usasse a língua de sinais na sala de aula. O que eu fiz de errado?

HANS: (sorri) Não se preocupe, eu vou resolver isso de uma vez. Posso te pedir um favor?

LUCA: Claro, o que o senhor quer que eu faça?

HANS: Espera aqui dentro, eu prometo que não demoro (aproxima-se da porta, olhando para Luca antes de abri-la).

LUCA: Por que está me olhando desse jeito?

HANS: Seria mais fácil se você fosse igual a todos. Isso não é possível, mas não tem problema. Você não vai precisar de voz pra chegar aonde deve estar (abre a porta e sai, trancando o estudante).

(obs.: ao sair pela porta traseira, Rafael dá a volta e entra discretamente no auditório no momento em que Luca é executado. A partir de então, ele retoma à atividade da tradução)

Apagam-se as luzes. Luca olha para os lados, um pouco assustado por estar sozinho naquele local. O terceiro slide aparece, e nele há uma foto de um nevoeiro num céu preto – simbolizando que aquela sala, na verdade, é uma câmara de gás. Assim que a imagem aparece, Luca olha discretamente para a projeção e, em seguida, para a brecha da parte inferior da porta.

Como se visse a fumaça subindo pelo espaço, Luca começa a tossir e bater na porta diversas vezes, girando a maçaneta para conseguir sair do recinto. Rapidamente, o aluno perde a consciência e cai, justamente na pequena escada a qual Hans teve acesso para sair.

Volta-se ao primeiro slide, escrito “2024”. As luzes são acesas novamente.

12/02/2025

MÃOS PROIBIDAS | CENA 3

 

Cena 3 (lado direito do auditório / sala de aula)

(obs.: é preciso marcar os lugares que serão utilizados pelos alunos: sempre do lado direito, nas pontas (para melhor visualização feita pelo público))

O primeiro a entrar é Nico, sentando-se na segunda fileira. Atrás do estudante, vem Berta, Luca e, por fim, Otto. Todos estão apreensivos, e olham uns pros outros sem saber o que conversar a princípio. O “silêncio” é quebrado por Otto.

OTTO: Vocês sabem quem é que vai dar aula?

NICO: Uma professora veterana, que trabalha aqui há vinte anos.

BERTA: O que estão fazendo? Ela pode reclamar!

OTTO: De quê?

NICO: Dos sinais. Não podemos usar.

LUCA: Imagina... Aqui é um ambiente educacional, temos liberdade...

NICO: Liberdade? A gente não pode sair de casa sem usar isso (levanta o braço para Luca).

BERTA: A universidade funciona porque o governo quer, não se esqueça disso. Tem alguma coisa que você sabe falar?

LUCA: Mas eu estou falando.

NICO: Ela quer saber se você sabe falar sem usar as mãos.

Luca olha assustado quando nota que Hilda entrou na sala de aula e colocou-se diante dos alunos, perto do degrau em que Rodrigo e William estão. Ela usa a linguagem oral.

HILDA: Bom dia. Eu me chamo Hilda e vou apresentar pra vocês a disciplina de História da Arte. Mas antes eu quero que vocês me digam o nome de cada um.

Os alunos falam com medo, esperando alguns segundos depois da pronúncia de cada nome, demonstrando esforço diante do medo que sentem da professora.

OTTO: Otto.

BERTA: Berta.

NICO: Nico.

Hilda percebe que Luca não consegue falar e insiste com o aluno.

HILDA: Você não ouviu a minha pergunta? Qual é o seu nome?

Luca realiza a datilologia do seu nome.

HILDA: Por que não me fala o seu nome?

OTTO: (com esforço para falar) Ele não pode. É surdo.

(obs.: discretamente, Rafael entrega o microfone a Pedro e sai do auditório. A partir deste momento, Pedro passa a traduzir o que os personagens dizem na língua de sinais)

A professora faz uma expressão raivosa e, depois de ouvir a resposta de Berta, volta a dirigir-se a Luca.

HILDA: (com o dedo indicador, faz um movimento circular pelos lábios) Consegue entender o que eu digo?

Luca balança a cabeça afirmativamente.

HILDA: Certo. Na última sala do corredor, tem o reitor da universidade. Ele quer falar com você.

LUCA: Comigo?

HILDA: Agora. Vai!

Luca sai do auditório pela porta principal. Otto é o único que acompanha o estudante com o olhar, os demais enxergam apenas a figura de Hilda.

HILDA: Ninguém precisa disfarçar, nenhum de vocês me ouve. Mas vocês vão aprender a falar... Ou vão ter o mesmo destino desse rapaz.

11/02/2025

MÃOS PROIBIDAS | CENA 2

 

Cena 2 (segunda fileira do auditório, à esquerda de quem entra / arbustos próximos ao bicicletário)

Emma já está posicionada em sua marcação, a segunda fileira do auditório, desde o início da apresentação. Otto entra pela porta principal para cumprimentar a esposa e, antes de dizer qualquer palavra, contempla a dona de casa olhando uma fotografia do filho falecido do casal.

OTTO: Estou indo para a universidade...

Com um olhar triste, Emma balança a cabeça afirmativamente.

OTTO: Não vai me dizer nada?

EMMA: (mostra a foto para o marido) Ele ficaria tão feliz vendo você lá.

OTTO: Eu sei. Mas não vai acontecer nada comigo. O programa contra os surdos foi suspenso pelo governo.

EMMA: Isso é o que ele diz. Mas não duvido que, vendo alguém que não saiba usar a linguagem oral, ele persiga a pessoa.

OTTO: Fica calma. Descobri que a minha turma tem muitos alunos surdos. Com certeza eles estarão atentos pra não cometer nenhum deslize.

EMMA: O problema é esse: a nossa identidade ser considerada um deslize. E a nossa família uma praga que precisa ser eliminada. Quando vão parar de nos matar?

Otto abraça Emma, que encosta o rosto em seu ombro.

OTTO: À noite eu volto pra casa, prometo.

Otto levanta-se e deixa o auditório pela porta da frente.

10/02/2025

MÃOS PROIBIDAS | CENA 1

 

Legendas

■ posicionamento da representação no auditório

■ cenário na versão cinematográfica

 

Cena 1 (degrau do auditório / sala de aula no segundo piso da escola)

A cortina se abre. Na tela está projetado o primeiro slide, em que está escrito apenas “2024”. Rodrigo está corrigindo provas diante da mesa, enquanto William está na ponta do degrau, olhando para baixo com semblante triste. O professor escreve com sua caneta sobre duas avaliações, mas para com o trabalho ao perceber o estado do aluno. O docente, então, levanta-se para questionar o estudante.

(Rodrigo está dentro da sala e vê William em pé na varanda, indo ao encontro do jovem)

RODRIGO: Você não participou da aula hoje.

WILLIAM: Eu não consegui.

RODRIGO: Ainda está com aquela dor no abdômen?

WILLIAM: Sim, há cinco dias que a hérnia me incomoda.

RODRIGO: Desculpa, William, mas... Já era pra você ter procurado ajuda.

WILLIAM: O senhor acha que eu não procurei? Não consegui ser atendido. Ninguém entende o que eu falo. Pior que isso: acham que eu não falo.

RODRIGO: Um absurdo. Pessoas que trabalham na área da saúde não serem preparadas pra atender a comunidade surda.

WILLIAM: Às vezes, eu penso se vale a pena continuar estudando.

RODRIGO: Por quê?

WILLIAM: Porque, pros outros, a gente é invisível.

RODRIGO: Ao menos, você tem liberdade de usar a Libras. Mas nem sempre foi assim.

WILLIAM: (olha para Rodrigo com espanto) Como era, então?

RODRIGO: Em que mês nós estamos?

WILLIAM: Setembro... Já sei. O senhor vai me dizer que é o mês nacional da educação de surdos, do tradutor de Libras...

RODRIGO: Mas não é só isso... Como você perdeu a audição?

WILLIAM: Nasci assim, mas só fui diagnosticado aos quatro anos de idade.

RODRIGO: Além de você, mais alguém na sua família é surdo?

WILLIAM: Não, eu sou o único.

RODRIGO: Antigamente, William, a surdez era considerada uma doença hereditária. E os surdos viviam sob ameaça. Sobretudo na Alemanha.

WILLIAM: Ameaçados por quê?

RODRIGO: O governo nazista tinha o propósito de formar uma raça pura, e pra que eles não se misturassem aos demais, o regime identificava os surdos com uma faixa azul.

(obs. 1: William e Rodrigo sentam-se no degrau, enquanto a ação se desenrola em várias partes do auditório. O segundo slide é projetado, agora com o número “1945”)

(obs. 2: no filme, a câmera afasta-se da dupla, e os créditos iniciais apontam uma contagem regressiva, de 2024 para 1945; e em seguida aparece o título da obra, mudando a fotografia temporariamente – de colorida para cinza)