17/01/2013

AINDA É CEDO/ CAPÍTULO 1: UMA MENINA ME ENSINOU QUASE TUDO QUE EU SEI


Viviana está numa avenida movimentada, com mais três moças que também vestem roupas curtas. Com um certo receio, ela se aproxima de um carro e oferece seu serviço. Mas há uma recusa. Ao voltar para a calçada, observa que as outras fazem o mesmo, mas é vencida pelo medo.
-Não posso fazer isso. Não consigo. Não consigo... Eu vou embora daqui.

Até que algo está prestes a mudar a sua vida completamente: um automóvel em alta velocidade, completamente desgovernado, avança contra as moças, que conseguem escapar sem qualquer arranhão. Ao passar por elas e por Viviana, ele acaba capotando e caindo numa ponte baixa, próxima à calçada onde Viviana ficou. Prende-se aos mangues.

Muitas pessoas chegam perto do local e têm medo de verificar se o motorista estava vivo. Um homem desce do carro que estava estacionado na avenida e liga para chamar uma ambulância.

-O que você vai fazer, sua doida? Sai daí- grita uma das garotas, ao perceber que Viviana tenta descer para onde o carro ficou. Ela vê que o vidro está aberto. Fabrício, o motorista, está desacordado. Ela toca duas vezes em seu rosto e passa a acreditar que ele está morto. Mas verifica sua pulsação e fica aliviada. Ela tenta pegar a chave do veículo e abre a porta. Percebe que ele não estava usando cinto de segurança na hora do acidente e tenta retirá-lo, com dificuldade. Logo chegam dois rapazes numa ambulância e gritam:

-Deixa ele aí, a gente vai te ajudar.

-Ele pode ter quebrado alguma coisa.

-Vem logo. Acho que ele tá apagando- preocupa-se a moça.

E logo ambos vêm com uma maca. Ao colocarem Fabrício nela, imobilizam o seu pescoço.

-Você estava com ele?

-Eu? Tava, tava com ele sim.

-Tudo bem, você então vem com a gente. Vai acompanhá-lo. Qual o nome dele?

-Eu não sei, eu... Conheci ele há pouco tempo. Eu tava... Pedindo uma carona.

-Certo- um dos paramédicos põe a mão no bolso dele e encontra um celular- Olha, cara, anota aí a placa do carro que eu vou tentar encontrar mais alguém. Esse rapaz não tem nenhum documento, identidade, nada...

E sobem para que possam entrar na ambulância. Quando a porta vai ser fechada, ouve-se um barulho alto: o carro despenca de vez do terreno em que caiu, sendo lançado direto ao rio. Viviana olha para Fabrício e diz:

-Vai ficar tudo bem. Não sei quem é você, mas acho que daqui a pouco você vai ficar bom.



*****



Distante dali, Pedro acompanha uma apresentação musical num conservatório. De repente, seu celular toca e ele atende, sem imaginar as consequências de ter feito isso.

-Alô?

-Pedro?

-Oi, mãe. O que foi?

-Que música é essa alta, Pedro?

-Nada, eu só dei uma passada no conservatório pra ver uma amiga minha e...

-Quantas vezes eu já não disse pra você não frequentar esse lugar? Eu não quero você aí.

-Mãe, eu não tô estudando. Não tô na faculdade, nem matando aula. Só tô com tempo livre, só isso.

-Eu não acredito nisso. Eu com problemas sérios e você ainda tem essa ladainha de música. Olha aqui, Pedro, enfia uma coisa na sua cabeça: isso aí que você tá vendo não dá dinheiro. Se você quiser futuro, vai trabalhar como médico.

-Só porque a senhora quer?

-Exatamente! Melhor motivo que esse não tem! Agora vai pro hospital do centro que seu irmão sofreu um acidente.

-Fabrício? O que foi que houve? Como é que ele tá?

-Eu não sei, eu tô nervosa, aflita aqui. Eu tava no shopping e me ligaram avisando que ele caiu numa ponte com o carro dele. Agora tô aqui na entrada, esperando um táxi pra ver se consigo chegar lá. Você entende desses procedimentos, fala com o médico e me liga dando notícia.

-Tá, Tá bom, mãe. Tchau!- desliga o celular e pensa- Como sempre, uma dor de cabeça por causa dele...

Chega a sua ex-professora, Cora Lauveríssimo, percebendo que Pedro está inquieto.

-Algum problema?

-É o meu irmão. Minha mãe ligou pra mim e avisou que o Fabrício bateu com o carro.

-É grave?

-Ainda não sei. Eu tenho que pegar um ônibus e ir ao hospital.

-Se quiser eu levo você, Pedro.

-Não, professora, não precisa. A senhora tem que...

-Não é problema nenhum, os alunos vão entender. E, além disso, já é noite. Horário de pico, trânsito engarrafado... É melhor você ir comigo no carro, eu sei onde fica.

-Bom, se é assim, então é melhor a gente se apressar...



*****



No corredor do hospital, Viviana fica muito nervosa com o estado de saúde do rapaz, que até então ela não sabe de quem se trata. O médico passa por ela e não dá informações a respeito.

-Doutor, e aí? Tem novidade? Ele morreu? Tá vivo? Nas últimas? E então?

-Moça, desculpa, mas eu só estou autorizado a falar sobre o estado de saúde apenas com os parentes...

Ludmila, uma jornalista que trabalha para um influente jornal do estado, chega no momento em que a moça perde a paciência com o médico.

-Parentes? O que o senhor quer? Que os amigos próximos também apareçam pra abrir a boca? Por favor, eu tava lá, eu vi o carro despencar da ponte, esse cara quase morreu, se eu não tivesse chegado ou visto alguma coisa... Agora eu tenho que esperar parente, que com certeza por causa dessa roupa que tô usando, não vai me deixar entrar...

-Dá licença. Doutor, meu nome é Ludmila e eu trabalho no Diário da Cidade. Eu vim saber notícias sobre o estado de saúde de Fabrício Faria.

-É o que estava explicando pra essa moça, não estou autorizado para falar nada. Com licença.

-Eu soube que foi você que socorreu o Fabrício, é verdade?

-É, fui eu mesma.

-Mas como você o conheceu?

-Eu vi o carro dele capotando no meio da avenida e corri pra tirar o rapaz de lá. Nem sabia o nome, só soube agora que você falou.

-Não foi bem isso que você falou aos paramédicos. Por que a mentira?

-Bom, ele tava desmaiado. Eu pensei que ele fosse despertar logo, mas pelo visto... Não tinha família, o acidente foi logo às quatro da tarde. Até agora não veio ninguém. Aí não quis deixar o cara sozinho.

-Dá pra se ver que você é muito generosa. Qual o seu nome?

-Olha, eu acho que não interessa. Ele é que sofreu um acidente, não eu. Não preciso de nome nenhum.

-Sinto muito, mas eu preciso...

-Tenho certeza que não. A família dele vai te explicar melhor, vão repetir tudo que o médico falar. Eu não sei de nada, não vi nada, não sou obrigada a dizer nada.

Quando Viviana se vira, encontra Pedro, que logo fica olhando pra ela, admirado com a sua beleza.

-Você é Pedro. O irmão do Fabrício. Eu lembro de você saindo na coluna social com seus pais- recorda Ludmila.

-Sou eu mesmo- sem tirar os olhos de Viviana, pergunta rapidamente- Quem é você?

E a moça fica sem ter o que falar, nervosa pelo medo de que as pessoas descubram o que fazia antes de conhecer Fabrício e toda a sua família.

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