Outubro
de 2013, época em que os artistas internacionais proliferam no Brasil. O Brasil
é perfeitamente entendível como São Paulo e Rio de Janeiro. Quando a criatura
ou o grupo vem pra Pernambuco, ninguém faz a menor ideia de quem seja, mas é
capaz de rifar até os rins para tirar fotos e pôr no Instagram.
Sem
muitas divagações: a banda Rock Mafia veio ao Brasil. Conhecida por aqui? Um pouco.
Pelo twitteiros, aliás. O que atraiu o público mesmo é o fato de que, além de
ser gringa, faria um dueto com Miley Cyrus em “Morning Sun”. E como muitos
de nós acreditávamos que ela realmente tinha aquele visual de Hannah Montana,
lá fomos.
Quer
dizer, eu não. Sou apenas um narrador onisciente. No show, estavam Débora e o
nosso protagonista problemático Robson, que é fã doente do grupo. Chegou a
fazer um perfil no microblog sobre ele.
-E
esse show que não começa, hein?
-Calma,
Robson. Daqui a pouco eles entram no palco.
-Sim,
Débora, mas até lá eu vou ter que aguentar Alex Duran dando uma canja.
-Relaxa.
E
começa aquele fuzuê. Todo mundo vibra quando os integrantes aparecem no palco
do Clube Líbano (desculpem, não tivemos verba para outra locação). Os mais
desavisados pediam para que eles quebrassem alguma guitarra, ou instrumentos
por menores que eles fossem. Afinal, o nome é Rock Mafia, o que pensar?
Robson
já estava empolgado na primeira canção, tirou uma foto com o celular e enviou
para o Facebook.
-Tá
ficando viciado nisso, hein, meu bem?
-Não
tô mais vendo a hora pra quando começar a tocar “Morning Sun”.
E
o momento chega! As crianças ficam gritando o nome de Miley loucamente. Até que
alguns jovens se aproximam do palco, o tumulto impera no show e a situação foge
do controle. Débora puxa o namorado pelo braço e eles saem correndo.
-Miley-
berra o fã descontrolado.
-Olha
aqui, Robson! Eu não larguei mais cedo da Contax nem peguei aquela lata de
sardinha de ônibus pra você ficar o nome de gente desconhecida! Vamos pra casa!
*****
Robson
e Débora estão cada vez mais perto da casa dele. Ele ainda está chateado por
ter saído tão abruptamente do Clube Líbano.
-Poxa,
Débora, a gente podia ter ficado mais um pouco. Era só esperar aquela correria
terminar. Aquilo dali não ia dar em nada.
-Como
é que não? Robson, duas meninas confundiram os caras com os meninos do One
Direction e subiram no palco! Tá se vendo que aquilo ia acabar em problema.
-É.
Se bem que com essa confusão toda, foi bom eu ter ocupado minha cabeça. Antes
de sair eu tava com raiva.
-Raiva
de quem?
-De
Bruno. Você sabe que meu irmão arreta, né?
-Não,
eu tenho que admitir. É meu cunhado, mas é uma criatura insuportável. O que
houve agora? Ele tirou o fio da internet? Gastou teu bônus da Oi? Ganhou de
você no Uno?
A
conversa entre namorados é interrompida por Seu Mané, um tipo bem parecido com
o Jamanta de “Torre de Babel”, só que 45% mais lúcido.
-Menino,
corre!
-O
que foi que houve?
-Teu
irmão tá estrebuchando no chão do mercadinho. É melhor você correr pra socorrer
ele.
-Bruno?
Mas peraí, o que foi? Ele tá passando mal?- questiona Débora, enquanto Robson se
mantém um pouco mais frio... que o normal.
-No
mercadinho, vai lá...
-Deve
ser nada, não. Vai ver ele foi pra alguma festa com os amigos dele e voltou bêbado.
-Robson,
eu não sei por que, mas acho melhor a gente ver o que tá acontecendo.
-Amor,
quem tá dizendo isso é seu Mané. Lembra? Deu pra entender a origem do apelido?
-Eu
não vou arriscar. Tô com uma sensação de que é melhor conferir...
-Débora,
volta aqui. Tá esquisito! Ei, Débora, te liga, isso é Itapissuma, mulher!
Percebendo
que a namorada não lhe deu ouvidos, Robson olhou para Seu Mané com
descontentamento, como se tivesse sido um erro ele alertar sobre o perigo
corrido por Bruno.
Ao
chegar, Débora fica estarrecida com a cena.
-Mas
o que é isso?
E
encontra Bruno desmaiado, de cara para o meio-fio com um ferimento na barriga.
Correndo, vêm atrás Seu Mané e Robson, que desconfiam um do outro.
-Eu
vou chamar a polícia. Robson, me dá o celular logo.
-Não,
Débora. Por favor, não chama a polícia.
-Por
quê? O que é que você tem pra esconder, Robson?
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