09/02/2013

AINDA É CEDO/ CAPÍTULO 12: E O QUE ELA DESCOBRIU


-A família Faria está unida novamente- vangloria-se Cristina.
-E como você se sente, Fabrício?
-Muito feliz. Muito mesmo. Tanto que eu não quero falar com repórter nenhum.
Cristina ri e tenta contornar a declaração do filho.
-São muitos acontecimentos, ele não está preparado para falar ao público. Mas eu posso dar uma entrevista.
-Ótimo. Só estou estranhando que o seu marido não esteja aqui.
-Ricardo é um homem ocupadíssimo. Não pôde desmarcar os compromissos que tem em sua agência.
-Nem pra ver o filho?
-Pois é. Não pode. Vamos entrar? Eu concedo a entrevista no meu gabinete. Pedro, leva o Fabrício, por favor. E você, menina, leva a cadeira de rodas por conta das escadas.
Pedro carrega o irmão e Viviana acata as ordens de Cristina, que entra com Ludmila e o fotógrafo. Dentro de casa, Fabrício estranha.
-Meu quarto é o mesmo?
-Você vai pro quarto de hóspedes. A mamãe já arrumou tudo do jeito que você deixou.
-Como se tudo fosse ficar igual.
Fabrício é recolocado na cadeira de rodas e Viviana o leva junto com o estudante de Medicina, enquanto o fotógrafo registra tudo antes que eles saiam da sala.
-Por favor, vamos ao gabinete, então?
-Claro, querida. Eu só preciso de um minutinho, pra fazer uma ligação. Mas pode aguardar aqui.
-Por mim, tudo bem.
Cristina fecha a porta do gabinete e pega o celular. Liga para Ricardo.
-Alô?
-Eu sei que são mais de doze horas e que você não está na agência. Onde você está?
-No restaurante aqui perto, almoçando.
-Trate de vir pra cá imediatamente.
-Conversamos em casa.
-Se você não chegar aqui em quinze minutos, você não dorme em casa hoje.
-Como é?
-Olha aqui, eu tive que aguentar sozinha a internação, a transferência do meu filho e agora tem uma repórter na minha casa querendo questionar sobre o estado de saúde do Fabrício. Será possível que eu sempre vou ter uma resposta pronta quando me perguntarem do paradeiro do meu marido?
-Não vou ceder às suas chantagens e ameaças. Não quero ver o Fabrício agora.
-Então trate de dormir na primeira pocilga vagabunda que encontrar, porque pra casa você não volta hoje.
-E que tal se eu não voltar nunca mais?
-Vai partir pra ignorância, meu amor? Então, que tal você ir pro inferno? Disponha, cafajeste!
-Tá tudo bem?- disfarça Ludmila, que escutou a discussão.
-Por que não estaria?
-A senhora chamou o seu marido de cafajeste.
-Não era ele ao...
-Por favor, isso é normal entre casais. Não se dê o trabalho de disfarçar.
-No meu gabinete. Agora.
Ludmila vê que ela procura nas gavetas um talão de cheques.
-Quanto você quer pra apagar da mente o que você viu e ouviu?
-Dona Cristina, eu sou uma jornalista. Não vou aceitar suborno.
-Menina, todo ser humano tem seu preço. A única coisa que eu quero é te dar a chance de estabelecer o seu. Nenhuma menção ao que aconteceu agora, e muitos elogios pela força de vontade do meu filho em querer voltar a andar. Algo além disso e eu faço teu jornal te pôr no olho da rua.
-Tudo bem. Quanto a senhora quer me dar?
Cristina assina o cheque e entrega à Ludmila.
-Isso é o suficiente?
-Mais do que suficiente.

*****

Fabrício , Viviana e Pedro estão a sós, no quarto de hóspedes.
-Realmente, ficou igualzinho ao quarto de cima.
-E não é só o quarto que vai ficar igual. A vida também vai voltar ao normal.
-Cara, a mamãe não tá aqui. Já pode parar.
-Parar com o quê, Fabrício?
-De me bajular, de puxar o meu saco.
-Pensei que a gente já tinha se entendido.
-Eu só voltei pra casa por causa da Milena. Porque ela, mais do que ninguém, quer me ver curado. Não por sua culpa, doutor Pedro Faria.
-Tudo bem, já entendi que você não quer conversar agora. Cuida dele pra mim, Milena?
-Pode deixar.
-Até que enfim a gente ficou sozinho.
-Por que você falou com ele assim?
-Ah, você não vai começar a defender o cara, né, Milena?
-Eu tô vendo que o Pedro tá fazendo de tudo pra te ver bem.
-Teatro. Mentira pura.
-Só sei de uma coisa: você não odeia seu irmão, mas gosta de implicar com ele. Não foi você que berrava, que gritava no hospital que não queria aproximação com a família e agora mora aqui de novo? Se você voltou pra cá por minha causa, vai ser por minha causa que você vai começar a se dar bem com o Pedro.
-Milena...
-Não quero ouvir você dizendo que eu tô errada. Você vai voltar a ser irmão do Pedro. Pro seu próprio bem. Agora deixa eu ir embora, tenho que trocar de roupa- beija o rosto de Fabrício e vai embora.

*****

Ludmila chega à agência VB Media, onde Ricardo trabalha.
-Boa tarde, onde eu posso encontrar Ricardo Faria?
-O doutor Ricardo não apareceu aqui nessa tarde- diz a recepcionista.
-Como não? Ele não é o dono daqui?
-Ele saiu pra almoçar e não voltou. Disse que foi ver o filho.
-Impossível. Eu estava na casa dele, ele não apareceu por lá.
-Foi essa a justificativa dele.
-Onde é que esse homem foi parar?

*****

Viviana volta à mansão e encontra Pedro à porta.
-Oi.
-Tudo bem, Pedro?
-Você tá muito bonita.
-Tava na hora de não botar coisa curta demais, não é?
-Meu irmão tava esperando você. Só que antes, eu queria levar um papo contigo.
-Pode falar.
-Olha só, o Fabrício... Ele tá mais animado, quase aceitando essa situação nova na vida dele. Eu queria te pedir uma coisa: não machuca ele.
-Como é que eu podia fazer isso?
-Simples: sabendo que ele te ama. Eu não tinha sacado, mas dá pra ver nos olhos dele. E nos seus também, que você sente a mesma coisa.
-Pedro, eu te falei que eu não tenho nada com o seu irmão.
-Porque não deu tempo. Porque ele tá inseguro. Porque a minha mãe ia fazer de tudo pra impedir. Motivo não falta. Mas vocês se amam.
-Sempre que você perguntar, eu vou te mandar a real. É o mínimo.
-Ok. Fica à vontade. Minha mãe foi deitar cedo, não vai te incomodar.
-Com licença- Viviana vai para o quarto.
-Por que eu não consigo tirar a Milena da minha cabeça? Por quê?- Pedro pensa em voz alta.

*****

Ludmila vai até o conservatório num táxi. Ao descer, seu celular toca.
-Oi. Não, eu sei que eu tenho que cobrir a matéria no conservatório. Já tô aqui. Agora, o cantor lírico que vai se apresentar não chegou ainda, eu chequei as minhas fontes- Ludmila repara que o carro de Ricardo estaciona em frente à pousada- Olha, eu te ligo depois. Surgiu uma notícia aqui. Sabe o Ricardo Faria? Consegui localizá-lo. Vou pedir uma entrevista sobre o filho dele, o Fabrício. Tchau.
A jornalista se aproxima de Ricardo que desce do carro, quando Cora sai da pousada e encontra o publicitário.
-O que você veio fazer aqui?
-O mesmo que eu faço sempre que venho aqui: ter você.
-Ricardo, presta atenção: eu não quero ser a sua amante.
-Mas você me quer, eu sei.
-Não é questão de saber o que penso ou quero. Trata-se do certo e do errado.
-Você não parecia se importar com essa questão quando foi pra cama comigo.
-Isso é um castigo? Uma penitência?
-Muito pelo contrário, Cora. Eu quero ser livre, e sei que só aqui, ainda que por poucos momentos, eu posso conseguir isso.
-Desaparece daqui, Ricardo.
-Por mais que você fale isso, eu consigo ler nos seus olhos o contrário. Agora diz de novo que me quer ver indo embora- abraça-a.
-Não faz isso comigo...
-Cora... Você não vai me privar da felicidade. Nem a você mesma.
O casal de amantes se beija. Ludmila fica perplexa, em um primeiro momento, com o que vê. Mas logo usa seu celular e tira três fotografias do beijo caloroso e demorado que Cora e Ricardo dão.
-Será que já chegou a hora da Cristina Faria descobrir quem é o calhorda do marido dela? Ou será que essas fotos valem mais que o cheque que ela me deu?

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