06/03/2013

CAPPUCCINO/ CAPÍTULO 6: O RETORNO DO PÃO EMBOLORADO



-Eu sabia. Sempre desconfiei dessa amizade que existia entre vocês dois. Eu podia ter evitado isso, impedido vocês dois de saírem juntos, mas preferi ficar calada.

-Mãe, isso é um engano.

-Você está proibida de falar, Isabela! Proibida! Minha conversa é com esse rapaz.

-Conversa? A senhora me amarra numa cadeira de plástico, pede ajuda da vizinha e põe um pen drive maligno pra cantar e ainda diz que quer conversar?

-Você amarrou o Caio?

-Pelo menos não amordacei. Se bem que era divertido ouvir os gritos dele.

-Mãe, eu quero que a senhora me escute. Não...

-Não precisa se preocupar. Eu vou arcar com o prejuízo.

-Caio, para de falar como se eu não estivesse aqui.

-Bom, é que você não está em condições de falar.

-Eu posso responder pela minha vida, sim, senhor. Desculpe, mas esse assunto eu preciso resolver só com a minha mãe- vira-se para dona Cris- A senhora está completamente enganada. Caio é uma boa pessoa.

-Acredito que seja realmente bom. Pra grelhar, pra assar, pra fritar, pra levar uma surra de rolo!

-Chega disso! Ele já confessou que é o pai. Agora vocês têm que resolver essa situação, pro bem da criança que vai nascer.

-Thaís!- Isabela fica perplexa pela amiga que também mente.

-O que é que vocês vão resolver disso?

-Esse palerma vai pagar pelo que fez com a minha filha. Você só entra aqui em casa com uma caixa da Aliança Joias pra falar com a minha filha, e sendo supervisionado por mim.

-Feito- garante Caio.

-Deixa de embarcar nessa viagem. Todo mundo está usando tóxico aqui em casa, é? Eu vou cuidar do meu filho sozinha. O Caio não é...

-O cara perfeito, eu sei- interrompe o musicista padeiro- Mas eu quero consertar o que eu fiz. Não vou te deixar numa hora dessa. A gente tem que ficar junto pra cuidar do... Do nosso bebê.

-Se você não sumir da minha frente em cinco segundos, eu vou te matar.

-Sei o que estou fazendo, Isabela. Te acalma- cochicha.

-Você só está me deixando mais nervosa. Não é o pai do meu filho.

-O pai do seu filho morreu na minha frente, no meio de um protesto. Como é que você vai cuidar de uma criança se você não tem maturidade pra cuidar dos seus personagens? Deixa comigo, que eu seguro a bomba!- volta a falar alto- Agora, será que a senhora pode desatar esses nós?

-Claro, meu querido genro- a megera muda da água pro vinho- Seja bem-vindo à nossa família.

-Eu não vou compactuar com essa palhaçada! Vou pro meu quarto escrever um novo romance: “O suicídio da iburense”.

-Vá. Depois eu te levo umas revistas que vêm uns modelos de vestido de noiva.

-Pra mim deu!- vai ao quarto e bate a porta.

-Olha, eu também tenho que ir, porque meu curso de enfermagem é uma loucura. Só não é pior que a vida sentimental da Isabela. Até mais, gente.

-Tchau, Thaís- dizem dona Cris e Caio.

-Bom, agora que todos foram embora, você já pode ir pra casa.

-Posso mesmo? Então, tchau!

-Mas olha aqui, garoto. Você nem pense em escapar das suas responsabilidades, porque eu te acho onde você estiver e algemo você com a Isabela, entendeu?

-Entendi- engole seco- Com licença.

Caio volta pra casa e encontra a chave do quarto do pai na porta que ele tentou derrubar. Parece que está fechada e a destranca.

-Boa noite, pai. Se estiver aí...

Estava era desmaiado ainda, isso sim!



XXXXX



No dia seguinte, houve um café da manhã feito por Caio. Arrumou a mesa e esperou seu pai acordar.

-Bom dia.

-Bom dia. Todo doído.

-O que foi que houve.

-Tentei forçar a porta e acabei me estrepando. Que cara é essa, meu filho?

-Pai, eu vou casar.

-O quê?

-Quero dizer, ficar noivo. Da Isabela. Ela está grávida, então...

-Grávida de quem? De você que não é.

-Não, o filho não é meu.

-E o pai dessa criança, por onde anda?

-Neste momento, no IML. O pai do bebê morreu numa explosão.

-Calma, me explica essa história direito. Se o pai do filho de Isabela morreu,o que você tem a ver com isso? Por que precisa casar?

-Porque eu não posso deixar a Bella sozinha numa hora dessas. E eu disse a mãe dela que era o pai.

-Sabe que você não tem maturidade pra assumir um compromisso desse?

-A Bella também não. E é nela que estou pensando.

-Cada vez mais eu me convenço de que você está perdidamente apaixonado por essa moça e não seu conta.

-Por que é tão difícil de acreditar que existe amizade entre homem e mulher?

-Talvez porque assumir o filho dos outros seja passar dos limites! Caio, raciocina! Você está se metendo num jogo muito perigoso. Está se deixando acuar por uma moça que você sequer sabia que tinha um namorado, muito menos que estava grávida. Ela não te contou nada, não é? Fui eu quem teve que revelar a verdade! E sou eu mesmo que vou desmascarar essa mulher, na frente da mãe dela.

-O senhor não vai fazer nada!

-Não me impeça, Caio.

-Não, pai!

-Por favor, você não vai quer enfrentar um homem que tomou três comprimidos de Dorflex pra se levantar, não é?

-O senhor não vai abrir a boca. Eu vou ajudar a Bella e o senhor vai ficar calado, na sua. E tem mais uma coisa: hoje à noite, eu vou tornar o namoro com a Isabela oficial.

-Desista de pensar que eu vou compactuar com essa palhaçada!

-A mãe dela disse que vai oferecer um jantar. Toda a comida é da Socorro Festas. Mandou chamar o senhor.

-Comida de graça? E aquela coroa enxuta? Estou mais do que dentro.



XXXXX



Thaís tenta convencer a amiga a participar da farsa, mas esta é irredutível. Ambas estão no quarto.

-Por que é que você confirmou que o Caio era pai do meu bebê? Você ficou maluca?

-Bella, pensa! O pai do seu filho é o Nicholas. Ou melhor, era o Nicholas. Só que ele foi pelos ares. É melhor que outra pessoa te ajude a cuidar da criança.

-Eu não posso fazer isso com o Caio.

-Mas vai fazer. Até porque ele quer isso. Ele tomou essa atitude porque te ama.

-Será que você não entende que existe amizade entre homem e mulher?

-Existe. Mas sinceramente, não acredito que seja esse o caso. Agora se arruma que seu noivo está vindo pra cá.

-Você não me testa, Thaís! Não me testa!

-Eu vou ver a quantas anda a comida. Te ajeita!



XXXXX



Leoni e Caio chegam à casa de Cristina e Isabela. Os dois estão vestidos com traje de gala. Ótimo, porque essa comemoração será inesquecível.

-Bem-vindos- Mas vocês estão muito arrumados- admira-os Cristina.

-É. A ocasião pede- fala Caio, com um certo desconforto.

-Que foi? Parece que está sentindo dores.

-Fiquei muito tempo amarrado.

-Amarrado? Que história é essa?

-Nada, pai. Deleta.

-Mas eu acho que está faltando alguma coisa... – repara dona Cris.

-Chegou o que faltava: a Sidra Cereser!- brada Taciana, com a peruca da Britney!

-Mas que visual é esse, minha filha?- estranha Leoni.

-Tem que caprichar porque hoje é dia de comer de graça. Cadê a namorada do Caio?

Isabela vem vestida de mendiga, mesmo que Thaís a puxe para dentro do quarto. O que ela faz vestida assim? Por que guarda o figurino inusitado? Hoje, no Globo Repórter.

-Minha filha, o que significa isso?

-Eu disse que não ia compactuar com esse circo. Eu falei, não foi? Então pronto. Agora me deixa voltar pro quarto.

-Espera- segura, obrigando a ficar na sala- O Caio tem uma coisa pra falar.

-Eu também. Cara, desiste, você não precisa se prestar a isso.

-Nem você. Parece até a bilheteira da “Maria Esperança”. Que roupa é essa?

-Caio, estou falando sério. Eu consigo criar meu filho. Não vou envolver uma criança nessa sujeira.

-Eu não vou deixar você sozinha. Se é de um pai que seu filho precisa, eu vou dar- aproxima-se dela e fala em voz baixa.

-Vocês não têm o direito de mandar em mim.

-O Nicholas morreu. E vai te fazer falta. Mais ainda pro bebê.

-Que falta? Ele seria capaz de usar Barla em vez de talco comum.

-Bom, sei que os pombinhos querem ter seus minutos a sós, mas... Caio, acho que você veio pedir a mão da minha Bella.

-Claro. Dona Cris, queria saber se...

-Está concedido!

-Mãe!

-Sua honra está em jogo, e você ainda acha que eu vou fazer doce pro filho do padeiro?

Isabela decide estourar a Sidra e bebe desenfreadamente.

-Vou precisar, que a noite vai ser longa.

-Bella, eu trouxe isso daqui pra você- um anel da Rommanel.

-Sim, o que tem?

-Eu quero saber se você quer ser... A minha... Gente, como isso é difícil!- Leoni dá um murro nas costas do filho, pra ver se “desentala”!- Bella, quer ser minha noiva?

-Que jeito, não?

-Confia em mim. Eu vou cuidar de você. A gente vai ensinar à essa criança músicas boas, receitas de café, pontos de paçocas... O mundo vai ser lindo pra ele porque nós vamos torná-lo bonito.

As lágrimas de Bella vêm aos olhos. Como a de todos.

-Gente, isso foi lindo. Só não é mais do que eu...

-E então, Bella? Quer ser minha noiva?

-Aceito, sim. Quero ser sua noiva, Caio. Ainda bem que eu não me pintei, senão minha cara ia ficar uma tragédia.

-Mas que bexiga de casal é esse que não se beija?- observa Taciana, que pressiona os dois a trocarem um beijo. Quando Caio e Bella se aproximam, apreensivos, a cigarra toca. Não vou chamar de “campainha”: é cigarra!

-Eu não chamei mais ninguém além da família, juro!- promete dona Cris.

-Bella!- esfumaçado ainda, chama pela moça Nicholas. Rasgado pela explosão da viatura.

-Cafachorro, é você?- Bella fica besta com essa nova agora.

-Eu vim pra te avisar que eu vou assumir o nosso filho!

-É o quê?- Leoni fica atonto com a aparição do “fantasma”.

Isabela e Cristina não têm saída, a não ser desmaiar de susto. A primeira cai nos braços de Caio e a segunda no chão.

-Vendo gente morta todo o tempo- Taciana lembra a fala de Haley Joel Osment.

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