22/05/2013

A CRUZ E A ESPADA/ CAPÍTULO 11


-Ele mandou o senhor vim aqui pra mentir? Como é que pode? Como é que o senhor pode se prestar a isso?
-O meu sobrinho é como um filho pra mim. Eric sequer sonha que eu esteja aqui, falando com você.
-Vou fingir por um momento que isto seja verdade. O que ele ganha com isso, tentando me conquistar?
-A cabeça dele está confusa, mas ele tem certeza de que você o ama, e que se não fosse a Sophia, ele teria percebido o seu amor.
-Percebeu, não. Eu tive que contar, me expor. E fui desprezada. Trocada. O senhor é um homem importante que pode se desfazer de quem tiver vontade, mas eu não. Fui sincera com seus sentimentos, e ainda assim, fui rejeitada. Será possível que nem o senhor, nem ele, vão deixar de me perseguir por conta do que eu sinto? Vai embora daqui. Sai da minha casa! E diz pra ele não me procurar mais!
-Está bem. Só espero que não seja tarde demais quando você se arrepender. Sinto muito, Graziela.

XXXXX

Dr. Gonçalves está em seu consultório, quando uma moça que trabalha na recepção o chama.
-Doutor, tem uma ligação lá fora pro senhor. É do laboratório.
-Eu vou atender. Obrigado- abre a porta do consultório e vai até a recepção- Alô? Sim, sou eu, Laércio Gonçalves. Eric Ávila? Não, não me lembro de nenhum paciente com esse nome... Claro, como eu pude esquecer? Eu pedi pra fazer um exame, uma vez que ele tinha um ferimento na perna. Mas o que é que tem ele? Não pode ser. Não, não pode ser! Mas se é assim... Bom, eu me comprometo a tentar localizá-lo. Obrigado por avisar, até logo.
-Algum problema, doutor?
-Tenho que encontrar o Eric Ávila. Nós precisamos conversar. Urgentemente!

                                                                XXXXX

Jacqueline está dormindo sobre a cama da filha, Sophia. A jovem, cansada, se assusta com a mãe em seu quarto.
-Minha filha, até que enfim você chegou! Onde você estava?
-Por aí.
-Por aí? Isso é resposta que se dê?
-Mamãe, não estou com vontade de conversar. E se você pretende começar com o interrogatório, me poupe!
-Tudo bem, eu não vou perguntar nada. Fiquei a noite inteira agora, só vim pegar no sono agora de manhã. Eu marquei sua consulta com o médico e na semana que vem, você fará o exame.
-A senhora marcou a data sem ter falado comigo antes?
-Enquanto você fazia suas estripulias, sabe-se lá com quem, eu estava garantindo o nosso futuro. Uma de nós precisa pensar nele, não acha?
-O quê? Fidelidade eterna ao Eric agora? Por favor, quando eu vou sair desse inferno?
-Quando eu determinar que assim seja, Sophia. Você pode ter seus romances secretos com quem quiser, com quem tiver vontade. Mas entenda de uma vez por todas: é com o Eric que você vai ficar. Porque se mais alguém se atrever a entrar em nosso caminho, eu mato!- desperta pânico na filha.
-Para de exagerar...
-Essa regra vale para qualquer mulher que se envolver com o Eric e para qualquer um que se envolva com você

XXXXX

-Quem te deu esse direito? Eu falei que era pra contar a verdade pra Graziela, por acaso?
-Eric. A Graziela iria saber de qualquer maneira, meu filho.
-Pela minha boca!
-Quantas vezes, desde que você se descobriu doente, que você teve a oportunidade de falar e não revelou nada?
-Não falei pra não afastá-la de mim. Espero que o senhor conheça uma mulher que me ame tanto a ponto de me aceitar doente.
-Chega desses complexos, Eric! Você não sabe o nível de gravidade da sua doença, espera que a Graziela venha com a divina providencia de namorar contigo pra buscar a ajuda. Será que você não percebe o quanto ela está magoada com toda essa história, com as mentiras contadas pela Sophia, com a sua indecisão? Eric, você impõe sua vontade!
-Porque eu sei que a minha vontade é justamente aquilo que as pessoas vão escolher.
-Você não tem como saber.
-Não me custa tentar, tio.
-Pondo em risco a felicidade do Téo? Da Graziela? A sua?
-Só assim pra ver se as pessoas são capazes de lutar, como eu. Cada vez mais eu me sinto sozinho com esse pensamento. Minha conclusão é essa.

XXXXX

Uma semana depois, Téo e Graziela recebem um e-mail. Os dois terão que viajar, junto com a turma de Jornalismo, para conhecer as instalações de uma das mais modernas emissoras brasileiras. Ambos leem.
“A Universidade Recifense abre suas inscrições para a viagem com rumo à São Paulo. O objetivo é conhecer as instalações da Rede ACEAE, haja vista a modernidade de seus equipamentos, bem como a qualidade apresentada a partir do uso de sua tecnologia, referência no setor jornalístico nacional.
Caso desejem adquirir suas passagens, confirmem o recebimento desse e-mail. Mais informações serão repassadas aos alunos na sala de aula.
Atenciosamente,
D.A. de Jornalismo.”
Graziela acaba confirmando o recebimento do e-mail ao pensar. Téo, não. Simplesmente pensa que se viajar, perderá a oportunidade de rever Sophia, após a bela noite que tiveram. Ele ainda tenta se comunicar com ela através de uma ligação. Ela vê o número do jovem e não atende. Está na clínica.

XXXXX
                             
-Quem é, Sophia?- desconfia Jacqueline.
-Número confidencial. Nem quis atender.
-Melhor assim. Nada pode tirar o nosso foco nesse momento.
-Bom dia. Quem é a Sophia?- o enfermeiro chega.
-Sou eu?
-Vamos ao exame, então?
-Eu vou com você, minha querida- avisa a mãe.

XXXXX

Dois dias depois, Eric está numa loja de roupas no shopping e acaba encontrando Graziela.
-Você?
-Pensei que nunca mais ia te ver. Você não me procurou.
-Eu não tenho nenhum assunto pra tratar contigo.
-Nem mesmo da minha doença?
-Isso é um problema que você tem que resolver, não depende de mim.
-E se eu quiser fazer com que dependa só de você, Graziela?
-Justifica seus medos pondo a culpa e a responsabilidade nos outros? Eric, você nem imagina que possa se curar, e deixa tudo por minha conta.
-Porque você me ama.
-Mas não sou idiota! Eu tenho que ir.
-Espera. Eu vim com o motorista comprar um presente pro meu tio. Eu peço pra ele te deixar em casa.
-Não precisa. Eu chamo um táxi. Além do quê, eu vou pra casa e de lá vou à faculdade resolver os problemas da viagem.
-Viagem?
-A turma de Jornalismo vai viajar pra São Paulo amanhã.
-Hum... Quer dizer que o Téo vai?
-Eric!
-Vai ou não?
-Não sei. Ele se afastou de mim.
-A impressão que deu naquela festa foi muito diferente...
-Que você quebrou. Com a armação pra ele nos visse juntos.
-Ele te contou?
-Por mais sofrimento que eu tenha causado, ele ainda é sincero comigo. Você tem muito a aprender com ele. Eu não posso me atrasar.
-O que você sente por ele?
-O que deveria sentir por você: nada. Mas ninguém é perfeito. Com licença.

XXXXX

Eric e Glauco estão novamente na sala. Dessa vez todos os empregados estão reunidos, trazendo um bolo de aniversário para o patrão. Em seguida, o sobrinho traz uma sacola da loja que foi pela manhã.
-Pensou que a gente ia se esquecer, tio?
-Obrigado pela surpresa, meu filho.
-O senhor sempre tenta passar seus aniversários em branco...
-... E você não deixa! Sempre procura me animar!
Todos riem de felicidade, até que a campainha toca. Sônia atende. São Sophia e Jacqueline.
-Feliz aniversário, Glauco.
-Obrigado, Jacqueline- responde ironicamente- Mas quem foi que convidou vocês para virem à minha casa?
-Nos viemos trazer o seu presente, Dr. Glauco: a confirmação de que o senhor vai ganhar um sobrinho-neto- entrega o exame a Eric.
-Mas vocês vão continuar com isso mesmo? Estragar a festa do meu tio pra contar essa mentira de novo?- abre o exame.
-Agora você vai ter que engolir tudo o que você disse da minha filha, Eric. Ou o quê? Vai nos acusar de ter fraudado o exame?
-Não, Jacqueline. Não teria coragem.
Glauco se aproxima do envelope.
-Nem competência, pelo visto. Deu negativo.
-O quê?
-A Sophia mentiu pra mim, e pelo jeito, pra você também. Sua filha não está grávida!

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