Eric volta para casa e encontra Sônia limpando a sala de estar.
-Meu tio ainda não chegou?
-Disse que está enfrentando um engarrafamento
na hora do almoço e vai demorar pra chegar. Ligou há uns quinze minutos. O que
você tem, menino? Brigou com quem?
-Com o Téo. Mas eu não quero falar disso,
não, Sônia.
-Posso servir o almoço?
-Pode, sim.
Só é o tempo de lavar o rosto e as mãos. Daqui a pouco eu vou pra mesa.
XXXXX
O garotinho e a mãe que moram no prédio de
Téo estão com uma sacola de feira, prestes a sair de casa. Enquanto ela está
trancando a porta, o menino pede.
-Mãe, compra um pacote de biscoito pra mim?
-Se o dinheiro der, eu compro.
-Olha o Téo lá embaixo!
-Onde?- a mulher vê Téo desmaiado e logo se aproxima-
Fica aí, Júnior. Pega a chave que está na bolsa, abre a porta e pega o celular,
meu filho- O garoto corre e faz o que a mãe ordena.
Ao voltar para o corredor, a mãe sobe novamente
e pega o celular e liga para Graziela.
-Mãe, ele morreu?
-Não, filho. Só está dormindo. Fica
tranquilo. Ele está dodói e a mamãe vai chamar um médico pra dar remédio a ele-
abraça-o- Fica quietinho. Fala baixo que eu vou ligar pra Graziela.
Graziela está no aeroporto com os estudantes
que pretendem viajar. Recebe a ligação da vizinha de Téo.
-Alô?
-Graziela?
-Sim, sou eu. Quem está falando?
-Aqui é Verônica, a vizinha de Téo. A que
mora junto do apartamento dele.
-Sim, sim. Tudo bem, Verônica? E com o Júnior?
-Está tudo bem. Eu estou te ligando pra
avisar que a gente vai ter que levar o Téo pro hospital.
-Mas por quê? Ele passou mal? Teve alguma
coisa?
-Vi ele caído ao pé da escada. Acho que ele
rolou daqui de cima-
-Escuta, eu estou no aeroporto, mas estou
indo pro apartamento. Não deixa de me dar notícias.
-Melhor é você esperar aí. Se a ambulância
chega antes de você, vai dar uma viagem perdida. Deixa que eu te ligo pra dizer
o hospital que vão levar o Téo.
-Tudo bem. Obrigada por me avisar- desliga o
celular.
-Mãe, foi aquele moço.
-Que estória é essa, menino?
-Aquele moço que estava na casa dele. Disse
que ia jogar ele daqui de cima. Eu acho que foi ele. Era Eric o nome dele.
-Ouvi lá de dentro isso também. Vou ligar pra
polícia.
XXXXX
Glauco chega contente à sua casa e
rapidamente chama pelo nome de Sônia.
-Pois não, Dr. Glauco?
-Diga ao Eric que eu preciso falar com ele.
-Já estou aqui, tio- o jovem sai da cozinha.
-Com licença- retira-se Sônia.
-Que felicidade é essa, tio?
-Eu recebi a melhor notícia dos últimos
tempos- abre a pasta e retira o envelope- Abre.
-O que é isso?
-Lembra do dia em que a Graziela provocou um
corte nas suas costas, por conta da briga com a Sophia? Eu pedi ao médico para
coletar seu sangue e examiná-lo. O exame que você fez depois do acidente é um
engano. A sua saúde está perfeita!
-Eu já sabia. O médico veio me procurar e
disse que o laboratório trocou meu exame com o do Téo. Ele é que está doente.
-Coitado do Téo... Mas sabem se a doença é irreversível?
Você contou pra ele?
-Não deu tempo de contar. A gente se agrediu
no novo apartamento dele.
-Ainda a briga pela Graziela?
-Dessa vez, ele fez pior, tio: ele dormiu com
a Sophia pra se vingar porque eu tomei a Graziela dele.
-Você tem noção do que você acabou de falar?
Você bateu no jovem após ter roubado a namorada dele.
-A Graziela é somente minha. Ela pode não
ficar comigo nunca, mas sou quem ela deseja, e o Téo vai ter que aceitar isso.
A campainha toca. Sônia abre e são dois
policiais.
-Nós estamos procurando Eric Ávila.
-Eric?
-Sou eu mesmo.
-Você vai ter que acompanhar a gente até a
delegacia.
-Mas por quê? O que meu sobrinho fez?
-Ele é suspeito de uma tentativa de
assassinato contra o jornalista Téo Andrade.
-Téo? O que houve com ele?
-Ele foi encontrado desmaiado na escada do
seu apartamento. Um menor de idade afirma ter visto você ameaçando a vítima no
mesmo local, hoje à tarde.
-Uma acareação será feita entre a testemunha
e você.
-Não fiz nada! Juro que eu não fiz nada!
-Se não fez, vai provar. Se não, não há
motivos para estar nervoso.
XXXXX
Com muito sono, Sophia não consegue adormecer
sem saber o paradeiro de Jacqueline. Sai do quarto e vai até a sala, onde liga
a TV.
-E uma última notícia. O jornalista Téo
Andrade, que conquistou um importante prêmio recentemente, foi encontrado
inconsciente na escadaria de seu apartamento. Segundo vizinhos, houve uma
discussão entre ele e uma pessoa cuja identidade é mantida em sigilo pela
polícia. A suspeita é de que Téo tenha sido vítima de uma tentativa de
assassinato. O boletim médico ainda não foi divulgado. Outras informações a
qualquer momento e a cobertura completa do caso você terá no “Notas Noturnas”.
-Foi ela! Eu tenho certeza de que foi ela!
XXXXX
Graziela chega ao quarto em que Téo está
internado e fala com o médico.
-Como ele está, doutor?
-Você é parente dele?
-Não, sou só uma amiga. Os pais dele moram em
Alagoas, e ele não tem parentes próximos. Qual é o estado de saúde dele?
-Bom, você vai ter que ser forte- sem que
percebam, Téo desperta- O Téo está inconsciente devido a pancada que ele
sofreu. Mas percebemos diversas manchas em seus braços. Tivemos que fazer os
exames e... Descobrimos que ele já havia dado entrada no hospital, procurando
um médico para falar sobre o assunto.
-Do que se trata, então?- sente o quão pode
ser grave o que ele tem- Não. Não, o Téo não pode estar doente assim. Eu fui
namorada dele, ele me contaria. Eu ia ver.
-O clínico geral disse que ele pediu segredo
para não preocupar você. Por causa de um problema no laboratório, o exame foi
trocado e ele achou que estava bem de saúde.
-O desmaio na premiação... Isso foi por conta
do que ele tem... Doutor, seja sincero comigo.
-Téo tem um quadro bastante delicado. Como
ele não procurou ajuda após receber o exame errado, dispensou os médicos. E
isso foi crucial para o que aconteceu. O estado dele inspira cuidados, mas eu
devo alertar: ele pode não sobreviver.
-Graziela?- o médico se retira.
-Fala, Téo. Eu estou aqui. Pode ficar
tranquilo.
-Eu preciso contar uma coisa pra você.
-Não faz muito esforço. Você está fraco
demais, seu caso é delicado... Por que você não me contou antes que suspeitava
de alguma coisa?
-Pra te preocupar? Não, eu não queria que
você se preocupasse, nem sofresse se eu tivesse alguma coisa. Como o resultado
disse que eu não tinha nada, esqueci dessa estória...
-Eu me sinto culpada, Téo. Muito culpada pelo
que está acontecendo. Se eu não tivesse sido tão impulsiva, se não tivesse me
deixado levar, eu teria ficado do seu lado todo o tempo.
-Ainda preciso de você. Mas como amiga. Eu
preciso que você proteja a Sophia e o filho que ela está esperando.
-Téo, o que você está me pedindo não tem o
menor sentido...
-Ele é meu filho.
-O quê?
-O filho que ela está esperando é meu. Eu quis
me vingar do Eric e seduzi a Sophia, só que ela ficou grávida. É por isso que
eu estou no hospital.
-Você tem noção do que está me dizendo, não
é? O Eric sabe disso?
-Sabe, e foi por isso que a gente discutiu.
-Quer dizer que foi ele? Ele te empurrou? Tentou
te matar? É por causa dele que você veio parar aqui?
-Não... Jacqueline... A mãe da Sophia. Ela
quis me matar porque falsificou o exame da Sophia e o plano de tirar o dinheiro
do Eric deu errado por minha culpa. Todo mundo está correndo perigo por causa
dessa mulher. Tem que tirar a Sophia de lá, pelo amor que um dia eu tive por
você. Passa por cima das mágoas e de tudo que eu fiz. Salva a Sophia e o meu
filho.
XXXXX
Como se estivesse voltando de um dia de
compras, Jacqueline volta para casa com um aspecto cansado, fingindo que seu
grave erro não foi cometido. Mas Sophia a espera, atrás da porta de seu quarto.
-Ah, que dia. Está praticamente impossível
transitar nos shoppings da cidade, qualquer pessoa frequenta o ambiente...
-Foi você.
-Fui eu o quê?
-Você tentou matar o Téo!
-Aquele jornalistazinho insignificante?
Sophia, você não ouviu o que eu falei? Fui às compras. Só não trouxe nada
porque meu bom gosto nada tinha a ver com as ofertas do dia.
-Não minta- agora grita- Pouco tempo após sua
saída, o “acidente” do Téo saiu na televisão. Justamente no dia em que você
soube a verdade. Vai continuar negando que foi você quem tentou matá-lo?
-Sophia, eu não sou a única a querer ver o
fim daquele homem. O Eric também. Inclusive os dois tiveram uma discussão
acalorada antes que eu dirigisse a palavra ao seu ex-amante. Com direito à
criança testemunhando e tudo.
-Para de mentir! Será que a senhora não sabe
fazer outra coisa na vida?
-Minto para proteger aquilo que me interessa!
-Parece que sua felicidade é destruir a vida
da sua própria filha!
-Quer que eu confesse, Sophia? Fui eu, sim.
Fui eu quem o jogou daquela escada. Ah, se a vida me desse mais uma
oportunidade, eu faria de novo com gosto! Imagina você que ele queria contar
pra polícia que o exame de gravidez havia sido falsificado por ordem minha.
Tive que calar a boca desse rapaz pra sempre.
-O Téo não morreu.
-Não?
-Ele sobreviveu. E mesmo que o pai do meu
filho morresse, ele não seria o único a saber do exame falso. Outra pessoa sabe
e te denunciou.
-Quem foi capaz?
-Eu fui.
-Sophia...
-Alguém precisava te parar, mamãe. E quem fez
isso foi o amor que existe entre mim e o Téo. Amor que gerou esse filho que eu
espero.
-Você me denunciou por estar apaixonada por
aquele...
Jacqueline agarra a filha pela cabeça. Sophia
tenta se defender da mãe inutilmente, até que a vilã a atira contra a parede,
causando um sangramento e uma queda.
-Mãe... Mãe, me ajuda. Me tira daqui. Eu vou
perder o meu filho!
-Se você perder, diz pro Eric que sofreu
aborto espontâneo. Assim, ele fica penalizado e finalmente te dá a vida que eu
tanto quis te dar... Ingrata! Eu vou ter que fugir por sua culpa!- vai até a
porta.
-Não me deixa sozinha! Estou com medo! O meu
filho, mãe! Socorro!
-Por mim, essa criança pode apodrecer aí
dentro. E se você se importa tanto com ele por ser filho daquele homem que não
tem onde cair morto, apodreça você também. Adeus, Sophia!
-Volta aqui, mãe! Mãe! Mãe! Alguém me ajuda!
Socorro! O meu bebê! Socorro!
Jacqueline vai até o cofre da família,
localizado no desativado escritório de sua casa, e retira de lá uma soma de
dois mil reais. Ela guarda tudo numa bolsa e pretende sair de casa. Mas assim
que abre a porta, é surpreendida com uma bofetada dada por Graziela.
-Assassina desgraçada!
Acuada, Jacqueline está novamente ao chão,
sem esquecer que está é sua chance para escapar da justiça, e sem saber que não
escapará do trágico castigo que deseja para os outros.
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