-O que você quer? Me enlouquecer?
-Te provar que se fugir de mim, você vai
trazer infelicidade pra minha vida e pra sua também.
-Como é que eu posso acreditar que esse amor
nasceu de um dia pro outro, Eric?
-Talvez estivesse adormecido em mim desde
sempre e só agora eu tenha percebido. Graziela, não me deixa sozinho, por
favor.
-Sozinho? Você tem toda uma vida pela frente,
pode conseguir a garota que quiser.
-A que eu quero está aqui, me dando o pior
conselho da minha vida.
-Até ontem à tarde, quando você me ligou
pedindo uma dica de presente, a Sophia era sua única mulher. Não pode só ter
sido a decepção que teve com ela. Tem que ter alguma coisa. Você está me
escondendo. Mas o quê?
-Será possível que eu não tenho direito de
buscar a minha felicidade longe dela?
-Longe dela, sim. Mas não pra esquecê-la. Muito
menos usando alguém.
-Da forma que você fez com o Téo.
-Da mesma forma.
-Você não pode deixar que ele seja uma sombra
entre a gente.
-A sombra que existe é a minha insegurança.
Não existe prova nenhuma do seu amor por mim.
-Nem mesmo estar aqui?
-O tempo vai dizer o que você quer de mim.
Vai dizer pra mim e pra você.
XXXXX
-Me explica direito essa história de drogas,
mãe.
-Ah, Sophia, não é nada de entorpecente.
Estou falando de dopar o Eric.
-Como é que eu faço isso? Ele não quer me ver
nem morta.
-Você não disse que vai devolver o carro? Use
isso como pretexto.
-Certo, eu dou um jeito de pôr um remédio na
bebida do Eric. E depois, o que eu faço?
-Depois, você finge que dormiu com ele.
Espalha umas garrafas de bebida pelo quarto dele e minta pra que todos pensem
que ele se embriagou e voltou a ficar com você.
-Não acho que isso seja o suficiente para que
ele se sinta penalizado e volte pra mim.
-Isso, não. Mas uma gravidez inesperada, com
toda a certeza.
-Mãe, se ele vai estar
apagado, como eu vou engravidar dele?
-Calma, ele só precisa
pensar que você ficou grávida em consequência dessa noite de amor que tiveram.
O resto vai ficar por minha conta.
-Existe outro problema
envolvido: Graziela, a mosca morta que é apaixonada por ele desde a infância.
-Uma mulher sensual pode
mexer com os sentimentos de um homem. Mas tem mais facilidade em destruir
amizades. Provoque essa garota. Mostre que Eric só tem olhos pra você.
XXXXX
No dia seguinte, Glauco entra no quarto do sobrinho
e começa a vasculhar uma das gavetas.
-Tem que existir um motivo pra ele agir dessa
forma, tem que ter!- pensa.
Em meio a diversos papeis, o exame feito no dia do
acidente de moto. Glauco lê atentamente e fica pasmo com o que conclui.
-Não pode ser. O Eric está... Só pode ser um
engano. Meu sobrinho não pode estar tão doente dessa forma.
-Dr. Glauco? O motorista está esperando lá embaixo.
Disse para o senhor não se atrasar, porque o engarrafamento está enorme na
Avenida Agamenon Magalhães- a governanta entra no quarto.
--Eu só... Vou pegar a minha pasta. Obrigado-
levanta-se da cama, guarda o exame onde encontrou e fecha a porta.
XXXXX
Téo está ao telefone com um colega da faculdade de
jornalismo.
-Claro que eu vou, cara. Minha presença está
garantida lá.
-Olha, está rolando um boato de que aquela
reportagem que você vendeu pra TV vai te render o prêmio de “Melhor cobertura
de 2013”.
-Mas isso é só fofoca, cara. Tem muito freelancer melhor do que eu concorrendo.
Só vou por ir mesmo.
-E tua namorada vai contigo?
-A gente terminou, bicho.
-Cara, desculpa. Eu não sabia...
-Tudo bem. Olha, eu vou ter que resolver umas
coisas da universidade. Depois eu te ligo.
-Falou, Téo. Um abraço.
-Como é que eu faço pra te esquecer, Grazi? Quem
vai ocupar o teu lugar na minha vida?
XXXXX
O telefone toca. A empregada atende. É o segurança
da mansão onde moram Eric e Glauco.
-Alô?
-Sônia? Olha só, voltou pra cá aquela moça que se
diz namorada do Eric. Disse que quer falar com ele pra devolver a chave do
carro.
-Menino, pelo que eu ando escutando aqui, ele não
quer ver essa menina nem pintada de ouro. Mas já que é pra devolver a chave,
deixe ela entrar. Não é possível que ele não vá querer o carro de volta.
-Certo- desliga. A empregada continua limpando um
vaso de flores, quando toca a campainha. Abre a porta pra Sophia.
-Cadê o Eric, Sônia?
-Está tomando banho. Eu vou avisar que a senhorita
chegou.
-Já conheço o caminho, queridinha. Pra quê me
anunciar?- sobe até o quarto.
Abre a porta com cuidado, quando escuta o chuveiro
ainda ligado. Sophia vê na mesa de cabeceira uma jarra com água e alguns copos.
Ela enche dois deles e num, põe o sonífero que Jacqueline lhe entregou.
Eric sai enrolado numa toalha e estranha a presença
de Sophia em seu quarto.
-Você aqui? O que você quer?
-Eu vim devolver a chave do carro. Não era isso que
você queria que eu devolvesse?
-O teu amor servia como pagamento. Infelizmente eu
nunca tive. Como é que você entrou aqui?
-Me apresentei como quem eu realmente sou.
-Disse pro segurança que era minha namorada? Mentiu
pra conseguiu entrar?
-Não, disse que era sua mulher. Contei uma verdade
irrefutável.
-A única verdade irrefutável que consigo enxergar
claramente agora é que você consegue enganar qualquer pessoa, sem dificuldade.
Sophia entrega um dos copos para Eric. E faz um
brinde.
-Sabe por que estou fazendo isso? Porque me lembra
daquele dia em que você me levou à praça, comprou dois refrigerantes e sem que
eu me desse conta, colou na lata seu pedido de namoro. Você bebia- levanta o
copo dele, que, como se estivesse hipnotizado pelas vãs palavras da moça, bebe
a água- e eu sequer imaginava que você me faria em poucos instantes a mulher
mais feliz do mundo...
-Chega, Sophia!- arremessa o copo antes de terminar
de ingerir todo o líquido- Sei muito bem o que você quer. Me transformar
naquele cara que você sempre manipulou!
-E eu? Eric, você pensa que eu não me sinto
manipulada porque sempre tenho que esperar que você reconsidere e volte pra
mim? Será que você não entende que a minha vida está nas suas mãos?
-O que está nas minhas mãos é a sua conta bancária.
Acordei, Sophia. Acordei e me livrei da influência que você tinha sobre mim.
-Mudou demais até. O que é, então? Não pode ser
apenas por conta da decepção que você diz ter comigo. É a Graziela, não é?
-Não digo ter, tenho mesmo. Eu não fiquei louco só
porque sofri um acidente de moto e passei a escutar errado as coisas. Eu ouvi e
vi. Deixa de ser cínica, Sophia!
-Você não respondeu à minha pergunta: é a Graziela,
não é?
-Também. E se não fosse, seria qualquer mulher. Aliás,
qualquer não. Porque eu estou... – sente as primeiras vertigens- Convencido de
que ela me ama de verdade, sempre me amou, ao... Ao contrário de você. O que
você botou na minha água?
-Eu? Eric!
-Não se faça de besta comigo. Deve ser algum plano
da sua mãe. O que é? Decidiram me drogar agora? Vocês não vão conseguir...-
desmaia.
Sophia se apressa para procurar bebidas alcoólicas
no quarto de Eric. Ao achá-las, derrama muitas delas na pia, e molha a mão com
uma das garrafas, passando-a na boca do jovem. Ela o recolhe para a cama e em
seguida, tira a roupa. Na mesa de cabeceira, encontra o celular e manda uma
mensagem para Graziela.
-A Graziela não vai ficar com você, Eric. Principalmente
depois de hoje.
XXXXX
Jacqueline está na sala de estar, comemorando o
sucesso de seu plano antes da hora.
-Sophia vai conseguir enganar o Eric mais uma vez.
E depois que eu entrar em cena, eles vão voltar a namorar. Nunca mais vamos
voltar para o vermelho, graças ao dinheiro da família Ávila.
-No meu dinheiro você não toca, Jacqueline.
-Glauco?- vira-se- O que você está fazendo aqui?
-Vim ter uma conversa definitiva com você.
Definitiva!
XXXXX
Sônia abre a porta da mansão Ávila.
-Oi, Sônia, tudo bem?
-Tudo, Graziela. Sabe como é? Aquela correria de
sempre, tendo que cuidar dessa casa enorme...
-Sei... O Eric mandou uma mensagem dizendo que
queria falar comigo. Onde ele está?
-Faz mais de horas que ele não desceu. Ele foi
tomar banho, e depois a Sophia apareceu pra falar com ele e também ficou lá no
quarto.
-Espera, Sônia. A Sophia está aqui?
-Sim, ela nem quis que eu subisse pra avisar.
-Mas então por que ele me chamou? Será que o Eric
voltou com ela?
-Duvido muito. O Eric está com muita raiva dela.
Vamos subir?
-Agora, eu nem sei se quero subir mais.
-Fica tranquila. Nessa hora, ele já deve ter dado
um fora daqueles naquela patricinha. Vem- as duas sobem até o quarto de Eric. Sônia
bate à porta.
-Pode entrar- grita Sophia.
Quando as duas abrem a porta, Eric e Sophia estão
envoltos nos lençóis. O rapaz ainda está desacordado, e a moça se faz de
desentendida.
-Graziela? Mas o que você veio fazer aqui? Quem te
chamou?
Graziela fica completamente perplexa com a
situação. Ainda mais porque Eric acorda e, não entendendo o que aconteceu,
demonstra não ter qualquer explicação.
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