-Alexandre... Alexandre?
-Você sabe que eu te amo. Que
só você me importa, Rebeca. Mas você não podia ter feito isso comigo.
-O dinheiro era meu. Eu tive
a ideia do assalto.
-E eu pensei que o Paulo
tinha tirado você de mim... Mas você foi pior do que ele. Tentou acabar comigo.
-Mas você também... – começa
a respirar ofegante- Tentou me matar. E conseguiu.
-Por sua culpa, Rebeca-
Alexandre olha para o ferimento mortal que causou na amante e na sua mão
ensanguentada, que segura o revólver que estava dentro da mochila- Acabou pra
você.
-Desgraçado!- cai ao chão,
onde agoniza- Eu não vou ficar com o dinheiro, mas vocês também não. Assassino
desgraçado...
-Rebeca, não... Não faz isso
comigo, não me deixa aqui!- Alexandre cai ao chão, pois o ferimento causado por
Paulo volta a sangrar e ele não mais controla sua dor.
A ventania espalha as notas
que foram roubadas e muitas pessoas, percebendo que nada podem fazer Rebeca e
Alexandre, correm para pegá-las. Dois seguranças se aproximam do casal.
-Chama a ambulância, eles
estão morrendo- avisa um deles, enquanto o outro disca ao celular.
-Manda uma equipe de paramédicos
pro terminal rodoviário de passageiros. Um rapaz e uma moça estão feridos.
-Você é um infeliz. Vai ser
pra sempre, Alexandre... – Rebeca não resiste.
Um dos seguranças recolhe
duas notas de cem reais e percebe que elas estão marcadas com as iniciais “LC”.
Alexandre chora a morte de Rebeca e fica cada vez mais pálido, devido à perda
de sangue.
Na delegacia, o policial que
é filho de Ivone avisa a Murilo e a Célio:
-O delegado teve uma
emergência pra resolver, mas está chegando daqui a alguns minutos. Tem alguém
pra quem vocês queiram ligar?
-Quer ligar pra alguém, Célio?-
questiona Murilo.
-Não.
-Nem pro seu filho?
-Tenho fé que vou sair cedo
daqui, não preciso avisar. Só temo por você.
-O mais poderoso está comigo,
lembra?- volta-se para o policial- Posso ligar pra minha esposa? Pro celular
dela, pra avisar que eu estou aqui?
-Só tem direito a uma
ligação, pastor- entrega-lhe o telefone.
-Vou ser rápido- disca para o
celular da esposa que está na clínica ao lado de Natália.
-Não vai atender? É o seu marido.
-Está interessada em falar
com ele?
-Deixa de ser ridícula, pode
ser importante.
-Atende você. Com certeza,
vocês têm muito assunto pra colocar em dia.
-Me dá esse celular, que
inferno!- atende- Oi, Murilo. É a Natália.
-Cadê a Verônica?
-Aqui do meu lado, mas ela
não quer falar. O que houve?
-Vim para na delegacia- após
a declaração, Natália se levanta da cadeira.
-Delegacia? Mas por quê?-
Verônica olha de maneira apreensiva.
-Tive que dizer pra um
policial que fui responsável pelo roubo da igreja.
-Você não fez isso.
-Tive que fazer- olha para o
policial e para Ivone- A verdade tinha que ser declarada.
-Olha, eu sei que você fez
isso pra que não perseguissem o “Gigante”, mas é o cúmulo.
-Se você diz que é mãe do meu
filho, já passou da hora de entender que todo sacrifício por um filho vale.
-Acontece que você não tem
como provar a sua inocência, Murilo. E depois, falso testemunho também é um crime.
Negue essa acusação e saia dessa delegacia agora.
-Estou esperando o delegado
chegar, Natália. Bom, avise à Verônica. Sei que, apesar de eu não ter culpa
nenhuma pela estória do exame, ela quer se manter distante de mim, mas avise a
ela, por favor.
-Murilo, calma. Eu vou ligar
pro meu advogado, e essa situação vai ser revertida. Fica tranquilo, que eu vou
tentar tirar você daí.
-Não se preocupe com isso. Só
me mantenha informado quando sair o resultado do DNA. Obrigado, Natália-
desliga o telefone.
-Murilo... Alô? Alô!
-O que aconteceu?
-Murilo foi pra delegacia.
Disse que ele foi o responsável pelo sumiço da oferta na igreja, pra não ter
que denunciar o “Gigante”- pega a bolsa- Eu vou ao escritório do meu advogado,
e de lá vou pra delegacia- olha para Verônica, impassível ao acontecimento-
Você vai ficar aí?
-Eu disse que ficaria.
-Verônica, a situação é urgente,
seu marido pode ser preso porque não tem como comprovar sua inocência.
-Orar é o jeito. E eu prometi
que não sairia daqui até o resultado do exame sair. Daqui não arredo o pé.
-Fica com as tuas orações,
enquanto eu vou tentar fazer alguma coisa. Tenho certeza de que o seu marido
prefere uma esposa que se desespere e ore ao lado dele, mas nem disso você é
capaz. Não tenho pena de você, Verônica. Tenho pena do homem maravilhoso com
quem você se casou, porque você não o merece.
-E quem o merece? Você, Natália?
-Eu mereço alguém disponível,
e Murilo já é comprometido. Mas não deixa de ser, pra mim, o par ideal. Com
licença- vai embora da clínica, deixando Verônica ainda mais furiosa.
Na estrada onde estavam Paulo
e Rebeca, um jovem dirige uma caminhonete quando ouve um forte barulho. O pneu
de seu veículo acaba de estourar. Ele reduz a velocidade e vai checar o que
aconteceu. Já está quase anoitecendo.
-Droga, eu vou chegar
atrasado... Pior que eu não tenho nenhum reserva aqui- ao olhar para o lado, vê
Paulo desmaiado perto do final do barranco- O que é aquilo? É um homem ali?
Uma ambulância vai passando
pela estrada, e o rapaz faz sinal para que o motorista fale.
-O que foi, moço?
-Parece que alguém caiu lá
embaixo, tem um cara desmaiado lá.
-Espera, deixa eu ver- diz o
paramédico que está no banco do passageiro, abre a porta e, em seguida, saindo
da ambulância.
-Será que ele “tá” morto?
-Não, rapaz. Ainda pode se
mexer, daqui dá pra ver. Mas tem algumas escoriações. Quando tempo ele está lá?
-Não sei, moço. Parei a
caminhonete agora porque o pneu furou. Aí, vi esse cara no meio das pedras.
-Vamos ter de pedir ajuda ao
corpo de bombeiros pra descer até lá, só espero que não seja tarde- afirma o
motorista.
-Quer dizer que o senhor
afirma que roubou a própria igreja?- pergunta o delegado.
-É... Fui eu mesmo, doutor.
-E por que roubou a quantia?
-Porque eu... Via aqueles
crentes entregando tudo na minha mão e via que nada daquilo ficava pra mim. Foi
então que eu resolvi ficar com tudo.
-Ladrão!- grita Ivone.
-Senhora, contenha-se, ou vou
pedir para que seu filho a tire daqui.
-Desculpe, delegado, mas eu
fico revoltada com um tipinho desse...
-Mãe, por favor. Não é o
momento.
-Pelo que falou a dona Ivone
em depoimento, assim que eu cheguei, o montante estava avaliado em cinco mil
reais. Para cobrir o roubo, uma amiga da sua família, que atende pelo nome de
Natália Veronese, deu à Igreja Lar Celestial, um cheque com valor superior ao
que estavam reclamando, com dois mil a mais, certo?
-Foi essa a informação que
Natália me passou.
-A quem ela entregou esse
cheque?
-Lembro que ela disse que
deixou na igreja.
-E nesse dinheiro,
obviamente, o senhor não tocou por conta do fato de que esta tal de Natália
pagou todas as ofertas.
-Não, senhor. Não toquei em
nenhum centavo dela.
-Pastor Murilo, acaba de
receber uma informação dos policiais que estavam em sua igreja quando o senhor
foi trazido para cá. Vasculharam absolutamente tudo. Não encontraram a quantia,
que o senhor alega ter roubado, muito menos o cheque dado por esta mulher. Da
sua igreja, portanto, sumiram doze mil reais, Isso me permite inferir que você
também roubou a tal Natália.
-Não, isso eu não fiz.
-Tudo bem, vamos considerar
que o senhor roubou somente os cinco mil reais, que a sua autoacusação procede.
Já que está disposto a assumir a verdade... Onde está o dinheiro?
-Isso eu não posso dizer.
-Não pode porque não quer ou
não tem a menor ideia de onde ele possa ter ido parar, porque não foi realmente
você o autor desse delito?
-Já disse que fui eu!
-Fala de uma vez, Murilo. Qual
é o problema? Você está encobrindo alguém, é isso?
-Eu sou o culpado!
-Baixa o tom, que você não
está na sua igreja. Já cansei desse lenga-lenga, vamos direto ao assunto! Onde
estão os cinco mil reais das ofertas?
-Eu não posso dizer.
-Teve ajuda de alguém?
-Fiz tudo sozinho. Ninguém
tem culpa do que aconteceu. Só eu e mais ninguém.
-Já interroguei o Célio, que
trabalha com o senhor. Me pareceu muito tranquilo, logo se vê que ele é um
homem acima de qualquer suspeita. A não ser que ele seja muito cínico ou um
verdadeiro psicopata pra fingir tão bem. Sendo assim, pastor, eu vou ter de lhe
dar voz de prisão.
-Esperava por isso, delegado.
Tenho que pagar pelo que eu fiz.
-O senhor será levado para
uma cela. Quero que saiba que já tem advogado.
-Advogado?
-A tal da Rebeca mandou um
advogado pra cuidar do caso, Giancarlo Carvalho. Ela também será chamada para
depor no seu caso, e ele tentará pedir um habeas
corpus. Mas com a sua ênfase em admitir esse crime, será muito complicado a
justiça acatar o pedido.
-Por que está falando desse
jeito? O que está esperando? Que eu conte uma nova versão do que aconteceu? Não
vou mudar uma vírgula.
-O senhor vai me dar licença,
pastor, mas eu recebi um chamado há pouco tempo, de um rapaz que vou encontrado
desacordado há pouco na estrada, e eu tenho que averiguar. Os dois oficiais vão
levá-lo à cela. Espero que pense muito bem em tudo o que disse até agora.
-O que mais tenho feito é
isso, delegado. Vá em paz.
-Amém.
No hospital, um médico
conversa com a enfermeira.
-Como eles estão?
-O rapaz que foi visto num
barranco sofreu uma lesão na cabeça, e por isso ainda está inconsciente. As
escoriações não são graves, é só uma questão de tempo para que ele volte a si.
A polícia, naturalmente, vai querer tomar o depoimento pra saber como ele caiu.
E o outro paciente? Alguma evolução?
-Ainda não, doutor. Pelo que
eu vi, o estado do paciente continua estável- a enfermeira abre a cortina que
separa os leitos de Paulo e Alexandre- Uma tragédia, realmente.
-Pelo ferimento, a moça que
ele matou não foi a responsável. Nem chegou a atirar.
-A polícia disse que aquele
dinheiro foi roubado. A câmera escondida do posto mostrou que ela estava na
loja na hora do roubo. O segurança do terminal viu a marcação que o dono da
loja fez nas notas caso fosse roubado. Ela tinha culpa, sem dúvida.
-Resta saber se ele ajudou ou
não. Bom, vamos ver o pessoal da ala 2.
-Sim, doutor. E quanto aquele
moço, que estava com um quadro grave de... - ambos saem do quarto. Paulo abre
os olhos.
-Ele “tá” aqui...
Na clínica, Verônica está
ainda mais impaciente com os rumos tomados em sua vida, ainda mais depois da
saída de Natália. A recepcionista chama:
-Verônica Nobre?
-O que é que tem?
-O resultado do exame.
-Mas já? Eu pensei que
ficasse pronto em dois dias!
-Conseguimos agilizar o
processo. Dava pra ver que a senhora e aquela moça que saiu estavam muito
nervosas. Aqui está.
-Obrigada, moça- abre o
exame- Meu filho... – derrama suas lágrimas sobre o papel- Natália tinha razão.
O “Gigante” é filho dela!
Alexandre, desacordado, chama
por Rebeca no leito do hospital. Abre os olhos, e enxerga Paulo.
-Você?- assusta-se ao ver o
delinquente com um travesseiro nas mãos, ainda marcadas pelos ferimentos
causados pela queda.
-Aposto que ela deve ter dito
pra você que tinha conseguido dar um fim em mim. Rebeca sempre foi de contar
vantagem.
-Disse...
-Isso, antes de você matá-la.
-Você também queria matar a
Rebeca.
-Até nisso você conseguiu me
superar, Alexandre. Só que tem uma coisa: eu é que vou dar um ponto final
nisso. Começando por você.
-Eu matei a mulher que eu
queria... Perdi o dinheiro... O que mais você quer?
-Acabar com você. E depois
comigo. Não lutei tanto pra parar na cadeia.
-Vai acabar com você mesmo do
jeito que destruiu o Murilo?
-Deixa o meu pai fora disso!
-E eu falo de quem? Da sua
mãe, dona Verônica, que tanto fala bem de você, mesmo tendo fugido de casa?
-Nunca mais você vai abrir
sua boca pra falar da minha mãe.
-Que mãe?- debocha do inimigo
ao rir, ainda com dificuldade- Verônica não é sua mãe.
-O que você disse?
-O que você ouviu...
“Gigante”. O Murilo é seu pai, mas a Verônica não tem nada a ver contigo. Sua
mãe é uma mulher cheia da nota, que “tá” te procurando.
-Que é que você “tá” dizendo,
seu idiota?
-Fugiu... Porque não
aguentava pobreza... E agora não pode voltar pra conhecer a mamãe rica, porque
se voltar, a polícia cai em cima. Tudo pra nada, Paulinho... Você “tá” ferrado!
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