27/10/2014

MENTES/ CAPÍTULO 11: NADA, SOMBRA E SILÊNCIO



-O senhor só pode estar enganado, doutor.
-Não estou, não. Isso explica a vertigem que a senhora sentiu. Inclusive, fiquei preocupado com a queda que você levou. Podia ter sofrido um aborto.
-Espera, é muita informação de vez pra minha cabeça... Grávida? Isso não podia ter acontecido agora...
-Algum problema com isso?
-Com licença?- Valentina entra na sala do médico- Desculpe entrar assim, mas é que a moça que te trouxe até aqui quer saber se “tá” tudo bem.
-Moça?Deve ter sido a Jéssica... Diz que já, já eu saio daqui. Obrigada.
-De nada... Com licença- fecha a porta, contrariada pela notícia.

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Bruno vai ao Instituto Mentes e encontra Silvia, abalada pela morte de Abílio.
-Ah, mulher. Para com esse drama todo!
-Mas, Dr. Bruno...
-Eu sei com o que você se preocupa. Deve pensar que, com a morte do Abílio, seu emprego foi pelos ares. Mas pra que todos vejam que eu sou uma pessoa magnânima, eu vou te dar uma nova oportunidade. E o melhor: sem precisar prestar concurso público de novo.
-Isso quer dizer o quê, doutor?
-Quer dizer que a partir de hoje, se você quiser, vai trabalhar pra mim, Silvia. Não posso desampará-la, ainda mais agora que perdi a minha secretária. E como você tem mais tempo de experiência aqui no instituto, creio que, sendo minha secretária, nós podemos unir o útil ao agradável.
-Ah, seu Bruno, eu não sei como lhe agradecer- diz Silvia, bastante emocionada.
-Faça o seu salário valer a pena, o que é um agradecimento e tanto. Agora traga os resultados da expedição que pretendemos realizar ainda no primeiro semestre de 2015, na Serra da Capivara.
-E onde eu posso achar esses documentos?
-Provavelmente na sala do Abílio. Aproveite e leva um café pra minha sala, por favor.
-Obrigada, doutor.
-Não por isso. Ah, e não deixe que ninguém me incomode.

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Jéssica e Giovanna estão saindo do posto de saúde, e Valentina está com uma sacola, onde guarda os remédios recebidos.
-Tem certeza de que “tá” tudo bem?
-Absoluta. Eu só preciso pegar minhas coisas na escola. De lá, eu vou pra casa.
-Não é melhor ligar pro seu marido?
-Meu marido vai me ver quando chegar em casa. Até lá, ele pode esperar.
-Aposto que a senhora não “tá” se aguentando pra contar a novidade pra ele.
-Vou me aguentar, sim. Não pela notícia, mas pelo fato de ter que falar com ele.
-Desculpa, mas eu podia falar com você?
-Você de novo?
-É... Eu escutei, sem querer, você ouvindo do médico que “tá” esperando um bebê.
-Foi. Naquele momento que você veio me avisar sobre a Jéssica.
-Olha, eu sei que pode parecer falta de educação da minha parte, mas eu vou te dar um conselho: cuida do seu filho.
-Por que você “tá” me dizendo isso? Quem é você?
-Eu sei que você é casada com aquele homem, que foi acusado de matar o empregado do Mentes, e a secretária dele. Ela era minha irmã.
-Você é irmã da Virna?
-Por isso que eu “tô” lhe dizendo: tome muito cuidado, você e seu filho.
-Continuo sem entender: logo você me diz isso?
-Não tenho ódio de você. Tenho daquele desgraçado que tirou a vida da minha irmã.
-Que, na sua visão, foi meu marido.
-Na sua não foi?- a pergunta deixa Giovanna desconcertada- Não confie cem por cento nesse seu marido. Se ele se meteu em outro problema, pior que o da morte da minha irmã, é porque ele tem o que esconder, não acha?
-O que eu acho ou deixo de achar sobre o meu marido não lhe interessa. Vamos, Jéssica?- a adolescente acompanha a bailarina.
-Ela tem que acreditar que esse Bruno não presta. Vai acabar se convencendo- pensa, sozinha.

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Plínio chega ao Instituto Mentes e escuta Bruno digitando ao computador. Pergunta à Silvia:
-Quem está nessa sala?
-O Dr. Bruno, senhor.
-Como é que ele ainda teve cara de pau de voltar… Mas isso não vai ficar assim!
-Doutor, ele disse pra ninguém entrar- Silvia vai atrás de Plínio, que invade a sala de Bruno.
-Primeiro dia como minha secretária e quer que eu desconte tanto assim de seu salário, Silvia?
-Desculpe, doutor, eu não tive como evitar.
-Nem que você tivesse escalado um exército me impediria de entrar aqui.
-Pode se retirar, Silvia. Eu resolvo com ele.
-Com licença.
-Seja breve, Plínio.
-Muita petulância a sua voltar ao instituto depois de tudo o que aconteceu.
-Petulância seria o Abílio ter uma morte trágica daquelas e a polícia não cuidar do caso. Mas não se preocupe, ela já está encarregada disso. Portanto, tire a fantasia de justiceiro. Você “tá” ridículo usando.
-E você vai se encarregar do quê? De desviar mais dinheiro? Dinheiro esse que pertence ao Mentes?
-Plínio, deixa de falar o que você não sabe!
-Não é estranho que o Abílio tenha morrido na noite em que você estava jantando com ele, com o seu carro atrás do dele em alta velocidade e sabendo o que ele sabia sobre você?
-Sabendo do quê, esclerosado?
-Que você conseguiu dar uma volta no Governo Federal e arrancar mais subsídios do que o necessário. Onde você colocou as provas que o Abílio alegou ter para me entregar?
-Comece a medir suas palavras, Plínio. O fato de eu ter à casa daquele pulha não me deu o direito de matá-lo, embora vontade não faltasse.
-Já que eu não consigo provar que você matou o Abílio, pelo menos você poderia ter a decência de não aparecer aqui!
-Por que não, Plínio? Isso daqui não é uma empresa privada, que você vai deixar de herança pros seus filhos quando morrer, não, “tá” legal? Isto é uma instituição pública, batalhei pra chegar aqui, e daqui não vou sair.
-A não ser que você vá pra cadeia.
-Você “tá” doido pra que isso aconteça, não é? Na certa, quer que em alguma coisa sejamos iguais. Mas não. Eu não sou nenhum assassino como você!
Plínio tenta desferir um soco no filho, mas ele o impede.
-Jamais volte a me chamar de assassino. Você não sabe o que eu vivi pra tomar aquela atitude.
-Você é que não tem a ideia mais remota do que eu sofri por sua culpa! Não me venha ser pilar da justiça brasileira, porque seu telhado é de vidro.
-O seu sequer existe, meu querido.
-Pode ter certeza de que você vai engolir cada palavra que disse a meu respeito, inclusive pra minha mulher! Agora dá o fora daqui!
-Não queria estar na sua pele, meu filho... Eu sinto pena de você.
-Plínio... Eu “tô” pouco me lixando pra sua pena- abre a porta da sala, para que o pai saia.

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Valentina volta com os remédios pra casa.
-Pegou na farmácia, amor?
-Peguei.
-O que foi?
A esposa de Leandro tenta disfarçar.
-Iago falou alguma do Bruno?
-As notícias não são boas.
-O que foi?
-Descobriram que a explosão do carro do funcionário do Mentes foi provocada por uma bomba. Uma bomba que estava guardada há um tempo na sala de Bruno.
-E isso não é boa notícia?
-Infelizmente, não. Ninguém tem certeza de que o Bruno detonou essa bomba, nem se ela foi colocada no carro por ele.
-Mais uma vez, então, esse infeliz não vai pra cadeia? Leandro, o cara é suspeito de duas mortes, e a polícia ainda precisa de prova quando tudo “tá” na cara? Isso é um absurdo!
-Acontece, Valentina, que sem essas provas, a gente não consegue pôr o Bruno na cadeia. Pra lei, ele é um cidadão comum, que não faz mal a ninguém.
-E agora, Leandro?
-Vamos esperar pra ver se Iago descobre mais coisas. Meu medo é que esses processos que envolvem o Bruno sejam arquivados. Afinal, ele é uma figura pública, importante na área que ele trabalha. Pode ser que ele mande abafar o caso. Os dois casos, aliás. Bom, eu vou ter que ir, porque hoje é plantão de novo.
-Se cuida, meu amor- beija o marido, decepcionada com o que ouviu.
-Te amo- Leandro entra no carro e segue até a delegacia.
Valentina, contrariada pelo que soube das investigações, disca um número no telefone fixo.
-Sou eu.
-O que foi?
-Nem com a morte do Abílio o Bruno foi detido.
-Calma. A gente precisa esperar, dar tempo ao tempo.
-Não vou mais esperar pra colocar esse imbecil na cadeia! Já sei o que eu vou fazer.
-O quê?
-Você vai arranjar um “amigo” seu, pra ele fazer um serviço pra mim.
-Olha aqui, eu não vou pagar pra matar ninguém. Eu não posso fazer isso.
-Quem disse que eu quero matar alguém? Eu só quero dar um susto no casal feliz. Bruno e Giovanna vão passar a ter medo de todo mundo depois da surpresa que eu fizer.

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