-O senhor só pode estar
enganado, doutor.
-Não estou, não. Isso explica
a vertigem que a senhora sentiu. Inclusive, fiquei preocupado com a queda que
você levou. Podia ter sofrido um aborto.
-Espera, é muita informação
de vez pra minha cabeça... Grávida? Isso não podia ter acontecido agora...
-Algum problema com isso?
-Com licença?- Valentina
entra na sala do médico- Desculpe entrar assim, mas é que a moça que te trouxe
até aqui quer saber se “tá” tudo bem.
-Moça?Deve ter sido a Jéssica...
Diz que já, já eu saio daqui. Obrigada.
-De nada... Com licença-
fecha a porta, contrariada pela notícia.
|||||
Bruno vai ao Instituto Mentes
e encontra Silvia, abalada pela morte de Abílio.
-Ah, mulher. Para com esse
drama todo!
-Mas, Dr. Bruno...
-Eu sei com o que você se
preocupa. Deve pensar que, com a morte do Abílio, seu emprego foi pelos ares.
Mas pra que todos vejam que eu sou uma pessoa magnânima, eu vou te dar uma nova
oportunidade. E o melhor: sem precisar prestar concurso público de novo.
-Isso quer dizer o quê,
doutor?
-Quer dizer que a partir de
hoje, se você quiser, vai trabalhar pra mim, Silvia. Não posso desampará-la,
ainda mais agora que perdi a minha secretária. E como você tem mais tempo de
experiência aqui no instituto, creio que, sendo minha secretária, nós podemos
unir o útil ao agradável.
-Ah, seu Bruno, eu não sei
como lhe agradecer- diz Silvia, bastante emocionada.
-Faça o seu salário valer a
pena, o que é um agradecimento e tanto. Agora traga os resultados da expedição
que pretendemos realizar ainda no primeiro semestre de 2015, na Serra da
Capivara.
-E onde eu posso achar esses
documentos?
-Provavelmente na sala do
Abílio. Aproveite e leva um café pra minha sala, por favor.
-Obrigada, doutor.
-Não por isso. Ah, e não deixe que ninguém
me incomode.
|||||
Jéssica e Giovanna estão
saindo do posto de saúde, e Valentina está com uma sacola, onde guarda os
remédios recebidos.
-Tem certeza de que “tá” tudo
bem?
-Absoluta. Eu só preciso
pegar minhas coisas na escola. De lá, eu vou pra casa.
-Não é melhor ligar pro seu
marido?
-Meu marido vai me ver quando
chegar em casa. Até lá, ele pode esperar.
-Aposto que a senhora não “tá”
se aguentando pra contar a novidade pra ele.
-Vou me aguentar, sim. Não
pela notícia, mas pelo fato de ter que falar com ele.
-Desculpa, mas eu podia falar
com você?
-Você de novo?
-É... Eu escutei, sem querer, você ouvindo
do médico que “tá” esperando um bebê.
-Foi. Naquele momento que
você veio me avisar sobre a Jéssica.
-Olha, eu sei que pode
parecer falta de educação da minha parte, mas eu vou te dar um conselho: cuida
do seu filho.
-Por que você “tá” me dizendo
isso? Quem é você?
-Eu sei que você é casada com
aquele homem, que foi acusado de matar o empregado do Mentes, e a secretária
dele. Ela era minha irmã.
-Você é irmã da Virna?
-Por isso que eu “tô” lhe
dizendo: tome muito cuidado, você e seu filho.
-Continuo sem entender: logo você
me diz isso?
-Não tenho ódio de você. Tenho
daquele desgraçado que tirou a vida da minha irmã.
-Que, na sua visão, foi meu
marido.
-Na sua não foi?- a pergunta
deixa Giovanna desconcertada- Não confie cem por cento nesse seu marido. Se ele
se meteu em outro problema, pior que o da morte da minha irmã, é porque ele tem
o que esconder, não acha?
-O que eu acho ou deixo de
achar sobre o meu marido não lhe interessa. Vamos, Jéssica?- a adolescente
acompanha a bailarina.
-Ela tem que acreditar que
esse Bruno não presta. Vai acabar se convencendo- pensa, sozinha.
|||||
Plínio chega ao Instituto
Mentes e escuta Bruno digitando ao computador. Pergunta à Silvia:
-Quem está nessa sala?
-O Dr. Bruno, senhor.
-Como é que ele ainda teve
cara de pau de voltar… Mas isso não vai ficar assim!
-Doutor, ele disse pra
ninguém entrar- Silvia vai atrás de Plínio, que invade a sala de Bruno.
-Primeiro dia como minha
secretária e quer que eu desconte tanto assim de seu salário, Silvia?
-Desculpe, doutor, eu não
tive como evitar.
-Nem que você tivesse
escalado um exército me impediria de entrar aqui.
-Pode se retirar, Silvia. Eu
resolvo com ele.
-Com licença.
-Seja breve, Plínio.
-Muita petulância a sua
voltar ao instituto depois de tudo o que aconteceu.
-Petulância seria o Abílio
ter uma morte trágica daquelas e a polícia não cuidar do caso. Mas não se preocupe,
ela já está encarregada disso. Portanto, tire a fantasia de justiceiro. Você “tá”
ridículo usando.
-E você vai se encarregar do
quê? De desviar mais dinheiro? Dinheiro esse que pertence ao Mentes?
-Plínio, deixa de falar o que
você não sabe!
-Não é estranho que o Abílio
tenha morrido na noite em que você estava jantando com ele, com o seu carro
atrás do dele em alta velocidade e sabendo o que ele sabia sobre você?
-Sabendo do quê, esclerosado?
-Que você conseguiu dar uma
volta no Governo Federal e arrancar mais subsídios do que o necessário. Onde você
colocou as provas que o Abílio alegou ter para me entregar?
-Comece a medir suas
palavras, Plínio. O fato de eu ter à casa daquele pulha não me deu o direito de
matá-lo, embora vontade não faltasse.
-Já que eu não consigo provar
que você matou o Abílio, pelo menos você poderia ter a decência de não aparecer
aqui!
-Por que não, Plínio? Isso
daqui não é uma empresa privada, que você vai deixar de herança pros seus
filhos quando morrer, não, “tá” legal? Isto é uma instituição pública, batalhei
pra chegar aqui, e daqui não vou sair.
-A não ser que você vá pra
cadeia.
-Você “tá” doido pra que isso
aconteça, não é? Na certa, quer que em alguma coisa sejamos iguais. Mas não. Eu
não sou nenhum assassino como você!
Plínio tenta desferir um soco
no filho, mas ele o impede.
-Jamais volte a me chamar de
assassino. Você não sabe o que eu vivi pra tomar aquela atitude.
-Você é que não tem a ideia
mais remota do que eu sofri por sua culpa! Não me venha ser pilar da justiça
brasileira, porque seu telhado é de vidro.
-O seu sequer existe, meu
querido.
-Pode ter certeza de que você
vai engolir cada palavra que disse a meu respeito, inclusive pra minha mulher! Agora dá o fora daqui!
-Não queria estar na sua pele, meu filho... Eu
sinto pena de você.
-Plínio... Eu “tô” pouco me
lixando pra sua pena- abre a porta da sala, para que o pai saia.
|||||
Valentina volta com os
remédios pra casa.
-Pegou na farmácia, amor?
-Peguei.
-O que foi?
A esposa de Leandro tenta
disfarçar.
-Iago falou alguma do Bruno?
-As notícias não são boas.
-O que foi?
-Descobriram que a explosão
do carro do funcionário do Mentes foi provocada por uma bomba. Uma bomba que
estava guardada há um tempo na sala de Bruno.
-E isso não é boa notícia?
-Infelizmente, não. Ninguém
tem certeza de que o Bruno detonou essa bomba, nem se ela foi colocada no carro
por ele.
-Mais uma vez, então, esse
infeliz não vai pra cadeia? Leandro, o cara é suspeito de duas mortes, e a
polícia ainda precisa de prova quando tudo “tá” na cara? Isso é um absurdo!
-Acontece, Valentina, que sem
essas provas, a gente não consegue pôr o Bruno na cadeia. Pra lei, ele é um
cidadão comum, que não faz mal a ninguém.
-E agora, Leandro?
-Vamos esperar pra ver se Iago descobre mais coisas. Meu
medo é que esses processos que envolvem o Bruno sejam arquivados. Afinal, ele é
uma figura pública, importante na área que ele trabalha. Pode ser que ele mande
abafar o caso. Os dois casos, aliás. Bom, eu vou ter que ir, porque hoje é
plantão de novo.
-Se cuida, meu amor- beija o
marido, decepcionada com o que ouviu.
-Te amo- Leandro entra no
carro e segue até a delegacia.
Valentina, contrariada pelo
que soube das investigações, disca um número no telefone fixo.
-Sou eu.
-O que foi?
-Nem com a morte do Abílio o
Bruno foi detido.
-Calma. A gente precisa
esperar, dar tempo ao tempo.
-Não vou mais esperar pra
colocar esse imbecil na cadeia! Já sei o que eu vou fazer.
-O quê?
-Você vai arranjar um “amigo”
seu, pra ele fazer um serviço pra mim.
-Olha aqui, eu não vou pagar
pra matar ninguém. Eu não posso fazer isso.
-Quem disse que eu quero
matar alguém? Eu só quero dar um susto no casal feliz. Bruno e Giovanna vão
passar a ter medo de todo mundo depois da surpresa que eu fizer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário