No quarto, Giovanna espera ao
lado de Marisa pela chegada do bebê.
-Mãe, ele “tá” demorando.
-Calma, minha filha. Vai ver
é a sua ansiedade.
-Já passaram várias
enfermeiras, e nada de darem notícia sobre o bebê.
-Já escolheu o nome dele,
Giovanna? Nada que lembre o Bruno, não é?
-Henrique. Ah, mãe... Não
vejo a hora de senti-lo nos meus braços de novo.
-Pode ter certeza, meu amor,
de que eu vou estar ao seu lado. Sabe que pode contar comigo.
-Giovanna?- o médico entra
vagarosamente no quarto, apreensivo.
-Doutor! Eu estava mesmo
esperando pelo senhor.
-Eu preciso falar com você. A
sós.
-Não tem problema de falar na
frente da minha mãe.
-Tem razão, desculpe. Esqueci
que a senhora estava com ela na hora do parto.
-Não há problema, doutor.
Cadê o Henrique... Digo... – dá um riso nervoso- Cadê o meu neto? A enfermeira
já vem trazê-lo?
-Por que o senhor mesmo não o
trouxe, doutor? Aconteceu alguma coisa?
-Infelizmente, o bebê teve um
sangramento.
-Sangramento? Meu filho está
bem?
-Nós tivemos que levá-lo para
fazer um hemograma, já que isso não é comum em crianças nessa idade. Também
percebemos uma ligeira perda de peso nesses dois dias que se passaram.
-O que o senhor acha que meu
neto tem, doutor?
-Ainda é cedo para
diagnósticos. Eu prefiro que esperemos o resultado do exame. Por isso que são
poucas as vezes que a enfermeira o traz para ser amamentado. Preferimos
deixá-lo na incubadora, para evitar quaisquer riscos à saúde dele.
-E... – Giovanna se aflige-
Quando é que esse exame fica pronto?
-Mandamos a análise para o
laboratório. Creio que ainda nesta noite, nós podemos descobrir do que se tratam
esses sintomas.
|||||
Há dias sem dormir, Leandro
vai à delegacia. Lá, o telefone toca.
-Alô?
-Alô. Eu gostaria de falar
com o delegado Leandro.
-Sou eu, Beatriz, não
reconhece minha voz?
-Ah, desculpa, Leandro. É que
faz dias que eu ligo e só me atende um tal de Iago. Ele não te avisou das
minhas ligações?
-Não, Iago não tem me contado
muita coisa ultimamente. O que aconteceu? Mainha melhorou mais?
-Nós duas procuramos o médico
essa semana.
-E ele disse o quê?
-Pediu pra que ela fizesse
três sessões de quimioterapia, durante duas semanas.
-Quer dizer que avançou?
-Não avançou, Leandro. Mas
continuou na mesma, e isso é bem grave do mesmo jeito.
-Beatriz, eu vou... Eu “tô”
indo “praí” agora! Vou fazer a minha mala e pegar uns documentos, mas vou pra
Alagoas cuidar de mainha!
-Espera! Mas agora? Mas e o
teu trabalho? Leandro, você tem que pedir licença, avisar da situação pra tua
mulher.
-Valentina não tem que saber.
Aliás, vai ficar muito bem sem mim. Só vou pedir que não liguem pra casa, nem
avisem que eu vou viajar pra ficar com minha mãe;
-Brigaram, foi?
-Quando eu chegar, eu te
conto tudo, certo? Beijo- desliga o telefone- Ainda tem mais essa... Tomara que
ela não esteja em casa, não quero olhar pra cara dela antes de sair de vez de lá-
levanta e pega a chave do carro. Novaes chega à sala.
-Vai sair, Leandro?
-Diz pro Iago que ele vai ter
que me cobrir.
-À tarde toda? Mas hoje é
folga dele.
-Não interessa. Diz pra
aquele safado me cobrir até o dia que eu voltar.
-Mas o que foi que houve,
cara? “Tá” tudo bem?
-Não, não está. Coloca o Iago
pra cuidar da delegacia. Eu não sei quando volto aqui.
-Algum problema com a Valentina?
-Chega de pergunta, Novaes! Faz
o que estou mandando, que saco!- vai até o carro.
|||||
Felipe e Bruno ornamentam a
Igreja Alagoana da caridade.
-A data mais esperada do ano.
Essa quermesse vai ajudar tanta gente, que precisa de donativos.
-E aqueles que o senhor
conseguiu indo pra Recife? Não foram o bastante?
-A caridade nunca é demais.
-Olha só, padre: esse vaso eu
coloco em qual lugar? Ao lado do altar?
-Sim, é melhor.
Bruno leva o vaso com flores
ao local sugerido e Felipe o observa, sorridente.
-Sorrindo de orelha a orelha
por causa de uma festinha?
-Mais do que isso. Em outros
tempos, você não aceitaria ajudar uma pessoa dessa forma, como está fazendo
hoje.
-Eu estou apenas retribuindo
a confiança que o senhor depositou em mim. Acreditou em mim quando ninguém mais
queria fazer isso.
-Bruno, quando é que você
pretende encarar esse seu passado de vez e procurar provas que validem sua inocência?
-Me falta aquilo que sempre
tive de sobra, padre: coragem.
-Do jeito que esse passado te
cerca, com diversas reportagens especulando seu paradeiro, não vai ser preciso
que você tenha que correr atrás dele.
Bruno sente um frio em seu
peito esquerdo.
-Alguma coisa “tá”
acontecendo.
-Por que diz isso, filho?
-Eu não sei. Ou melhor, sei,
sim. Como se fosse um pressentimento. A última
vez que eu senti isso foi no dia que a minha mãe morreu.
-Valha-me, Deus...
|||||
Anoitece, e o médico vai até
o quarto onde Giovanna está se recuperando.
-E então, doutor?
-As notícias não são nada
animadoras.
-O que houve, doutor? Já sabe
o que meu neto tem?
-Infelizmente, sim.
-É muito grave?
-A equipe médica terá que
transferir o Henrique para outra área: a da oncologia.
-Não pode ser. O meu filho
não pode estar doente, não pode! Diga que é mentira, doutor... Diz que é
mentira!
-Henrique tem uma doença
chamada “leucemia linfoide aguda”. Ele vai ter que ficar internado aqui até que
o tratamento seja concluído.
-Mas não há nada que possamos
fazer?- pergunta Marisa, chocada com a revelação.
-Pelo que eu pude perceber, o
seu neto tem que se submeter a um transplante de medula urgentemente.
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