-Eu estou esperando
uma resposta, Karen. Não vou ficar aqui o dia todo.
-Algum problema?-
Rafael aparece e deixa Danilo ainda mais nervoso- O que estão fazendo aqui?
-Vim pra ver minha
filha, e encontrei Karen, que vai me dizer agora mesmo quem é o pai desse bebê
que Lívia tá esperando.
-Dona Heloísa, acho
que não é hora nem lugar pra isso.
-Quer hora melhor
do que essa, Doutor? Vamos, Karen. Tô esperando.
-Eu... – olha pra
Danilo, aflita- Eu não sei quem é o pai, Dona Heloísa.
-Mentira sua!
-Mas Lívia foi me
procurar pra dizer que tinha engravidado.
-De quem?
-A única coisa que
ela me disse é que foi de um carinha que ela conheceu na última festa que a
gente foi.
-Você, seu namorado
e ela?
-Ex-namorado-
frisa, com pesar, deixando Lívia cada vez mais aflita- Ela me contou que havia
ficado com um rapaz na festa.
-Nome! Eu quero o
nome do filho da mãe!
-Isso eu não sei
responder à senhora.
-Você é a melhor amiga
dela, como é que não sabe com quem ela anda?
-Se a senhora, que
é a mãe, não sabe...
-Escuta aqui, sua
infeliz... – Heloísa parte pra cima de Karen, e Danilo separa a moça da
doméstica.
-Olha aqui, vamos
acalmar os ânimos, por favor! Eu sei que a situação é muito complicada, mas eu
insisto, Dona Heloísa: a senhora está de cabeça quente e não está em condições
de ter essa conversa aqui.
-Não precisa se
preocupar, Dr. Rafael. Se ela quer a verdade, eu vou dizer.
-Então, fala.
-A Lívia deve ter
dito pra senhora que eu tive uma briga com Danilo e fui embora da festa.
-Deixou minha filha
voltar sozinha...
-Pois é. Só que ela
me confessou que dormiu com um cara que ela conheceu na festa da Isabela.
-E ninguém viu? Nem
essa tal de Isabela?
-Muita gente
bebendo, comemorando aniversário... Quem iria saber pra onde eles foram? Pode
ligar pra Isabela, se quiser. Aposto que ela também não sabe quem dormiu com
Lívia.
-E você fala assim,
nessa calma toda?
-Mas eu também
queria saber, Dona Heloísa. Insisti, insisti muito pra que ela me contasse. Mas
ela disse que dançou demais, tinha bebido um pouco, o rapaz também... Eles
foram pra dispensa... Aproveitaram que nenhum convidado ia passar por ali e...
Me disse que nem o nome do rapaz ela perguntou.
-Eu não acredito
que você tá mentindo pra minha mãe desse jeito...
-Desculpe não ter
lhe falado nada. Pensei que a senhora já sabia, ela disse que ia contar.
-Não... Lívia não
me disse nem que tava esperando um filho... Eu não tenho mais nada pra fazer
aqui.
-Mainha, não
acredita nela, ela tá mentindo!
-É melhor a senhora
voltar outra hora, quando todos estiverem mais calmos.
-Não, Doutor. Eu
não vou voltar. Ela não merece que eu venha pra saber nem se ela ainda está
viva.
-A senhora está com
os nervos à flor da pele, não sabe nem o que fala.
-Se engana. Eu sei
o que estou fazendo, sim, senhor. Lívia não merece minha consideração. Jogou no
lixo todos os anos que lutei pra dar do bom e do melhor a ela... E me aparece grávida
de um estranho?
-Por favor, Dona
Heloísa, é da sua filha que estamos falando.
-Eu não tenho mais
filha! Minha filha não ia transar com qualquer um, não ia engravidar sem
querer, não ia tomar remédio pra tirar menino nenhum!- ao perceber que está gritando,
Heloísa se contém. Me deixe ir pra casa, Doutor. Eu estou cansada- retira-se da
enfermaria, aos prantos.
Danilo, Rafael e
Karen se olham entre si, enquanto Lívia volta a se sentir mais fraca. Aos
poucos, o jovem fica mais aliviado. Mas a consciência da jovem, perturbada após
ouvir todos os absurdos ditos por Karen, se afasta da enfermaria, voltando a se
sentir enfraquecida.
-Isso é verdade
mesmo? Ela ficou com um rapaz na festa?
-Por que eu ia
mentir, Danilo?- interroga Karen.
-Não sabia que você
conhecia essa moça, Danilo.
-É amiga de Karen,
Pai. A gente nunca foi próximo, não.
-Estranho. Quando
eu comentei dela lá em casa, você não me disse nada.
-É que na hora eu
não liguei o nome à pessoa.
/////
Um dia depois,
Iolanda bate à porta de Heloísa, que atende.
-Oi, Iolanda. Quer
entrar?- pergunta, bastante abatida.
-Vai ser rapidinho,
Heloísa.
-Senta aí- ao dizer
isso, Iolanda repara na bagunça da casa.
-Juliano me disse
que ia visitar Lívia agora de tarde. Ninguém te viu mais, mulher. Chegasse
ontem e se trancasse. Pensei que tinha acontecido alguma coisa com ela.
-Os vizinhos devem
estar tudo comentando... Da gravidez dela.
-Toni me contou
antes de viajar.
-Eu não me
conformo, Iolanda. Não entra na minha cabeça que minha filha dormiu com um
desconhecido. Sim, porque foi isso que a amiga dela mesma me disse.
-Lívia sempre teve
juízo, Heloísa. Essa menina pode estar errada.
-Não pode, não,
Iolanda. Se não fosse isso, como que Lívia ia ficar grávida? E é claro que ela
ia abortar, porque não ia ter coragem de me encarar pra contar.
-Sei, não. Pra mim,
tem alguma coisa muito estranha nessa história.
-Por que está
dizendo isso?
-O médico disse pra
Toni, no dia que ele socorreu Lívia, que ela tomou um remédio pra tirar o
menino. Como é que ela conseguiu isso? Quem deu?
-Vai ver ela contou
pro pai do menino e ele deu. Se bem que... Karen disse que ela nem sabia o nome
dele.
-Antes de jogar
pedra em Lívia, espera a polícia resolver isso.
-É. A qualquer
momento, alguém de lá chega pedindo pra eu dar um depoimento.
-Fala o nome dessa
moça, a Karen. Acho que ela sabe mais coisa do que te contou ontem?
-Será?
/////
Rafael leva Juliano
até a enfermaria, onde Lívia continua inconsciente.
-Hoje nem a mãe
quis ficar de acompanhante.
-Acho que ela não
vem mais.
-Pois é. Depois do
que houve ontem... Você ficou sabendo?
-Só o que a rua
fala. Ela quebrou umas coisas dentro de casa, chorou muito.
-Realmente... Ela
escutou coisas aqui que... Enfim, caso precise de alguma coisa, pode ir ao meu
consultório.
-Obrigado, Doutor-
diz, timidamente.
Juliano a observa,
com um olhar compadecido, ciente de que ela pode não acordar. O celular do rapaz
toca. Ele sai da enfermaria.
-Juliano?
-Fala, Toni. A
viagem foi boa?
-Uma bênção. Já
estou indo pro aeroporto agora. Você vai me esperar lá?
-Vou, sim.
-Aproveita e manda
um beijo pro pessoal aí, diz que eu já tô chegando.
-Não tô em casa,
não. Passei no hospital pra ver aquela
moça.
-Lívia? E como é que
ela tá?
-Na mesma. Mas quem
não tá bem é a mãe dela- nesse momento, Lívia está com a cabeça abaixada, no
corredor.
-Dona Heloísa?
-O que é que minha
mãe tem?
Neste momento,
Juliano ouve a voz de Lívia.
-Juliano, tá me
ouvindo?
-Tá... Tá
revoltada, xingando muito a filha, dizendo que não quer o bebê de jeito nenhum.
Que vai dar pra adoção, porque ele é culpado do que houve com ela.
-Mainha tem que me
escutar, tem que acreditar em mim!
-Acreditar no quê?
-Você tá me
escutando? Você pode me ouvir?
-Juliano, com quem
você tá falando?
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