23/04/2015

LEVE-ME DAQUI/ CAPÍTULO 21: LÍNGUA QUENTE, LAVA DE VULCÃO



-Posso saber o porquê disso, delegado?
-Recebemos uma denúncia anônima, que afirmou que a senhorita teve um desentendimento com esse rapaz.
-Daí, ele viu que alguém tentou passar com o carro em cima dele e logo supôs que era eu, por causa da discussão que tivemos há alguns dias?
 -Discussão ou proibição? Porque você deixou bem claro que não ia me deixar mais entrar no prédio, da última vez que a gente se viu!
-E por causa disso, você acha que eu ia me arriscar desse jeito? Tentando matar você por causa de uma coisa que você me disse? Eu mal te conheço, menino!
-Mas afinal, o que ele pode ter dito que atiçaria na senhorita o desejo de eliminá-lo?
-Nada. Esse rapaz, o Toni, veio até a minha casa perguntar se eu sabia quem era o pai do filho que uma amiga minha tá esperando. Como eu disse que não fazia ideia de quem era...
-“Amiga”? Depois do que você fez, ainda tem coragem de chamar Lívia de “sua amiga”, sua cobra?
-Olha aqui, eu não vou permitir que você me ofenda na minha casa, entendeu? Tá pensando que é quem?
-Por favor, se acalme...
-Claro. É muito fácil pro senhor pedir calma, já que não tá no meu lugar, sendo acusado injustamente.
-Mais fácil será deter você por peitar uma autoridade, Karen.
-Pois muito bem. Vamos até a garagem. Por favor, venham comigo- Karen aciona o elevador e acompanha Toni e Salviano até o local. Quando chegam ao local, percebem que o modelo não tem nada a ver com a descrição dada pela denúncia.
-Realmente, em nada se parece com o que foi me passado pelo telefone.
-Passado por ele, obviamente.
-Não. Por meio de uma denúncia anônima.
-Quer dizer que são dois que me acusam? Na certa, foi alguém que ele instigou a ligar pra me prejudicar.
-Não pense que vale tanto assim, Karen.
-Pensa o quê, Toni? Que pode vir à minha casa e me acusar, ainda mais acompanhado da polícia?
-De qualquer maneira, eu teria que vir até aqui pra lhe entregar isto.
-Do que se trata?
-Uma intimação, para que você deponha sobre o caso de Lívia dos Santos Figueira.
-Aposto que isso também é obra sua...
-Não, muito pelo contrário. Quem indicou seu nome foi a Dona Heloísa.
-Viu só? Pra polícia, você não vai poder se fazer de desentendida. Vai ter que repetir tudo que disse pra Dona Heloísa. E provar.
-Só que eu não sei de onde ela tirou que eu possa saber alguma coisa.
-Sabe, sim. Tanto que contou pra ela no hospital a sua versão dos fatos.
-Mentira da Heloísa, eu não faço ideia de quem seja o pai do bebê da Lívia.
-Foi a própria Heloísa que me disse que você havia dito saber de alguma coisa- Karen não reage à afirmação do delegado.
-Vai ter que dar detalhes também do estupro. Porque eu tenho certeza de que Lívia lhe falou alguma coisa.
-Agora você quer convencer a justiça que Lívia não transou e engravidou? Que foi vítima de abuso?
-Isso também foi dito durante a denúncia anônima, senhorita.
-Consigo entender por que o país tá desse jeito. Vocês dão crédito a trotes, a pessoas que só querem perturbar a paz alheia, e não a solucionar os crimes.
-Não subestime meu trabalho, menina.
-Nem o senhor a minha paciência!
-Bom, esteja avisada. Compareça amanhã à delegacia, e se não aparecer lá, nós vamos lhe buscar. Nos desculpe o transtorno. Boa tarde- Salviano e Toni se retiram do prédio, e Karen se mostra mais aflita do que nunca.
-Não bastasse a Lívia, agora tem a doméstica suburbana querendo me ferrar. Mas ninguém vai me vencer.

/////

À noite, na igreja, Homero está chegando à igreja, e é abordado logo na porta por Toni.
-A paz do Senhor, Pastor.
-Rapaz, não era pra você está aqui. Tinha mais era que descansar, ainda está com o braço machucado depois do susto.
-É justamente por causa desse susto que eu queria falar com o senhor.
-O que houve, Toni?
-O senhor mora no mesmo prédio que a Karen, né?
-Sim, meu filho, mas nos cruzamos pouco. Karen adora ir pras noitadas, pras festas, chega em casa quase de manhã, não vem dando atenção aos estudos... Mas por que está me perguntando?
-Pastor, eu tenho pra mim que Karen tem alguma coisa a ver com o que houve com a Lívia.
-Como assim? Alguém te disse alguma coisa sobre isso?- Toni lembra das declarações de Juliano, e prefere se esquivar da resposta esperada por Homero.
-Mais ou menos. O fato é que eu preciso de um favor seu, e eu acredito na sua discrição.
-Se estiver ao meu alcance, pode pedir. É minha função te ajudar.
-Eu quero que o senhor pergunte lá no prédio, sem ela saber, é claro, se a Karen trocou de carro.
-Mas por que isso agora?
-Pastor, por favor, eu só peço isso ao senhor. Eu lhe prometo que depois eu explico com mais calma. Agora, eu não posso fazer isso porque a igreja tá começando a encher de gente.
-Toni, você tá fazendo alguma coisa escondida dos seus pais?
-Não é nada disso, Pastor. Mas eu queria que o senhor fosse ver isso pra mim. Pode ser?
-Tudo bem. Amanhã mesmo eu pergunto aos vizinhos. Mas eu quero que você ore e peça orientação ao Senhor, pra ter certeza do que está me pedindo, e se é certo mesmo.
-Se sua preocupação é essa, não tem problema. Eu quero que a justiça obrigue uma pessoa a corrigir um erro grave.

/////

Esperando por Danilo no corredor de seu apartamento, Karen chama a atenção dos vizinhos. Assim que o noivo chega, ela o puxa para dentro de sua casa.
-Mas o que foi que houve, que você não deu notícia nem atendeu às ligações?
-Aconteceu que deu tudo errado. Pensei que você vinha pra cá ontem.
-Não pude. Meu pai passou esses dois dias em casa. E o pior: comemorando que a Lívia tem progredido.
-É sobre ela que eu quero falar também.
-Antes, eu quero saber o que você fez com o Toni e que fim você deu no carro.
-Parece que o desgraçado adivinhou que eu tava atrás dele. Se jogou numa calçada.
-Quer dizer que você não deu um fim nele? E o carro?
-Deixei numa oficina. Não trouxe pra cá pra ninguém mais ver que eu andei em outro carro.
-Não acredito que deu tudo errado.
-E você não sabe o pior; além de Toni se salvar, ele ainda veio com o delegado aqui.
-E você negou tudo?
-Não sou nenhuma demente, Danilo. Ainda tive que mostrar que meu carro tava dentro da garagem. Mas a mãe dela se lembrou da nossa conversa no hospital. Fui intimada a depor.
-Droga! Agora, não tem como a gente se livrar de Toni. Já tá sob a proteção da polícia. A família toda também, já que o irmão dele é que começou essa estória!
-Foi sobre isso que eu tava pensando, meu amor...
-O que é? Dar um sumiço no Juliano? Fora de questão! Ainda mais agora com o atentado do Toni tão em evidencia.
-Talvez a gente tenha que atingir o cerne do problema.
-Karen, vai direto ao ponto.
-Como Lívia ainda não acordou, e nem saiu do coma, não vai ser nenhuma surpresa se ela tiver uma piora e vir a óbito.
-Peraí, você não tá sugerindo que a gente...
-“A gente” é muito óbvio, meu amor. Você. Dá um fim na Lívia, e o nosso problema acaba.

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