-Você deve ter se
confundido. Mas esse rapaz é Danilo, filho do Dr. Rafael! Eu tenho certeza!
-Eu vi ele com o
travesseiro abafando a Lívia, eu vi!
-Não pode ter sido
ele! Ele deve ter vindo aqui pra ver o pai, só foi isso.
-Eu peguei ele no
flagra, ninguém me disse, não!
-Moço, você tá
enganado...
-O que é que tá
acontecendo aqui? Que gritaria é essa?
-Nada, Doutor- o
enfermeiro tenta contornar a situação.
-Tentaram matar a
Lívia.
-O quê?
-É o que eu tô lhe
dizendo, um rapaz tava sufocando ela com o travesseiro- ao dizer isso, Toni vê
Rafael correndo para socorrer a moça, que tosse bastante e se sente enfraquecida,
com a respiração cada vez mais ofegante. O médico também vê o travesseiro
jogado no chão, em decorrência da briga.
-Traz o nebulizador
pra ela, rápido!- avisa ao enfermeiro, que busca o equipamento- Vocês viram
alguma coisa?
-Eu vi esse rapaz
entrando, Doutor- afirma um dos pacientes- Quando ele abriu a cortina, tinha um
rapaz lá dentro, segurando um travesseiro.
-A gente viu eles
dois brigando- ratifica outro que está na enfermaria. O nebulizador chega.
-Calma. Calma, nós
vamos cuidar de você, fica tranquila.
-Ela piorou,
Doutor?
-Vou ter que transferir
a Lívia pra outro local, aqui ela não pode ficar.
-Eu vou pedir à
direção do hospital pra colocar a moça em outra área- o enfermeiro propõe.
-Ótimo, faça isso.
-E eu, Doutor? O
que eu faço?
-O óbvio, Toni: vai
ter que falar com a polícia. Assim que eu trocar a Lívia de quarto, eu vou
falar com o delegado.
-Tem como pedir pra
ele vir aqui? Eu não queria sair de perto dela. Principalmente se o pior...
-Não vai acontecer
o pior! Não vai! Eu vou salvar essa moça, e o homem que entrou aqui vai ter que
pagar pelo que fez.
/////
Homero desce do
elevador e vai falar com o porteiro.
-Bom dia, Seu
Claudinei.
-Ô, Pastor, bom
dia. Como é que tá a sua igreja?
-Minha, não. Do
Senhor. Graças a Ele, ganhando cada vez mais almas. O senhor tem um tempinho?
-Claro, pode falar.
-Na verdade, eu
queria tirar uma dúvida. Mas eu vou pedir que não comente isso com ninguém.
-Quanto a isso,
pode ficar tranquilo. O que o senhor quer perguntar?
-Aquela moça que
mora na cobertura, a Karen... Ela trocou de carro?
-Não, senhor.
Continua andando normal no carro preto dela, o Palio.
-Tem certeza?
-Tenho, sim,
senhor... Quer dizer...
-O que foi?
-Essa semana, o
noivo dela apareceu aqui com um carro diferente, cinza. Eles se falam por uns
segundos, depois ela assumiu a direção e ele foi-se embora, a pé.
-Quando foi isso?
-Nessa semana, acho
que foi terça-feira de manhã, se não me engano.
-O senhor lembra
como era o carro?
-Era parecido com
um Corsa, Pastor.
-O carro era do
noivo dela?
-Devia ser do Seu Danilo,
sim. Se bem que eu nunca vi ele dirigindo. Sempre que ele vem visitar a Dona Karen,
é andando a pé mesmo. Mas por que o senhor tá me perguntando tudo isso?
-Eu ainda não posso
falar, Seu Claudinei. Mas eu vou lhe pedir mais uma vez: por favor, não comente
isso com ninguém.
-Pode confiar,
Pastor. De mim, ninguém vai saber nada. Olha, chegaram umas correspondências
pro senhor.
-Deixa guardado,
que mais tarde eu pego. Obrigado, Seu Claudinei.
/////
Heloísa chega
desesperada ao hospital e vai falar com Toni,que está em um corredor.
-Cadê minha filha? Eu
quero saber onde é que tá minha filha!
-Calma, Dona
Heloísa...
-Como “calma”,
Toni? Como “calma”? Você liga pra mim, diz que um homem tentou sufocar Lívia em
cima de uma cama de hospital e me pede pra não ficar nervosa? Eu quero saber da
minha filha agora! Onde é que ela tá?
-O Dr. Rafael tá
examinando a Lívia, junto com o enfermeiro. Ele achou melhor botar ela numa
outra ala, mais afastada, pra não ter risco disso acontecer de novo...
-Como é que a minha
filha tá, Toni? Para de me esconder e me conta a verdade!
-Eu não sei, Dona Heloísa!
Faz meia hora que eu tô esperando também. Até agora, ninguém me deu nenhuma
notícia.
-Dona Heloísa?
Marcos Antônio?
-Ah, graças a Deus
o senhor chegou, Delegado.
-O que foi que
aconteceu por aqui?
-O que aconteceu é
que a minha filha quase foi assassinada dentro desse hospital! Mas como é possível
que a segurança deixe entrar qualquer pessoa aqui dentro?
-É, o Dr. Rafael nos
ligou avisando. E Lívia, como se encontra?
-Não sei, o doutor tá
lá, examinando ela faz tempo. A gente não tem notícias.
-Pelo que soube
também, você também teve um confronto corporal com o suspeito, é isso?
-Suspeito, não!
Culpado! Eu sei o que eu vi, e eu tenho certeza de que se eu não tivesse chegado
na hora, ele tinha matado a Lívia!
-Toni, eu sei que o
momento é delicado, mas precisamos da sua colaboração. Deixa eu te apresentar,
esse é o Ricardo, que trabalha comigo na delegacia.
-Prazer... Mas por
que o senhor trouxe ele aqui?
-Bem, diante do que
aconteceu essa semana, com o seu quase atropelamento, e a denúncia anônima
contra a Karen, eu...
-Espera um minuto...
Atropelamento? Que estória é essa, Toni? Tentaram te matar também?
-Foi, Dona Heloísa.
Mas não foi a mesma pessoa que tentou acabar com a Lívia.
-E como é que você
sabe?
-Foi a Karen.
-Karen?
-Lembrando que isso
é só uma suspeita, Marcos Antônio.
-Mas por que Karen ia
querer fazer alguma coisa contigo?
-Lívia andou
conversando com Juliano, e disse que aquela estória de que Lívia tinha bebido e
dormido com um cara sem conhecer era mentira. Que Karen sabe o nome do pai do bebê
e que...
-Peraí, isso é
impossível. Primeiro porque Lívia nunca se deu com Juliano, eu até ficava
constrangida com o preconceito dela. E segundo... Quando foi que ela conversou
com seu irmão?
-Quando ela...
Quando ela já tava internada.
-Só um momento. Pelo
que me falaram, Lívia estava em coma- Ricardo tenta compreender a situação.
-O meu irmão afirma
ter ouvido a voz de Lívia enquanto ela tava internada. Ela disse a ele que Karen
não é quem parece ser, que tá tentando manchar a reputação da sua filha dizendo
que nem ela fazia ideia de quem é o pai da criança.
-Deixa eu ver se eu
entendi: você chamou a polícia só porque seu irmão “ouviu uma voz, que seria de
Lívia, afirmando que a melhor amiga mentiu para a mãe”? Sabe quanto tempo nos
fez perder com essa palhaçada, rapaz?
-Palhaçada ou não,
eu quase morri nessa semana por causa de um atropelador que fugiu sem prestar
socorro! Hoje, eu peguei um cara sufocando a Lívia com um travesseiro! O senhor
acha mesmo que eu não vou dar crédito ao meu irmão só porque ele não tem as
evidências que a polícia tanto quer, Delegado? Duas tentativas de assassinato
em tão pouco tempo e o senhor chama isso de “palhaçada”?
-Está bem, rapaz.
Eu vou lhe dar mais um voto de confiança. Por isso que eu trouxe o Ricardo
aqui.
-Como é que ele
pode nos ajudar?
-Você vai descrever
o sujeito que você viu atacando a Lívia. Ricardo fará um retrato falado.
/////
Rafael comenta com
o enfermeiro sobre o estado de saúde de Lívia.
-Ainda bem que
conseguimos estabilizar o quadro.
-Não é melhor eu
conferir se o delegado chegou, Doutor?
-Isso, Fabiano. Diz
a ele pra colocar alguém de sua confiança na porta do quarto.
-Tudo bem. Com
licença.
-Ah, e liga pra
minha esposa. Diz que eu não vou passar em casa pra almoçar. -Sim, senhor. Com licença.
O médico está
colocando uma nova medicação no soro de Lívia, e é surpreendido pelo despertar
da jovem.
-Pode ficar tranquila.
Você está a salvo agora. A polícia já está cuidando do caso.
-Doutor... Tem
que... Tem que prender aquele desgraçado...
-Eu sei, minha
querida. Eu sei, mas você não precisa se preocupar. O importante é você
recuperar sua saúde. Ainda mais por causa do filho que está esperando.
-Mas e... Se o
Danilo voltar?
-Danilo?
-O pai do meu
filho, Doutor... Foi ele... Que queria... Quem quis... Me matar.
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