27/04/2015

LEVE-ME DAQUI/ CAPÍTULO 25: O AMOR PODE SER BOM, SIM?



-Não me chama de pai! Você não merece que eu te considerar como filho depois do que fez a todos. Deixou a Karen mentir descaradamente pra Heloísa, arquitetou a morte do Toni pra que ele não dissesse o que o irmão soube, e tentou calar a Lívia hoje! Pensa que eu não sei de tudo, Danilo?
-Você vai ter que me acompanhar até a delegacia, pra prestar depoimentos sobre as tentativas de homicídio contra Marcos Antônio Almeida dos Anjos e Lívia dos Santos Figueira, além da acusação de abuso sexual contra essa mesma reclamante- esclarece Salviano.
-Eu não vou pra canto nenhum, o senhor tá ficando louco?
-Melhor pensar antes de desrespeitar uma autoridade, Danilo.
-E o que lhe faz pensar que eu tenho alguma coisa a ver com isso?
-Passamos a tarde toda na delegacia, seu inconsequente- brada Rafael- Além do Toni e da Lívia, que acabou de acordar e me contou tudo sem imaginar que você fosse o meu filho. Até um pastor está sabendo da canalhice que você fez! E trouxe até uma testemunha pra provar que você entregou um carro que quase fez a Karen assassinar o Toni!
-Como é que é? Quem foi que falou mal de mim? Quem foi? Diz o nome, diz na minha cara!
-Não adianta bancar o bravo, não, moleque. Não é aqui que você vai se defender, nem se pronunciar.
-Eu não vou pra lugar nenhum, já disse.
-Já disse que vai. Ninguém está prendendo você. Deixe de sua afoiteza, porque o juiz já emitiu uma intimação e você vai ter que me acompanhar, quer queira, quer não!- Salviano mostra o documento, mas este é rasgado pelo jovem, furioso.
-Danilo, você perdeu o juízo, meu filho?- Patrícia fica chocada com a atitude.
-Tem razão. Não devia ter rasgado. Devia ter deixado inteiro, pra fazer esse cara engolir! Quero ver qual é o juiz que vai me tirar daqui. Quero ver, inclusive, qual vai ser a porcaria de autoridade que vai obrigar a ir até a polícia. O senhor? Duvido muito que tenha cacife pra me enfrentar! Tem ideia de quem sou eu, por acaso?
-Toda. Podem entrar- dois policiais algemam Danilo.
-O que é isso? Me solta!
-Danilo de Carvalho Tosak, você está preso por desacato à autoridade. Podem levá-lo.
-Não podem fazer isso! Eu exijo que soltem meu filho agora!- Patrícia é contida pelo marido- Rafael, faça alguma coisa!
-Já fiz, Patrícia. Contar e saber de toda a verdade. Você sabia que o seu filho foi responsável pelo abuso sexual de uma das minhas pacientes? E que hoje de manhã tentou assassiná-la?
-Mentira! Meu filho nunca faria isso!
-Faria, não! Fez! Danilo não passa de um criminoso, de um marginal, e que é acobertado pela Karen!
-Vamos embora daqui, logo- ordena Salviano. Danilo tenta se soltar, sem êxito. Patrícia acompanha o filho, que deixou o celular cair na cama. Rafael olha e vê que Karen ainda está na linha. O médico aproveita a oportunidade para dar seu recado.
-Daqui a pouco, sua demente, é você quem vai parar na cadeia. Vai pagar por tudo que fez à Lívia, a Toni e ao meu filho!
-Se tem algum culpado do que tá acontecendo, é o seu filho, Doutor. Mas ele não vai me vencer. Nem ele, nem ninguém!- Karen atira o celular pela janela- O que eu vou fazer? O Danilo não pode ser preso, não pode acabar assim! A nossa história não vai acabar assim... Eu tenho que fazer alguma coisa pra tirar o Danilo da cadeia... Mas o quê?

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“Jesus Cristo é o Senhor
Da morte nos libertou
Morreu crucificado
Perdoou os meus pecados

Na dança de Nazaré,
Só não dança quem não quer”

Assim que termina o culto jovem da igreja, Toni sai de perto do seu equipamento de mixagem sob aplausos dos fiéis. Homero vai cumprimentar o DJ.
-Que hino abençoado. Quem é que canta?
-Deo Pactum. Encontrei as músicas deles na internet, sabia? Foi num dia que eu tava pelo SoundCloud. Depois eu passo pro senhor.
-Sabe, Toni, eu ainda estou com o coração partido depois do que eu vi hoje na delegacia, com aquele pai chorando cada vez que eu contava a história do carro. Quando o Seu Claudinei chegou pra confirmar minha versão, então...
-É, eu também fiquei com pena do doutor. Pro bem ou pro mal, é filho dele, né?
-Tomara que esse rapaz se arrependa de todo o mal que fez a vocês. Mas agora ele vai ter que pagar. Afinal, ousou tocar num rapaz que é protegido pelo unção divina...
-A Karen também, Pastor. Eu não sei quase nada desse Danilo, mas eu posso jurar que a noiva dele é pior.
-Não vamos julgar dessa forma, irmão. Todos têm direito à salvação.
-Pois é. Mas eu não acredito que ela esteja arrependida de tudo que fez. E digo mais: se derem brecha, ela ainda vai tentar fazer mais estrago.

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Alguns minutos após a chegada de Danilo à delegacia, um policial está na porta do local. Karen chega num táxi, vestida de preto e usando uma peruca ruiva. Ela paga a corrida e se aproxima do rapaz.
-Boa noite. Eu queria duas informações.
-Pois não, senhorita?
-O Danilo de Carvalho Tosak... Ele veio pra cá, não foi?
-Foi, chegou já tem uns vinte minutos. Ele foi chamado pra prestar depoimento, mas brigou com o delegado e foi detido.
-Tem mais uma coisa que eu queria saber- tira um cheque da bolsa- Eu tenho um pouco de dificuldade de enxergar à noite. Pode dizer qual é o valor que tá escrito aqui?
-Cem mil reais.
-Que bom que você enxergou. Se quiser, pode ver também a cor desse dinheiro.
-O que eu tenho que fazer?
-Fique tranquilo. Isso não vai lhe prejudicar. Eu só preciso que você tire uma pessoa daqui, e depois, o cheque pode ser seu.

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Patrícia está com Salviano pelo telefone.
-Está bem, obrigada. O delegado me disse que a questão do desacato pode ser resolvida mediante pagamento de fiança.
-Tire do seu dinheiro. Aproveite e chame um advogado.
-Não é possível que você não vai se mover, Rafael!
-Parece que você ainda não entendeu a gravidade do problema, Patrícia! Nosso filho é um criminoso, precisa ser punido.
-Até quando você vai usar esse ar de superioridade pra se referir ao Danilo?
-O que você chama de “ar de superioridade”, eu afirmo que é “ética”, “vergonha na cara”... Enfim, tudo que eu transmiti pro meu filho, e que você, sempre passando a mão na cabeça dele, fez questão de destruir.
-Se você faz questão de se culpar pelo fracasso que é ser pai, coisa que você não sabe ser, ótimo! Mas eu, Rafael, vou mover céu e terra pra tirar Danilo da prisão- Patrícia vai até o quarto, deixando o médico pensativo.
-Fracasso de pai... É... Talvez eu seja mesmo um.

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São duas horas da manhã. O policial que esteve com Karen bate na cela em que Danilo está.
-Boas novas, meu chapa.
-O que é? Pagaram minha fiança?
-Muito pelo contrário- abre a cela e algema o rapaz novamente- Você vai ser transferido. Me acompanha.
-Ah, que ótimo. Sair de uma espelunca pra se enfiar em outro esgoto a céu aberto...
Ambos saem da delegacia, praticamente sem ocorrências, e entram numa viatura. O oficial toma a direção do veículo e leva Danilo para um hotel, de dois andares.
-Que lugar é esse?
-Teu último destino, playboy- aponta a arma para ele.
-O que é que você vai fazer?
-Eu nada- o policial dá uma coronhada na cabeça do jovem, que desfalece- A Karen é que vai.

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