08/04/2015

LEVE-ME DAQUI/ CAPÍTULO 8: ATÉ SARAR

-Lívia tá grávida?
-Pensei que você soubesse, já que disse que são vizinhos.
-É que... A gente não é tão próximo assim, Doutor. Por isso, eu não sabia. Mas... E agora? O que a gente faz?
-Não há o que fazer. Temos que esperar pra ver se Lívia demonstra algum tipo de reação. Mas o quadro é realmente muito grave.
-Ai, meu Deus. Ela desmaiou perto de mim, eu não sabia que era isso.
-Chegou a avisar alguém da família?
-Eu tava tão... Sem saber o que fazer... Que eu só fiquei aqui orando... Pensando que em alguns minutos ela ia sair de lá de dentro, medicada...
-Se quiser usar minha sala, pode telefonar de lá.
-Não, eu tenho bônus no celular ainda, mas... Acho que é melhor ir pra casa dela, avisar à mãe. Essas coisas, a gente não diz pelo telefone.
-Tem razão. Bom, eu vou comunicar às autoridades sobre o caso dessa moça. É Lívia de quê mesmo?
-Sinceramente, Doutor, eu não lembro, nem tô com cabeça pra isso. Mas por que o senhor quer chamar a polícia? Acha que alguém mandou ela tomar esse remédio que o senhor falou?
-Obrigada ou não, ela tentou abortar, o que não é permitido pela lei, a não ser em caso de risco para a vida da gestante ou de abuso sexual. Tirando isso, ela jamais poderia ter...
-Mas a gente não sabe o que aconteceu. Só quando ela acordar é que vai poder explicar.
-Se acordar, rapaz. Eu já vi muitos casos assim. Mas o que me impressiona não é o estado dela. É o fato de não ter acontecido nada com o bebê. O feto está em perfeitas condições, não sofreu nada que o prejudicasse, mesmo com a mãe em coma e com uma hemorragia difícil de controlar.
-Foi milagre.
-Talvez tenha sido mesmo...
-“Tenha sido” não. Foi.
-Bom, você entre em contato com a família dela, que nós precisamos de uma pessoa pra ser acompanhante da moça. Agora você vai ter que me dar licença.
-Pode ir, Doutor. Obrigado.
Toni sai do hospital em silêncio, abatido, pensando em como dar a notícia para a vizinha Heloísa.

/////

O rapaz, ao voltar para o bairro, estaciona a moto na porta de Heloísa. Algo que Iolanda, com a janela aberta, estranha no filho. Mas decide não chamá-lo. Toni toca a campainha.
-Já vai- abre a porta- Oi, Toni. Tudo bom?
-A senhora tá ocupada? Ainda vai sair pra trabalhar hoje?
-Tô uns dias em casa. A minha patroa tá viajando. Foi pra Juazeiro do Norte.
-Dona Heloísa, eu posso entrar rapidinho? Tenho que falar com a senhora.
-Pode, sim, meu filho. Entra, por favor- Toni entra e Heloísa fecha a porta- Não repara na bagunça, que ainda falta mudar o sofá de lugar. O que houve?
-Eu vim aqui por causa de Lívia.
-O que é que tem ela?
-É que ela tá no hospital, e eu vim avisar a senhora.
-Minha filha? No hospital? Mas o que houve?
-Foi um sangramento que ela tava tendo, eu encontrei com ela por acaso no prédio do Pastor...
-Toni, como é que ela tá? Ela tá melhor?
-Não. Ela tá inconsciente, Dona Heloísa. Saí do hospital e ela não tinha acordado ainda. Ficou internada.
-Em que hospital ela tá, Toni? Me leva pra lá que eu quero ver minha filha agora!
-Calma, eu vim pra buscar a senhora...
-Nenhum médico atendeu Lívia? Ela vai ter que ficar esperando um médico aparecer?
-Não, o médico atendeu ela, sim. Mas ele falou que era melhor deixar ela lá. Vem comigo, eu levo a senhora.
-Espera, eu vou no quarto pegar os documentos de Lívia pra levar até o hospital. Já venho.
-Eu ajudo a senhora a procurar.
Ao entrar no quarto de Lívia, Heloísa e Toni procuram algum documento da jovem. A mãe decide procurar na mesa de cabeceira, enquanto o DJ procura nas gavetas do guarda-roupa. Mas um detalhe chama a atenção da doméstica.
-O que é isso?
Toni se vira e vê Heloísa recolher, do cesto de lixo, o teste de gravidez que Lívia comprou.

/////

Karen está preparando o jantar, quando o interfone toca.
-Fala, Seu Claudinei.
-Seu Danilo está querendo subir pra falar contigo.
-Danilo?
-É. E está com um buquê de flores. Posso mandar subir?
-Pode- estranha a atitude do ex- Obrigada.
Enquanto o rapaz não entra, a estudante continua arrumando a mesa. Ouve-se o som da campainha. Quando ela abre a porta, o vê escondendo o buquê de flores nas costas.
-Parece até que você sabia que eu vinha. Tá linda.
-O que você quer aqui, Danilo?
-Te ver. E te trazer isso também.
-São muito bonitas. Não acho que precisava.
-Você merece.
-Pena que é um presente não muito apropriado.
-Não?
-Pois é. Funciona quando um homem dá pra mulher que ele ama. Ou que, pelo menos, seja sua namorada. E até onde eu sei, não somos nada disso.
-Tem razão. Não somos namorados. Somos noivos.
-Como assim? Do que você tá falando, Danilo?
Do buquê, Danilo tira uma aliança e coloca na mão direita de Karen. Depois, faz um pedido, mostrando a sua mão com outra aliança.
-Quer casar comigo, Karen? Não aceito “não” como resposta.

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