23/01/2016

MENTIRAS ESCANCARADAS/ CAPÍTULO IV: IʼM NEVER GONNA DANCE AGAIN



-Eu me recuso a acreditar que você me propôs isso. Mas também, não é, o que esperar de um cafajeste como você?
-Meritíssima, me escute... Se a senhorita pensa que eu não cumpro com as minhas promessas, está enganada. Eu sou um canalha de palavra.
-Não quero ouvir mais nada- abre a porta do carro novamente, mas é impedida por Coelho.
-Espera! Eu ainda não acabei de falar.
-Mas eu já! Aliás, eu não falo com protozoários como você. Me deixa passar.
-Não! Você pode até não acreditar, mas eu vou provar que posso desembolsar esse valor e te dar.
-Eu não estou à venda!
-Ah, por favor! Todo mundo tem seu preço, Meritíssima...
-Aí é que você se engana. Você, por exemplo, não vale o chão que pisa.
-Dara, Dara, Dara... Se você soubesse o que você é capaz de despertar nos homens, não perderia tanto tempo sendo exemplo de dignidade. Se você for boazinha comigo, eu posso até aumentar o valor da recompensa...
-Mais uma palavra, Coelho, e você vai ter que subornar o diretor do presídio. Por enquanto, trate de contar os trocados pra pagar a gorda indenização que Michele vai cobrar.
-Isso é antiético, sabia? Você está praticamente me dizendo que vai dar ganho de causa àquela golpista.
-Como se fosse difícil algum ser humano normal perceber que você não presta. Se você vier atrás de mim, eu processo você por assédio também. E ainda posso jogar você na cadeia por peita!
-Peito? Mas eu quero o corpo todo!
-Peita, imbecil!- puxa a porta do carro e volta pra casa.
-Conseguiu sentir ódio por mim... Isso deixa a brincadeira ainda mais divertida!

/////

Numa bela noite, Dara volta pra casa e encontra uma mesa preparada pelo seu hóspede.
-Antonio? Quem te ajudou a fazer a mesa?
-Pra ser bem sincero, o Corpo de Bombeiros.
-Como assim, Antonio?
-Tentei assar um hambúrguer. Incendiei a cozinha.
-Não tem problema, meu querido. A gente pede uma pizza. O importante é que você fez esse jantar lindo pra gente- só tem o pão e a salada- E ainda mais à luz de velas.
-Dara, é sobre isso que eu queria falar.
-O que você tem pra me dizer?- fica com a voz trêmula pensando que virá uma declaração.
-Acendi essas velas... Quer dizer, pedi pros bombeiros acenderem porque você se esqueceu de pagar a conta.
-Ah, é verdade, eu tava tão mergulhada nesses casos que eu esqueci.
-Mas não se preocupe, eu dei meu jeito de salvar a noite- tira do bolso um chocolate.
-Sonho de Valsa! Eu quero! Ai!- exprimindo um grito desses, a gente até entende por que Coelho quer tanto essa mulher.
-É todo seu. Mas não só ele. O meu reconhecimento, por tudo que você tem feito por mim.
-Vamos dividir? É muito chato comer sozinha.
-Pode ser- diz Antonio, encabulado.
Lentamente, Dara vai desembrulhando o chocolate e fazendo o engenheiro mastigar lentamente. Depois, põe a outra metade em seus próprios lábios quando "Careless Whisper" começa a tocar na rua.
-É o rapaz que vende macaxeira numa carroça toda noite. O marketing dele é bom, não acha?
-Sublime!- responde Antonio, se referindo a outra coisa...
-A gente poderia aproveitar a oportunidade, Antonio.
-Pra quê?- o tarado cego está com rojões na mão.
Dara puxa-o para uma dança ao som da canção oitentista. Inicialmente, Antonio sequer põe a mão na juíza, mas logo ela o toma e faz com que ele coloque cuidadosa e respeitosamente as mãos em sua cintura, enquanto ela leva as suas ao pescoço do rapaz. Tudo se encaminha para um beijo quando Dara diz...
-Vou limpar a cozinha pra fazer um bolo.
É, Antonio, não foi dessa vez. Acho que ela quer fazer um jogo contigo, garoto!

/////

Dr. Wilson é convocado para uma reunião emergencial na sala de Coelho.
-Vim o mais rápido que pude. O que houve de tão grave?
-Sente-se, Dr. Wilson. Eu preciso de um favor.
-O senhor me pedindo um favor?
-Tem razão. Eu mando nessa bagaça! Quero que você descubra o número da conta que Dara Lira tem no banco.
-A juíza responsável pelo seu processo? Mas por quê?
-Pretendo comprá-la, é claro. Mas não por conta do processo. É que eu quero ver se ela vai se manter íntegra diante de tanto dinheiro que eu pretendo dar.
-Dr. Coelho, eu não posso concordar com isso. É um ultraje!
-Ultraje, pra mim, é aquele que canta "pelado, pelado, nu com a mão no bolso". Dr. Wilson, eu não estou pedindo sua opinião profissional.
-Mas eu vou dar mesmo assim! Se essa história vai parar nos jornais, a sua carreira estará destruída. Eu tenho o direito de abrir seus olhos, Coelho!
-Nessa vida, você só tem dois direitos: o direito de não ter direito e o direito de não reclamar do dinheiro que tem. Você, além da minha mulher, sabe as minhas senhas de banco. Quero que você se certifique de qual é a conta de Dara e transfira um milhão de cruzeiros do meu dinheiro.
-Bom, eu posso demorar um tempo pra fazer a operação.
-Quando fizer, não avise nada a ela. E nada de comentar isso com Thaynara.
-O que pretende com essa armação?
-Forrar a cama da Meritíssima com um milhão de cruzeiros. E como diria... Não faço a menor ideia de quem... "Quem boa cama faz, nela dorme"!

/////

-Seu cartão foi recusado- a vendedora do Atacado Dos presentes avisa à Thaynara.
-Como assim?
-Parece que seu marido não pagou a fatura.
-Aposto que deve ter comprado algum presente caro pra uma das amantes. Mas não se preocupe, que vai ser hoje!
-É hoje o quê?
-Que eu vou rodar a baiana, a nordestina, a brasileira, o que for! Não aguento mais essas cenas em que estou fazendo compras e sinto o cheiro da gaia! Sem falar que "Careless Whisper" está tocando há dois capítulos seguidos. Vou reclamar com o autor da novela e exigir que ele aumente meu papel, porque senão eu vou revelar para todo o Brasil que ele já teve um caso tórrido com uma tal de Ariela!- sai da loja, enfurecida.
Não tive caso com Ariela nenhuma. Isso é fruto da imaginação dos espectadores de "Tempo Perdido", outra trama que escrevi. Não é porque "Mentiras Escancaradas" é baseada em pessoas reais que todas são. Vou chamar meu advogado, se bem que...

/////

 ...Eu poderia contatar Dr. Wilson, já que é o único advogado que conheço. Só não sei onde fica o escritório dele, mas vamos seguir Thaynara, que apareceu por lá com um vestido preto curto (até para os padrões dos anos 90) com umas ombreiras toscas e botas. Qualquer hora dessas, ela aparece cantando lambada no "Globo de Ouro"!
Mas vamos partir do pressuposto de que você não faz a menor ideia do que estou falando por não saber o que se passava na década de ambientação, atendo-se somente à estória. Muito bem: Thaynara vem com esse figurino provocante e entra na sala do Dr. Wilson.
-Será que o senhor tem um tempinho?
-Claro, senhora. Fique à vontade.
-Hum, tirou as palavras da minha boca- e desabotoa alguns botões. Começa a tocar qualquer coisa do Kenny G na hora porque não vamos repetir canções novamente.
-O que... – Dr. Wilson solta um pigarro- O que a senhora deseja de mim, Dona Thaynara?
-Coisa simples: seu corpo em pelo- abraça o advogado.
-Contenha-se, Dona Thaynara! Seu marido é meu cliente!
-Seu excesso de ética é bem instigante. Por isso que eu vim te procurar.
-O que a senhora quer de mim?
-Sabe que se essa ombreira bater no seu olho, eu te cego, não sabe? Então, desembucha! Fala de uma vez por que meu cartão de crédito foi recusado!
-As máquinas da Cielo ainda não existem, como quer que a tecnologia atue a seu favor?
-Dr. Wilson, Dr. Wilson... Você convive mais com o Felipe do que eu, que sou a esposa. Por que não pagou as contas? Meu marido estampou a capa da Forbes do mês passado, por causa dos lucros exorbitantes que a Play Pause vem tendo no primeiro semestre de 1990. O que aconteceu? O que Felipe está fazendo com o dinheiro? Se você me contar, vai ganhar uma bela recompensa: eu, embrulhada pra presente. Ou melhor: sem embrulho nenhum!
-Não vou compactuar com essa baixaria! Trate de se conter, porque eu ajo com precisa honestidade. Não preciso que a senhora tente me comprar com favores íntimos...
-Então, é melhor abrir a boca pelo bem da sua integridade moral! E física também!- segura o pescoço do advogado- Fala de uma vez o que é que Felipe anda aprontando!
-O Dr. Coelho quer comprar a juíza! Me pediu pra colocar um milhão de cruzeiros na conta dela!
-Felipe pediu isso pro senhor?- Thaynara se mostra incrédula.
-Na verdade,exigiu por ser meu cliente.
-Mas... – solta o pescoço do advogado- Felipe está pagando muito pela mudança de veredicto da juíza.
-Dara não é mais inimiga declarada do seu marido, e sim objeto de desejo dele.
-E de quem ela não é, não é mesmo? Mas espera aí... Você tá me dizendo que... A filha da mãe tá tendo um caso com Felipe?

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