-Peraí, me conta essa história direito, Pai.
-Lembra que eu te falei que tenho um amigo na polícia?
Ele acabou de me ligar, dizendo que a Marina foi à delegacia ontem e retirou a
acusação de abuso sexual.
-Mas ela pode fazer isso?
-Olha, você não faz ideia de como a lentidão da justiça nesse
país facilitou a sua vida. O caso deveria ter sido enviado para a Vara da
Criança e do Adolescente, mas o delegado não deu importância a isso. O
inquérito não chegou nem a sair da delegacia.
-Mas por que ela desistiu de tudo isso? Pai, a Marina
queria acabar comigo.
-O que importa? O fato é que você está livre, Max!
-Eu tenho que descobrir o que rolou pra ela ter mudado de
ideia.
-Descobrir como? Se aproximando dela de novo? Faz de
conta que a Marina não existiu nunca, Max! Nem pense em se aproximar dessa
garota!
-Será que foi por causa daquela conversa que vocês
tiveram?
-Por mim, os motivos são o de menos. Só de saber que não
vamos ter que nos preocupar mais com essa menina...
-Ela tá aprontando, Pai. A Marina não dá ponto sem nó. Eu
conheço bem aquela garota, ela não vai parar tão cedo.
-Max, não é a Marina a quem você conhece, é a consciência
do que você fez pra ela que te torna tão reticente. Ela não poderia levar a
mentira tão longe, ainda mais se tivesse deposto em juízo. Pode comemorar,
porque você está livre, meu filho- Breno abraça o filho, bastante frio devido à
desconfiança de Marina.
De volta à clínica onde fez os exames com Jorge, Laura
está acompanhada de Marília. Ao caminhar, faz uma observação.
-Eu reparei que o Marcello não veio mais esses dias.
Aconteceu alguma coisa, filha?
-Depois que a Marina e eu contamos sobre o segredo do
Pai, ele se afastou de mim. Não consigo entender o porquê.
-Parece muito óbvio pra mim, filha. Seu namorado não quer
se associar a alguém que é filha de um...
-Pois é. Mas eu não tenho culpa do que ele fez.
-Esquece isso, minha filha. A gente tem que aprender a
começar de novo.
-Como?
-Independente do resultado, vai ser diferente. Eu não quero
que vocês vivam numa casa oprimidas, sem conseguir dialogar comigo. Vocês dependem
de mim, e eu vou tentar ser uma mãe melhor.
-Mãe, deixa disso. A gente não tem que reclamar nada da
senhora.
-Eu é que tenho do que me queixar como mãe. Não vou
permitir que vocês se sintam magoadas, sejam feridas por qualquer pessoa...
-Vamos pegar o exame de uma vez.
Marília entra com Laura e encontra a recepcionista que
entregou o exame para Jorge.
-Bom dia. Eu queria pegar o resultado do meu exame.
-Qual o seu nome, senhora?
-Laura Souza Lemos Andrade.
-Só um minuto, por favor.
-O que você acha que vai dar, Mãe?
-Vou ter que ser forte, Marília. Isso eu vou ter que ser
em qualquer situação.
-Sabe que eu nunca te imaginei falando assim?´
-Sinceramente, eu também não.
-Dona Laura, o seu teste está aqui.
-Obrigada- abre lentamente o envelope, lendo o resultado
em silêncio.
-Fala, Mãe. Tá dizendo o quê aí?
Perto do fim da manhã, Marina volta da padaria, um pouco
abatida, para o seu apartamento. Antes de pôr os pés no prédio, tem a ligeira
sensação de estar sendo observada naquele momento. A jovem aperta o botão do
elevador, mas o porteiro avisa:
-Tá em manutenção, Marina. Vá pela escada.
-Ah, certo. Obrigada.
A jovem sobe com as sacolas e ouve passos apressados.
Trata-se de Max que vem logo atrás.
-Eu posso falar com você?
Nenhum comentário:
Postar um comentário