20/06/2017

VIDA LOUCA/ CAPÍTULO 17: FOI UM LINDO AMOR, PENA NÃO SOBREVIVER

-O que foi que aconteceu? Por que o senhor quer falar comigo?
-O que você é do Diego?- Luciano interroga, para depois ver Bete fazendo-se de desentendida.
-Diego?
-Ele é o namorado dela- esclarece Cláudia, deixando Bete apreensiva.
-Fala logo. Aconteceu o quê com ele?
-Aparentemente, um acidente.
-Acidente?
-Diego foi encontrado em um veículo que caiu de uma ribanceira. O carro ficou em destroços. A polícia chegou até você porque nós encontramos o celular do Diego no bolso dele, e o único número que ele tinha era o seu.
-“Tinha”? Fala, por favor! Cadê o Diego?
-Provavelmente seu namorado estava sob efeito de drogas e perdeu a direção do carro.
-Que coisa estranha... Diego nunca apareceu dirigindo na escola. Até onde eu sei, ele é menor de idade, não tem licença pra dirigir. Além disso, nunca soube que ele tinha envolvimento com drogas- Cláudia estranha o fato.
-Para de me enrolar e diz onde é que tá o meu namorado! Diz que ele tá bem... Fala!
-Eu sinto muito.
-Sente pelo quê? Hein? Pelo quê?  O senhor chega aqui, não fala coisa com coisa, diz que meu namorado tinha um carro, se drogava e termina com um “eu sinto muito”? Onde é que tá o Diego?
-O Diego não resistiu, Elizabete. Nós já recolhemos o corpo. Tudo indica que o acidente ocorreu ontem à noite, mas ainda falta a conclusão do laudo da perícia pra...
-Diego? Você tá... O senhor tá dizendo que meu Diego morreu, é isso?
-Bete, por favor, tenta se acalmar...
-Eu não quero me acalmar, Cláudia! Quero que esse homem desminta o que tá falando!
-Fala baixo, Bete!
-É pra escutar mesmo! O senhor vai me trazer o Diego agora! Agora, tá me entendendo?- Bete bate no peitoral de Luciano, aos gritos, sendo contida pelo policial- Fala onde é que tá o Diego! Cadê Diego? Fala pra mim, por favor!- chora desesperada. Os alunos da turma ouvem os gritos da moça e saem da sala para presenciar a cena. Vinícius corre e encontra o pai em serviço.
-Pai, tá fazendo o quê aqui?
-Vim buscar essa moça. Ela tem que me acompanhar até o IML pra reconhecer o corpo.
-De quem, Pai?
-Ele tá dizendo que o Diego morreu, Vinícius! O meu Diego tá morto!- Bete abraça Vinícius.
-Olha, é melhor a senhora trazer um copo d’água pra essa moça. Não tem condições de levá-la agora.
-Vem, Bete. Vem comigo- Cláudia ampara a moça.
-Diego era quem?- Gabriela fica em dúvida- Aquele carinha que ficava com ela?
-O negócio entre eles, pelo jeito, era mais sério do que a gente pensava- Eduardo deduz, pela reação da traficante.
-Mas como foi que ele morreu, gente?- Fábio pergunta para o amigo e a namorada.
-Isso tudo é estranho demais. Como é que foi isso, Pai?
-Você conhecia o Diego, Vinícius?
-Ele... Era meu colega de turma.
-Sei...
-Como foi isso?
-Vem cá: por que você disse que isso tudo era estranho demais? Sabe de alguma coisa?
-Não, porque ontem Diego não apareceu e não deu sinal de vida. Hoje foi a mesma coisa e, de repente, chega uma notícia dessa... Foi como isso?
-Acidente. A gente encontrou o cadáver dentro de um carro que caiu numa ribanceira.
-Que coisa horrível, meu Deus!- Gabriela fica chocada.
-Mas havia alguns cigarros no carro. Ilícitos, pra ser mais exato. Sabem dizer se ele era usuário de drogas?
-Isso só quem pode dizer é a namorada dele, a Bete- Eduardo esquiva-se, para não ser comprometido.
-Peraí, e o carro? Quem tava com o Diego no carro? Morreu também?- Fábio estranha as circunstâncias do acidente.
-Não havia ninguém no carro. Era esse rapaz, o Diego, que dirigia.
-Impossível. Ninguém nunca viu ele dirigindo carro nenhum. Só pode ser outra pessoa, Pai. Não tem como ser o Diego o cara que vocês encontraram.
-Por que vocês pensam que foi ele que morreu nesse acidente?- Gabriela busca informações com Luciano.
-Porque encontramos uma carteira de identidade com o nome, mas danificada por conta do desastre. O carro virou um monte de ferro retorcido. Além disso, o Diego portava alguns cigarros e um celular, cujo único número era o dessa moça, Elizabete. Nós ligamos várias vezes e ninguém atendia; então, entramos em contato com a operadora pra saber de quem era o número e acabamos descobrindo o endereço da Elizabete. Como não encontramos a moça no sobrado onde ela mora, fizemos uma busca e soubemos que ela era bolsista nesse colégio. Algum de vocês sabe o nome completo dele?
-O Fábio.
-Eu, Eduardo?
-Você é o nerd da turma, decorou o nome completo dos alunos da turma pela chamada. Qual o sobrenome do Diego?
-Barreto da Costa, se não me engano.
-Obrigado, Fábio. Eu vou confirmar essa informação na Secretaria de Defesa Social.
Bete é levada para a coordenação por Cláudia, que a faz sentar ao lado de Alice. Trêmula, a moça recebe um copo com água trazido pela funcionária do colégio.
-Bete, você vai ter que acompanhar esse policial até o IML. Eu sei que é difícil, mas tenta se acalmar. Desse jeito, você não tem condições de identificar o corpo que acharam.
-A polícia veio me procurar, Cláudia. Tá na cara que eles não se enganaram, foi o meu Diego que sofreu esse acidente. Mas como foi que isso aconteceu? Como?
-Desculpa, eu... – quando Alice começa a falar, Bete a reconhece e tenta esconder o ódio que sente da irmã- Eu não pude deixar de ouvir o que aconteceu. Realmente, eu sinto muito por você e pelo rapaz.
-Talvez... – Bete enxuga o rosto e bebe a água trazida por Cláudia- Quem sabe não é ele? Vai ver a polícia se enganou, né?
-Olha, a gente não se conhece, mas eu estou de carro. Se você quiser, eu vou com você.
-Não precisa. Eu vou pegar minhas coisas na sala e vou com o policial. Mas obrigada mesmo assim- Bete levanta e é amparada por Vinícius, à porta da coordenação. O modelo a leva para a sala, sob os olhares desconfiados de Victória e Luciano, e Alice deixa a coordenação, deixando Fábio surpreso.
-Tá fazendo o quê aqui, Mãe?
-É que... O meu carro quebrou aqui perto e eu chamei um mecânico pra consertar. Daí, vim até aqui pra pedir um copo d’água. Não é, Cláudia?
-É, é sim, Fábio- a coordenadora mente.
-Luciano, você pode vir aqui um minuto?- Alice faz um sinal para Luciano conversar com ela em particular. O policial conversa com a mãe de Fábio na porta da coordenação.
-De onde é que a minha mãe conhece esse homem?
-Ué, de onde a gente conhece, amor. Só pode ser daqui, dessa confusão toda. O mais absurdo é esse policial ser justamente pai do Vinícius. Acho que ninguém sabia disso.
-Que nada, Gabi. Parece que tem muita coisa pra gente descobrir sobre essa turma... Cada hora é uma novidade...
-Como assim, Eduardo?
-A gente não é tão próximo assim do Vinícius. Vai saber quanto mais ele esconde da gente?
-Você não acha que pega demais no pé do cara, não, Eduardo?
-Não, Fábio, você é que defende demais. E sem motivo.
-Luciano, você acha que esse rapaz que morreu, que ele... Estava envolvido com drogas mesmo? Ou é só uma teoria?
-Não dá pra descartar nenhuma hipótese, Alice. Mas eu não duvido que ele tenha perdido o controle do carro em que ele estava por causa de algum efeito de droga. Pelo que eu vi, ninguém sabia que esse menino dirigia. Quem sabe ele não roubou o carro de alguém pra trocar por droga?
-Só de pensar que ele devia ter a idade do meu filho, eu fico... Nossa. Imagina a dor desses pais se for mesmo confirmado que é ele. Devastador demais!
-Quem enfrenta um problema na família deste tipo tem medo de receber a notícia da perda de um parente. Mas a perda acontece aos poucos.
-Por que você diz isso, Luciano?
-Eu tenho um filho dependente, Alice. É como se cada vez que eu visse meu menino fora da realidade, me dessem uma facada no peito. É uma luta, e eu vou perdendo pouco a pouco.
Vinícius traz Bete de volta e a entrega a Luciano.
-A gente já pode ir.
-Então vamos, Bete. Alice, eu sinto muito que tenhamos nos reencontrado numa situação como essa.
-Eu entendo, Luciano. Não precisa se desculpar... Elizabete, se você precisar de mim...
-Obrigada, senhora. Mas não preciso, não- chora mais uma vez- Desculpa- é acompanhada por Luciano, que deixa o colégio sob os olhares apavorados dos estudantes.

Três semanas depois...

Numa tarde, Fábio está em casa, no seu quarto, quando avista Vinícius chegando através de sua janela. Corre para atender a porta.
-Demorou, hein, cara?
-Foi mal, é que o trânsito da casa dela pra cá tava engarrafado- Vinícius olha em todas as direções.
-Fica tranquilo. Meu pai tinha vindo almoçar, mas foi pro trabalho, e minha mãe foi pro shopping.
-Melhor assim.
-Vem, vamos subir- os rapazes vão ao quarto de Fábio, que tranca a porta e fecha as cortinas, para que ninguém ouça ou veja o que ele irá fazer.
-Tá aqui o que você pediu pra eu comprar- Vinícius entrega novos cigarros ao estudante.
-Vem cá, e como é que a Bete tá se virando, hein?- Fábio põe um dos cigarros entre os dedos, sendo aceso por um isqueiro de Vinícius- Desde aquele dia que ela soube que o namorado morreu, não deu mais as caras no colégio...
-Tá difícil pra ela se recuperar, sabia?- Vinícius acende o cigarro do colega- Sabia que ela gostava do cara, mas nunca achei que fosse tanto assim. Foi um baque essa morte- acende outro, desta vez para si mesmo- Muito sinistra.
-O que é que teu pai disse? A polícia descobriu alguma coisa desse acidente com ele?
-Nem sou doido de falar isso com ele. Vai que ele descobre que Bete é quem vende droga pra gente e ferra com ela?
-Tá certo... Melhor deixar em off mesmo. Toma- entrega a metade dos cigarros que Vinícius trouxe.
-Pra quê isso, Fábio?
-Tava te devendo essa. Nos últimos tempos, é você quem tem me ajudado com isso. Até tô me sentindo melhor do que antes, sabia?
-Tá vendo? Eu te disse que não ia se arrepender. Mas vem cá: e o lance com tua namorada?
-Na mesma: eu continuo mentindo, dizendo que ainda gosto dela.
-Porque gosta mesmo.
-Gabriela não merece nada de mim, nem mesmo desprezo.
-E tá com ela pra quê?
-Até arrumar um jeito de esfregar na cara dela o que ela fez comigo.
-E se você não conseguir? Se esse médico nunca confirmar essa verdade?
-Aí eu faço ela me odiar, ou admitir que não gosta de mim, que foi sacana. Não vai ter outro jeito, ela vai ter que me deixar.
-Não é tão fácil assim esquecer uma mulher, Fábio. Eu sei porque vivi isso com a Vicky.
-Mas você tentou esquecer, tocou a vida pra frente. Eu não consigo largar dela. É como se eu fosse morrer sem ela.
-Se for pra ser assim, melhor tentar esquecer.
-É... Isso até que me ajuda, sabe? Mas quando eu tirar a Gabriela de dentro de mim, eu vou parar. Juro que paro.
Caio volta pra casa e estranha o silêncio na casa.
-Alice? Alice, vem pra sala que eu quero falar com você- ao não obter nenhuma resposta, vai para o quarto de hóspedes, onde a ex acomodou-se após a separação- A gente tem que conversar sobre o divórcio, o advogado concebeu novos termos pra separação- abre a porta e não encontra a antiga parceira, mas ouve parte do diálogo entre os rapazes.
-Vinícius...
-Fala.
-Você tá vendo?
-Vendo o quê, Fábio?
-A cortina... –ri enquanto os olhos vão ficando vermelhos e a pupila dilatada. Caio aproxima-se da porta do quarto do filho.
-O que é que tem, Fábio?
-Esses desenhos que tem nela, as listras...
-Tá imaginando coisa, cara.
-Que nada. Será que só eu tô vendo?
-Fábio, para! Larga esse cigarro, que você já tá ficando chapado demais, cara. Para!
-Cigarro?- Caio se assusta com o comentário de Vinícius.
-Chapado com o quê, rapaz? Pirou! Esse que você trouxe pra mim é meia boca, não ia dar essas viagens...
-Fala baixo. Pode ser que teus velhos cheguem daqui a pouco.
-E daí? Eles vão fazer o quê? Me colocar no canto da sala, de castigo? Só se for, né?- gargalha, antes de tragar novamente, desta vez com mais força- Já pensou na cara daqueles dois quando descobrirem que eu tô comprando “fuga”? Hein?

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