-O
que foi que aconteceu? Por que o senhor quer falar comigo?
-O
que você é do Diego?- Luciano interroga, para depois ver Bete fazendo-se de
desentendida.
-Diego?
-Ele
é o namorado dela- esclarece Cláudia, deixando Bete apreensiva.
-Fala
logo. Aconteceu o quê com ele?
-Aparentemente,
um acidente.
-Acidente?
-Diego
foi encontrado em um veículo que caiu de uma ribanceira. O carro ficou em
destroços. A polícia chegou até você porque nós encontramos o celular do Diego
no bolso dele, e o único número que ele tinha era o seu.
-“Tinha”?
Fala, por favor! Cadê o Diego?
-Provavelmente
seu namorado estava sob efeito de drogas e perdeu a direção do carro.
-Que
coisa estranha... Diego nunca apareceu dirigindo na escola. Até onde eu sei,
ele é menor de idade, não tem licença pra dirigir. Além disso, nunca soube que
ele tinha envolvimento com drogas- Cláudia estranha o fato.
-Para
de me enrolar e diz onde é que tá o meu namorado! Diz que ele tá bem... Fala!
-Eu
sinto muito.
-Sente
pelo quê? Hein? Pelo quê? O senhor chega
aqui, não fala coisa com coisa, diz que meu namorado tinha um carro, se drogava
e termina com um “eu sinto muito”? Onde é que tá o Diego?
-O
Diego não resistiu, Elizabete. Nós já recolhemos o corpo. Tudo indica que o
acidente ocorreu ontem à noite, mas ainda falta a conclusão do laudo da perícia
pra...
-Diego?
Você tá... O senhor tá dizendo que meu Diego morreu, é isso?
-Bete,
por favor, tenta se acalmar...
-Eu
não quero me acalmar, Cláudia! Quero que esse homem desminta o que tá falando!
-Fala
baixo, Bete!
-É
pra escutar mesmo! O senhor vai me trazer o Diego agora! Agora, tá me
entendendo?- Bete bate no peitoral de Luciano, aos gritos, sendo contida pelo
policial- Fala onde é que tá o Diego! Cadê Diego? Fala pra mim, por favor!-
chora desesperada. Os alunos da turma ouvem os gritos da moça e saem da sala
para presenciar a cena. Vinícius corre e encontra o pai em serviço.
-Pai,
tá fazendo o quê aqui?
-Vim
buscar essa moça. Ela tem que me acompanhar até o IML pra reconhecer o corpo.
-De
quem, Pai?
-Ele
tá dizendo que o Diego morreu, Vinícius! O meu Diego tá morto!- Bete abraça
Vinícius.
-Olha,
é melhor a senhora trazer um copo d’água pra essa moça. Não tem condições de
levá-la agora.
-Vem,
Bete. Vem comigo- Cláudia ampara a moça.
-Diego
era quem?- Gabriela fica em dúvida- Aquele carinha que ficava com ela?
-O
negócio entre eles, pelo jeito, era mais sério do que a gente pensava- Eduardo
deduz, pela reação da traficante.
-Mas
como foi que ele morreu, gente?- Fábio pergunta para o amigo e a namorada.
-Isso
tudo é estranho demais. Como é que foi isso, Pai?
-Você
conhecia o Diego, Vinícius?
-Ele...
Era meu colega de turma.
-Sei...
-Como
foi isso?
-Vem
cá: por que você disse que isso tudo era estranho demais? Sabe de alguma coisa?
-Não,
porque ontem Diego não apareceu e não deu sinal de vida. Hoje foi a mesma coisa
e, de repente, chega uma notícia dessa... Foi como isso?
-Acidente.
A gente encontrou o cadáver dentro de um carro que caiu numa ribanceira.
-Que
coisa horrível, meu Deus!- Gabriela fica chocada.
-Mas
havia alguns cigarros no carro. Ilícitos, pra ser mais exato. Sabem dizer se
ele era usuário de drogas?
-Isso
só quem pode dizer é a namorada dele, a Bete- Eduardo esquiva-se, para não ser
comprometido.
-Peraí,
e o carro? Quem tava com o Diego no carro? Morreu também?- Fábio estranha as
circunstâncias do acidente.
-Não
havia ninguém no carro. Era esse rapaz, o Diego, que dirigia.
-Impossível.
Ninguém nunca viu ele dirigindo carro nenhum. Só pode ser outra pessoa, Pai.
Não tem como ser o Diego o cara que vocês encontraram.
-Por
que vocês pensam que foi ele que morreu nesse acidente?- Gabriela busca
informações com Luciano.
-Porque
encontramos uma carteira de identidade com o nome, mas danificada por conta do
desastre. O carro virou um monte de ferro retorcido. Além disso, o Diego
portava alguns cigarros e um celular, cujo único número era o dessa moça,
Elizabete. Nós ligamos várias vezes e ninguém atendia; então, entramos em
contato com a operadora pra saber de quem era o número e acabamos descobrindo o
endereço da Elizabete. Como não encontramos a moça no sobrado onde ela mora, fizemos
uma busca e soubemos que ela era bolsista nesse colégio. Algum de vocês sabe o
nome completo dele?
-O
Fábio.
-Eu,
Eduardo?
-Você
é o nerd da turma, decorou o nome
completo dos alunos da turma pela chamada. Qual o sobrenome do Diego?
-Barreto
da Costa, se não me engano.
-Obrigado,
Fábio. Eu vou confirmar essa informação na Secretaria de Defesa Social.
Bete
é levada para a coordenação por Cláudia, que a faz sentar ao lado de Alice.
Trêmula, a moça recebe um copo com água trazido pela funcionária do colégio.
-Bete,
você vai ter que acompanhar esse policial até o IML. Eu sei que é difícil, mas
tenta se acalmar. Desse jeito, você não tem condições de identificar o corpo
que acharam.
-A
polícia veio me procurar, Cláudia. Tá na cara que eles não se enganaram, foi o
meu Diego que sofreu esse acidente. Mas como foi que isso aconteceu? Como?
-Desculpa,
eu... – quando Alice começa a falar, Bete a reconhece e tenta esconder o ódio
que sente da irmã- Eu não pude deixar de ouvir o que aconteceu. Realmente, eu
sinto muito por você e pelo rapaz.
-Talvez...
– Bete enxuga o rosto e bebe a água trazida por Cláudia- Quem sabe não é ele?
Vai ver a polícia se enganou, né?
-Olha,
a gente não se conhece, mas eu estou de carro. Se você quiser, eu vou com você.
-Não
precisa. Eu vou pegar minhas coisas na sala e vou com o policial. Mas obrigada
mesmo assim- Bete levanta e é amparada por Vinícius, à porta da coordenação. O
modelo a leva para a sala, sob os olhares desconfiados de Victória e Luciano, e
Alice deixa a coordenação, deixando Fábio surpreso.
-Tá
fazendo o quê aqui, Mãe?
-É
que... O meu carro quebrou aqui perto e eu chamei um mecânico pra consertar.
Daí, vim até aqui pra pedir um copo d’água. Não é, Cláudia?
-É,
é sim, Fábio- a coordenadora mente.
-Luciano,
você pode vir aqui um minuto?- Alice faz um sinal para Luciano conversar com
ela em particular. O policial conversa com a mãe de Fábio na porta da
coordenação.
-De
onde é que a minha mãe conhece esse homem?
-Ué,
de onde a gente conhece, amor. Só pode ser daqui, dessa confusão toda. O mais
absurdo é esse policial ser justamente pai do Vinícius. Acho que ninguém sabia
disso.
-Que
nada, Gabi. Parece que tem muita coisa pra gente descobrir sobre essa turma...
Cada hora é uma novidade...
-Como
assim, Eduardo?
-A
gente não é tão próximo assim do Vinícius. Vai saber quanto mais ele esconde da
gente?
-Você
não acha que pega demais no pé do cara, não, Eduardo?
-Não,
Fábio, você é que defende demais. E sem motivo.
-Luciano,
você acha que esse rapaz que morreu, que ele... Estava envolvido com drogas
mesmo? Ou é só uma teoria?
-Não
dá pra descartar nenhuma hipótese, Alice. Mas eu não duvido que ele tenha
perdido o controle do carro em que ele estava por causa de algum efeito de
droga. Pelo que eu vi, ninguém sabia que esse menino dirigia. Quem sabe ele não
roubou o carro de alguém pra trocar por droga?
-Só
de pensar que ele devia ter a idade do meu filho, eu fico... Nossa. Imagina a
dor desses pais se for mesmo confirmado que é ele. Devastador demais!
-Quem
enfrenta um problema na família deste tipo tem medo de receber a notícia da
perda de um parente. Mas a perda acontece aos poucos.
-Por
que você diz isso, Luciano?
-Eu
tenho um filho dependente, Alice. É como se cada vez que eu visse meu menino
fora da realidade, me dessem uma facada no peito. É uma luta, e eu vou perdendo
pouco a pouco.
Vinícius
traz Bete de volta e a entrega a Luciano.
-A
gente já pode ir.
-Então
vamos, Bete. Alice, eu sinto muito que tenhamos nos reencontrado numa situação
como essa.
-Eu
entendo, Luciano. Não precisa se desculpar... Elizabete, se você precisar de
mim...
-Obrigada,
senhora. Mas não preciso, não- chora mais uma vez- Desculpa- é acompanhada por
Luciano, que deixa o colégio sob os olhares apavorados dos estudantes.
Três semanas
depois...
Numa
tarde, Fábio está em casa, no seu quarto, quando avista Vinícius chegando
através de sua janela. Corre para atender a porta.
-Demorou,
hein, cara?
-Foi
mal, é que o trânsito da casa dela pra cá tava engarrafado- Vinícius olha em
todas as direções.
-Fica
tranquilo. Meu pai tinha vindo almoçar, mas foi pro trabalho, e minha mãe foi
pro shopping.
-Melhor
assim.
-Vem,
vamos subir- os rapazes vão ao quarto de Fábio, que tranca a porta e fecha as
cortinas, para que ninguém ouça ou veja o que ele irá fazer.
-Tá
aqui o que você pediu pra eu comprar- Vinícius entrega novos cigarros ao
estudante.
-Vem
cá, e como é que a Bete tá se virando, hein?- Fábio põe um dos cigarros entre
os dedos, sendo aceso por um isqueiro de Vinícius- Desde aquele dia que ela
soube que o namorado morreu, não deu mais as caras no colégio...
-Tá
difícil pra ela se recuperar, sabia?- Vinícius acende o cigarro do colega-
Sabia que ela gostava do cara, mas nunca achei que fosse tanto assim. Foi um
baque essa morte- acende outro, desta vez para si mesmo- Muito sinistra.
-O
que é que teu pai disse? A polícia descobriu alguma coisa desse acidente com
ele?
-Nem
sou doido de falar isso com ele. Vai que ele descobre que Bete é quem vende
droga pra gente e ferra com ela?
-Tá
certo... Melhor deixar em off mesmo.
Toma- entrega a metade dos cigarros que Vinícius trouxe.
-Pra
quê isso, Fábio?
-Tava
te devendo essa. Nos últimos tempos, é você quem tem me ajudado com isso. Até
tô me sentindo melhor do que antes, sabia?
-Tá
vendo? Eu te disse que não ia se arrepender. Mas vem cá: e o lance com tua
namorada?
-Na
mesma: eu continuo mentindo, dizendo que ainda gosto dela.
-Porque
gosta mesmo.
-Gabriela
não merece nada de mim, nem mesmo desprezo.
-E
tá com ela pra quê?
-Até
arrumar um jeito de esfregar na cara dela o que ela fez comigo.
-E
se você não conseguir? Se esse médico nunca confirmar essa verdade?
-Aí
eu faço ela me odiar, ou admitir que não gosta de mim, que foi sacana. Não vai
ter outro jeito, ela vai ter que me deixar.
-Não
é tão fácil assim esquecer uma mulher, Fábio. Eu sei porque vivi isso com a
Vicky.
-Mas
você tentou esquecer, tocou a vida pra frente. Eu não consigo largar dela. É
como se eu fosse morrer sem ela.
-Se
for pra ser assim, melhor tentar esquecer.
-É...
Isso até que me ajuda, sabe? Mas quando eu tirar a Gabriela de dentro de mim,
eu vou parar. Juro que paro.
Caio
volta pra casa e estranha o silêncio na casa.
-Alice?
Alice, vem pra sala que eu quero falar com você- ao não obter nenhuma resposta,
vai para o quarto de hóspedes, onde a ex acomodou-se após a separação- A gente
tem que conversar sobre o divórcio, o advogado concebeu novos termos pra
separação- abre a porta e não encontra a antiga parceira, mas ouve parte do
diálogo entre os rapazes.
-Vinícius...
-Fala.
-Você
tá vendo?
-Vendo
o quê, Fábio?
-A
cortina... –ri enquanto os olhos vão ficando vermelhos e a pupila dilatada.
Caio aproxima-se da porta do quarto do filho.
-O
que é que tem, Fábio?
-Esses
desenhos que tem nela, as listras...
-Tá
imaginando coisa, cara.
-Que
nada. Será que só eu tô vendo?
-Fábio,
para! Larga esse cigarro, que você já tá ficando chapado demais, cara. Para!
-Cigarro?-
Caio se assusta com o comentário de Vinícius.
-Chapado
com o quê, rapaz? Pirou! Esse que você trouxe pra mim é meia boca, não ia dar
essas viagens...
-Fala
baixo. Pode ser que teus velhos cheguem daqui a pouco.
-E
daí? Eles vão fazer o quê? Me colocar no canto da sala, de castigo? Só se for,
né?- gargalha, antes de tragar novamente, desta vez com mais força- Já pensou
na cara daqueles dois quando descobrirem que eu tô comprando “fuga”? Hein?
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