-Eduardo?
Que mané Eduardo? Eu não conheço ninguém com esse nome...
-Não
é o que consta na relação de alunos da turma de terceiro ano do seu colégio.
Turma essa da qual você faz parte.
-Ah,
o Eduardo!- finge que lembra- Mas o que eu tenho a ver com o que aconteceu?
-Isso
você vai responder à polícia amanhã. Mas preciso da assinatura de algum dos
seus responsáveis. Eles são as pessoas que podem e devem te acompanhar para o
depoimento. Onde é que eu os encontro?
-Meus
pais morreram há muito tempo, moço.
-E
com quem você mora? Porque, segundo a coordenação do seu colégio, você é menor
de idade.
-Já
atingi a maioridade, sim. O que houve foi um problema nos meus documentos, mas
eu deixei a coordenadora avisada sobre isso. Onde é que eu assino?
-Aqui,
por favor- o policial indica a linha e a criminosa assina- Tenha um bom dia, e
não se esqueça de comparecer amanhã no horário marcado.
-Pra
você também- Bete fecha a porta- Que mancada eu dei! Eles vão descobrir que
minha identidade tá com a data errada, que eu menti pra entrar no colégio!
Aqueles dois idiotas me deixaram na mão, mas o que é deles tá guardado... Não,
Bete! Fica calma... Respira... O foco agora é você. Dessa noite eu não posso
passar. Amanhã eu não vou estar aqui, pronto. Não tem como me acharem. E assim
que a poeira baixar, eu dou um jeito no Fábio de uma vez por todas.
-Tá
achando mesmo que vai conseguir, Bete?- Diego aparece para a vilã.
-Você
não existe mais! Desaparece! Some da minha frente!- grita.
-O
teu final já tá perto de chegar, é só esperar. Esse policial na tua porta, sabe
quem é? O começo da tua queda, cretina!
-Sai!-
Bete atira copos na direção do que ela pensa ser o falecido namorado- Some,
infeliz! Some, cretino! Não, eu não tô louca! Eu não vou ficar louca, como
querem que eu fique... Eu venci o Diego, a Victória, o Vinícius... Vou vencer o
Fábio e a Gabriela também, mais cedo ou mais tarde. Vou conseguir, sim. Vou
conseguir... – Bete esfrega as mãos uma na outra, ansiosa- o celular toca e é
Galego, um dos usuários do colégio- Fala, Galego.
-Sério
mesmo que você não vem, Bete? O pessoal da boca tá te esperando, faz dias que
você não traz nenhuma pedra pra gente.
-Já
tava saindo de casa, relaxa. Na hora do intervalo, eu levo vocês pra aquele
canto, longe das vistas da coordenadora.
-Tá
bom. Tchau.
-Tchau-
Bete desliga o celular e coloca em sua mochila as drogas pelas quais os
usuários estão esperando. Em seguida, deixa o sobrado. Dez minutos depois, é a
vez de Vinícius aparecer no velho imóvel, forçando a fechadura com uma faca e
entrando à procura de algo que prejudique a traficante.
Fábio
está sozinho em seu quarto quando Gabriela aparece em sua frente trajando
apenas um sobretudo preto.
-Você
aqui? Veio me ver pra quê?
-Você
nem desconfia?
-Fala
de uma vez e vai embora.
-Melhor
do que isso, Fábio. Eu vim mostrar- e Gabriela livra-se do sobretudo, subindo
sobre a cama do rapaz e deitando de bruços, olhando-lhe fixamente.
-O
que você quer? Me deixar louco?
-Só
se for de desejo. E então? Se eu pedir, você vai me tocar, do jeito que você
nunca sonhou na sua vida?
-Não
mexe comigo desse jeito, Gabriela. Me deixa em paz. Eu não tive mais sossego
desde que descobri o que você fez comigo.
-Apaga
essa péssima impressão que você tem de mim. Me faz ser sua.
-Não.
Eu não quero mais você, e não vou ter você nunca.
-Pior
pra você, Fábio.
A
porta do quarto se abre e entra um homem, cujo rosto Fábio não é capaz de ver,
que deita sobre o corpo de Gabriela e começa a transar com a moça. O amante,
que Fábio julga ser o da sua namorada.
-Vagabunda
desgraçada!- Fábio parte para cima do par, desferindo socos que não são
sentidos por nenhum deles, que atingem o ápice do prazer diversas vezes naquela
cama.
Joyce
entra no quarto e encontra Fábio com dificuldades de respirar.
-Não
pode ser, Fábio... – a médica corre atrás de um enfermeiro- Traz o nebulizador
agora, o paciente está passando mal!- volta para o quarto, deitando Fábio sobre
a cama.
-Eu
tenho que matar eles! Me deixa matar eles! Tira os dois daqui, tira agora!
-Calma,
Fábio! Vai ficar tudo bem! Se acalma, por favor!
-“Tão”
transando junto de mim! Sem-vergonha, cachorra!
O
enfermeiro entra com o nebulizador e o coloca no rosto de Fábio.
-Separa
pra mim uma dose de metadona, eu vou administrar pra ele.
-O
que é que ele tem, Doutora?
-Só
pode ser uma crise de abstinência! Mas a gente vai cuidar de você, viu?- Joyce
garante a Fábio- Eu te prometo que vai passar. Não aconteceu nada, Fábio, está
tudo bem.
Nonato
está deixando o hospital no qual trabalha e ao chegar ao estacionamento,
depara-se com Vinícius.
-Posso
falar com você, Nonato?
-A
gente se conhece?
-Você
é quem não se lembra. Eu te conheço através da Bete. Lembrou agora?
-Ah,
você é aquele modelo que vivia lá no sobrado dela...
-Vivia.
-Por
que você veio me procurar aqui?
-Você
sabe que a Bete fez um vídeo íntimo de vocês, não sabe?
-Não
acredito que ela te contou isso!
-Calma,
a Bete não é doida a esse ponto. Eu dei o meu jeito e acabei assistindo.
-Olha,
você faz de conta que esse vídeo nunca existiu, por favor. A Bete tá me
chantageando com esse vídeo. Ameaçou entregar pro diretor do hospital se eu não
fizesse o que ela me mandou dizer.
-Sério?
E o que ela mandou você falar?
-Que
a Gabriela, namorada do Fábio... Peraí... Você não chegou a falar com a Bete?
-A
Bete nem sonha que eu tô aqui, Nonato.
-Então,
veio pra quê? Pra me chantagear também?
-Presta
atenção, Nonato: uma bomba com essa não pode cair nas mãos erradas, concorda?
-O
que você quer de mim?
-Depende
do que você vai me contar. O que a Bete pretendia te filmando na hora do sexo,
ainda mais dentro do hospital?
-Queria
que eu contasse uma mentira pro Fábio: a de que a namorada dele tinha sofrido
um aborto por causa do acidente. Pelo que eu entendi, a Bete queria que o Fábio
se sentisse culpado pelo acidente que eles dois sofreram.
-Tem
noção de que você acabou com a vida do Fábio com essa invenção, não tem?
-Eu
não queria ter que inventar nada. Mas era isso ou a Bete me denunciava! Todo
mundo ia saber o que eu fiz, ia descobrir também que eu conheço traficante, que
eu me drogo... Foi o risco que eu tive que correr.
-Recuperei
a gravação.
-Como
é?
-Eu
recuperei a gravação que a Bete fez de vocês no teu consultório e tô disposto a
te entregar. Só que você vai ter que fazer o que eu disser.
-O
quê? Me pede que eu faço. Qualquer coisa pra me livrar da Bete!
-Você
vai contar tudo pra família do Fábio.
-E
se eles me denunciarem?
-Até
lá, eu já tenho te entregado a câmera da Bete. Você destrói a gravação e fica
tudo OK. Só que eles têm que saber o que a Bete fez pra prejudicar o Fábio.
Agora que ele tá internado, por culpa dela, ninguém vai medir esforço pra jogar
aquela filha da mãe na cadeia.
-Por
que você se empenha em acabar com ela?
-Porque
a Bete acabou com a vida da minha namorada e acabou com a minha também. E eu
não vou deixar que ela ferre com o Fábio também. Só a gente pode deixar todo
mundo alerta contra a Bete. E então? Você aceita quebrar o teu silêncio em
troca da confissão?
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