04/02/2022

PRIMEIRO CAVALHEIRO | EPISÓDIO 4

 

Cena 1

Isa senta-se ao lado de Pierre e de Tom, enquanto Mandelli aparece na cabeceira da mesa do tribunal.

MANDELLI: Muito bem. Vamos dar início à sessão de julgamento de Tom Poli, acusado de tentar subornar Camilo Santos, gerente da Guitarra, empresa pertencente ao Governo de Paramar, administrado por sua esposa Isa Duncan.

PIERRE: Muda essa cara, qualquer um vê que você está desconfortável com o que ele está dizendo.

ISA: As palavras não estão me incomodando, é a pessoa mesmo.

MANDELLI: Antes de começarmos, entretanto, é preciso dizer que eu fico estarrecido com a quantidade de queixas que os habitantes deste país vêm fazendo acerca da gestão da ex-presidente...

TOM: Cuidado com o ato falho.

MANDELLI: Tem razão. Atos cometidos pela presidente... Ainda!

TOM: Mandelli!

MANDELLI: “Meritíssimo” pra você! Além da comprometedora conversa que Poli teve com Santos, há uma nova denúncia contra a gestão da presidente, sobretudo com relação ao ministério educacional.

ISA: Pierre, do que é que esse noiado está falando?

MANDELLI: Foi recolhido recentemente material didático nas escolas públicas de Paramar que comprometem bastante o modelo de pluralidade de opiniões tão propagado por Isa Duncan. Livros de Português cujos textos claramente possuem doutrinação marxista!

ISA: Tudo pra esses machos é marxismo ou comunismo, credo!

MANDELLI: Aqui, no livro “Gramática da Música Nacional”, um excerto encontrado na página 90 prova o quanto Marx, creditado na nota de rodapé, é importante para a educação das nossas crianças, segundo a cartilha do Governo Duncan. Aqui diz: “Se uma estrela cadente o céu cruzar e uma chama no corpo me acender, vou fazer um pedido e te chamar pro começo do sonho acontecer. Quando os dedos tocarem lá no céu, o universo vai todo estremecer e as estrelas rodando em carrossel. Testemunhas do amor, eu e você. As batidas do nosso coração se acalmando depois da explosão, quando o sol se prepara pra nascer”...

SHIN: “Sonho de amor... As noites sabem quanto te esperei. Não conto pra ninguém. A lua sabe que eu me apaixonei. Se você é real, por que você não vem?”.

TOM, ISA E PIERRE: “Sonho de amor”...

SHIN: De fato, isso é Marx purinho. Patricia Marx. Logo, as novas acusações caem por terra. Voltemos às antigas, que serão destruídas em breve. Ah, me desculpem pela falta de apresentação: eu sou Shin Navarro, advogado de Tom Poli e Isa Duncan.

PIERRE: Shin é formado em Direito, por isso que achei melhor chamá-lo para a defesa.

SHIN: Vamos começar apostando na obviedade esperada para a audiência, Meritíssimo.

MANDELLI: Não posso esperar alguma coisa diferente, Dr. Navarro.

SHIN: Data vênia, Meritíssimo: vá se ferrar. Pode autorizar a entrada da única testemunha do caso envolvendo o réu Tom Poli.

MANDELLI: Que seja. Que entre Camilo Santos, gerente da empresa estatal Guitarra.

Santos senta-se em frente a Tom, Isa e Pierre, sob o olhar de reprovação dos três.

MANDELLI: O advogado de defesa está com a oportunidade para interrogar o acusado.

SHIN: Obrigado, Meritíssimo. Seja bem-vindo, Camilo Santos, embora eu deva admitir que sei que, de santo, você não tem nada.

MANDELLI: O defensor pode limitar-se a começar o interrogatório sem atribuições de juízo de valor.

SHIN: Não me contive, confesso. Então...

ISA: Pierre, não me parece ser uma boa ideia ter o Shin conduzindo a defesa do Tom.

PIERRE: Você tem uma melhor?

TOM: Eu mesmo não tenho.

ISA: Que previsível...

SHIN: Quer dizer que Tom Poli tentou te subornar em troca de uma vaga de estágio na Guitarra, aproveitando-se do fato de estar casado com a presidente da república?

SANTOS: Um áudio vazado para todo o país e você ainda está em dúvida?

SHIN: Estou.

MANDELLI: Baseado em quê, Dr. Navarro?

SHIN: Até agora, Meritíssimo, nenhum meio de comunicação declarou em quais circunstâncias o acusado conheceu o depoente.

MANDELLI: E isso importa?

SHIN: Claro. É um fato, e como qualquer fato, está aqui para ser devidamente esclarecido. Não concorda, Meritíssimo?

MANDELLI: Prossiga.

SHIN: Esteja à vontade para contar, Camilo. De que maneira conheceu o acusado, Tom Poli?

SANTOS: Bom, eu... Conheci na Guitarra. Ele tinha ido lá quando soube que haveria uma seleção de estágio na empresa.

SHIN: Muito bem. E como ele soube?

SANTOS: Disso eu já não sei.

TOM: Mentira! Você me ligou pra contar dessa ligação!

ISA: Exatamente! Quando estávamos num jantar romântico no Le Seira!

MANDELLI: Não vou permitir que um depoimento seja interrompido. Fiquem calados.

SANTOS: Foi o que eu falei, Dr. Navarro. O Tom soube do processo e foi me procurar. Eu afirmei que ele deveria participar do certame, como qualquer candidato comum. Tempos depois, quando ele soube do resultado, ameaçou de influenciar a presidente contra mim. Eu poderia perder o emprego se não aceitasse o que ele queria.

SHIN: E quando mesmo que aconteceu a divulgação do resultado?

SANTOS: No último dia 28 de janeiro.

SHIN: Engraçado, não é? O edital da seleção para estágio disse que a divulgação do resultado aconteceria hoje. De que maneira Tom Poli poderia saber se foi recusado nessa seleção? Só se alguém de dentro da empresa contou pra ele, tendo acesso à lista de aprovados.

SANTOS: É... Eu não disse que ele soube antes. Ele que me... Que me procurou antes pra exigir que eu lhe aprovasse por ser o marido da presidente.

SHIN: O senhor tem algum problema de gagueira?

SANTOS: Não, por quê? Eu falo assim. Qual o problema? Não pode falar assim? O que é que foi?

MANDELLI: Devo ressaltar que não é permitido que o depoente seja confrontado sem que haja a presença do advogado de acusação, Dr. Navarro.

SHIN: Claro. Como eu não iria imaginar que essa corja arrumaria uma forma de se proteger? Olha lá, já está querendo chamar o advogado de acusação pra que esse palerma não caia em contradição e inocente o Tom!

MANDELLI: Continue com sua grave acusação e você vai parar na cadeia por desacato à autoridade!

SHIN: E quem é a autoridade aqui? Você, Mandelli? Num stand-up você não estaria tão engraçado quanto aqui!

MANDELLI: Que entre o advogado de acusação o quanto antes.

(fundo musical: “Secret affair”)

Tom, Isa e Pierre esperam pela entrada do magistrado pela porta, até que o último se mostra surpreso com a pessoa no interior do júri.

SHIN: Você?

 

(créditos iniciais)

 

Cena 2

ISA: Não, não é possível! Isso já virou um circo completo! Até você está conspirando contra mim?

MANDELLI: Quero apresentar a vocês Fabian Dutra, advogado que representa a acusação contra Tom Poli. (pensa) Finalmente alguém que se uniu à oposição.

TOM: Todo mundo é advogado agora?

SHIN: Bom, pra falar a verdade, eu conheci o Fabian na faculdade de Direito mesmo. Era tão bom aluno que foi laureado.

FABIAN: Sem explicações sobre mim, acho que posso fazer isso sozinho.

ISA: Como é que você tem coragem de se juntar ao Mandelli pra me prejudicar dessa forma? Eu confiei em você, abri minha casa, minha vida, dividi contigo a minha vitória nas urnas... Até meu primeiro encontro com o Tom fiz com que você estivesse presente no banheiro...

MANDELLI: Sra. Duncan, limite-se a não comprometer o trabalho da justiça.

ISA: É pra rir?

FABIAN: Data vênia, Meritíssimo, eu gostaria de interrogar, em vez do acusado, o depoente Camilo Santos.

MANDELLI: Apesar de incomum em júris, petição concedida.

TOM: O que é essa tal de “data vênia” que eles estão falando?

SHIN: Com a devida licença.

FABIAN: Se for pra você falar, negada! Sr. Camilo, há quanto tempo atua como gerente da Guitarra?

SANTOS: Há uns dois anos, salvo engano.

FABIAN: Sua gestão, então, começou quando Eduardo Mandelli ainda era o presidente da república?

SANTOS: Sim, senhor.

FABIAN: Muito bem. Deixe-me, antes de partirmos diretamente para o caso de Tom Poli, questionar sobre sua conduta na empresa. Nunca viu ou soube de alguma irregularidade cometida em seu local de trabalho?

SANTOS: Me fazer esse tipo de pergunta é até uma ofensa, Dr. Dutra.

MANDELLI: Realmente... Creio que este tipo de abordagem seria mais adequado se aplicado ao acusado... Ou à esposa do mesmo.

ISA: Não sou culpada de nada! Não me ponha no mesmo balaio criminoso que você, Mandelli!

MANDELLI: Eu disse alguma coisa, Excelência? Não se entregue.

FABIAN: Santos, posso supor que sua reação é a de um homem indignado com a mera hipótese de que algo de errado aconteceu durante o tempo em que exerceu a gerência da Guitarra?

SANTOS: Claro que é. Jamais permitiria que esse tipo de ato acontecesse debaixo do meu nariz e causado por um subordinado. Isso deporia contra a minha gestão, senhor advogado.

FABIAN: Interessante saber. Não há dúvidas de que o senhor, enquanto gerente da Guitarra, procura cercar-se de excelentes e capacitados profissionais, acima de quaisquer suspeitas. Lamentável que não possa dizer o mesmo de si.

SHIN: Protesto, Meritíssimo. O advogado de acusação está intimidando a testemunha, coisa que eu deveria fazer.

MANDELLI: Protesto aceito, Dr. Navarro. Está emaconhado, garoto?

FABIAN: Queiram me deixar prosseguir com o diálogo. Santos, havia mais alguém presente quando Tom ameaçou instigar Isa a te demitir caso não fosse aceito no estágio da Guitarra?

SANTOS: As câmeras de segurança, se lhe interessam saber, registraram o momento em que o primeiro cavalheiro entrou no prédio. Caso queiram, eu posso disponibilizar para provar que o áudio vazado veio de lá.

FABIAN: Acredito que não tenha entendido o que perguntei, Santos. Quando Tom supostamente lhe chantageou, havia mais alguém com ele?

SHIN: Mas não ficou claro no áudio que eles estavam...

FABIAN: Calado, Navarro! Responda.

SANTOS: Não, estávamos sozinhos na minha sala.

FABIAN: Não no prédio, certamente.

SANTOS: Acredita que eu dispensaria meus colaboradores apenas para conversar com Tom?

FABIAN: Sinceramente, não. Porque Tom pensou da mesma forma que o senhor.

MANDELLI: Ao que se refere, Dr. Dutra?

FABIAN: Tom Poli, de fato, conversou com o senhor a sós em sua sala. Mas não foi ao prédio da Guitarra sozinho. Lembra-se, Sr. Poli, de que sua esposa contratou seguranças particulares para fazer a sua escolta para todas as localidades possíveis?

ISA: Sim, é de praxe em se tratando de alguém importante para o poder executivo do país. Só que a empresa não enviou os profissionais recrutados no prazo que havia sido determinado. Foi por isso que eu pedi que acompanhassem... Não.

SANTOS: Quem?

FABIAN: Ninguém menos do que o Dr. Navarro. E eu.

MANDELLI: Não entendo o que essa confusão tem a ver com esse caso.

FABIAN: Permita, Meritíssimo, que eu esclareça tudo. Quando Tom entrou no prédio da Guitarra, o Dr. Navarro e eu não entramos no imóvel de imediato. O marido da presidente tomou o elevador e foi ao encontro do Sr. Camilo Santos. Não contávamos que nossa displicência em termos de trabalho como seguranças nos ajudaria a elucidar o caso de chantagem. Shin sentiu que havia algo errado consigo e me solicitou algo bem simples de ser realizado.

SHIN: Descobre onde fica o banheiro, eu preciso fazer o número 1.

FABIAN: Camilo Santos, onde fica o banheiro do prédio da Guitarra?

SANTOS: No último andar, praticamente em frente à minha sala.

FABIAN: Temíamos que algum jornalista de plantão nos flagrasse longe de nosso protegido Tom, e então Shin usou o banheiro, mas eu fiquei à porta esperando que os dois, Tom e Shin, deixassem os locais para onde foram.

PIERRE: Como poderia você estar na Guitarra? Até onde se sabe, você foi arremessado da janela do restaurante francês, o Le Seira, antes mesmo da seleção que o Santos fez.

ISA: Mesmo arrebentado, eu pedi que ele acompanhasse o Shin para a segurança do Tom. Achava que ele estaria em melhores mãos do que numa empresa especializada, que poderia conspirar contra mim. Mas já vi que não adiantou de nada, meu ex-marido se meteu em problemas do mesmo jeito.

FABIAN: Neste ponto, Vossa Excelência está completamente equivocada. Foi justamente a nossa escalação... Quer dizer, a minha, que salvou esse governo do naufrágio.

SHIN: Quanta prepotência...

MANDELLI: Afinal de contas, o senhor é advogado de acusação ou de defesa?

FABIAN: Um homem comprometido com a lei, Meritíssimo.

MANDELLI: E que deveria se ater a fazer o seu trabalho da maneira mais competente possível, ao invés de nos fazer perder tempo com sua estratégia mais do que questionável!

FABIAN: Falando nisso, Sr. Juiz, deveria ter lugar de fala ao pronunciar “estratégia”. O sinal de telecomunicação em Paramar é uma derrota desde que o senhor privatizou as companhias telefônicas. Quantos de nós já tivemos, em algum momento, que acionar o viva-voz de nossos aparelhos móveis para uma comunicação digna?

MANDELLI: Está me acusando de quê, Dr. Dutra?

SANTOS: De ser o líder de um esquema que visa à derrocada política de Isa Duncan, usando Tom Poli como bode expiatório.

ISA: Aí eu vi vantagem.

MANDELLI: Vê-se que o advogado de acusação não faz a menor ideia de com quem está lidando.

FABIAN: Sei, sim; não sou idiota. Depois que o Tom saiu da sala do Santos por supostamente não ter conseguido lhe chantagear, ele passou por mim e pegou o elevador sem que tivesse se dado conta de que eu e, por consequência, Shin, havíamos subido ao andar atrás de um banheiro.

TOM: Realmente, eu não tinha visto nenhum dos dois. Pra falar a verdade, eu não me lembro nem de vocês terem me acompanhado até a porta do edifício da Guitarra.

ISA: Porque você é uma ostra, querido?

FABIAN: Deixemos os problemas conjugais de lado, Vossa Excelência.

PIERRE: Sim, por favor.

FABIAN: Ocorreu que houve uma conversa pelo celular entre o Sr. Camilo Santos e o ex-presidente da República Federativa de Paramar Eduardo Mandelli. Nela, o gerente da Guitarra revelou que a conversa tida com Tom havia sido gravada, registrando desta forma a chantagem que ele pretendia cometer usando o poderio de Isa Duncan.

O espectador é levado a relembrar a sequência, desta vez com Fabian escutando tudo usando um copo colado à porta da sala de Santos.

SANTOS: Alô? Alô, Mandelli, eu não estou conseguindo te ouvir. Espera, eu vou colocar o celular no viva-voz. Pode me ouvir agora?

MANDELLI: Claro, fala. Captou o diálogo entre o Tom e você?

SANTOS: Consegui.

MANDELLI: Tem certeza?

SANTOS: Sim, ele fez o que você queria. Posso mandar o áudio que gravei agora mesmo. Quando isso vai passar no jornal?

MANDELLI: Tenho contatos jornalísticos que podem segurar a notícia por mais algumas horas. Mas eles me garantem que será a primeira manchete do “Boletim de Paramar”.

SANTOS: (faz uma pausa) Tem certeza de que isso não vai me prejudicar, Mandelli?

MANDELLI: Óbvio que não vai. A opinião pública vai te ver, fazendo uso das palavras da Isa Duncan, como um funcionário público humilhado por um macho escroto, patriacal e opressor! Por curiosidade, o marido da presidente da república. Envia o áudio que você captou, e deixa que da melhor parte do plano eu tomo conta.

Fabian, ainda à porta, assusta-se quando Shin grita depois de dar a descarga no banheiro.

SHIN: Já acabei!

De volta ao tempo presente, os personagens voltam a dialogar no julgamento de Tom.

SHIN: Por que você ficou esse tempo todo escondendo o que havia ouvido de todo mundo?

FABIAN: Você não me deixa falar nunca, ora!

MANDELLI: Isso é uma calúnia grave! Não tem o direito de me acusar de tramar algo tão...

FABIAN: Menos, Mandelli. Bem menos. Se honesto você fosse, não haveria motivos para que houvesse um impeachment contra você.

MANDELLI: De qualquer maneira, o julgamento está em torno das atitudes que Tom cometeu.

FABIAN: Mas olha só que curioso! A nomeação de Tom enquanto estagiário da Guitarra não se consolidou no Diário Oficial de Paramar, dada a pressa que você tinha pra tirar a Isa do governo do país. Além disso, mesmo que ela estivesse ciente da patifaria que o marido aprontaria, não haveria como saber se ela pressionou o Camilo Santos de alguma forma para aceitar a nomeação do seu marido na empresa.

PIERRE: Jogou bem esse mudo, hein? Bem que ele poderia ser chefe de marketing do Partido de Proteção à Calopsita Nacional...

FABIAN: Bem que o Meritíssimo gostaria de oferecer aos jornalistas que estão lá fora um belo espetáculo, não é? Mas vamos aproveitar que estamos a portas fechadas e entrarmos todos num acordo mais do que benéfico.

ISA: Você enlouqueceu? Eu jamais vou me associar a esse pulha.

PIERRE: Vai, sim. Tudo em nome da reputação que precisa permanecer imaculada. E então, Fabian? Qual é a proposta que você tem pra fazer?

TOM: Espera um pouco, vocês não acham que têm que me perguntar o que eu acho de toda essa situação?

ISA: Não.

FABIAN: Muito bem, Sr. Mandelli, a negociação é a seguinte: você absolve, enquanto juiz do Caso Tom Poli, a presidente da república de Paramar e o marido e, em troca, poderá permanecer na oposição sem que saibam do seu estratagema furado. Porque forjar as provas pode ser um escândalo muito maior que o das pedaladas, que te impediram de continuar como chefe de estado. Que tal?

(fundo musical: “Perplex-city”)

Mandelli olha para o instrumentista com ódio e fica em silêncio antes de anunciar sua decisão.

 

Cena 3

(fundo musical: “Sweet sensation”)

A âncora do “Boletim de Paramar” surge na programação por meio de um plantão, no qual informa a notícia mais recente sobre o julgamento que tem Tom e Isa como réus.

ÂNCORA: A nossa programação da Rede Paramar de Televisão é interrompida neste momento. Sinto muito se você está querendo saber se o Plankton finalmente descobrirá no episódio de hoje a receita do hambúrguer de siri, mas você sobreviveu ao fim da “TV Globinho”; isso também pode esperar. O relator do processo de impeachment contra Isa Duncan, o ex- presidente Eduardo Mandelli, convoca a imprensa para fazer um comunicado. Temos imagens do pronunciamento, que é realizado neste momento.

MANDELLI: O motivo da minha convocação se deu para divulgar o resultado da CPI que investiga Tom Poli, o primeiro cavalheiro de Paramar. O áudio que circulou na imprensa, no qual ele estaria chantageando o gerente da Guitarra, Camilo Santos, em troca da manutenção de seu emprego, é uma montagem. A perícia da Polícia Federal constatou que grampos ilegais foram implantados nas linhas telefônicas pertencentes aos envolvidos e que, quando as conversas foram captadas, editaram para que a figura da presidente da república fosse prejudicada por intermédio do seu marido. Funcionários da empresa tiveram seus depoimentos colhidos e afirmam que Tom nunca frequentou ou visitou o prédio que serve como sede da companhia energética do governo de Paramar.

PIERRE: Acha que ele vai ser convincente nessas explicações?

ISA: Não sei. Mas só de saber que ele é obrigado a mentir e automaticamente me proteger já estão valendo pra mim.

PIERRE: Mesmo assim, acho que o Mandelli não vai te dar sossego.

ISA: Que venha. Já disse Christiane Torloni em “Cara & coroa”: “eu posso não fazer questão de jogar limpo, mas faço questão de ter o melhor adversário que puder... Um adversário à minha altura”.

PIERRE: Estamos vendo que não é o caso dele.

ISA: Jamais, meu bem. Jamais.

(fundo musical: “Horizon”)

Mandelli lança para Isa um olhar dominado pelo ódio.

PIERRE: Vamos jantar no Le Seira hoje pra comemorar? Eu pago.

ISA: Por mim, tudo bem. É do que eu mais preciso hoje.

PIERRE: Então, vou avisar a todo mundo pra chegar às oito da noite.

ISA: “Todo mundo” quem?

 

Cena 4

(fundo musical: “Clube da Esquina nº 2”)

PIERRE: Finalmente o PPCN pode respirar aliviado. As suspeitas sobre a gestão da Isa caíram por terra.

ISA: E temos que agradecer, ironicamente, ao advogado de acusação. Parabéns, Fabian. Você fez um excelente trabalho.

SHIN: E a minha defesa, não merece elogios?

TOM: Depois, Shin. Eu queria aproveitar esse momento pra fazer um pedido importante.

SHIN: De casamento? Vai incorrer no crime de bigamia?

TOM: Não, é outra coisa. Mas queria que vocês fossem testemunhas do que eu vou dizer.

ISA: Tom, o que tá acontecendo?

TOM: Isa, eu preciso te pedir desculpas. Nada disso teria acontecido se eu não tivesse me aproveitado da sua imagem. Mas a verdade é que pra todo homem é difícil ter uma mulher bem-sucedida.

ISA: Um machista opressor.

TOM: Só que, por mais que seja difícil, eu sei que é necessário. E a partir de agora eu quero me comprometer a ser o melhor companheiro que você poderia ter. Será que você pode me aceitar de volta?

ISA: Que argumentos você teria para me convencer a retomar a nossa relação?

SHIN: “De hoje em diante eu vou modificar o modo de vida”.

ISA: Canta em português de novo e eu te jogo da janela também.

TOM: Ao contrário da sua gestão como presidente, eu não sou garantia de coisa boa. Mas eu posso afirmar com certeza que você foi a melhor coisa que me aconteceu. E não me importa se você é a cientista, a política, a chefe de estado. Você não vai precisar se esforçar pra fazer o meu mundo um pouco mais perfeito. Simplesmente porque ele se torna perfeito somente por você existir. Volta pra mim, Isa.

ISA: Droga, não posso chorar em público; podem falar que estou angariando votos pro segundo mandato antes da lei eleitoral... Claro que eu quero você de volta, Tom.

PIERRE: Ah, que maravilha. Shin, uma música pro momento.

ISA: Em inglês, por gentileza.

SHIN: “Oh, oh, angel baby, não faça isso comigo. Eu sempre fui seu amigo, mas vivo tão sozinho. Oh, oh, angel baby, não quero mais viver triste assim, pois sem você tudo é ruim. Não negue seu carinho”.

PIERRE: Garçom, a conta, por favor.

GARÇOM: Calma, me deixa calcular. Quatro pratos de lagosta, um quilo de ração Pedigree, duas garrafas de espumante e um bule de café extraforte... Aqui está (entrega a conta para Pierre).

PIERRE: Só um minuto. (Pierre abre a carteira e não vê nenhuma cédula) Gente, não é que eu esqueci o dinheiro em casa?

GARÇOM: Não tem problema, senhor. O Le Seira recebe pagamentos via Pix.

PIERRE: Aí é que tá. Eu não tenho Pix.

Tom aponta a tampa do bule, com uma protuberância interna semelhante a um punhal, para Pierre.

TOM: (raivoso) Como assim “você não tem Pix”?

Um par de mãos misteriosas fotografa com um celular o exato momento em que Tom ameaça Pierre e rapidamente aparece num portal de notícias chamado “Paramar News” a manchete: “Primeiro cavalheiro do país realiza nova presepada e mancha a gestão de Isa Duncan”.

(fundo musical: “Ser feliz” – introdução da música)

 

Créditos finais

(fundo musical: “Foi Deus quem fez você” – “só para amar/ só para amar”)

Roteiro

Gabriel Arenas

Colaboração

Nenhuma, não entendo nada sobre política

Direção

Felipe Lipstein

Elenco de apoio

Ninguém quis vir

Cenografia

Paint

Direção de fotografia

Sem filtros, pra deixar o programa trash

Figurino

Roupas compradas nas lojas Cattan e A Futurista

Edição final

Teve a inicial?

Produção de arte

Pouco empenhada pra oferecer uma série de qualidade

Caracterização

Paint também

Produção de elenco

Casting em Vila Tamandaré e na Avenida Caxangá

Produção musical

Shin interpretou quase tudo

Produção

Pouco inspirada

Design de personagens

Contornos do Paint (já falei dele, não foi?)

Dublagem

Audacity

Efeitos especiais

A rapidez do enredo

Efeitos visuais

Quais?

Narração

Sem coerência

Pesquisa

Era pra ter

Sonoplastia

Barulhos bucais pra fingir que Fabian toca algo que não seja o terror

Citações musicais no episódio de hoje:

“Sonho de amor”

(compositores: Michael Sullivan e Paulo Massadas)

“Só vou gostar de quem gosta de mim”

(compositor: Rossini Pinto)

“Angel baby (Angel baby)”

(compositores: Irwin Levine e Lawrence Russell Brown – versão em português: Rossini Pinto)

Músicas executadas no episódio de hoje:

“Secret affair”

(compositores: Brian Culbertson e Stephen Lu/ intérpretes: Brian Culbertson e Chris Botti)

 “Creeping up”

(compositores e intérpretes: Sam Sklair e Otto Sieben)

“Perplex-city”

(compositores e intérpretes: Ken Ramm e Lawrence Shragge)

“Horizon”

(compositor: Vangelis/ intérprete: Space 2000)

 “Sweet sensation”

(compositor: Barry J. Eastmond / intérprete: Najee)

“Clube da Esquina nº2”

(compositores: Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges/ intérprete: Leo Gandelman)

 “Ser feliz”

(compositores: Michael Sullivan e Paulo Massadas/ intérprete: Robby)

“Foi Deus quem fez você”

(compositor: Luiz Ramalho/ intérprete: Bell Marques)

 

Esta é uma obra de ficção.

Qualquer semelhança com fatos, nomes ou pessoas reais terá sido mero azar.

 

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