-Calma.
-Calma
nada!
-Bom,
se é assim, eu também não vou me acalmar. Você acabou de jogar água na minha
cara.
-Eu
achei pouco, perto do que eu descobri.
-Ah,
é? E o que foi que você descobriu, projeto de corno?
-Olha
como você fala comigo!
-Cala
essa boca, Robson! Você não tem direito de mandar em mim. Todo o respeito que
eu tinha acabou. Por sua causa. Cada vez mais eu me dou conta de que foi um
erro a gente junto.
-Pode
ter certeza de que não é a única pessoa a ter certeza disso!
-O
que é que te deu?
-O
Bruno acordou. Ele me contou que te levou pra cama.
-Sim,
e...
-Como
é você tem coragem de ficar assim, falar desse jeito comigo? Você me traiu com o
meu irmão, Débora! Eu confiei em você.
-O
que aconteceu depois disso? Ele só pode ter desmaiado. Ou mentido. Eu não devo
explicação nenhuma, mas se você quer saber, eu vou te contar a verdade. E vou
provar que o teu irmão é tão ou mais cafajeste que você.
*****
Num
outro corredor, Mell conversa como o delegado Frazão.
-Eu
tô perdida. Eu tô sem chão, não sei o que vou fazer agora.
-Mell...
Você tem noção do que me contou até agora? Você se envolveu com os dois irmãos.
E com o Bruno pra se vingar do Robson.
-Mas
eu não gosto do Bruno. Nunca gostei. Tudo o que fiz foi pra chamar a atenção do
outro.
-Essa
conversa que a gente teve é informal, mas... Isso te torna suspeita.
-Por
quê? Eu não fiz nada!
-Veja
bem: as evidências estão bem claras. Se o Bruno passou a perseguir você e tudo
não passou de uma birra que você tinha com o irmão dele, a polícia pode pensar
que você quis se livrar de um pra ficar com o outro.
-É
mesmo? E o que o senhor acha que eu tenho que fazer?
-Contar
a verdade.
-A
verdade é essa que eu falei. Não tem outra. Eu não vou me incriminar.
-Tirando
o crime, Mell, há outra situação com a qual você tem que se preocupar: essa criança
que você espera.
-Eu
vou tirar.
-Viu?
Viu com o cerco tá se fechando contra você? Se você é tão apaixonada por esse
Robson, como diz, essa gravidez poderia ser usada como trunfo para separá-lo da
namorada. Mas se é do Bruno, e ele não te interessa, o aborto só vai provar o
quanto você o detesta. E se ele é uma ameaça para o seu romance com o irmão...
-O
que o senhor acha que devo fazer, delegado?
-Eu
vou... Eu vou conversar com Robson e averiguar a história. Só te digo uma
coisa, menina: quanto mais cedo você disser quem é o cara que te engravidou,
melhor.
-Tô
lascada.
-Você
nem imagina.
*****
-Ontem,
quando você me ligou e disse que tinha comprado dois ingressos pro show, eu fui
à sua casa.
-E
daí, Débora? Foi lá que você...
-Cala...
Essa boca... E me deixa terminar.
-Fala,
então.
-O
seu irmão tava nervoso, transtornado, e me pediu pra que eu fosse ao quarto
dele que tinha uma coisa muita séria pra falar comigo.
-Hum...
Desenvolva!
*****
-Olha
só, Bruno, eu só vim perguntar se Robson deixou meu ingresso do tal Rock Mafia
contigo.
-Eu
queria aproveitar que ele não tá aqui pra te falar uma coisa muito importante.
-Tudo
bem, diz.
-Débora,
eu sei que isso é errado, que eu não devia ter esse tipo de sentimento, só que
eu sou louco por você.
-Como
é?
-Faz
tempo que eu tenho isso, sabe?- vai se aproximando da garota, que anda pra
trás- Nunca que eu ia falar, mas eu já não consigo mais guardar isso dentro de
mim.
Os
dois caem na cama. Que rápido, não?
-E
o que faz você pensar que eu vou largar meu namorado pra ficar com o irmão
dele.
-Minha
beleza? Meu carisma? Minha conta bancária?
-Por
favor, né, Bruno? Você é tão pobre quanto Robson! Daqui a pouco até a Dilma
chama vocês pra fazerem comercial!
-Bom,
desse jeito é melhor olhar então os outros atributos- tenta tirar a camisa.
-Obrigada,
meu cunhadinho... –levanta-se da cama- Mas você não faz Letras, e gente de
intelecto inferior não me interessa.
-Por
que vocês acham que todo homem bombado é imbecil?
-Ah,
não é generalizado. É só o seu caso!- dá o fora.
*****
-Eu
não acredito em nenhuma palavra que você me diz.
-Ótimo,
eu também não acredito em você.
-Sabe qual é a minha vontade agora, Débora?
-Qual é?
-É de te matar. Fazer você sofrer o mesmo que
eu tô sofrendo agora. Matar você na mesma intensidade que eu te amo.
Débora saca uma faca de sua bolsa e aponta
para Robson.
-Mata. Não é isso que você quer? Vai. Só que
não esquece que esse vai ser o segundo crime que você comete.
-Abaixa isso, Débora...
-Tá reconhecendo essa legítima Ginsu 2000?
-É uma das facas de casa, mas o que...
-Eu fui até lá levar todas as coisas que você
me deu pra jogar no lixo, rasgar todas as fotos que imprimimos, tocar fogo
naquela birosca, mas eu tive uma surpresa. Eu encontrei um monte dessas facas
na sua gaveta. E uma delas foi usada pra matar o Bruno. Eu sei disso porque eu
vi a faca largada na calçada. Foi da sua casa. Você tentou matar o Bruno. Você!
-O que é que tá acontecendo aqui?- chega o
delegado Frazão.
-Conta pra ele, Robson. Conta pra ele o que
eu descobri. Cada vez mais, eu me convenço de que você não presta- guarda a
faca e vai embora.
-Tá tudo bem, meu filho?
-A Débora me tirando do sério. Ela
encontrou na minha gaveta várias facas iguais àquela que foi usada contra
Bruno.
-Ela sabe quem fez aquilo com seu
irmão?
-Não, mas tá “investigando”. E se ela
não parar com isso logo, ela vai continuar acreditando que eu sou o culpado.
*****
Débora volta para casa. Pelo caminho,
encontra seu Mané numa cadeira de balanço, em frente à cena do crime. Ela
repara que a faca não está mais na galeria, mas se mantém no meio da rua.
Seu Mané avista a moça e grita:
-Guardei, guardei!
-Hã?
-Guardei, minha filha!
-Esse velho é doido mesmo.
Do nada, um Camaro amarelo aparece em
alta velocidade, disparado em direção à Débora. Seu Mané levanta da cadeira e
empurra a menina que estava estática. Mas é atingido pelo veículo. Sem prestar
socorro, o motorista do veículo com vidro fumê acelera pelas ruas de
Itapissuma.
-Era pra mim... Tentaram me matar... –
concluiu a moça, vendo seu Mané desmaiado.
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