05/02/2013

AINDA É CEDO/ CAPÍTULO 9: E EU ME AGARRAVA A ELA


A moça, confusa, acaba se afastando dele lentamente.
-Por que você fez isso?
-Não é óbvio?
-Você não devia ter feito isso.
-Por quê? Não gostou ou tem outra pessoa no meio?
-Não, não tenho ninguém.
-Já sei o que é. É por causa do meu defeito. Se não fosse isso...
-Para. Não é nada disso. Eu sou a pessoa que mais torce pra te ver curado.
-Talvez porque assim eu não preste. Aliás, desse jeito eu não sirvo pra ninguém, essa é que é a verdade.
-Eu só tô fazendo isso porque você não acha que pode ser feliz numa cadeira de rodas.
-Alguém pode?
-Muita gente. Mas se você acha que ficar bem é outra coisa, eu vou torcer por outra coisa. Eu não faço questão de nada, mas a minha prancha surfa de acordo com a sua onda. Fiquei confusa, só isso.
-Faltou só você me responder uma coisa: se gostou do beijo ou se eu fui rápido demais pra mostrar o que eu quero mesmo.
-O quê? Namorar comigo?
-É. Ficar com você.
-Ainda é cedo pra responder. Se você soubesse de tudo o que rola na minha vida...
-Conta, então.
-A única coisa que eu posso contar é que eu adorei o beijo. Obrigada- Viviana sai do quarto. Fabrício olha para a moça e tem certeza de que já conquistou o coração dela.

*****

Cora e Ricardo têm uma conversa na porta do quarto que ela alugou na pousada.
-Claro, desculpa por não ter deixado entrar antes. Por favor.
-Sem problemas. Então, é aqui que você mora?
-Reformas no apartamento. Achei que fosse melhor vir para um lugar que ficasse perto do meu trabalho.
-Foi bom mesmo você ter me chamado pra conversar. Mais uma vez eu queria pedir desculpas pelo que eu fiz.
-Eu gostei.
-E também porque eu não devia... Você disse que gostou?
-É uma situação que eu nunca passei nem quis passar, mas o seu beijo mexeu muito comigo. Não sei, eu me sinto uma adolescente, uma idiota falando isso...
-Eu me senti do mesmo jeito naquele dia. Entendo que você não queira mais falar comigo, nem me ver. Você me prestou um favor e eu agi daquela forma.
-O que eu sei é que desde daquele dia, você não sai mais da minha cabeça.
-Nem você da minha.
-Eu só espero não me arrepender do que quero fazer.
-Não sei quanto a você, mas eu não vou me arrepender.
-Até quando a gente vai ficar se vendo, pensando um no outro?
-Sem mais perguntas. O que a gente precisa fazer é aproveitar o momento. Sem culpa, sem remorso, sem qualquer sentimento que nos impeça de sermos felizes.
-Ricardo, você é casado. E eu não quero ser a outra na vida de homem nenhum.
-Não precisa ser a outra. Aqui, nesse lugar, onde a gente vai ser muitas e muitas vezes, você vai ser a única.
Ricardo e Cora finalmente se deixam levar pela forte atração que sentem um pelo outro, sem se importar com as terríveis consequências de seus atos.

*****

Pedro vai ao conservatório e chega lá através de um ônibus. Distraído, ele não percebe que na mesma rua, o carro de seu pai está estacionado em frente à pousada. Ao entrar, ele liga para o celular de Viviana.
-Milena?
-Oi, Pedro.
-Como é que ele tá? Melhorou mais?
-Tá, sim. Bem melhor. Todos nós.
-Ótimo. Você falou com ele sobre a cadeira de rodas?
-Falei assim, por alto, sabe? Ele ainda tá muito teimoso com isso.
-Não desiste dele, não, hein? Só você pode ajudar ele e não deixar ele desistir.
-Sabe o que eu acho bonito? É o jeito que você fala e cuida dele, mesmo o Fabrício não gostando de você por causa da... Daquilo que você sabe.
-Não é um papel de adoção ou exame de DNA que vai mudar alguma coisa pra mim. Foi com ele que eu fui criado a vida toda, eu sei que o amor é o mesmo. Preocupado eu tô é com meu pai. Você vu que ele nem quis entrar pra ver o Fabrício.
-Depois ele se acostuma.
-Só aguardo isso. Eu vou desligar, que vai começar uma apresentação aqui. Beijo, Milena.
-Outro, Pedro.

*****

Werner volta ao quarto de Fabrício e traz a cadeira de rodas.
-Por que você trouxe isso?
-Fabrício, eu não posso assinar sua alta e te liberar se você não fizer um esforço.
-Tô dando tanta despesa assim ao hospital?
-Não se preocupe, sua mãe está pagando tudo.
-É justamente isso que me dá dor de cabeça.
-Mais importante que o dinheiro é a sua saúde.
-E quem disse que eu quero ter?
-Eu- entra Viviana de supetão- Agora que eu consegui entrar, não vou arriscar e levar uma bronca do hospital. Então, você vai sentar porque quer. Não adianta gritar ou fazer escândalo, porque eu não vou encostar em você. E se você não escuta sua família, eu tenho que trabalhar pra isso. Anda, cara.
-Doutor, será que o senhor pode me puxar?
Viviana fica emocionada por Fabrício finalmente aceitar a cadeira. Werner o ajuda e o faz sentar.
-Agora me leva pra dar uma volta, chegar numa janela, qualquer coisa... Só não me tranca em quarto. Chega de quarto por hoje.
-Só se for agora- diz Viviana, mal acreditando no progresso de seu amigo.

*****

Cristina está indo para o hospital visitar Fabrício. No caminho, ela passa pela rua da pousada e do conservatório e passa pelo carro de Ricardo. Ao notá-lo, ela recua e estaciona atrás do carro do marido. Nota o estabelecimento e estranha.
-O que o Ricardo está fazendo aqui?
De longe, é possível ouvir música clássica. A socialite dá meia volta e percebe o prédio do conservatório. Decide entrar. Ao chegar lá, nota uma arquibancada, onde diversos adolescentes assistem a uma apresentação. Na última fila, está Pedro com seu celular filmando tudo. Cristina logo nota a presença do filho e fica furiosa.
-Pedro!- seu grito atrapalha a concentração dos músicos, que cessam todo e qualquer som.
-Velho, na boa... Tô lascado!

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