31/05/2013

A CRUZ E A ESPADA/ CAPÍTULO 15

No hospital, Sophia e Graziela estão apreensivas pelo fato de Dr. Gonçalves estar no quarto de Téo. O médico se aproxima para dar uma notícia.
-Qual o problema, doutor?
-infelizmente a situação se agravou. Esse novo atentado complicou muito o quadro dele, que até então era estável.
-Ele não vai morrer, vai?- Sophia pergunta.
-As próximas horas podem ser decisivas. Mas, por uma medida de segurança, e também de estrutura, vamos transferir o Téo para outro hospital, que tenha capacidade de cuidar desse tipo de caso.
-Ele vai morrer, Graziela! Ele vai morrer- chora.
-Não, Sophia. Não! Pensa positivo. Vamos rezar pra que nada de mal aconteça.
-Tudo por culpa da minha mãe. Será que ela não vai parar de infernizar todo mundo nunca?

XXXXX

-Tio!- Eric se abaixa ao ver o tio caído.
-Fuja, Eric. Fuja enquanto é tempo. Você ainda pode ser feliz... Fuja...
-Mas o que foi que você fez? O quê?- grita com Jacqueline.
-O que era necessário. Fechei um ciclo. Um ciclo de sofrimento e destruição que foi criado pelo Glauco. Ele devia ter pensado duas vezes antes de se meter comigo. Ele e todos que tiveram essa ousadia.
-E agora que você o matou? O que você quer? Acabar comigo também?
-Não é óbvio, imbecil?- aponta a arma para ele- Tratar a Sophia, do jeito que você tratou, e ainda ficar impune?
-Como se você não tivesse feito pior ao tentar matá-la. Ela e o filho! O seu próprio neto, assassina!
-Quem te contou essa mentira?                                
-Sei de tudo, Jacqueline. A Sophia te denunciou por aquilo que você fez com o Téo, e eu soube na delegacia que você empurrou a Sophia contra a parede. O que mais você quer?
-Fazer o mundo se esquecer de que a família Ávila existiu. Depois que eu acabar com você, só vai sobrar uma pessoa para eu destruir: Graziela. Ela conseguiu despertar meu ódio quando defendeu o Téo, quando se meteu entre a Sophia e você. Pode deixar, Eric. O sofrimento dela vai ser bem lento. Você não vai ter que se preocupar com ela. Afinal, ela não vai ter o amor de infância pra defendê-la.
-Não vou esperar a polícia prender você. Eu mesmo acabo contigo... E é agora!- corre para alcançar a arma- Desgraçada, maldita!
-A sua amiguinha já tem um lugar reservado no além, Eric. No além!
-Larga essa arma! Larga a arma!
-Dê adeus à sua vida! Como se sente sabendo que estes são seus últimos segundos?
-Na Graziela você não toca, ouviu bem? Nunca!
Ouve-se um tiro.
-Eric! -Glauco se levanta e vai até o sobrinho, que levanta uma mão ensanguentada.
--Consegui... Eu consegui. Acabar com aquilo que você mais ama, Glauco.  Finalmente te venci- joga a arma longe de si, ainda com o corpo junto ao de Eric.
-Fim de jogo, Jacqueline Brandão- sussurra Eric, ao se afastar e deixar o tio ver que, sem querer, Jacqueline atirou em si mesma.
-Desgraçados! Eu mato todos vocês- tenta agarrar Glauco pelo pescoço, mas ao senti-lo, geme de dor e cai em seus pés.
-Jacqueline! Jacqueline, fala comigo!- pede o empresário.
-O pesadelo acabou, tio.
A polícia chega.
-Mãos pra cima! Todos parados! Quem atirou contra ela?
-A Jacqueline mesma, delegado. Tentou me matar e matar meu tio.
-Como você... Como eu atirei em você... E você resistiu?
-A polícia soube da nossa relação no passado, e temendo que você fizesse comigo pior do que o que houve com Téo e Sophia, eu usei um colete. Eu tive que me proteger de você.
-Ainda bem que você sobreviveu. Eu não conseguiria ir embora sabendo que eu matei meu grande amor. Tudo isso, Glauco, foi pra ter você de volta.
-Por quê desse jeito, Jacqueline? Por quê?
-Porque com pureza, eu não consegui nada. Eu tive que descer pra chegar aqui.
-E o que você ganhou com isso, além da sua morte?- questiona Eric.
-Você nunca vai saber o que é amar. Não da forma que eu sei amar... Glauco... – chora- Você está vendo?
-Vendo o quê?
-Aqueles girassóis. Os mesmos que enfeitavam a praça em que nós nos conhecemos. Se eu for atrás deles, será que eu finalmente vou conseguir ser feliz?
-Vai, sim. Segue. Sinta de novo o bem, nem que seja pela última vez.
-Não se esqueça de que eu vou continuar te amando. Aqui e onde eu estiver, Glauco- falece em seus braços.
-Jacqueline... Jacqueline. Jacqueline! Por que você quis que tudo terminasse assim? Por quê?
-Ela foi atrás da felicidade dela, tio. A opção que ela deixou... Foi a de perseguir a nossa.

Dias depois...

Graziela e Sophia foram visitar o túmulo de Jacqueline, e naquele lugar, finalmente esclarecem uma questão que ficou pendente no passado. A filha coloca um girassol em seu epitáfio.
-Você a amava muito, não é verdade?
-Apesar de tudo, eu nunca consegui me enxergar como pessoa se eu não fosse dez por cento do que ela era. Eu continuo amando, mesmo lutando pra ser cada vez mais diferente.
-Eu sinto muito, Sophia. De verdade. Não vou negar a briga que eu tive com ela, mas... De todo jeito, foi um fim trágico que ela sofreu.
-O que a gente não pode negar é que tudo o que aconteceu foi causado e procurado por ela mesma. Girassol era a flor preferida dela. Tenho certeza de que ela iria gostar dessa homenagem, mesmo não tendo vindo ninguém pro enterro. Afinal, ela era decadente na aristocracia, como esperar que alguém importante viesse?
-A pessoa mais importante veio, apesar de tudo.
-Graziela, eu não acho que seja o melhor lugar pra se falar isso... Mas é o melhor momento. Temos que conversar... Sobre o Eric.
-Não, por favor. Esse assunto, não.
-Dessa vez, eu tenho que falar a verdade. Eu quero acabar aqui mesmo com uma maldade da minha mãe que eu ajudei a construir.
-Jacqueline? Mas de qual maldade está falando? Se for da gravidez, eu não vou mais te julgar por isso.
-Só a gravidez, não. Você não está com ele até agora por causa da traição.
-Traição nenhuma. Afinal, até então, nós dois não tínhamos nada. Apenas promessas. E foram essa promessas sem ser cumpridas que me deixaram magoada.
-Sabe o que faria se descobrisse que naquela tarde, não houve nada?
-Que estória é essa, Sophia?
-Eu fui devolver a chave do carro que ele me deu e coloquei um sonífero na bebida dele. Ele até chegou a se perceber estranho, mas era tarde. Se ele te prometeu fidelidade depois que terminou o namoro comigo, ele nunca quebrou essa promessa.
-Por que você está me contando isso agora?
-Se não era esconder antes, por que esconder isso até agora? Quem ama pode esperar uma vida toda, e eu sei disso porque o Téo te esperou e eu vou esperar ele ficar curado pra que a gente fique junto. Mas as pessoas cansam. Vai atrás dele, antes que ele canse.

XXXXX

-Sônia, cadê o Eric?
-Graziela? O que houve?
-Fala onde é que está o Eric, criatura!
-Ele foi com o seu Glauco.
-Pra onde?
-Pro aeroporto.
-Eles vão viajar? Pra onde?
-Pra Argentina- Graziela corre- Mas me deixa explicar o que está acontecendo.
-Agora, estou sem tempo. Tenho que alcançar o Eric. Obrigada, Sônia!
-Graziela! Graziela!

XXXXX

Graziela chega ao aeroporto e vai logo falar com um rapaz que está organizando as filas, passando na frente de diversas pessoas que estão à espera.
-Por favor, moço!
-Moça, você tem que esperar lá atrás.
-É caso de vida ou morte! O voo para a Argentina já decolou?
-Os passageiros já foram chamados. Daqui a dois minutos eles fecham os portões...
-Tudo bem, obrigada!
Novamente, a jovem corre para tentar alcançar seu amigo de infância, até que chega à aeromoça.
-Por favor, essa fila daqui é pro voo da Argentina?
-Era. Os passageiros acabaram de entrar no avião. Ele vai decolar em um minuto. Olha, é aquele ali que está levantando- aponta para a janela do aeroporto.
-Não... Não pode ser... Eric... Eu o perdi pra sempre... De novo, não!

XXXXX

No consultório, Téo e Sophia estão ansiosos com o que o médico tem a dizer sobre o estado de saúde do rapaz.
-Fala logo, doutor. Ele vai ter alta hoje?
-Vai, sim. Felizmente, o Téo saiu dessa situação sem sequelas, mas... Ele sabe que tem uma luta pela frente.
-E o meu tratamento, doutor? Tem como fazer?
-O seu caso requer cuidados, mas você está sendo bem acompanhado. Você terá que se submeter à quimioterapia, e o recomendável é que você passe por um transplante de medula óssea. Só precisamos que alguém possa ser compatível. Por enquanto, o hospital não encontrou ninguém.
-Eu conheço alguém. Meu filho. Nosso filho.
-Você... Você está falando sério, Sophia?
-Téo, você me fez nascer pro amor, que era uma coisa que eu nunca conheci. E esse filho, fruto desse amor, vai te fazer renascer pra vida.
-Se você soubesse o quanto eu te amo...
-Temos a vida inteira pra sentir... A vida inteira!

XXXXX

Graziela chora ao ver o avião com Glauco indo embora. A cena chama a atenção dos que se despediam de seus parentes. Mas alguém põe a mão em seu ombro, fazendo-a virar rapidamente.
-Você?
-Grazi? O que você... Como é que você soube que eu estava aqui?
-Eu pensei que... A Sônia me falou... – sorri novamente.
-Por mais que eu goste da Sônia, e ela seja como se fosse da família, ela não sabe dar recado completo. Meu tio foi passar uma temporada na Argentina, e eu vim me despedir. Quase que eu ia.
-Agora eu sei da verdade. Que você e a Sophia não tiveram nada.
-Até quando você ia lutar contra o que sinto por você? A gente é o nosso pior inimigo, Graziela, não o Téo, não a Sophia, não a Jacqueline... E a Jacqueline me provou que eu sempre te amei e nunca soube que aquilo que eu sentia era amor de verdade. Eu só soube porque pensava que ia te perder. Eu queria passar aqueles que eu pensava serem meus últimos dias aprendendo a amar quem já fazia isso por mim. Só que o amor já existia, Graziela. E vendo você aqui, não vou abrir mão dele por nada desse mundo.
-Eric... Casa comigo?
-O quê?
-Casa comigo?
-Mas, Graziela... Eu é que tinha que pedir isso. Agora você me deixou numa situação difícil. Bem difícil... - ri, com vergonha.
-Chega de esperar pra ser feliz. De viver entre a cruz e a espada, tendo sempre que escolher de um jeito difícil.
-Eu vou te dar duas opções: ou você me ama pra casar, ou você casa pra me amar. Por via das dúvidas, me ama.
-Preciso de um tempo pra pensar. Mas deixa eu te amar sem responder.
-Deixo. Deixo, sim, meu amigo de infância.
-Te amo, Graziela.
As pessoas presentes aplaudem o emocionado beijo que Graziela e Eric dão, mas o desejo de ficar junto acaba. Nasce o desejo de se viver sempre junto de quem se ama em cada uma delas. O sentimento infantil de amizade que os unia foi embora... Ou melhor, enraizou-se e se transformou no melhor dos sentimentos.


FIM

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