-William, eu não quero mais
falar desse assunto.
-Eu quero saber, pai! Por que
vai me esconder? Não ficou quieto durante esse tempo todo? Eu quero saber mais
da minha mãe. Me fala!
-É muito difícil pra mim ter
que tocar nesse assunto, meu filho. Peço que você me entenda...
-Por favor, pai.
Plínio não vê outra
alternativa a não ser falar o que consegue sobre Letícia.
-Nós iniciamos um caso, sim.
Ficamos juntos durante um ano, até que a mãe do Bruno nos flagrou juntos.
-Você gostava mesmo da minha
mãe?
-Filho, a sua mãe é a mulher
da minha vida. Eu a amo até hoje, mesmo ela não estando conosco.
-Então, por que você não se
separou da mãe do Bruno? Por que ficou com as duas?
-Sabia que mesmo com o nosso
casamento morno, ela ainda gostava de mim, e ela tinha esperanças de que, um
dia, nós voltaríamos a ser como éramos no começo.
-O senhor mentiu pra mim. Uma
vez, eu perguntei isso aí e o senhor disse que conheceu a minha mãe depois que
a mãe do Bruno morreu. “Tô” entendendo por que o senhor ficou tão nervoso.
Porque, no fundo, a minha mãe é culpada pelo acidente dela...
-Não, William. Ela não teve
culpa, foi um acidente. Uma fatalidade. Olha pra mim, meu filho- segura o rosto
do adolescente- Eu amava a sua mãe, e eu não podia ser privado desse amor que
eu sentia.
-Mentindo pra outra pessoa? O
senhor fez o Bruno não gostar de mim.
-Pode ser cedo ainda, mas eu
sei que você vai acabar me entendendo. Afinal, você sempre me entende. É o
único que reconhece o que faço de bom. O que eu sei, filho, é que você representa
a minha felicidade com a Letícia, e eu não posso magoar você também, como um
dia eu fiz com o Bruno.
Sensibilizado com as palavras
ditas pelo pai, o garoto o abraça, aos prantos pela verdade descoberta. Plínio
fica preocupado em como a revelação ainda pode afetar seu relacionamento com o
filho.
|||||
-Há quanto tempo você... Que
nós estamos esperando esse bebê?
-O médico disse que já tenho
sete semanas.
-E como foi que desconfiou?
-Hoje, eu senti uma tontura
na escola de dança e acabei caindo, desmaiada. Uma aluna minha me levou ao
posto de saúde. Lá, eu recebi a notícia.
-Eu não posso acreditar.
-No quê? Na minha gravidez?
-Não é isso. Não acredito que
eu não “tava” junto de você quando essa notícia chegou. Por que você não me
avisou? Mesmo por telefone…
-Uma hora teria que saber. Eu queria
tomar coragem.
-Pra quê? Pra ser feliz? Já não é o suficiente comigo?
-Se fôssemos, você teria
recebido essa notícia de maneira mais animada.
-Acontece que você acabou de
dar a melhor notícia da minha vida. E, no entanto, nós estamos construindo uma
família como dois estranhos.
-Depois de tudo que “tá”
acontecendo, eu tenho até medo do que vou descobrir quando te conhecer realmente.
Se é que isso pode acontecer algum dia, já acho essa possibilidade remota.
-Não tem mais nada pra saber
sobre mim.
-Bruno... Vamos fazer o seguinte? Que tal, pro
bem desse bebê, uma espécie de... “Política da boa vizinhança”?
-Continuo sem acreditar que
você pode ter coragem de me propor isso.
-Antes isso do que o
divórcio. Pelo bem do meu filho, eu estou disposta a passar por cima de tudo o
que soube sobre você. Mas eu acho melhor que você não toque em mim, nem no meu
filho. Eu não suportaria ter de me voltar contra o homem com quem me casei.
-Nosso filho!- corrige-lhe-
Eu ainda vou mostrar que tudo que disseram de mim foi uma mentira. Não sei se
foi pra me separar de você, ou se foi pra...
-Pouco me interessa as
razões, Bruno. Se você é vítima, aja com tal. Só que eu vou avisar: se
acontecer mais alguma coisa, nunca mais... Ouviu bem? Nunca mais você vai ver a
mim e ao nosso filho.
-Giovanna... Pensa no que
você “tá” fazendo com a gente.
-Eu não tenho o que pensar,
nem do que me arrepender. Sinceramente, Bruno, eu espero que você também não
tenha. Aproveite o jantar. Vou tomar meu banho e dormir. Se quiser, durma lá
depois.
Bruno vê sua esposa subir as
escadas e senta à mesa de jantar. Pega a faca e lembra da agressão que cometeu
contra Abílio.
-Não vai me custar nada fazer
você voltar pra mim, meu amor. E finalmente vamos ter a família que eu
idealizei.
UMA SEMANA DEPOIS...
Valentina entra em um
supermercado. Pergunta a um dos vendedores:
-Com licença, onde é que eu
encontro detergente em pó?
-Terceiro corredor à direita.
-Obrigada.
A moça se abaixa para pegar
uma cesta e coloca dois detergentes, quando um homem armado se aproxima.
-Valentina?
-Como é que você...
-Sou o cara que você pediu ao
chefe.
-Até que enfim. Já não
aguentava mais esperar.
-O chefe me explicou como vai
funcionar o esquema.
-Mas olha, é só um susto,
viu? Não é pra machucar ninguém.
-Só tem que me dar o endereço.
A que horas eu passo lá?
-Espera até as cinco horas. É
quando ela chega da escola. Tranca ela no quarto, e coloca bala de festim no revólver.
Não deixa a Giovanna te ver.
-Mas e o tal de Bruno?
-Ele vai querer defender a
esposa e o filhinho. Mas vai se dar muito mal. Estimule o ódio dele. Ele tem
que sentir vontade de matar você.
|||||
Bruno está arrumando a pasta
pessoal. Silvia entra na sala do arqueólogo.
-Desculpe, Dr. Bruno.
-Ah, não. Mais trabalho?
-O ultimo dos levantamentos
de hoje. O senhor esqueceu de analisar.
-Não esqueci. Protelei
pra amanhã. Simples assim.
-Nesse caso, eu guardo na
minha gaveta e entrego amanhã.
-Silvia, me permite fazer uma
pergunta?
-Claro.
-A Virna... Ela era
cleptomaníaca?
-Clepto o quê?
-Santa ignorância... Ela já
roubou alguma coisa, que você tenha percebido? Sentido falta aqui dentro do
escritório?
-Seu Bruno, a Virna era minha
amiga. Não tinha como ela fazer esse tipo de coisa sem que eu percebesse. O
senhor vai me desculpar, mas... Por que a pergunta?
-Tinha um objeto que eu
consegui numa viagem. Eu guardava aqui dentro da minha sala. De repente, sumiu.
-Vai ver o senhor guardou em
outro lugar.
-Amnésias instantâneas não
são diagnosticadas em mim há pelo menos duas décadas, Silvia- olha para a
estante- O cunhado dela esteve aqui?
-O Leandro? Não. Ele nunca veio
aqui.
-Pensei que como era da polícia,
talvez tivesse vindo aqui.
-Não, veio outro rapaz
procurando o senhor.
-O Iago...
-Esse mesmo.
-Quando a Virna saiu daqui,
ela deve ter deixado os pertences pessoais, não foi?
-Sim, eu coloquei tudo numa
caixa pra deixar aqui na sala e...
-E o quê?
-A irmã dela veio buscar.
-No dia seguinte à demissão?
No dia do meu casamento.
-Não, senhor, depois que a
Virna tinha falecido.
-A tal de Valentina esteve na
minha sala?
-Sim, ela veio buscar as
coisas e eu deixei ela sozinha por um momento, pra pegar um copo d’água.
-Quer dizer que foi ela...
Ela roubou a bomba!- pensa.
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