29/10/2014

MENTES/ CAPÍTULO 13: JÁ NÃO SEI VIVER NESSE CLIMA DE SUSPENSE



-William, eu não quero mais falar desse assunto.
-Eu quero saber, pai! Por que vai me esconder? Não ficou quieto durante esse tempo todo? Eu quero saber mais da minha mãe. Me fala!
-É muito difícil pra mim ter que tocar nesse assunto, meu filho. Peço que você me entenda...
-Por favor, pai.
Plínio não vê outra alternativa a não ser falar o que consegue sobre Letícia.
-Nós iniciamos um caso, sim. Ficamos juntos durante um ano, até que a mãe do Bruno nos flagrou juntos.
-Você gostava mesmo da minha mãe?
-Filho, a sua mãe é a mulher da minha vida. Eu a amo até hoje, mesmo ela não estando conosco.
-Então, por que você não se separou da mãe do Bruno? Por que ficou com as duas?
-Sabia que mesmo com o nosso casamento morno, ela ainda gostava de mim, e ela tinha esperanças de que, um dia, nós voltaríamos a ser como éramos no começo.
-O senhor mentiu pra mim. Uma vez, eu perguntei isso aí e o senhor disse que conheceu a minha mãe depois que a mãe do Bruno morreu. “Tô” entendendo por que o senhor ficou tão nervoso. Porque, no fundo, a minha mãe é culpada pelo acidente dela...
-Não, William. Ela não teve culpa, foi um acidente. Uma fatalidade. Olha pra mim, meu filho- segura o rosto do adolescente- Eu amava a sua mãe, e eu não podia ser privado desse amor que eu sentia.
-Mentindo pra outra pessoa? O senhor fez o Bruno não gostar de mim.
-Pode ser cedo ainda, mas eu sei que você vai acabar me entendendo. Afinal, você sempre me entende. É o único que reconhece o que faço de bom. O que eu sei, filho, é que você representa a minha felicidade com a Letícia, e eu não posso magoar você também, como um dia eu fiz com o Bruno.
Sensibilizado com as palavras ditas pelo pai, o garoto o abraça, aos prantos pela verdade descoberta. Plínio fica preocupado em como a revelação ainda pode afetar seu relacionamento com o filho.

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-Há quanto tempo você... Que nós estamos esperando esse bebê?
-O médico disse que já tenho sete semanas.
-E como foi que desconfiou?
-Hoje, eu senti uma tontura na escola de dança e acabei caindo, desmaiada. Uma aluna minha me levou ao posto de saúde. Lá, eu recebi a notícia.
-Eu não posso acreditar.
-No quê? Na minha gravidez?
-Não é isso. Não acredito que eu não “tava” junto de você quando essa notícia chegou. Por que você não me avisou? Mesmo por telefone…
-Uma hora teria que saber. Eu queria tomar coragem.
-Pra quê? Pra ser feliz? Já não é o suficiente comigo?
-Se fôssemos, você teria recebido essa notícia de maneira mais animada.
-Acontece que você acabou de dar a melhor notícia da minha vida. E, no entanto, nós estamos construindo uma família como dois estranhos.
-Depois de tudo que “tá” acontecendo, eu tenho até medo do que vou descobrir quando te conhecer realmente. Se é que isso pode acontecer algum dia, já acho essa possibilidade remota.
-Não tem mais nada pra saber sobre mim.
-Bruno... Vamos fazer o seguinte? Que tal, pro bem desse bebê, uma espécie de... “Política da boa vizinhança”?
-Continuo sem acreditar que você pode ter coragem de me propor isso.
-Antes isso do que o divórcio. Pelo bem do meu filho, eu estou disposta a passar por cima de tudo o que soube sobre você. Mas eu acho melhor que você não toque em mim, nem no meu filho. Eu não suportaria ter de me voltar contra o homem com quem me casei.
-Nosso filho!- corrige-lhe- Eu ainda vou mostrar que tudo que disseram de mim foi uma mentira. Não sei se foi pra me separar de você, ou se foi pra...
-Pouco me interessa as razões, Bruno. Se você é vítima, aja com tal. Só que eu vou avisar: se acontecer mais alguma coisa, nunca mais... Ouviu bem? Nunca mais você vai ver a mim e ao nosso filho.
-Giovanna... Pensa no que você “tá” fazendo com a gente.
-Eu não tenho o que pensar, nem do que me arrepender. Sinceramente, Bruno, eu espero que você também não tenha. Aproveite o jantar. Vou tomar meu banho e dormir. Se quiser, durma lá depois.
Bruno vê sua esposa subir as escadas e senta à mesa de jantar. Pega a faca e lembra da agressão que cometeu contra Abílio.
-Não vai me custar nada fazer você voltar pra mim, meu amor. E finalmente vamos ter a família que eu idealizei.

UMA SEMANA DEPOIS...

Valentina entra em um supermercado. Pergunta a um dos vendedores:
-Com licença, onde é que eu encontro detergente em pó?
-Terceiro corredor à direita.
-Obrigada.
A moça se abaixa para pegar uma cesta e coloca dois detergentes, quando um homem armado se aproxima.
-Valentina?
-Como é que você...
-Sou o cara que você pediu ao chefe.
-Até que enfim. Já não aguentava mais esperar.
-O chefe me explicou como vai funcionar o esquema.
-Mas olha, é só um susto, viu? Não é pra machucar ninguém.
-Só tem que me dar o endereço. A que horas eu passo lá?
-Espera até as cinco horas. É quando ela chega da escola. Tranca ela no quarto, e coloca bala de festim no revólver. Não deixa a Giovanna te ver.
-Mas e o tal de Bruno?
-Ele vai querer defender a esposa e o filhinho. Mas vai se dar muito mal. Estimule o ódio dele. Ele tem que sentir vontade de matar você.

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Bruno está arrumando a pasta pessoal. Silvia entra na sala do arqueólogo.
-Desculpe, Dr. Bruno.
-Ah, não. Mais trabalho?
-O ultimo dos levantamentos de hoje. O senhor esqueceu de analisar.
-Não esqueci. Protelei pra amanhã. Simples assim.
-Nesse caso, eu guardo na minha gaveta e entrego amanhã.
-Silvia, me permite fazer uma pergunta?
-Claro.
-A Virna... Ela era cleptomaníaca?
-Clepto o quê?
-Santa ignorância... Ela já roubou alguma coisa, que você tenha percebido? Sentido falta aqui dentro do escritório?
-Seu Bruno, a Virna era minha amiga. Não tinha como ela fazer esse tipo de coisa sem que eu percebesse. O senhor vai me desculpar, mas... Por que a pergunta?
-Tinha um objeto que eu consegui numa viagem. Eu guardava aqui dentro da minha sala. De repente, sumiu.
-Vai ver o senhor guardou em outro lugar.
-Amnésias instantâneas não são diagnosticadas em mim há pelo menos duas décadas, Silvia- olha para a estante- O cunhado dela esteve aqui?
-O Leandro? Não. Ele nunca veio aqui.
-Pensei que como era da polícia, talvez tivesse vindo aqui.
-Não, veio outro rapaz procurando o senhor.
-O Iago...
-Esse mesmo.
-Quando a Virna saiu daqui, ela deve ter deixado os pertences pessoais, não foi?
-Sim, eu coloquei tudo numa caixa pra deixar aqui na sala e...
-E o quê?
-A irmã dela veio buscar.
-No dia seguinte à demissão? No dia do meu casamento.
-Não, senhor, depois que a Virna tinha falecido.
-A tal de Valentina esteve na minha sala?
-Sim, ela veio buscar as coisas e eu deixei ela sozinha por um momento, pra pegar um copo d’água.
-Quer dizer que foi ela... Ela roubou a bomba!- pensa.

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