31/01/2013

AINDA É CEDO/ CAPÍTULO 6: A ELA, COMO ELA ME AJUDOU, E NÃO QUIS ME SEPARAR

-Por favor, entra.
-Eu não vou demorar. Só tô preocupada com ele.
-Fabrício vai aceitar minha ajuda?
-Não.
-Bom, nesse caso...
-Nesse caso, você vai ser o irmão dele. O que provavelmente ele ouviu algum dia. Não é possível que vocês dois vivam assim.
-O que você e a minha mãe tão tentando fazer é forçar ele a fazer o que não quer. Isso nunca vai dar certo.
-Tem que ser assim. Pro bem dele.
-Milena, não tá só nas minhas mãos. O Fabrício tem que querer ser curado. Se ele não se mexe pra isso, eu não posso obrigar.
-Pedro...
-Desculpa, Milena. Mas se você não conseguiu convencer meu irmão, não é esse argumento sobre família que vai resolver.
-Eu não vou desistir.
-Não é desistir. É questão de perceber a solução na sua frente. Ele, se quiser, pode pedir ajuda a qualquer médico.
-Sim, mas...
-O que acontece é que eu não sou médico. Posso ajudar, mas não vou pode fazer muita coisa nesse estado que ele ficou. Parece que tudo ficou pior que antes.
-Você pode mudar isso.
-Não, não acredito muito nessa possibilidade. Enquanto o Fabrício ficar assim, não tem como eu chegar perto. Nem pra conversar.
-Eu vou dar um jeito de falar com ele.
-Não adianta, Milena. O problema é comigo. Claro que ele quer se recuperar, voltar a andar, a sorrir. Se eu tiver por perto, ele não vai aceitar minha ajuda. Tá no direito dele.
-É por causa daquela história de adoção?
-Como eu sou o irmão mais velho, ele acha que eu sei de alguma coisa, que escondi dele a verdade. Mas eu descobri tudo quando a minha mãe contou. Nada foi de caso pensado. E também se eu soubesse, eu tinha que deixar que ela falasse, não podia me meter. Só que a inveja dele é pior que tudo, Milena. Nada mudou pra mim, sabe? É meu irmão, de sangue ou não. Mas ele não pensa assim.
-Só o que queria era dar um jeito de fazer vocês se entenderem, sério mesmo.
-Gosta tanto do meu irmão assim?
-Eu me apeguei a ele. Olha, se você me pedir pra explicar por que, eu não vou saber dizer.
-Pra mim, você tá apaixonada por ele.
-Eu? O que é isso?
-Não precisa ficar encabulada, não. Isso é normal.
-Eu mal conheço o seu irmão. Como eu posso ter me apaixonado?
-Não precisa conhecer. Só tem que sentir.
-Bonito isso que você falou.
-Mas acredite, eu não tenho muita experiência com paixão. A minha única paixão é a música, e eu não tô com ela agora.
-Quem sabe um dia?
-Tem razão.
-Acho bonito, sabe? Essa amizade que você tem por ele...
-Eu não tenho ninguém na vida. Quero ver ele bem.
-Vê lá, hein? Agora você me tem.
-Tá falando sério?
-Quer que eu te mostre? Que você pode ter amizade com os dois?
-Como?
-Vem comigo.
-Pra onde você vai me levar?
-Amigos são aqueles em quem a gente confia, quando a família não tá por perto. Me segue.

*****

Cristina continua abraçada a Ricardo, deixando-o constrangido.
-Não sei por que, meu amor, mas eu sinto que a gente se perdeu um do outro.
-Por que essa impressão agora?
-Cada vez mais, a gente tem ficado distante. Nunca foi assim. No que depender de mim, vou fazer de tudo pra ter a minha família unida de novo.
-Cristina, para- afasta-se da esposa.
-Você tem agido diferente desde o acidente do Fabrício.
-E como você queria que eu estivesse?
-Qualquer coisa, menos assim. Qual é o seu problema comigo?
-Nenhum, só acho que essa situação toda me tirou do eixo.
-Acredite, você não foi o único.
-Como vai ser quando ele entrar em casa e me ver sendo diferente?
-Simples: não precisa ser diferente. É só tratá-lo como sempre.
-Nunca mais as coisas vão ser como antes. Tudo mudou.
-Só se for pra você.
-Eu não quero meu filho dessa forma. Se fosse assim, era melhor que...
-Não fala mais isso, Ricardo. Nunca mais. Eu também não queria que essa tragédia tivesse acontecido, mas é meu filho. Queira você ou não. E é melhor se acostumar, porque eu vou dar um jeito de convencê-lo a voltar pra casa- sai do local.

*****

-Você coloca num papel de presente, por favor?- diz Pedro a uma vendedora, numa loja de aparelhos celulares.
-Claro, é só um minuto.
-Você me trouxe no shopping pra comprar um telefone, é isso?- estranha Viviana.
-Não, trouxe pra você levar o celular pra casa.
-Como assim? Esse celular é meu?
-Claro, né, Milena?
-Mas por que você me deu isso?
-Bom, eu comprei no cartão de crédito universitário, que é a única coisa que minha mãe não confisca. Com ele, eu faço o que quiser. Vai ser bom. Aí, você liga pra mim se precisar de alguma coisa.
-Pedro, eu nem sei o que te falar. Obrigada... Obrigada mesmo.
-Deixa disso, você não tem nenhum. Vai ser bom pra você se comunicar com a família.
-Eu não tenho família, não.
-Somos eu e o meu irmão.
-Cara, eu queria arranjar uma forma de te agradecer pelo que você tá fazendo por mim.
-Mais importante é o que você tá fazendo pelo Fabrício, sem pedir nada em troca.

*****

Cora está no conservatório e Pedro a encontra.
-Professora? Tá tudo bem?
-Desculpa, Pedro. Eu estava perdida. Viajando nos meus pensamentos. O que você tá fazendo aqui?
-Bateu saudade do povo. Vim pra cá. Aproveitei que tinha saído. E a senhora, tá assim por quê?
-Se eu te falar, você não conta pra ninguém?
-Não, pode dizer.
-Acho que estou apaixonada.
-Isso é normal. Aliás, é ótimo.
-Ele não é o homem certo.
-Como é que a senhora sabe disso?
Cora procura desconversar.
-Você não veio falar com os meninos? Aproveita, daqui a pouco eles largam.
-Professora?
-Hum?
-Não desiste, não. Se é verdadeiro, vai vingar.

*****

Ludmila entra no quarto de Fabrício.
-Com licença.
-Quem é você? Médica não é.
-Eu sou Ludmila. Trabalho num jornal.
-Ah... Sei.
-Vim saber informações. Queria que você me dissesse como é que tá.
-Não tá vendo?- olha para as pernas- Não é óbvio?
-Desculpa se eu tô te constrangendo. Olha, eu prometo que não vou gravar nada, não vou usar celular nem nada.
-Nem eu vou falar nada.
-Eu tô aqui com a melhor das intenções.
-Não tô nem aí pras suas intenções. O que você quer é vender. Se for pra isso, fala com o médico. Porque eu não digo nada. Se vira.
-Tudo bem. Eu só queria que você soubesse que eu vim aqui sem querer comprar briga com ninguém.
-Que bom. Aproveita que deixou a porta aberta.
-Eu sinto muito, com licença.

*****

Pedro volta pra casa e encontra a mãe na sala.
-E então, meu filho?
-Foi pior do que eu pensava. Falei com ele e ele nem quer me ver. E aconteceu outra briga. Assim não dá.
-Acho que vou conversar com ele. É melhor, eu já enfrento tudo isso logo...
-Não adianta, mãe, não vai dar certo. O que a gente tem que ter nessa hora é paciência. Porque cada dia a mais vai ser pior, se ele resistir a tudo que a gente falar pro bem dele.
-Você veio de lá, do hospital?
-Não, falei com ele mais cedo.
-E pra onde você foi à tarde?
-Ao shopping. Com a Milena.
-Shopping? Meu filho, você perdeu o juízo? A gente não sabe nada da vida dessa moça, de onde ela veio, com quem ela anda.
-Eu não preciso saber. Tirando o fato de que ela cuida muito bem do Fabrício.
-Tá, mas pelo menos, eu posso saber o que vocês foram fazer no shopping? Bater perna?
-Melhor: essa moça de quem você tanto desconfia me pediu pra não desistir do meu irmão, mesmo sabendo que a gente brigou. Ela me procurou, e eu decidi segui o conselho.
-Procurou onde? Aqui?
-Aqui mesmo.
-Eu não acredito.
-Qual o problema, mãe?
-Pode ser uma trombadinha, já pensou nisso? Eu não gosto que você me receba alguém sem avisar.
-Você tava em casa, conversando com o meu pai. Eu não sabia que ela vinha.
-Só quero que você me responda mais uma coisa, Pedro: se essa moça veio mesmo falar sobre a recuperação do Fabrício, o que foi que vocês fizeram no shopping?
-Fui comprar um celular. Ela tava precisando.
-Ela?
-Ela, mãe, ela mesma. Olha, eu não quero brigar. Já bastam as coisas que eu tive que escutar naquele hospital. Quanto mais a Milena ficar perto dele, mais confiante ele vai ficar daqui pra frente. E agora eu vou tomar um banho pra resolver uns assuntos da residência pela internet- Pedro sobe as escadas.
-Milena rondando meus filhos... Era só o que faltava.

******

A enfermeira traz uma bandeja com o jantar para Fabrício. Nesse momento, Viviana chega e vê o rapaz comendo.
-Posso entrar?
-Claro.
-Com licença- diz a enfermeira.
-E então? Você já tá se alimentando... Pra quem não queria nada com a vida, isso é ótimo. Bom demais.
-Não posso ficar dependendo de todo mundo. Ou melhor, de ninguém da família.
-Eu vou ficar aqui fora, esperando você terminar de comer. Eu passo depois.
-Não precisa. Fala agora.
-Melhor não.
-Fala, Milena.
-Tenho que falar sobre a cadeira.
-Cadeira? Qual?
-Pra quê fingir? Você sabe do que eu tô falando.
-Desculpa, mas eu boiei completamente.
-Vai negar? Tudo bem, vai ser pior se demorar a usar.
-Pra ser sincero, eu tenho pra mim que isso é passageiro. Daqui a uns dias, eu vou ter ficado novo.
-Fabrício, não é assim.
-Duvida?- Milena abre a porta do quarto- Onde é que vai?
Ela puxa a cadeira.
-Essa não tem motor, é daquelas normais. Depois, se você for transferido mesmo, vão pegar outra.
-Pra quê foi que isso entrou no quarto?
-Eu vou falar com o médico e você vai sentar nisso e começar a usar.
-Tira isso daqui, Milena.
-Não adianta se comportar como uma criança. É pro seu bem.
-Meu bem é tirar essa cadeira da minha vista.
-Até quando a gente vai tentar conversar contigo e você não vai dar atenção? Hein? Não quer ouvir sua mãe? Eu tô aqui! Não quer ouvir seu irmão? Eu tô aqui! Não tem problema nenhum com ninguém, mas você fica fazendo birra como um menino pequeno. Tá na hora de agir como homem. Você não foi o machão na hora de correr, de beber e sair disparado dentro do carro?
-Nunca. Você me ouviu? Eu não vou usar essa cadeira nunca!
Violentamente, ele arremessa a sua bandeja e joga na cadeira, deixando Viviana perplexa com sua atitude.

29/01/2013

QUERO APRENDER ("SHIMBALAIÊ", DA MARIA GADÚ)


QUERO APRENDER
CONCURSEIRO DE VESTIBULAR
QUERO APRENDER
TODA VEZ QUE A MIM FOR REPROVAR

É PARÓDIA FEITA PRA DIZER
A QUEM TEM PRETENSÃO DE VENCER
MEU PROFESSOR ME DIZIA SÓ
PRA SABER A MATÉRIA DE COR
MAIS CONCORRIDA: UFPE
FAÇO A PROVA; TAMBÉM UPE
TODA ESCOLA QUER SE PREPARAR
CADA ALUNO DESEJA INGRESSAR

QUANTO TEMPO LEVA PRA APRENDER
TUDO QUE A TAL PROVA VAI CONTER?
TAL PROFESSOR ME DIZIA SÓ
PRA SABER A MATÉRIA DE COR

QUALQUER ASSUNTO ESTUDO
ATÉ MATÉRIAS INTEIRAS
VIVER UM ANO EM SEGUNDOS
SEGUNDA FASE: CERTEZAS
COM APOSTILA OU LIVRO
JÁ PENSO NA FACULDADE
QUANDO PUSER GABARITO
PARA UNIVERSIDADE

28/01/2013

AINDA É CEDO/ CAPÍTULO 5: ME ESQUECI DE AJUDAR


-Até quando você... Quando é que você vai virar essa página, Fabrício?
-O problema não é quando. Eu não quero virar. E pronto.
-Eu não tenho nada contra você. Não te odeio, entende isso!
-Mentira sua.
-Por quê?
-Sei que é mentira o que você tá me dizendo. Que se você não tivesse pena de mim, a essa hora já teria me dado uma surra. Não é porque eu tô assim que eu vou me calar, e dizer tudo o que eu penso.
-Nem sei o que te falar, sério.
-Dizer o quê? Contar a verdade que eu já sei?
-Fabrício, é pior do que eu pensava. O problema não é o acidente, o que te aconteceu ou o tratamento. O problema... O grande problema é você.
-Isso. É o que eu quero. Que você bote pra fora tudo o que pensa e nunca teve coragem de falar.
-Doente. É o que você é. Ou o que sempre foi e eu não percebi.
-Quem tinha que ter sacado alguma coisa era eu. O jeito que minha mãe olhava pra você, se preocupando mais do que comigo...
-Eu era o problema. Não você. Não foi você que ameaçou sair de casa, nem teve que desafiar ninguém, nem ser pedante, lutar contra a intolerância dos outros. É a minha vida, minha vocação. Sabe o que era pra eu estar fazendo agora?
-Pedro, sua vida não me interessa nem um... – Fabrício vira o rosto.
-Interessando ou não, eu vou falar- Pedro levanta a voz e chama a atenção do irmão- Era pra eu ter vindo visitar meu irmão, mas só isso. Não era pra me inteirar do assunto, conversando com médico, circulando pelo hospital. Não é a minha vontade! Sabe qual é o meu erro? É de ter escutado a dona Cristina. Essa aí, que você não quer aceitar como mãe. A que te deu tudo. Se você é alguma coisa nesse mundo, a culpa é dela. Até pra ser um desgraçado, você deve isso pra ela e pro Ricardo. Ela te deu amor. Já ouviu falar nisso? É aquilo que você não consegue dar porque não tem!
-Escuta só...
-Cala a boca! Eu não terminei ainda!
-Eu acabei! Sai do meu quarto.
-Esse daqui não é seu quarto! Seu quarto ficou lá em casa, do jeito que você deixou, antes de sair louco em alta velocidade, a fim de bater num poste e ferrar com a vida de todo mundo. Quer me ferrar? Me ferra logo! Teu problema é comigo. Mesmo que você não saiba nem o nome, é comigo! Porque ciúme de irmão não é. No teu caso, tá ridículo já!
-Terminou?
Pedro começa a bater fortemente nas pernas de Fabrício.
-Tá sentindo? Tá sentindo dor? Hein? Tá sentindo minha mão socando aqui?
-Para!
-Viu? Teu problema é nas pernas. Cego você não é. Para de fingir que não enxerga a gente te dando amor, te tratando bem.
-É remorso.
-Remorso é aquilo que você tem quando acorda e vê as besteiras que diz pra ferir todo mundo.
-Eu não tenho medo de você.
-Ótimo. Eu não manipulo todo mundo.
-Some daqui!
-Resumindo: senta nessa cadeira e faz o teu tratamento. Se você acha que depende de uma cadeira pra ser melhor do que eu, se recupera. Aproveita pra crescer.
-Some!
Depois do grito de Fabrício, Ludmila volta para a recepção do hospital, e Pedro sai lentamente do quarto.

*****

Ricardo e Cora bebem juntos na casa do publicitário.
-Ótima safra a desse vinho.
-Cora Lauveríssimo. Nome exótico.
-É a primeira vez que dizem isso. Geralmente dão adjetivos piores- ambos riem.
-Como você se resume?
-Quarenta e cinco anos, solteira, sem filhos e com uma vontade enorme de viver.
-Viver?
-Exclusivamente para o trabalho.
-Uau!
-Você não vai se resumir, não?
-Cinquenta e dois anos, casado, pai de dois filhos. Um é problemático e o outro... Está começando a me perturbar.
-E a esposa?
-Um verdadeiro pilar.
-Isso é ótimo.
-Pilar mesmo. Sem ela não existiriam as estruturas físicas das butiques e joalherias. Passa mais tempo lá do que aqui, em casa.

*****

Pedro encontra Viviana do lado de fora do hospital.
-Milena. Estranhei quando não te vi dentro da enfermaria.
-Eu te vi chegando. Achei que ele quisesse conversar.
-Achou errado.
-O que foi?
-Tá difícil. Muito difícil. Fabrício não abre a guarda, é irritante... Olha, eu discuti com ele, essa é que é a verdade.
-Você não pode fazer isso. É o mais próximo que pode ajudar ele na recuperação.
-Ele não quer a minha ajuda. Como é que eu faço?
-Não sei, mas não desiste dele, não. Ele se sente sozinho.
-Não é assim quando ele tá junto de você. Só você é quem ele ouve. A gente tem que começar por você. Não por mim.

*****

Cora está um pouco alterada por conta da bebida que toma com Ricardo.
-Você me prometeu que seria apenas um café.
-É que a nossa conversa está tão prazerosa que...
-Não precisa se justificar.
-Tem certeza?
-Claro. Eu também estou adorando esse papo. Há tempos não me divertia tanto. Mas eu acredito que seja melhor eu pegar meu carro, já estou atrasada para o trabalho.
-Poderíamos nos ver outras vezes.
-Ótima ideia. Então... Até...
-Até...
Quando Cora vai dar um beijo no rosto de Ricardo, desequilibra-se e ele a segura. Justamente nesse momento, eles trocam um beijo. Ela se afasta e sai correndo em direção ao seu carro.
-Cora? Cora, onde é que você vai? Você não pode dirigir assim.
-Depois a gente se fala, Ricardo- a professora de Pedro entra no veículo e foge da casa do publicitário.

*****

Viviana entra no quarto de Fabrício.
-Posso entrar?
-Você não precisa pedir, né?
-Eu encontrei seu irmão lá embaixo. O que aconteceu?
-O mesmo de sempre: nada. Há muito tempo que não tem nada de bom na minha vida que tenha a ver com ele.
-Fabrício, entende só uma coisa: o Pedro é seu irmão e...
-Ele não é meu irmão. Eu sou adotado. Eu não tenho nada dele, nada.
-Como não? Vocês moram juntos, foram criados juntos. E o Pedro não quer outra coisa que não seja te ajudar.
-Tá vendo só? Ele já conseguiu te convencer. Eu não gosto dele, não quero ele perto de mim. O povo tem que entender isso.
-Pra mim, isso é ciúme.
-Talvez, mas a minha raiva não passou. Eu tenho pra mim que ele sabia que eu era adotado e não me contou nada.
-Você tem como saber realmente disso?
-Não.
-Deixou de ser ciúme, é implicância mesmo.
-Que coisa... Faz poucos minutos que você viu o Pedro lá embaixo e já tá defendendo ele.
-Eu tô defendendo o que é certo.
-Ah, Milena, quer dizer que eu não tô?
-Não.
-Você não conhece nada da vida mesmo.
-E você não me conhece. Não sabe o que me aconteceu, tudo que eu passei, nem como eu cheguei aqui nesse lugar.
-O que eu não sei?
-Você quer mesmo saber?
-Posso, pelo menos?
-Agora não. Muito cedo pra eu falar qualquer coisa. Eu só sei que o Pedro é médico e é pra ele que você tem que pedir ajuda.
-Dispenso a ajuda dele. Como vou dispensar toda vez que ele me aparecer aqui. Não é porque a mãe dele quer que eu vou me dobrar.
-Sendo assim, eu vou fazer que nem a sua mãe e resolver o seu problema. Você não tem dinheiro, tá num hospital do governo, não quer a ajuda da família... Tá! O Pedro vai te ajudar, com ou sem sua permissão.
-Milena, se você for atrás daquele cara, eu vou...
-O quê? Me ameaçar? Toma vergonha na cara, Fabrício. Eu não tenho medo de ninguém, tá legal? Eu te pedi pra você correr atrás, procurar um jeito de se levantar, de sair dessa. Eu pedi pra você se ajudar, e você só não faz isso por causa da implicância com seu irmão. Mas já que você não quer, quem vai procurar sou eu.
-Milena... Milena!
E Viviana bate a porta do quarto, encontrando Ludmila em seguida.
-Tava escutando tudo, não foi?
-Do que você tá... – procura disfarçar.
-Relaxa, eu sei que você vai dizer que tá buscando informações sobre o estado dele, blá, blá, blá... Olha, eu sei que a gente não é próxima uma da outra, só que eu quero um favor seu.
-Só se tiver a ver com o Fabrício.
-Claro. Você é bem informada, tem suas fontes. Será que não dá pra descolar o endereço da casa da família dele?
-Pra quê?
-Eu quero falar com o irmão dele. Sabe, pra ele acompanhar o tratamento de perto.
-Quer dizer que a situação dele...
-Tudo nos conformes. Ele sofreu um trauma, e o irmão dele é que vai cuidar disso.
-E a transferência?
-Soube que a mãe dele tá resolvendo tudo, mas ainda tão esperando passar o tempo. Depois dessa entrevista toda, dá o endereço.
-Tudo bem... Eu vou anotar pra você.

*****

Ricardo está na biblioteca, quando Cristina chega.
-Onde você estava?
-Passei o final da tarde num spa!- joga a bolsa no sofá- Precisava relaxar. Antes, passei na universidade e fui procurar o Pedro pra que ele me ajudasse com o Fabrício.
-E como é que tá tudo?
-Infernal. Ele não quer aceitar a cadeira de rodas, anda agressivo, pior a cada dia. Eu cheguei à conclusão de que construí uma família problemática.
-Não fala assim, Cristina.
-A minha única sorte é de você ter sido a única escolha da qual eu não me arrependo.
Cristina dá um abraço no marido, que mal consegue segurá-la, devido às lembranças que tem de Cora.

*****

Já no andar de cima da casa, Pedro está com um notebook em mãos, quando alguém bate à porta.
-Já vai, calma aí.
Ao abrir, ele toma aquele susto.
-Você aqui?
-E você já imagina sobre quem eu vim falar. Olha só, Pedro, não adianta, eu não vou desistir enquanto você não ajudar o Fabrício.
E a visita de Viviana é uma surpresa que faz o estudante de Medicina ficar feliz, ainda que seja por um motivo delicado.

27/01/2013

FEDERAL EU CURSAREI (“ADORO AMAR VOCÊ”, DO DANIEL)


Há desejo em passar
Somente aprovar, provando
Que o meu professor
Ponto não nega pra mim


Há pronta revisão
Podem revisar, visando
Vou estudando
Dessa vez quem passou
Tudo anotou assim



Quando vou, Federal?
Sou um vestibulando!
Quando estudo mais?
Este ano, este ano!
Tô afim de cursar com você
Mais uns quatro anos

Para vestibular
Vem estudar programa
Revisa. Anote
O seu cronograma
Só me passe no exame seu
Que a Covest te chama



A Federal eu cursarei (eu cursarei)
Não terei zero
Eu jamais quis
Ter prova pra estudar
Ter prova pra passar
Prova fazer
Prova; me diz
Reitor que existe
Chance, pois
Tem vaga que sonhei
Pra mim
Sem recuperação
Sem prova e sem ter
Um novo boletim