-Eu?-
começa a ficar encabulado- Eu? Não tenho nada, Débora. Mas o caso é que isso só
pode ser uma armação dele.
-Por
favor, Robson. Olha pra barriga do menino, tá sangrando. Chama a ambulância.
-Tá
certo. Quero ver quando os médicos chegarem, e a vergonha que a gente vai
passar.
-Dá
pra parar de ser frio? É seu irmão!
-Nem
tudo sai da forma que a gente quer.
-Robson,
que é que tá acontecendo com você? Por que essa agressividade, essa frieza?
-Nada,
só acho que ele tá fingindo. Só isso? Por que vocês estão olhando pra mim desse
jeito?
-Bruno!
E
do nada grita pelo irmão do protagonista Mell. Sabe quem é? Deixe de ser
curioso, daqui a pouco a gente conta.
-Bruno!
O que foi que fizeram com você? Fala comigo! Reage, meu amor!
-Calma
aí, quem é você, minha filha?- Débora quer esclarecer a situação.
-Essa
menina aí tava com ele. No maior amasso em frente ao mercadinho. Peraí, não foi
lá que ele tava caído?- começa a divagar seu Mané, como a gente.
-Isso
é o senhor que tá dizendo- Robson se vira para Mell- Fala quem é você. É mais
uma das amiguinhas dele? Aquelas com quem ele passa a noite fora?
-Não,
meu amigo. Muito mais do que isso? Eu sou a mulher dele! E você quem é? Parente?
-Eu
não acredito nisso...
-Robson,
desde quando o Bruno tinha namorada e você me escondeu isso?
-Ele
não tem namorada nenhuma, Débora. Eu não tô sabendo de nada disso.
-Nem
tem porque saber. Já disse que eu sou a mulher dele. É o suficiente.
-Ela
tava brigando com ele no mercadinho.
-Que
história é essa? É a primeira vez que eu venho pra esse lugar. Esse velho tá o
quê? Esclerosado?
-Boa
observação. Mas eu quero saber o seguinte... Você disse que se chama Mell, é
isso?
-É,
moça.
-Vem
cá, esse daqui é o Robson, irmão do Bruno. Ele nunca te falou de família, mesmo
você sendo mulher dele?
Mell
fica encabulada, sem saber o que dizer, mas é salva pelo Samu que tenta
socorrer Bruno. Logo, começa a discussão entre ela e Robson.
-Eu
vou entrar com ele.
-Não,
eu é que vou.
-Eu
preciso entrar com ele. Tenho medo de ser tarde demais.
-Pois
pode se lamentar sozinha, porque eu vou na ambulância.
-Robson,
espera. Pra onde ele vai?- Débora fica preocupada e ignora a hostilidade
entre... os cunhados.
-Pro
Hospital da Restauração. Só pode ir uma pessoa com ele. Então tu... Quer dizer,
vocês vão ter que chegar lá de ônibus.
-Que
jeito, né? Ainda não comprei meu Camaro amarelo...
Mell
se aproxima do rapaz e o ameaça em voz baixa.
-Você
vai se arrepender de tudo o que tá fazendo pra me afastar de Bruno. Inclusive
isso.
-Paga
pra ver, Mell. Paga!
E
Robson entra na ambulância, ainda meio arredio, como se não quisesse chegar
muito perto do irmão.
*****
Passadas
algumas horas, Robson está no corredor do hospital esperando informações. Até
que chega o médico.
-E
então, doutor?
-Robson,
por favor, pega uma cadeira e senta. Você tem que estar preparado.
-Ah,
não... Não pode ser... Me diz que é mentira!- começa a chorar.
-Meu
querido, eu sou médico. Infelizmente, eu não posso mentir. E depois, não teria
nem como contar uma mentira. Você está vendo que eu ainda não atendi seu irmão
porque tem gente pior do que ele aqui no corredor. É a Restauração!
-Ele
tem chance de sobreviver?
-Eu
que trabalho no SUS tenho, imagina ele. Eu vou voltar pra emergência, com
licença.
-Onde
é que tá o Bruno?- Mell invade o hospital.
-Calma.
-Ele
tá bem, não tá? Daqui a pouco ele pode sair?
-Não,
tá nas últimas. O médico disse que nem chegou a atender por causa da quantidade
de gente.
-Que
inferno isso daqui!
-O
que é que você tá fazendo aqui? Não era pra você ter vindo com a Débora?
-Débora?
Esse é o nome da sua namorada?
-Fala
logo onde ela tá.
-O
trânsito engarrafou na Agamenon Magalhães, como sempre. Desci do ônibus e vim
correndo pra ter alguma notícia.
-Eu
quero falar com você, mas aqui não. Vamos lá pra fora.
-Você
nem pense em dar um jeito pra que eu saia daqui, senão eu chamo alguém pra me
ajudar.
-Fica
na tua e vem comigo que eu quero falar do Bruno. Anda.
Os
dois saem e ficam perto de uma rampa que servem para a entrada de veículos.
-O
que você tem pra me dizer?
-Eu
só vou perguntar uma vez: foi você?
-Fui
eu o quê?
-Foi
você que tentou matar o Bruno?
-Tá
vendo como eu consigo te desconcertar? Já perguntou duas vezes.
-Olha
aqui, é da vida do Bruno que a gente tá falando.
-Ah,
Robson! A última coisa com a qual você tá preocupado é com a vida do teu irmão.
E sabe do que mais? Eu acho, sinceramente, que tudo isso é uma forma de você
disfarçar o quanto você tá contente com essa situação. Provocada por você.
-Como
é que é? O que você tá insinuando?- volta a ficar nervoso.
-Meu
lindo, olha pra mim. Meus óculos espelhados, meu pingente de mustache e a calça
apertada. Eu só tenho tempo de me insinuar pros outros, e não de fazer
insinuações sobre os outros. Eu tô afirmando mesmo, dizendo na sua cara: o
Bruno quase foi assassinado por sua culpa. Sua.
-Eu
não. Mas os meus ciúmes poderiam fazer isso. Fica tranquila, porque eu ainda
não tive essa coragem. Apesar dele ser quem ele é, é meu irmão. O que eu não
consigo entender, Mell, é você. Se divertindo com dois ao mesmo tempo. E o que é pior. Com dois irmãos.
-Qual
é o teu conceito de certo, então? É se divertir com a Débora e comigo ao mesmo
tempo? Por que eu não posso?
-Porque
Bruno é meu irmão.
-Mas
eu não tenho culpa disso.
-Você
fez de caso pensado, não foi? Fez porque eu tinha falado que não largar a
Débora pra ficar contigo.
-Se
for... É a minha vida.
-Não,
é a minha vida!
Ela
ri debochadamente e se aproxima de Robson.
-Eu
só vou me importar com a sua vida quando ela tiver aqui... Do lado da minha.
E
tasca-lhe um beijo!
Nesse
momento, o ônibus de Débora finalmente chega. Ao descer, ela repara que junto
ao ponto havia uma barraca de doces e salgados, e para comprar alguma coisa. Paralisada
ela fica quando vê o namorado beijando a cunhada recém-descoberta.
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