07/01/2013

INGRESSO CRIMINAL/ CAPÍTULO 5: QUE ROLO DESGRAÇADO!


-Grávida? Não pode ser... Por que eu não fiquei no Clube Líbano? Por que eu não fui protestar contra as directioners? Robson, onde você tava com a cabeça de voltar pra casa, seu idiota?- o jovem se estapeia.
-Doutor, o senhor tem certeza disso? Será que não foi nenhum mau súbito por causa da discussão que ela teve com aquela moça?
-Certeza absoluta, delegado. Claro que ela vai ter que fazer um ultrassom quando amanhecer porque a sala está fechada de madrugada, mas pelo que vejo, é uma gestação de semanas.
-Comigo não. Comigo mesmo não. Só pode ser mentira, eu não posso estar esperando filho nenhum...
-Tá feliz agora, Mell? Hein? Responde! Você acabou com o meu namoro, quase matou o meu irmão e agora quer me enlouquecer? Pois eu vou te dizer só uma coisa: antes disso, eu me mato! Ou melhor, eu te mato!
Desembestado, sai da enfermaria.
-“Quase matou o meu irmão”? O que é que você tem a ver com isso?
Mell fica sem ter o que dizer para o delegado.

*****
Lá em Itapissuma, Débora está na casa de Bruno e Robson, tomando um copo d’água e chorando ao lembrar-se de como foi pedida em namoro pelo rapaz. Naquela cozinha mesmo, ele a puxou pela mão e disse:
-Me espera. Eu tenho que te falar uma coisa bem séria.
-Quanto suspense, Robson. Fala, o que é?
-Ai, como eu tô nervoso.
-Suando muito até. Você tem distonia?
-Não, é que... Olha, o que eu tenho pra dizer não dá pra ser se não tiver trilha sonora.
-Robson, o que você tá aprontando?
O cara se vira e liga o rádio de pilha que está perto do microondas e da gaveta de talheres. Os singelos versos tomam conta do ambiente.
“Sou eu, Bola de Fogo
O calor tá de matar!”
Bruscamente, a melodia é interrompida pelo jovem que muda de estação, tentando disfarçar o constrangimento. Na outra toca:
“E gira em volta de mim
Sussurra e apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro
Sozinhos?”
-Ótimo. Falou em sussurrar, sugeriu intimidade. É bem o que o que quero.
-Tribuna FM salvando o momento.
-Justamente... Olha, eu sei que eu tô te enrolando, mas é por não saber uma forma melhor pra perguntar... Quer namorar comigo?
-Nossa, eu não me emociono desse jeito desde que recebi o convite pra trabalhar na Contax... É claro que eu aceito, é o terceiro maior sonho da minha vida!
-Por que nessa ordem, Débora?
-Sair de Itapissuma é o primeiro, terminar o treinamento da Contax é o segundo... Te amo.
E o beijo apaixonado é filmado por Bruno, que está debaixo da mesa, conectando a câmera ao notebook e enviando a declaração de amor para o YouTube. Voltando ao presente...
-Cento e noventa e cinco visualizações no YouTube pra quê? Pra ele se envolver com aquela fulana sem recheio. E eu esperando, acreditando na fidelidade dele. Eu te odeio, canalha! Como eu te odeio!
E joga o copo em direção à gaveta. Chora mais ainda, despertando piedade em alguns leitores (o resto quer vê-la armando mais um escândalo). Ela segura alguns cacos, lembra-se daquelas gurias “pancada” que se cortam em posts do Facebook e decide fazer a mesma coisa nos pulso. Mas daí pensa:
-Não! Eu não gastei os melhores dias da minha vida tomando farinha de linhaça e dando cinco voltas no Parque Dona Lindu pra me cortar por ele. Ele é que se...
Pois é naquele momento que ela descobre algo irrelevante sobre o crime. Por enquanto.
-O que é isso?
E percebe que a gaveta estava entreaberta, com alguns cacos do copo que jogou. Dentro dele, havia modelos de faca Ginsu 2000, mais precisamente comprados em 1997 (pesquiso bem para saber narrar). Débora começa a juntar as peças do quebra-cabeça.
-A faca que tava na calçada... É da casa deles...
Mais um flashback; no entanto, é só daqui a pouco. Não saia da página!

*****

Na enfermaria, ainda é de madrugada (o nível de verdade é tanto que os ônibus passam depois da meia-noite e não se passaram vinte e quatro horas desde a primeira cena). Robson estava lá, tristonho, na mesma janela que serviria para um segundo crime. De repente, escuta uma voz.
-Robson... Robson...
Ao se virar, assustado, em câmera lenta (porque isso é uma novela, queira você ou não), chega perto do leito do irmão, emocionado.
-Bruno... Bruno, você acordou. Como foi isso?
-O que eu tô fazendo aqui?
-Você foi encontrado na rua, caído, sangrando. Eu não posso esconder nada... Seu caso é grave...
-Sobre essa... Você podia ter deixado de me contar...
-Eu vou chamar o médico.
-Não... Eu preciso contar... Uma coisa... Se eu morrer mesmo... Eu não posso deixar passar...
-O quê?
-A Mell... Ela disse que queria ficar contigo...
-Bruno, para.
-Não! Eu tenho que falar... Aproveitar... Que tô vivo...
-Tá, mas sem tantas reticências que tá chato.
-Tô agonizando, cara...
-Certo. Confessa o que quiser agora.
-Ela ficou comigo... Pensando em você... E eu... Me vinguei... Quis me vingar... Dos dois.
-A Mell já conseguiu.
-Ela... Eu também.
-Você não tem mais nada pra me dizer.
-Eu quis... Acabar... Com você... Naquilo... Que mais dói... A Débora...
-Débora...
-Eu dei em cima dela... Eu levei... Ela... Pra cama... Sem você... Saber...
-Mentira... Bruno, me diz a verdade... Bruno? Bruno?
E percebe que o irmão desmaia novamente.
-Essa não... Doutor Bráulio! Enfermeira!
E o entra e sai de Robson nessa novela continua sem explicação alguma. É o que os autores de novela chamam de barriga- aquele momento em que nada acontece.

*****

Mas Débora continua com sua investigação irrelevante. E faz um flashback de algo que ninguém percebeu na ocasião.

*****

-Mas o que é isso?
E encontra Bruno desmaiado, de cara para o meio-fio com um ferimento na barriga. Correndo, vêm atrás Seu Mané e Robson, que desconfiam um do outro.
-Eu vou chamar a polícia. Robson, me dá o celular logo.
-Não, Débora. Por favor, não chama a polícia.
-Por quê? O que é que você tem pra esconder, Robson?
Só que quando ela perguntou isso, ela olhou para o cunhado safado e o pôs em seu colo. Pelo fato de ter se abaixado, encontra perto de uma galeria uma faca Ginsu 2000. Logicamente, não toca na arma para não deixar suas impressões digitais. E pelo inusitado da situação, ela nem se lembrou de avisar ao namorado que havia achado a prova.

*****

Perto daquele purificador de água, está Robson, algumas horas após a confissão de Bruno, tomando uma água perto do portão de acesso às enfermarias. Débora chega desesperada, correndo.
-Robson, eu preciso falar com você?
-Débora?
-Eu descobri uma coisa que pode ajudar a descobrir quem tentou matar o Bruno.
-Mesmo?- com ar irônico- Eu também descobrir uma coisa muito importante.
-O quê, então?
Sem um pingo de cavalheirismo, e reforçando a tese que tudo pode acontecer numa estória de suspense, Robson joga água na cara da ex-namorada.
-Como é que você teve coragem de dormir com o Bruno? Como, Débora?

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