15/04/2023

PARÁBOLAS | CENA FINAL: TÉO E AS PARÁBOLAS

 

(Jesus está próximo à porta por onde entraram e saíram a maioria dos personagens. Depois de Luan, Otávio e Ícaro deixarem o templo, Ele olha para Téo, mais uma vez à direita do espectador.)

JESUS: Você se reconheceu nessa história, Téo?

TÉO: É a história do filho pródigo. Eu me reconheci naquele rapaz que veio procurar o pai pra pedir perdão... (abaixa a cabeça) No fundo, eu sei que eu preciso pedir desculpa também por me afastar do Senhor.

JESUS: Nesse tempo em que estivemos juntos, seu coração dorido não te deixou ver que, em cada uma dessas histórias, você era representado.

TÉO: Eu? Mas eu tava Contigo o tempo todo. Como eu não ia ver?

JESUS: Responde pra mim: quando você saiu de casa na madrugada, imaginava que a gente fosse se encontrar?

TÉO: Pra falar a verdade, eu nunca mais achei que Você ainda se importasse comigo.

JESUS: Mesmo Eu dizendo, culto após culto, que sempre estarei contigo? Aquelas virgens loucas também pensaram que Eu prometo pra não cumprir, que nunca teria um encontro com quem diz me amar.

TÉO: Mas eu não digo, eu Te amo de verdade; só que... Fica difícil de andar com Você sem ver aquilo que eu tanto peço acontecer.

JESUS: Téo, nenhuma palavra que Eu fale deve ser jogada ao vento; tudo tem um significado. O que Eu prometo é estar ao seu lado daqui à eternidade. Quantos pensam como você, que acha que estar nos céus Comigo só vale a pena depois de ser honrado na Terra?

TÉO: E não vale?

JESUS: Não! Toda a criação do Pai está no mundo pra render glórias, não pra viver pensando em recebê-las. Vocês estão mergulhando cada dia mais fundo num oceano de orgulho, e eu quero mostrar que o pecado não é capaz de aprisionar ninguém.

TÉO: (grita) Mas eu não consigo! Eu não consigo ver isso depois de tanta decepção, do cansaço que eu tô sentindo! Eu não tenho que Te ouvir, eu não tenho mais que esperar Você... (vira de costas para Jesus e coloca as mãos sobre o rosto, como se estivesse chorando)

JESUS: Você não me ouvir não quer dizer que Eu deixei de falar contigo. Mas a voz de quem diz o que você quer ouvir parece melhor aos seus ouvidos. E isso te dá aval pra seguir direto ao abismo. Como vai chegar perto de Mim se deixando levar por quem quer ficar longe?

TÉO: (lentamente tira as mãos do rosto, mas ainda continua de costas) O cego que ensinou o caminho errado... Por quê? Por que Você faz tanta questão de ficar do meu lado? Eu já fiz muita coisa desde que eu saí da Tua presença... Não era nem pra Você falar comigo... (volta a olhar para Jesus, aproximando-se) Ia ser mais fácil se eu fosse ignorado, como eu achava até agora. Você não entendeu ainda que eu sou um caso perdido?

JESUS: Mas aquela mulher que perdeu o marido não achava. E se ela conseguiu ser ouvida por alguém com autoridade menor que a minha, por que Eu não ouviria? (aproxima-se também do jovem, e assim que Ele dá passos em direção a Téo, os adolescentes posicionam-se perto do altar) Por que Eu não te ouviria?

TÉO: Eu não mereço que Você me dê Seu perdão, o Senhor sabe tudo que eu fiz...

JESUS: Sei. E quem não quer te ver crescer debaixo da Minha graça vai te lembrar. Como o irmão que não quis aceitar o pródigo por causa dos seus erros.

TÉO: Não são os outros que me incomodam. Eu que não posso esquecer... Nem coragem de Te olhar eu tenho...

JESUS: Coragem não é a única coisa de que você precisa mas de arrependimento. E aquele homem alcançou perdão mesmo vendo tudo desabar ao redor, por que você não?

TÉO: Me cura disso que eu sinto, desse desespero. Toma conta de mim, Senhor.

JESUS: O pecado te deixou doente. Mas tenha em mente uma coisa: não foi para os sãos que Eu vim.

(Todas as luzes são acesas. Os adolescentes, em uníssono, cantam a primeira estrofe da música “Filho meu”. Enquanto eles interpretam a canção, Jesus desabotoa a camisa manchada usada pelo jovem.)

ADOLESCENTES: Eu mudei

Quando descobri o Teu amor

Quando a Tua luz me alcançou

Pedi perdão a Deus, e Ele perdoou

Eu chorei

Porque Jesus, de perto, me curou

Porque Jesus minha sede saciou

Porque o santo Deus me abençoou

Eu amei

E foi por esse amor que eu chorei

E a gratidão eterna eu terei

Por Suas pisaduras me salvei,

Jesus

(Os adolescentes passam a cantar a segunda estrofe da faixa musical, e já está revelado que ele esteve o tempo inteiro com uma blusa branca sob a peça de roupa manchada, que Jesus joga ao chão.)

ADOLESCENTES: Eu clamei

E quando me perdi Deus me encontrou

Quando eu caí Deus me levantou

Sondou meu coração e Deus me falou

Falou...

(Os adolescentes vão ao refrão.)

ADOLESCENTES: Filho meu, confia no Senhor

Filho meu, Eu sou teu salvador

Filho meu, Eu acalmo a tempestade

Filho meu, Eu te liberto da maldade

Filho meu, sou teu abrigo e proteção

Filho meu, Eu sou a direção

Filho meu, Eu sou a solução

Filho meu, vem segurar na minha mão

Eu sou Jesus! Sou teu remidor

Sou o Deus que você aceitou e chora por amor

(Jesus une sua mão esquerda à direita de Téo e ambos ficam no meio dos adolescentes, que repetem a segunda estrofe da faixa musical.)

ADOLESCENTES: Eu clamei

E quando me perdi Deus me encontrou

Quando eu caí Deus me levantou

Sondou meu coração e Deus me falou

Falou...

(Jesus, Téo e os adolescentes dão-se as mãos antes que o refrão seja entoado pela última vez.)

ADOLESCENTES: Filho meu, confia no Senhor

Filho meu, Eu sou teu salvador

Filho meu, Eu acalmo a tempestade

Filho meu, Eu te liberto da maldade

Filho meu, sou teu abrigo e proteção

Filho meu, Eu sou a direção

Filho meu, Eu sou a solução

Filho meu, vem segurar na minha mão

Eu sou Jesus, o teu salvador.

(Ao término da interpretação, antes de deixarem o templo em definitivo, os atores agradecem a oportunidade em nome do ministério realizador da peça.)

14/04/2023

PARÁBOLAS | CENA 5: O FILHO PRÓDIGO

 

(Téo olha para Jesus, demonstrando por um breve momento constrangimento de estar sozinho com Ele.)

TÉO: Anoiteceu de novo. Melhor eu ir pra casa.

JESUS: Ficou com vontade de voltar pra faculdade?

TÉO: Fiquei. Mas tenho tanta coisa atrasada por lá, não sei se eu vou dar conta.

JESUS: Quanto a isso, não se preocupe. Tem uns lugares que estão mesmo esperando você voltar.

TÉO: Como assim?

JESUS: Téo, Eu sei que se dependesse de você, já teria ido embora, mas tem uma história que quero te contar.

TÉO: Outra parábola? E vai falar sobre quem agora?

JESUS: Sobre você.

(Otávio entra no templo seguido por Ícaro, um dos seus filhos. O pai coça a cabeça.)

ÍCARO: Vi na televisão que o inverno desse ano vai ser mais frio que os outros... Pai? Pai, o senhor tá me ouvindo?

OTÁVIO: O quê? Você estava falando de quê?

ÍCARO: Ih, a cabeça tá longe... Pensando em quem?

OTÁVIO: Deixa pra lá, filho. Você vai sair?

ÍCARO: É, eu tenho que passar no terreno de Ingazeira pra tocar a colheita. Deixa eu ir-me embora porque daqui pra lá é longe e eu chego amanhã cedo. A bênção, Pai. (beija a mão direita de Otávio)

OTÁVIO: Deus te abençoe, filho. Vê se não corre pela BR, nem esquece a habilitação em casa.

ÍCARO: Relaxa... (Ícaro sai de perto de Otávio porém, em vez de entrar no corredor, vai até a porta de entrada do templo e fica em silêncio)

(Otávio olha para a cruz que fica na parede atrás do púlpito e ajoelha-se para orar, com a cabeça curvada.)

TÉO: Calma aí, a história não é sobre mim? Onde é que eu entro nisso?

JESUS: Está preocupado com o tempo?

TÉO: Exatamente. Já virou o dia, ficou de noite... Meu tempo é precioso.

JESUS: Tudo que me pertence é precioso. Por isso mesmo você tem que se acalmar... O tempo é meu!

(Luan entra no local, olhando apenas para Otávio.)

LUAN: O triste estado em que eu me encontro agora

Sem cama, sem comida, meu corpo de fora

E ninguém me deseja

É grande o meu sofrimento

Pois o meu alimento

É o que dos porcos sobeja

(Otávio levanta o seu rosto e olha para Luan.)

LUAN: Estou colhendo aquilo que plantei

Pois quem amava muito abandonei

Tornei-me diferente

E o dinheiro que eu tinha

A herança que era minha

Gastei dissolutamente

(Otávio levanta-se do chão e começa a sorrir.)

LUAN: Mas levantar-me-ei do meu pecado

Meu Deus me dará forças pra sair

Irei e falarei abertamente

E direi sinceramente: “ó Pai,

Pequei contra os céus e perante Ti

Não sou digno de ser chamado filho Teu

Me recebe ao menos como empregado Teu

Me recebe, ó Pai”

(Luan abraça Otávio, que agradece a Jesus sem olhar para a direção em que Ele está.)

OTÁVIO: O Senhor escutou a minha oração! Obrigado, Jesus! Muito obrigado, Senhor!

ELTON: (entra no templo correndo) Seu Otávio... Me desculpa, mas é que ele passou pelos seguranças. Vou chamar a polícia...

LUAN: Não tá me reconhecendo mais, Elton?

ELTON: (aproxima-se do filho pródigo) Luan? Cara, você tá muito diferente! Sério, eu pensei que era um daqueles mendigos que ficam lá fora esperando uma esmola.

(Jesus afasta-se de Téo e aproxima-se de Luan e Otávio.)

OTÁVIO: Pois isso vai se resolver agora. Vá até o quarto dele e traz a roupa, o anel e os sapatos que eu comprei pra quando ele voltasse. A volta dele não vai passar em brancas nuvens. Prepare uma festa para hoje à noite.

ELTON: Sim, senhor. Com licença.

(Ouve-se Jesus cantando em tom baixo “Tua glória”.)

JESUS: Meu coração e esperança estão em Ti

Meu viver é Seu, pois me fez ser filho e santo

Santo, santo

(Elton caminha pelo lado esquerdo do templo, como quem vai cruzar a porta principal. Ícaro vai pelo lado oposto e ouve Jesus cantando, mas não olha para a área central do templo – onde estão também Otávio, Luan e Téo. O irmão do filho pródigo avista Elton e chama pelo funcionário.)

ÍCARO: Elton, vem aqui, por favor.

ELTON: (corre até Ícaro) Fala, Ícaro. O que foi?

ÍCARO: Que música é essa que tá tocando? O som vem lá de casa?

ELTON: Foi tudo de repente, seu pai deve ter se esquecido de te avisar.

ÍCARO: Avisar o quê? O que é que tá acontecendo?

ELTON: Luan voltou pra casa hoje. Quer motivo melhor pra teu pai fazer uma festa? Dá licença, que eu vou pra porta receber o pessoal.

(Elton sai pela porta principal e Ícaro, irritado, caminha vagarosamente olhando para seu pai e seu irmão. Há alguns segundos de silêncio, até que Otávio perceba a presença do filho mais velho. Jesus para de cantar assim que o jovem entra novamente no local.)

OTÁVIO: Filho, já viu quem está aqui? Seu irmão voltou pra casa! (Ícaro vai à porta do corredor em silêncio, até que o pai impede a sua saída). Aonde você vai, Ícaro? Não vai comemorar a volta do seu irmão?

ÍCARO: (volta a olhar para o pai e o irmão) Uma cena muito bonita, mas eu não tenho o menor interesse em participar.

LUAN: Não ficou feliz em me ver de novo?

ÍCARO: Foi bom você ter aparecido porque eu quero tirar uma dúvida: contou pra ele o que fez mundo afora?

LUAN: Você não sabe tudo o que eu passei...

ÍCARO: Quem é que não sabe? Gastou tudo que tinha com quem não prestava, e depois passou fome quando não tinha sobrado mais nada. Por isso o seu interesse de voltar. E é fácil quando você sabe que toda vez ele vai abrir a porta pra te receber!

OTÁVIO: Não acredito que você se irritou tanto porque a gente está junto de novo.

ÍCARO: Sabe qual é o problema? Parece que desobedecer gera recompensa. Tô com mais raiva do senhor do que dele.

OTÁVIO: De mim?

ÍCARO: Quantas vezes o senhor ficou triste porque eu deixei de te obedecer? Nenhuma! E quando foi que o senhor deixou que eu trouxesse meus amigos pra comemorar alguma coisa?

OTÁVIO: Meu filho, você nunca precisou me pedir nada porque tudo sempre foi seu, sempre esteve comigo. Você sabe quantas noites eu pedi ao Senhor pra proteger Luan sem saber se ele estava vivo ou morto. E por isso eu sei que vai entender a necessidade de comemorar. Assim como eu agradeço pela vida dele, agradeço pela sua. Porque todos os motivos são razões pra engrandecer o nome do Senhor.

(Luan estende a mão para Ícaro segurar. O rapaz olha para baixo, evitando ver novamente o rosto do filho pródigo. Então, Jesus une os irmãos, que se abraçam. Otávio coloca suas mãos sobre os ombros dos filhos, e os três vão embora pela porta do corredor.)

13/04/2023

PARÁBOLAS | CENA 4: O JUIZ INÍQUO

 

(Jesus e Téo descem do degrau em que estavam e Jayme se prepara para deixar o templo pela porta do corredor. Ele encontra Renata com a cabeça baixa, prosseguindo com a sua última ação na cena anterior.)

JAYME: Ainda está aqui?

RENATA: (levanta-se do chão, aparentando estar cansada) Eu disse que ia esperar o senhor.

JAYME: Pode continuar esperando. (chega a colocar as mãos na porta)

RENATA: Tem problema, não. Amanhã quando o senhor chegar eu vou estar na porta do fórum.

JAYME: (começa a falar alto) Certo! Já está me vencendo pelo cansaço! O que é que você quer?

RENATA: Dois minutos do seu tempo.

JAYME: Estou contando.

RENATA: Vim lá de Ingazeira pra falar com o senhor.

JAYME: Isso você falou mais cedo, o tempo está correndo.

RENATA: Meu marido morreu há seis meses. Ele bebia e bateu o carro quando a gente voltava de uma viagem.

JAYME: Onde eu entro nisso?

RENATA: A mãe dele. Ela quer tomar meus filhos de mim. Contratou até advogado pra tirar a guarda das minhas crianças.

JAYME: Assim, do nada? Qual é a justificativa que ela deu?

RENATA: Disse que eu fui a culpada do acidente, que eu dei bebida pra ele tomar e perder o controle do carro. Ela já levantou tanto “falso" ao meu respeito que eu tenho medo.

JAYME: E lá na tua cidade não tem ninguém pra resolver isso? Teve que sair de lá?

RENATA: Tem, mas disseram pra mim que o senhor é o melhor juiz do estado. Pelo amor de Deus, não me deixa sem os meus filhos. Me ajuda.

JAYME: Com quem você deixou as crianças?

RENATA: Eu tenho uma irmã que mora aqui em Recife. Ela toma conta dos meninos toda vez que eu venho procurar o senhor.

JAYME: O que dá pra fazer no seu caso... (tira o cartão do bolso e entrega à Renata)

RENATA: O que é isso?

JAYME: Liga pra esse número, é de uma advogada especialista em assuntos de família. Só posso julgar sua causa se você estiver assistida por alguém.

RENATA: Muito obrigada, Seu juiz.

JAYME: Não tem nada o que agradecer. Nem sei por que eu estou ajudando. Pelo menos você não vai passar essa batalha sozinha.

RENATA: Se de uma coisa eu sei é que eu nunca estive sozinha.

(Quando a introdução de “Deus fará” é executada, as mulheres que estavam em frente ao fórum voltam ao templo e se juntam à Renata. Durante a entrada dessas pessoas, Jayme deixa o cenário.)

RENATA: Quando as circunstâncias encobrirem sua visão

Suas tentativas parecerem sem valor

Quando todos dizem “não vai dar”

Atingindo, assim, seu coração

Creia, não desista porque Deus fará

MULHERES DO FÓRUM: Não se deixe abater por uma situação

Porque a última palavra, ela é do Senhor

Sua família não vai acabar

Esse mar não o afogará

Erga sua voz porque Deus fará

RENATA: Deus fará um milagre em sua casa

Seus projetos, seus sonhos não vão morrer

Derramando o óleo da unção

Ministrando a cura e o perdão

Restaurando a aliança que um dia se perdeu

MULHERES DO FÓRUM: Deus fará um milagre em sua casa

Seus projetos, seus sonhos não vão morrer

Derramando o óleo da unção

Ministrando a cura e o perdão

Restaurando a aliança que um dia se perdeu

RENATA: Creia, Deus fará!

Creia, Deus fará!

MULHERES DO FÓRUM: Não se deixe abater por uma situação

Porque a última palavra, ela é do Senhor

Sua família não vai acabar

Esse mar não o afogará

Erga sua voz porque Deus fará

RENATA: Deus fará um milagre em sua casa

Seus projetos, seus sonhos não vão morrer

Derramando o óleo da unção

Ministrando a cura e o perdão

Restaurando a aliança que um dia se perdeu

MULHERES DO FÓRUM: Deus fará um milagre em sua casa

Seus projetos, seus sonhos não vão morrer

Derramando o óleo da unção

Ministrando a cura e o perdão

Restaurando a aliança que um dia se perdeu

RENATA: Creia, Deus fará!

Creia, Deus... Deus fará, eu sei que Ele fará!

(Quando a música acaba, Renata deixa o local junto às mulheres do fórum.)

12/04/2023

PARÁBOLAS | CENA 3: O CREDOR INCOMPASSIVO

 

TÉO: Acabou ou vai contar outra? Porque eu tenho mais o que fazer!

JESUS: Tem mesmo. (Jesus apanha um notebook posto no púlpito e entrega a Téo) Hoje é o dia de começar o estágio no tribunal. Melhor você entrar logo, porque o juiz não é muito tolerante.

(Jayme entra no templo carregando a pasta contendo vários papeis, e é seguido pelas mulheres que estão à porta do fórum, falando ao mesmo tempo.)

JAYME: Se não tiver audiência marcada comigo eu não vou atender.

(As mulheres estão do lado esquerdo para quem assiste, perto das primeiras cadeiras. Enquanto elas estão falando, são colocadas doze cadeiras: uma no altar, para Téo; cinco do lado esquerdo, para o corpo de jurados; duas de frente para as janelas, para Henrique e a Defensora; uma no meio, para Jayme; três em frente à porta do corredor, para Bruno, Marcelo e a Promotora.)

SÔNIA: Seu juiz, por favor! Tem uma causa minha na justiça que estou esperando pra resolver “tem” três anos...

JAYME: Procure um advogado, coisa que eu não sou.

(As mulheres continuam fazendo barulho e Renata passa no meio delas pra falar com o juiz.)

RENATA: Dá licença, dá licença... (toca no ombro de Jayme) Seu juiz, eu tenho um negócio urgente pra falar com o senhor.

JAYME: Todo mundo tem uma urgência quando chega aqui, minha filha. A minha é voltar pra casa.

RENATA: Pelo amor de Deus! Eu vim de Ingazeira a pé pra cá só pra falar com o senhor!

JAYME: Parabéns pela sua disposição. Mas eu tenho uma audiência agora e não vou ter tempo pra te atender. (Jayme vira de costas, como se fosse sentar na cadeira ao centro do templo, até que é interrompido por Renata)

RENATA: Foi isso que eu ouvi à semana toda. Pela fé em Cristo, me deixa contar a minha história...

JAYME: Nem em Cristo nem em coisa nenhuma! Se você não tem o que fazer, eu tenho. Agora dá o fora daqui.

RENATA: Tem problema, não. Eu já dormi não sei quantas noites aqui na porta, hoje eu espero de novo. Ninguém pode mais do que Jesus!

JAYME: Pode, não, né? Vai pra igreja e pede ganho de causa, não fica atrapalhando na porta do fórum. Alias, vamos saindo que isso daqui não é feira, não! (Jayme empurra as mulheres do fórum, à exceção de Renata – que senta-se com a cabeça abaixada perto da porta do corredor. Ele vai sentar e encontra Téo em sua própria cadeira) Estagiário novo, é?

TÉO: Sou. (Jesus está ao lado do jovem)

JAYME: Começa a mostrar serviço e manda o pessoal entrar.

(Téo levanta e faz um sinal para que os jurados, as advogadas e as partes do processo entrem, menos Marcelo. Ele volta para o templo e começa a digitar no notebook. Já os demais acomodam-se. Jayme abre a pasta e lê o primeiro ofício.)

JAYME: Tem início a audiência de acusação de Henrique Moraes, réu indiciado pelo crime de constrangimento ilegal contra Bruno Oliveira. A Defensora está com a palavra.

DEFENSORA: Faz dois meses que Bruno pediu emprestado dinheiro a Henrique, dizendo que ia pagar em quinze dias. Passou o prazo e ele não deu satisfação. Agora quis dar uma de vítima e processou meu cliente.

PROMOTORA: Processou porque Bruno perdeu o emprego e Henrique foi na porta dele cobrar, falando alto e chamando a atenção dos vizinhos, pra fazer ele passar vergonha.

JAYME: O dinheiro era pra quê, Bruno?

BRUNO: Pra pagar a água e a luz lá de casa.

HENRIQUE: Diz ele, né?

JAYME: Eu mandei você falar? (Henrique faz um sinal de zíper com a boca e Jayme volta-se para Bruno) Se você não tem emprego, vive de quê atualmente?

BRUNO: Minha esposa trabalha como professora.

JAYME: E ela não pode te ajudar a pagar o empréstimo que você fez a ele?

HENRIQUE: Mas eu não quero receber dela, não. Quem chegou na minha porta com pires na mão foi ele.

BRUNO: Precisava ir à porta da minha casa fazer escarcéu?

HENRIQUE: Ué? Você deixou de comer só porque teu trabalho te botou pra fora?

BRUNO: Só queria que você desse um pouco mais de tempo pra eu te pagar, nem que fosse dividido. Não fique achando que eu gosto de dever pros outros não; ainda mais pra você. Mas tenho fé que o Senhor me tira desse barco.

JAYME: Já vi tudo... Além de crente é caloteiro... De quanto é a dívida que ele fez?

HENRIQUE: O safado está devendo pra mim quatrocentos e noventa reais.

TÉO: (olha para Jesus) Quatrocentos e noventa?

JESUS: É o resultado da multiplicação “setenta vezes sete".

JAYME: Na semana passada eu ouvi as testemunhas de defesa. Mas até agora não apareceu ninguém da parte da acusação. E então? Conseguiram achar alguém pra depor?

PROMOTORA: Encontramos. Pode entrar, Dr. Marcelo.

(Marcelo entra no templo.)

JAYME: E esse, quem é?

HENRIQUE: Esse é... (engole seco) É o meu patrão.

MARCELO: Olha a vergonha que você está me fazendo passar...

JAYME: O senhor conhece Bruno de que lugar?

MARCELO: Eu não conheço, a advogada dele que veio me procurar. Vim pra contar que trabalho com Henrique e pedir que ele perdoe a dívida do rapaz.

HENRIQUE: Mas como é que eu vou me esquecer da dívida que ele fez comigo? Eu estou precisando do dinheiro e ele não me pagou até agora!

MARCELO: Se eu perdoei a sua, que era maior, por que a dele você não perdoa?

DEFENSORA: De Henrique? (vira-se para o réu) Por que você não me contou essa parte da história?

JAYME: Henrique te pediu dinheiro emprestado pra quê?

MARCELO: Falou que era pra pagar o tratamento da filha, que estava doente. Depois que eu emprestei foi que eu descobri... O homem nem filha podia ter, era estéril. E gastou tudo na farra.

JAYME: (vira o rosto para Téo) Que conste nos autos que o réu gastou... (olha para Marcelo) Quanto foi que ele pediu?

(Henrique faz sinal de silêncio para Marcelo, que fala mesmo assim.)

MARCELO: Onze mil.

(Téo olha para Jesus novamente.)

JESUS: Quando você descansa no esconderijo do Altíssimo, sabe que mil caem ao seu lado e dez mil à sua direita, mas você não é atingido.

JAYME: Bom, vamos fazer uma pausa para o parecer dos jurados. Voltaremos daqui a pouco.

(Os cinco jurados anotam, cada um num papel, os seus votos. Eles entregam suas decisões a Téo, que leva todas para Jayme. O juiz lê os papeis e anuncia a sentença.)

JAYME: Todos de pé para a leitura da sentença. Por decisão unânime, declaro o réu Henrique Moraes culpado pelo crime de constrangimento ilegal. No entanto, altero a pena mínima de três meses de reclusão para um acordo com o reclamante Bruno Oliveira, no qual há o perdão da dívida contraída pelo segundo. O caso está encerrado.

(As advogadas cumprimentam-se e apertam a mão de Henrique e Marcelo. Os quatro saem do cenário, enquanto Jayme fica em pé, analisando alguns documentos de sua pasta, afastado dos personagens que ficarão até o final da cena. Jesus e Téo permanecem no degrau, e Bruno faz uma ligação pelo celular.)

BRUNO: Aline? A audiência terminou agora. Marca o culto em ação de graças porque o Senhor teve misericórdia de mim e me deu a vitória!

(Quando tocam as primeiras notas da canção “Misericórdia”, os cinco jurados permanecem na mesma posição para interpretar a música com Bruno.)

BRUNO: A misericórdia hoje me esperava despertar

A misericórdia hoje me olhava dormir

CINCO JURADOS: A misericórdia hoje me esperava despertar

A misericórdia hoje me olhava dormir

BRUNO: E o seu olhar era tão leve

E o seu olhar era tão puro e forte

Decidido a me perdoar e me dar mais uma chance

De no centro da vontade de Deus eu ficar

CINCO JURADOS: E ela esqueceu tudo que eu fiz ontem

E ela me vê com os olhos de Deus

Não desiste de mim, mesmo me vendo assim

Não vê o que a vida me fez, ela sabe os planos de Deus pra mim

(Bruno e os cinco jurados esperam o teclado tocar e repetem a segunda estrofe, mas invertendo a ordem de interpretação dos versos.)

CINCO JURADOS: E o seu olhar era tão leve

E o seu olhar era tão puro e forte

Decidido a me perdoar e me dar mais uma chance

De no centro da vontade de Deus eu ficar

BRUNO: E ela esqueceu tudo que eu fiz ontem

E ela me vê com os olhos de Deus, de Deus

Não desiste de mim, mesmo me vendo assim

Não vê o que a vida me fez, ela sabe os planos de Deus pra mim

(Bruno e os cinco jurados deixam o templo, e o cenário volta a ficar à meia-luz.)

11/04/2023

PARÁBOLAS | CENA 2: O CEGO QUE GUIA OUTRO CEGO

 

TÉO: Você é quem eu tô pensando mesmo?

JESUS: Exatamente. Aquele que veio pra libertar o mundo do pecado: Jesus.

TÉO: Deixa ver se eu entendi: você gastou quase dez minutos do meu tempo contando uma parábola pra me convencer de que é o Cristo?

JESUS: O tempo que você usa pra ouvir o que Eu te digo não é gasto, é investido.

TÉO: Na boa, não me leva a mal, mas... Deixa eu te mostrar que dia é hoje. (mostra a tela inicial do celular pra Jesus)

JESUS: Nove de abril de dois mil e vinte e três.

TÉO: Pois é. Ninguém mais acredita nessas histórias da carochinha.

JESUS: Há um tempo você acreditava.

TÉO: Todo mundo tem que evoluir.

JESUS: Segundo a sua linha de raciocínio, as parábolas que Eu contei só faziam sentido na época da minha primeira passagem pela Terra.

TÉO: Exatamente.

JESUS: Você ainda se lembra de quem te apresentou pra mim?

TÉO: Como assim?

JESUS: A pessoa que te evangelizou.

TÉO: Foi a minha professora do maternal, já nem sei mais qual é o nome dela.

JESUS: Todo mundo conhece como Tia Aline.

(As luzes se acendem, assustando Téo.)

TIA ALINE: (entra em cena)  Pronto, turma; faça uma fila aqui, sem correr.

(Os alunos da Tia Aline formam uma fila única, à exceção de Caio, que só entra em cena depois de a fila ter se formado sem ele.)

TIA ALINE: Agora eu vou fazer a chamada. (neste momento, Caio vem em direção a Jesus sem saber aonde vai e só para de andar quando Lhe abraça: é o tempo no qual Tia Aline chama três nomes em ordem alfabética, estando de costas para o público)

CAIO: Senhor?

JESUS: Pode falar.

CAIO: Onde é que tá a Tia Aline?

(Jesus vira o corpo de Caio em direção à professora.)

JESUS: É só andar em frente, que ela já, já te encontra. (Jesus beija a cabeça de Caio e o garoto vai falar com a Tia Aline)

TIA ALINE: Tá faltando o Caio, gente. Cadê ele?

(As crianças começam a se olhar, demonstrando não terem percebido a ausência do aluno cego.)

CAIO: Tia Aline!

TIA ALINE: Caio, você se perdeu? Por que não pediu ajuda pra chegar até aqui?

CAIO: Eu pedi, mas um homem lá fora disse que era cego também. O outro pediu pra ir em frente.

TIA ALINE: Graças a Deus que você voltou. Vem pra cá. (a professora posiciona o aluno no centro da fila única)

TÉO: (usa um tom arrogante) Piada isso, né? Onde é que já se viu, o cego procurar ajuda com outro cego?

JESUS: Não é tão diferente da sua situação: você vive em pecado e só dá ouvido a quem não quer se santificar.

(Téo abaixa a cabeça.)

TIA ALINE: Muito bem, pessoal: vamos ensaiar de novo aquele hino pra festa da Páscoa. Posso ouvir um “amém”?

CRIANÇAS: Amém!

(Todas as crianças cantam a música “Te ver”. Enquanto se pode ouvir a introdução, Jesus segura a mão de Téo e ambos sentam ao chão para acompanhar o ensaio.)

CRIANÇA SOLISTA: Estava aqui admirando o céu

Tentando Te imaginar

Vendo a beleza de Tua criação

Deus, me deu vontade de Te ver.

CRIANÇAS DO SEXO MASCULINO: Você deve ser tão lindo, o Teu rosto tão amável

Tão incrível que jamais eu poderia explicar

Se o mar já me extasia e o céu já me impressiona

O que eu irei sentir quando no céu eu Te olhar?

TODAS AS CRIANÇAS: Mas eu só sei que o meu desejo é Te ver

Mas o meu maior desejo é Te ver

Enquanto a Terra é o meu lar, eu vou viver

Esperando pra Te ver

Mas eu só sei que o meu desejo é Te ver

Mas o meu maior desejo é Te ver

Enquanto a Terra é o meu lar, eu vou viver

Esperando pra Te ver

CRIANÇAS DO SEXO FEMININO: Você deve ser tão lindo, o Teu rosto tão amável

Tão incrível que jamais eu poderia explicar

Se o mar já me extasia e o céu já me impressiona

O que eu irei sentir quando no céu eu Te olhar?

TODAS AS CRIANÇAS: Mas eu só sei que o meu desejo é Te ver

Mas o meu maior desejo é Te ver

Enquanto a Terra é o meu lar, eu vou viver

Esperando pra Te ver

Mas eu só sei que o meu desejo é Te ver

Mas o meu maior desejo é Te ver

Enquanto a Terra é o meu lar, eu vou viver

Esperando pra Te ver

(As crianças saem do templo uma a uma, restando em cena Tia Aline, Téo e Jesus. A professora pega o celular e liga para o seu marido.)

TIA ALINE: Oi, Bruno. O juiz já chegou? Ainda não? Mas eu tenho fé que hoje você vai sair de posse de vitória daí. Liga pra mim pra dizer o resultado. Que Deus te abençoe, meu amor. Beijo. (deixa o templo)