CENA
127
A van chega ao apartamento de Gabriella.
Matheus e Gabriella descem com o sofá e tentam amarrá-lo por cima do veículo.
Feito isso, Danila, Caio,Thiago e Breno acompanham a dupla de carregadores e
entram.
-Acelera aê!- diz Thiago.
-O coração!- “completa” Matheus.
-Mais uma gracinha e eu te mando pro
Leblon verdadeiro com uma passagem só de ida, ouviu?
A van parte e as ligações telefônicas
começam através de Caio.
-Bella?
-Caio? Caio, é você mesmo? Onde é que
você tá?
-Olha, você está afim de cobrir o maior
escândalo de subcelebridades de todos os tempos?
-Ué, quero!
-Então, passa agora no “Recanto do
Leblon” e leva a câmera pra filmar tudo o que acontecer lá. Os bastidores do
videoclipe de Leonardo Manjericão têm muita sujeira que o próprio Manjericão
desconhece.
-Nossa, é perfeito para o meu blog. Vou
pegar um táxi agora mesmo, tchau!- desliga Isabela, não dando a mínima para o
sumiço do rapaz.
-Tudo bem, tchau- Matheus desliga o
celular.
-Quem era?- pergunta Breno.
-Liguei para o delegado. Aquele de Garanhuns,
sabe? Ele já tá indo pro restaurante pra prender a Zaira em flagrante.
-Gente, a gente tá com um problema aqui-
diz Gabriella, sentada já no sofá externo e superior da van.
-O que você tá vendo aí fora?- Danila
questiona.
-Protesto em frente à Praça do Derby!
-De novo? Eu já perdi aula não sei
quantas vezes por causa disso, os rodoviários entraram em greve, os professores
querem entrar em greve e o povo só resolve mudar essa desgraça de país quando
Manjericão tá em perigo? Tá demais! Vou descer agora!
-Não, Thiago. Pode ser perigoso! Fica
aqui dentro.
-Apenas observe, Matheus. Apenas
observe!- desce do veículo.
-O povo não é bobo! Abaixo a Rede Globo!
Pra tudo há limites! Abaixo a Globo Filmes!- os revoltosos estão contra até a
nossa produtora.
-Manifestantes: tá rolando uma reunião
sobre o aumento de passagem no restaurante Sol e Brasa, lá na rua do prédio
mais alto da Federal. Os secretários do Governo tão lá.
Os figurantes correm a pé para o bairro
da Várzea. Thiago retorna à van, e todos batem palmas.
A turma chega ao “Recanto do Leblon”
correndo, mas são contidos por seguranças. Danila, num acesso de realismo
fantástico, tira uma guitarra da van e começa tocá-la de modo ensurdecedor,
fazendo com que os brutamontes saiam correndo. Matheus fica encantado com a
desenvoltura da moça com o instrumento.
-Não te disse que você precisava fazer
um solo comigo? Perdeu, meu amor- entra junto com os outros, deixando o garoto
de queixo caído.
E por falar em caído, todos ficam
apavorados quando veem Manjericão estatelado no chão. Thiago corre e se abaixa,
levantando a cabeça do amigo.
-Fala comigo. Fala comigo, por favor!
Manjericão, reage! Dr. Breno, chama a ambulância!
-Não adianta, Thiago. O meu tempo... Ele
tá acabando- todos choram com as palavras do rapaz.
-Vai dar tempo, fica calmo!
-Brigadão, cara. Por você e o Matheus
terem tentado abrir meus olhos. Por vocês que me deram força quando eu tentei
vencer na vida. Mas não deu, gente...
-Manjericão, você tem que viver. A gente
gosta muito de você! Todo mundo aqui torce pelo seu futuro.
-Eu mesma não- retruca Zaira.
-Só quero que vocês sejam felizes.
Felizes como eu fui quando eu corria atrás dos meus sonhos.
-Cada um deles tá esperando por você,
cara. Reage, por favor.
-Um dia, a gente vai lembrar de tudo
isso e vai ter uma boa recordação. Deletando, é claro, essa parte triste. Quem
sabe você não escreve um filme sobre a estória do clipe?
-Só se for com final feliz.
-Vocês vão ter. Eu...
-Manjericão?
Mais uma vez, ele desfalece. Matheus
percebe que há pedaços da fruta que Zaira colocou no copo.
-Foi você! Foi você, desgraçada! Você!-
Mabi parte pra cima de Zaira, mas é impedida por Breno, Caio, Gabriella e
Danila.
-O Manjericão passou mal, teve um ataque
aqui na minha frente. Todo mundo é testemunha!- após a declaração de Zaira, Thiago
se levanta, com muita raiva.
-Não seja cínica, Zaira! Você provocou
tudo isso! Esse jantar, esse mau súbito, é o quê? Obra do acaso? Bandida!-
Breno reage à moça.
-Dr. Breno? Caio? O que vocês... Ah, já
entendi tudo... Vocês me enganaram! Disseram que os dois tinham passado desta
para uma melhor!
-Cínica!- Thiago joga Manjericão no
chão- Eu aguentei essa desgraçada por quase trinta sequências de cenas, e ainda
por cima sou calmo... Mas agora chega. Ela vai ter o que merece agora!- puxa Mabi.
-O que você tá fazendo, Thiago?
E o universitário joga a modelo em cima
da Zaira, fazendo com que Mabi esbofeteie a vilã, que cai sentada.
-Você me paga!
-Não, quem vai te pagar é ela. Eu sou um
cavalheiro.
-Tá pensando o quê? Que esse simples
tapa vai mudar o que aconteceu aqui? Manjericão não existe mais! E o dinheiro
dele agora é meu! Eu fiz o palerma assinar uma procuração que passa tudo o que
era do Damião Mantoanelli pro meu nome! O cachorro assinou antes de...
-Morrer? Você tem certeza que ele foi
pro além, Zaira?
-Sem sombra de dúvida, Matheus!
-Finalmente acertou o meu nome. Só não
acertou na forma que usou pra acabar com ele: a fruta da “Lagoa Azul”.
-O que você quer dizer com isso?
-Que Manjericão só tá inconsciente. Mas
vivo.
-Não pode ser. Eu o vi morrer. Assim
como vocês acabaram de ver!
-Você se viu dando um fim nele. Mas logo
dessa forma, Zaira? Você não tem competência pra ser nem a Cuca do “Sítio”.
-Pera aí, Matheus- Thiago pede a
palavra- Ela usou... Aquela fruta?
-Qual o problema? Eu não sei de fruta
nenhuma!
-Essa daqui. Você colocou a fruta que
matou Richard e Emmelyne no filme, só pra que pensassem que foi uma coisa
natural. Só não contava com a seca, não é?
-Seca?
-A seca do sertão, que fez um monte de
frutas, como essa, ficar estragado!
-Saiu até na televisão que a Ceasa tava
baixando o preço dessas frutas estragadas.
-Levanta, Manjericão!
-Ufa, já tava cansado de chão.
-Maldito cabeludo! Tanto que eu fiz pra
me ver livre de você, e ainda sobreviveu? Desgraçado!
-Muito bem, quem é que ligou pra
delegacia?- chegam o delgado e o policial.
-Senhor, eu tenho que fazer uma denúncia
espetacularrrr!
-Tira esse garoto de perto de mim! Essa
voz aguda me fez agendar dois meses de consulta com o psicanalista!
-O que está acontecendo? Quem é o
elemento e qual a acusação?- o policial toma as rédeas, com o descontrole do
chefe.
-A acusação? Ih, meu filho, senta que
Zaira sabe de cor o Código Penal.
-É mentira do Thiago! Eu não fiz
absolutamente nada.
Todos arregalam os olhos.
-Por que vocês estão me olhando desse...
E a antagonista leva uma seringada de
Gabriella.
-Não me lembro de qual seriado eu tirei
essa ideia, mas funciona.
-Gabriella, você ficou doida? O que tem
dentro dessa seringa?- pergunta Breno.
-Soro da verdade. Só assim essa
miserável confessa tudo. Vamos aproveitar que a polícia tá aqui pra que ela
conte como ela tentou dar um fim no meu pai.
-Pai?- os homens ficam boquiabertos.
-Ah, minha gente, como é que vocês acham
que eu saí da cadeia por assédio e agressão física contra Matheus? Tendo um
advogado pai de uma amiga, o Dr. Breno- esclarece Danila.
-Foi por isso que ele veio falar com a Gabriella
pra devolver a câmera, e não com a turma toda. Mas porque você não disse nada
quando a gente viu o Dr. Breno na escola?
-Porque você não me deixou falar, besta
quadrada.
-Para mim, foi muito fácil encontrar a
câmera. A última fotografia que minha filha tinha feito foi de um box de DVDs da série “House”, da qual
ela é fã. Como a Zaira não apagou as imagens que existiam na câmera, conferi
com o Manolo Monte Carlo e recuperei a máquina.
-O estrangeiro dos pen drives?
-Exatamente, Matheus.
-Querem saber a verdade? Fui eu, sim.
Porque o Breno me contou que o Manjericão iria receber uma fortuna, e eu não
quis deixar de usar essa bolada também. Era uma compensação por ter aturado
esse traste durante anos! Só que quando eu vi ele se derretendo todo pra Mabi,
percebi que ele seria capaz de dividir tudo com a biscate.
-Você me respeita!- exige a modelo.
-Ué, não me deram o soro da verdade?
Vamos falar a verdade!
-Depende do ponto de vista... – avalia
Thiago.
-Cometi vários crimes pra tentaram abalar
a confiança que a Mabi tinha no Manjericão. E também tentei flopar o
videoclipe, porque sabia que o pessoal dava a maior força pro romance. Foi aí
que eu pus a iogurteira proibida na mochila dele, foi aí que eu enfiei o Breno
num metrô que ia pra estação da Copa das Confederações...
-E roubou a câmera pra que as gravações
fossem interrompidas. É claro!- Manjericão fala.
-Isso foi uma consequência. A verdade é
que eu levei a câmera para vender ao Manolo Monte Carlo, porque com o dinheiro,
eu pagaria ao Caio para ter as fotos da Mabi!
-Fotos? Que fotos são essas?
-Ah, e podem incluir na minha pena
chantagem, porque chantageei a biscate da taça. Disse que se ela não se
afastasse de você, eu revelaria que ela tirou fotos pelada para a revista
PlayMobil!
“Esquilo dramático”!
-Não acredito que você teve coragem pra
isso!
-Manjericão, foi na época da taça do
Gugu! Você precisa entender que...
-Foram feitas dentro do “Pineapple”!
Afinal, vai me dizer que nunca percebeu o quanto ela ficava nervosa com o
slogan...
-“Hotel Pineapple: descasque esse abacaxi
e coma a maçã do amor!”- todos repetem.
-Vocês duas não merecem o meu amor. Quer
saber de uma coisa? Cansei! Eu vou virar padre.
-Só se você chegar ao Vaticano de skate e contando que se atracou com a
Mabi no elevador. Levem essa mulher daqui!- ordena Matheus.
-E se a gente não quiser?- revoltam-se
os policiais.
-Diremos aos manifestantes o caso do
descaso da polícia, e ainda afirmaremos que vocês estão colaborando para o
aumento na passagem!- Thiago ameaça.
-Olha que vocês são bons assuntos para o
“Conexão repórter”.
-Não adianta vocês me prenderem. Eu
tenho um documento que comprova que...
-Esse aqui?- Gabriella segura o
documento, após tirá-lo do bolso da vilã.
-Não se atreva, sua pirralha cinéfila!
-A Gabriella não vai fazer nada. Eu
vou!- Manjericão rasga o documento- Levem a Zaira pra cadeia!
-Zaira Machado, você está presa por...
Nem sei, mas é melhor te deter!- anuncia o delegado.
-A vingança é um prato que se come frio.
Mas eu faço questão de pôr no freezer para que vocês se engasguem com ela!
Malditos patifes!
-Cala essa boca! Nem os lanterninhas do
UCI querem ver essa besteira, quanto mais uma continuação pra você se vingar. E outra coisa: você não vai falar mais nada,
porque eu sou o roteirista dessa joça e vou proibir suas falas agora- decreta o
universitário.
-Vamos embora- o policial algema Zaira e
o delegado a conduz até a viatura.
-E agora, para o blog da Bella Café, que
sou eu, vamos ver em que vai terminar o romance entre Manjericão e Mabi.
-Se eu soubesse o que te falar pra te
convencer do quanto eu quero ficar com você...
-Palavras... Coisas que você não tem,
pra me provar que é sincera. Impressionante que você só é sincera comigo quando
se sente encurralada. Você não queria reconstruir sua vida quando foi fazer o
clipe? Talvez seja a minha vez de fazer isso... Longe de você.
-Manjericão! Volta pra mim?
-Nunca.
E o rapaz sai do “Recanto do Leblon”
enquanto todos ficam abatidos com o desfecho do romance... Pra essa cena. Tudo,
ao som de Amedeo Minghi naquela música que toca quando o personagem está bem
deprimido.
CENA
128
Uma semana depois...
Thiago está no laboratório de informática
da faculdade. Abre o Facebook.
-Mensagem? De quem?
-Oi.
-Fala, Matheus. Tudo bom?
-Tudo.
-Então, tchau.
-Peraí, bestão. Tu vai pra Abertura dos
Jogos no sábado?
-Estou esperando por esse evento há sete
anos. Nem na época em que eu estudava lá eu fui.
-Será que o Manjericão vai? Os meninos
chamaram.
-Acho difícil. Começa de que horas?
-De três.
-Três e quinze eu chego. Nada começa na
hora mesmo...
CENA
129
Thiago chega à quadra da Escola
Municipal Correta Decisão. Está tocando “Quero mais que tudo aconteça”, da
banda 1e99. Motivo: fala sobre Rio de Janeiro, e os estados brasileiros são o
tema da festa (embora só a bandeira de Pernambuco esteja pregada na parede).
Matheus chega e cumprimenta o amigo.
-Grande Thiago Gabriel!
-Nem me lembra. Só de imaginar aquele
sufoco do clipe de novo...
Chegam Caio e Isabela.
-Olha só quem veio ver a gente.
-Cadê o bebê, gente?
-Deixa eu explicar a situação. A minha
mãe...
-E o meu pai...
-Estão cuidando do bebê enquanto eu vou
cobrir o que anda fazendo a Mabi Gutierrez depois de todo aquele fuzuê.
-Imagino como deve ser difícil pra vocês.
Jovens desse jeito, e com um bebê pequeno pra cuidar.
-Pois é, Matheus. Você não sabe o
perrengue que eu passei pra cuidar desse bebê quando os pais dele não estavam.
-Os pais... Peraí, quer dizer que... Eu
pensei que os dois...
-Não, Bella, deixa que eu explico pra
ele: o meu pai e a mãe dela se casaram há uns meses.
-E ela casou buchuda, detalhe!
-Na lua de mel, eles foram fazer um
cruzeiro no Capibaribe. Só que aquilo estava tão poluído que eles desembarcaram
e passaram quase um ano hospedados no Hotel Pineapple, sem dar notícia pra
gente.
-Tivemos que cuidar do nosso irmãozinho.
E o Caio teve que fazer bico como fotógrafo enquanto os nossos pais estavam se
divertindo horrores. Agora vocês vão me dar licença. Temos que entrevistar a
Mabi, a única subcelebridade dessa escola.
-Vão lá- diz Thiago.
-Como é que pode? Eu pensei que o bebê
fosse filho deles!
-É, Matheus. Existe mesmo amizade entre
homem e mulher- vê Danila- Menos naquele caso.
-Se bem que aquele caso finalmente me
convenceu...
-Você quer dizer que...
-Finalmente, chegou a chance da Danila.
-Oi, meus amores- chega a garota,
acompanhada de Jeferson- Eu tenho uma novidade: tô apaixonada!
-Modéstia à parte: quem não sabe disso?
Ou melhor: quem não sabe por quem?
-Meninos, eu quero apresentar a vocês o
meu novo namorado: Jeferson.
-Jeferson quem?- Matheus não crê no que
ouve.
-Esse Jeferson.
-Tá de sacanagem, né?
-Não tenho mais tempo pra isso, meu
querido.
-Mas Danila...
-Olha que foi difícil achar alguém que
faça um solo de guitarra comigo e tenha um pescoço pra que eu morda, mas eu
consegui...
-Criatura, eu tô disponível. Precisa nem
de senha!
-Disponível? Tarde demais. Aliás, eu vou
contar a verdade: eu fui chamada pela Gabriella. É, ela tava a fim de te dar o
troco por você ter obrigado a participar de toda essa palhaçada de “Furo
Decisão”. Só que depois eu não queria mais te infernizar e passei a gostar de você...
-Quer dizer que...
-Que eu me cansei.
-Danila, você não pode...
-Claro que eu posso, meu bem. Estou na
seca há anos! E sinceramente, não estou interessada em fazer você ser do meu
tipo.
-É, meu amigo. Parece que você virou
corno antes mesmo de começar a namorar a Danila- constata Thiago.
-Pois é, Matheus. Toda essa situação me
faz lembrar de uma música da época em que eu era criança: “Ai, você faz
‘mom’”...
-‘Mom’!- Jeferson muge e assusta os
garotos.
-“Ai, você faz ‘mom’”...
-‘Mom’!
-“Ai, você faz ‘mom’”... Vai ver o que é
bom... – e circula pela quadra agarrada a Jeferson e cantando este brega da
Banda X. Não, não é que o nome não possa ser dito. É Banda X mesmo.
-Eu... Eu to-to-tô...
-‘Totô’? O que foi? Fez nas calças?
-Eu tô besta com essa! Como é que ela
pôde trocar o Julio Iglesias de Jardim São Paulo, que sou eu, por aquele...
-Sem ressentimentos, Matheus.
-Aquela vadia!- brada, com
agressividade.
-O que é isso? Isso é jeito de falar
assim com uma garota?
-Não tô falando dela, e sim do Jeferson.
Já é a terceira mulher que ele me rouba nesse ano!
-Tá bom, Matheus. Chega por hoje. Gente,
tá um silêncio aqui. O DJ tá sentado e não tá botando nada pra tocar.
-Vou pedir pra ele colocar uma música.
-Pede infantil.
-Por quê?
-Já viu que tem mais criança que adulto
hoje?
-Bom, é uma escola municipal.
-Justamente por isso que tem que tocar.
-Hum, conheço uma música infantil
massa... Ó, enquanto eu falo com o DJ, tu pode ir à cantina comprar um pacote
de Fandangos pra mim?- tira o dinheiro do bolso e entrega a Thiago.
-Dá pra ir.
-Peraí, que eu já volto.
Enquanto Matheus sai correndo para
alcançar o DJ, Thiago vai à cantina e compra um pacote de Fandangos. Lê bem a
embalagem.
-“Incluindo dois brindes: um anel e um
tazo”. Ainda existe tazo?
Ao voltar para a quadra, avista Mabi de
longe, sendo abordada por fãs (funcionários da escola) desde a época da taça do
Gugu... De repente, aquela visão horrenda: diversas crianças se jogando nas
paredes e ao chão como calangos desenfreados dançando “Fica só olhando”, da
Anitta. Matheus fica perto do amigo.
-Segura, se prepara... Vou provocar...
Se controla e repara... Eu rebolar... Se controla, que eu encosto, mas não vou
grudar; faz parte do que eu gosto. Gosto de atiçar.
-Mas o que foi que você botou?
-O que tu pedisse.
-Eu pedi uma música infantil.
-Mas Anitta é infantil. Presta atenção.
-Não jogue ideia pra mim, beijo tu manda
pra Xuxa. Sai e nem pense que posso ser sua! Não adianta insistir, vá procurar
uma ajuda. Sai e nem pense que posso ser sua! Não jogue ideia pra mim, beijo tu
manda pra Xuxa. Sai e nem pense que posso ser sua! Não adianta insistir, vá
procurar uma ajuda. Sai e nem pense que posso ser sua!- e uma coreografia mal
ensaiada é executada por Matheus.
-Ela tem razão. Você precisa de ajuda
mesmo! Profissional! Vou sair daqui antes que essas crianças acabem com minha
inocência adulta.
-Ei! Volta aqui com meu Fandangos,
palhaço!
-Matheus, tu visse Thiago?
-Hum, olha quem tá aqui. Gabriella.
Descobri o plano, safada.
-Que plano?
-Deixa pra lá. Já que eu tô solteiro
mesmo, vou aproveitar pra fazer minhas danças que atiçam a mulherada.
-Mas não vá pensando que eu tô te
chamando, não. Eu já tô avisando: fica só olhando- enquanto Anitta é ouvida,
Danila usa seu corpo malemolente para dar um show na quadra com Jeferson, o que
deixa Matheus tristonho.
-Fica olhando, Matheus. Fica só olhando
mesmo- Gabriella sai da quadra e passa por Thiago, sem percebê-lo. Na entrada
da Escola Municipal Correta Decisão, o jovem quase é atropelado pelo skate de Manjericão.
-Cara, o que tu veio fazer aqui?
-Me convidei. Estudei aqui na época que
a escola era particular. Ralei pra pagar, mas nunca vinha às aberturas dos
jogos.
-Por quê? Tinha que pagar?
-Não. Era na Ilha do Retiro e dava
preguiça de ir até lá. Ficava em casa vendo “Sessão Premiada” e a pirâmide do
Portiolli.
-Deve ser a única que você viu até hoje,
porque a social...
-Falando nisso, já pensou no que fazer
com o dinheiro do teu avô?
-Não vou fazer nada com ele enquanto não
decidir o que fazer com a minha vida pessoal primeiro.
Sem perceber, Thiago abre o pacote de
salgadinhos de Matheus. E Manjericão vê Mabi de longe, mas ela não o nota.
-O que ela tá fazendo aqui?
-Você não sabia? Mabi Gutierrez estudou
aqui quando tinha a idade dos meninos. É convidada de honra. Até a Bella Café
veio cobrir a Abertura.
-Que bom. É um ótimo pretexto pra eu
zarpar daqui. E dessa vez, de uma vez por todas.
-Manjericão...
-Thiago, não! Nem você nem ninguém vai
me convencer de dar mais uma chance pra ela.
-Bicho, eu estudei aqui há sete anos e
no início, eu odiava esse lugar. Só que depois, eu percebi que os melhores e
piores anos da minha adolescência foram vividos aqui. Eu dividia minha vida com
oitenta e cinco pessoas, era uma espelunca desde aquela época, mas eu fui
feliz.
-Ao contrário de mim, que não fui.
-Faz que nem a loja Luxus: mas pode ser.
-Não é “mas pode ter”?
-Você não entendeu?
-É...
-Deixa eu te entregar uma coisa. Fecha
os olhos.
-Uma brechinha?
-Não. Senão, eu te chamo de Espaguete
Cirol pro resto da vida. Bota a mão no olho!- e tira o anel do pacote,
jogando-o longe- Agora abre.
-Cara, isso é ametista? Eu conheço
pedras preciosas, você sabe?
-Muito bem, inclusive.
-Que anel é esse?
-Eu comprei pra uma ocasião especial.
Dividi em vinte e nove vezes, uma a cada setembro da vida.
-Por que isso? Essa pedra é da formatura
de Letras. Thiago...
-Escuta uma coisa: eu torço pra felicidade
dos poucos amigos que eu tenho. Sabe por que depois de sete anos eu continuo
vindo aqui? Porque eu quero que todo mundo possa escrever uma estória tão legal
quanto a minha. E eu vou te apoiar sempre que esse amor que você tem pela Mabi
te fizer raciocinar.
-A Mabi não é perfeita. Não pra mim.
-Se ela quiser ser por si mesma, quem
melhor do que você, que gosta mesmo dela, pra ajudar? Tá preparado pra
conquistar a mulher da sua vida?
-OK. Estou sempre. E você, meu amigo?
-Vou fazer que nem a música: não preciso
ser Alain Delon, não preciso ser tão lindo assim, só ser o homem que dá carinho
pra menina que merecer.
-A filosofia da Magnificência
Científica... Quem diria que ela funcionaria comigo?
-Vamos ver se funciona mesmo- os dois
vão para a quadra. Gabriella está com Breno e Danila com Jeferson. Matheus está
no palco com Julianne, Vic e Bia, representando o Pará ao som de Gaby
Amarantos:
-É a lenha, é o dia, é o fim da picada, é a garrafa
de cana, o estilhaço na estrada, é o projeto da casa, é o corpo na cama, é o
carro enguiçado, é a lama, é a lama!
Thiago
sussurra no ouvido de Gabriella, que retira a câmera do bolso. Acaba-se a
apresentação. Enquanto as meninas estão agradecendo ao público pelas ovações,
Matheus recebe a notícia do plano pelo amigo. Toma o microfone.
-E atenção,
galera. A gente vai aproveitar pra lançar o novo astro da internet. Um astro
espetaculaaaar!
-Com vocês...
–Thiago faz suspense.
-Leonardo
Manjericão!- os meninos anunciam e os ex-alunos vão ao delírio!
-Manjericão?
Astro?- Mabi estranha.
-Onde foi
parar meu pacote de Fandangos?- Matheus se afasta do microfone e pergunta ao
amigo.
-Quando você
ficar famoso, pode até comprar uma caixa de caramelo Embaré.
Manjericão
sobe ao palco, de skate. Matheus põe
a música no celular. É “Diversão”, da Nila Branco.
-Já tô cheio de problemas, e você mandando assim...
-De repente, esquece quem sou eu- os meninos fazem as vozes de fundo, fingindo
tocar guitarras.
- Não se enxerga que talvez eu saiba o que é melhor pra mim.
-Meu coração não morreu!
-Pode crer... Pode
crer que, quem sonhar um dia, o sonho vem! Ah, eu não desisto dessa ideia de
poder comemorar... Você vai ver...
-Que tudo vai
mudar! Esta noite eu quero ir mais além, eu não devo nada pra ninguém. Vamos
dar um tempo pra nós dois, que a saudade vem melhor depois... – Manjericão
divide os vocais com Matheus e Thiago. As pessoas que estão na quadra batem
palmas e Gabriella se aproxima do palco para fazer suas tomadas.
-Olhe bem para os
meus olhos: tente ver o brilho que eles têm.
-Eles vão mostrar
o meu amor.
-Você sabe que eu
sou um homem, minha parte eu faço bem...
-Meu coração não mudou.
-Mudou, não! Amanhã, quem sabe, até te pago um cinema? Mas é que hoje eu já
chamei os meus amigos pra sair, e se eu puder...
-Eu vou me
divertir! Esta noite eu quero ir mais além, eu não devo nada pra ninguém. Vamos
dar um tempo pra nós dois, que a saudade vem melhor depois...
-Pode crer... Pode
crer que, quem sonhar um dia, o sonho vem! Ah, eu não desisto dessa ideia de
poder comemorar... Você vai ver...
-Que tudo vai
mudar! Enquanto os backing vocals
arrebentam, Manjericão pega o skate e
percorre toda a quadra, dando um show nas manobras. Matheus aproxima o celular
do microfone e deixa a parte instrumental da canção tocar. O cantor se aproxima
de Mabi e pede nos versos:
-Olhe bem para os
meus olhos: tente ver o brilho que eles têm.
-Eles vão mostrar
o meu amor- manifesta-se novamente o apoio moral dos rapazes.
-Você sabe que eu
sou um homem, minha parte eu faço bem...
-Meu coração não mudou.
-Mudou, não!
Amanhã, quem sabe, até te pago um cinema? Mas é que hoje eu já chamei os meus
amigos pra sair- aponta para Thiago e Matheus- E se eu puder...
-Eu vou me
divertir! Esta noite eu quero ir mais além, eu não devo nada pra ninguém. Vamos
dar um tempo pra nós dois, que a saudade vem melhor depois... – novamente, os
três.
-Esta noite eu
quero ir mais além, eu não devo nada pra ninguém!
-Vamos dar um
tempo pra nós dois, que a saudade vem melhor depois...
Quando a canção
acaba, Manjericão se abaixa e tira o anel do bolso para entregá-lo à Mabi.
-Só vou te
perguntar uma vez: Maria Beatriz Gutierrez, quer se casar comigo?
Todos vibram com o
pedido e ovacionam o rapaz.
-Manjericão, eu...
–fica nervosa com o pedido.
-Duas opções:
“sim” e “com certeza”.
-Vou me dar uma
terceira alternativa.
-Que alternativa?-
fica apreensivo.
“Esquilo
dramático” novamente.
-A terceira opção
é: “sem dúvida”! Claro que eu aceito. Eu não me vejo mais sem você.
-Te amo, capa da
PlayMobil!
-E eu te amo mais,
traficante de Top Therm- ambos vão às lágrimas.
Mabi e Manjericão
se beijam e toca, mais uma vez, “Um ser amor”. A turma da arquibancada se
levanta e os meninos aplaudem pelo fato do plano ter dado certo.
-Adoro finais
felizes- chora Matheus.
-Um lixo entrou no
teu olho? Eu espero que seja.
-Não... Não vai me
dizer que...
-O filme não
acabou. Falta ainda a cena final.
-E eu pensando que
ia voltar pra Jardim São Paulo depois dessa...