29/07/2013

FURO DECISÃO- O FILME/ SEQUÊNCIA DE CENAS 29

CENA 124
Zaira bate à porta do apartamento do Manjericão, já à noite.
-Tenho um convite irrecusável pra te fazer.
-Fala, Zaira.
-Vão reinaugurar o “Recanto do Leblon” hoje à noite. Vai estar abarrotado de gente e de fotógrafos.
-Aquele barzinho que eu te levava na época do início do namoro?
-Esse mesmo.
-Mas com fotógrafo? Vão me reconhecer!
-Imagina. Só quem desenterra o passado e o presente da Mabi Gutierrez é a Bella Café, e ela tá muito preocupada com o sumiço do rapaz que morava na casa dela.
-Pois é. E do presente dela eu não faço mais parte.
-Tudo bem, desculpa. Eu não devia ter tocado no nome dela.
-Sossega o buço, Zaira. Eu vou ficar bem.
-Então vamos?
-Vamos, sim. Deixa eu pôr uma beca e já venho.
-Não precisa, você tá ótimo.
E a juba do Manjericão está, como diria um dos episódios de “A Diarista”, uma mistura do Marcelo D2 com a Gal Costa!
-Bom, sendo assim, deixa só eu arrumar o meu cabelo- e tira do bicho preguiça que ele chama de fios capilares aquele pente fino que vem junto com Escabin.

CENA 125
Breno está no apartamento de Gabriella, com o telefone fixo na mão.
-Ele não atende.
-Será que aconteceu alguma coisa?- Thiago se preocupa.
-Não. Vai ver ele só saiu de casa.
-Liga pro celular dele.
Breno liga e uma mensagem de voz pode ser escutada.
-Oi, aqui é o Manjericão. Meu celular tá quase descarregando e eu tô sem tempo de colocar na tomada. Deixei em casa e fui jantar com a Zaira no “Recanto do Leblon”. Até a... - entende-se que o celular ficou sem bateria.
-Eu não tô acreditando nisso. O desgraçado saiu de casa com a bandida- Gabriella fala isso na hora em que Mabi chega.
-Gente, tá acontecendo alguma coisa? Por que vocês me chamaram? Não é sobre o clipe, não, né?
-O Dr. Breno ia revelar um segredo pro Manjericão. A gente queria que você tivesse aqui- Matheus justifica o chamado.
-Que segredo é esse?
-O Manjericão tem direito à herança de um avô que ele não conhecia, o Damião Mantoanelli.
-O dono da “Manjericão Conexões”?
-Eu era o advogado dele. A Zaira acabou descobrindo e agora vive cercando o Manjericão.
-Pra quê esse desespero, então? É só contar a verdade, que drama.
-Mabi, eu fui vítima da Zaira.
-Quem é você?
-Caio, o fotógrafo que ficou responsável pelo estúdio que guardava as suas fotos no “Pineapple”.
-Foi por sua culpa que ela...
-Te chantageou. A gente já sabe disso. Eu tava precisando de dinheiro pra cuidar do meu bebê e vendi as fotos. Só que ela acabou levando as fotos erradas, e decidiu dar um fim em mim. Ela invadiu a minha casa e conseguiu o envelope que tinha as imagens.
-Sem contar que esse dinheiro das fotos é o que ela ganhou roubando a câmera e pondo-a para ser vendida. Por sorte, eu acabei recuperando e devolvendo para a Gabriella. Mas ela resolveu me dar um “cala a boca” antes que o Manjericão soubesse a verdade.
-Eles estão no “Recanto do Leblon”. Pode ser que o Manjericão seja a próxima vítima da Zaira!- Danila fica assustada com a possibilidade.
-Essa maldita que não se atreva. Gabriella, liga pro motorista da van que levou a gente pra Garanhuns.
-O que você vai fazer, Mabi?
-Ir até o “Recanto do Leblon” e tirar o Manjericão de lá, antes que seja tarde demais.
-Vamos com você- Thiago garante.
-Tudo bem. Agora todos vão ter que esperar lá embaixo, eu vou ligar pro cara. Matheus fica- todos saem.
-Pra quê você me quer aqui?
-Pra carregar o sofá junto comigo, colocando ele em cima da van. Eu vou ver a prisão da Zaira de camarote!

CENA 126
Manjericão e Zaira estão numa mesa mais afastada.
-Tô ansiosa por essa noite.
-Nunca te vi tão animada.
-Claro. Os caras do bar vão cantar os sucessos da Marina Lima, que é a minha cantora predileta. E você conhece minha música preferida dela, não conhece?
-“Veneno”.
-A própria.
-Gostei muito de você ter me convidado. De ter pensado em mim pra sair de casa, colocar o pensamento em outro lugar.
-Manjericão... – aproxima-se do rosto do cantor e com o olhar, é capaz de seduzi-lo para que ele não perceba que ela está moendo a fruta venenosa dentro de seu copo e misturando com o canudo- Você sabe que eu seria capaz de fazer qualquer coisa para conseguir te ter de volta.
-Sei. Sempre foi determinada. Isso me diminuía tanto na época em que a gente namorava... Sempre pensei que jamais fosse capaz de te alcançar.
-E não alcançou nunca mesmo.
-Até uns dias atrás, a sua escolha de não ter continuado comigo na época em que eu fui demitido parecia ser a melhor coisa pra todos nós. Hoje, eu não sei mais.
-Não vamos falar do passado. Vamos brindar.
-A quê?
-À sua felicidade. Um dia poderia ser nossa, mas com o que te espera, tem que ser só sua.
-Saúde- bebe o suco envenenado.
-Eu tenho uma notícia maravilhosa pra te dar, Manjericão.
-Fala, Zaira. Não me deixa curioso.
-Só que pra receber a notícia, você tem que assinar- tira um documento do decote- na linha pontilhada.
-Que bagulho é esse?
-Bagulho, não. Quer que as pessoas do restaurante pensem que você traficou Top Therm de novo? Assina.
-Tá certo. Eu só preciso de uma caneta...
-Achei uma- tirei do cabelo dele- Na verdade, eu pus antes de sairmos do apartamento.
-Só tô assinando isso porque confio em você- sacramenta o compromisso legal.
-Perfeito.
-Agora, me conta: por que eu assinei esse documento?
-Leonardo Mantoanelli Jensen Ribeiro Castro Oliveira: você nunca sentiu o mínimo de curiosidade em saber por que esse nome tão grande?
-Meu pai sumiu no mundo, não quis saber de mim, não me registrou... A minha mãe arcou com tudo sozinha. Saiu de casa depois de ter engravidado. Ela disse que infelizmente, eu fui registrado com esse nome grande por causa do meu avô, mas ela nunca quis me contar detalhes sobre a vida dele.
-Seu avô era o Damião Mantoanelli. Podre de rico, e dono de 99% das ações da “Manjericão Conexões”.
-Como é que você sabe disso, Zaira?
-Porque antes de bater as botas, ele sentiu culpa pelo desprezo de todos esses anos e decidiu te recompensar, dando todos os bens dele pro único neto rejeitado.
-Zaira, eu... - sente sono- Não quero nada desse homem. Nada.
-Não é o que parece. Você assinou uma procuração em que assume o que é seu de direito e passa para o meu nome.
-O quê?- pergunta com dificuldade.
-Deixa eu te contar algumas coisas, antes de você dormir pra sempre: o Breno, que te defendeu, era o advogado do velhote, e eu impedia sempre que você soubesse a verdade. Porque caso você assumisse os negócios da banda larga, você dividiria sua vida com a Mabi. Pela lógica do meu recalque, nunca deixaria você fazer isso.
-Dr. Breno sumiu... É culpa sua?
-É. Eu liquidei o coroa. Tudo pra que você não soubesse a verdade. E me livrei de outro também. Só acho uma pena que não pude dar ao Matheus e ao Thiago o que eles mereciam. Esses idiotinhas me chantagearam, pensaram que podem brincar com gente grande. Mas antes que eles revelassem tudo, eu mesma falei.
-Veneno... Foi isso que você colocou, não é? Você me matou pra ficar com o meu dinheiro? Que tipo de mulher é você?
-Eu nunca tive a boa vida que eu quis. Acho que isso você tava me devendo.
-Todo o meu salário ia pras suas mãos. Eu bancava tudo, todos os seus luxos. Quem comprou sua coleção de sandálias da Opanka fui eu! Agora você me dá um golpe desses?
-Agora, não. Desde que soube.
-Você vai pagar por isso- cai de cara no prato de macarronada com manjericão- A polícia vai saber de tudo- levanta o rosto.
-A polícia não está nem aí pra você, desde o escândalo do Top Therm. Aliás, isso também foi obra minha pra que a Mabi perdesse a confiança em você. E como ninguém ousou voltar para aquele fim de mundo da “Lagoa Azul”, todos vão pensar que foi um mero ataque, não um crime.
-Podem não descobrir seus crimes, Zaira, mas o meu sim.
-Crime?
-Esse!- aperta o pescoço da vilã, que fica sufocada.
-Me ajudem! Socorro!- os figurantes se levantam e ficam aterrorizados com a atitude de Manjericão.
-Você vai me pagar, Zaira! Vai me pagar... - desmaia no “Recanto do Leblon”.
-Sua participação com co-protagonista nesse longa-metragem acabou. Adeus, Manjericão- diz no ouvido dele, que desmaia- Por favor, chamem uma ambulância! Socorro!- continua encenando para os presentes.

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