30/07/2013

FURO DECISÃO- O FILME/ SEQUÊNCIA DE CENAS 30

CENA 127
A van chega ao apartamento de Gabriella. Matheus e Gabriella descem com o sofá e tentam amarrá-lo por cima do veículo. Feito isso, Danila, Caio,Thiago e Breno acompanham a dupla de carregadores e entram.
-Acelera aê!- diz Thiago.
-O coração!- “completa” Matheus.
-Mais uma gracinha e eu te mando pro Leblon verdadeiro com uma passagem só de ida, ouviu?
A van parte e as ligações telefônicas começam através de Caio.
-Bella?
-Caio? Caio, é você mesmo? Onde é que você tá?
-Olha, você está afim de cobrir o maior escândalo de subcelebridades de todos os tempos?
-Ué, quero!
-Então, passa agora no “Recanto do Leblon” e leva a câmera pra filmar tudo o que acontecer lá. Os bastidores do videoclipe de Leonardo Manjericão têm muita sujeira que o próprio Manjericão desconhece.
-Nossa, é perfeito para o meu blog. Vou pegar um táxi agora mesmo, tchau!- desliga Isabela, não dando a mínima para o sumiço do rapaz.
-Tudo bem, tchau- Matheus desliga o celular.
-Quem era?- pergunta Breno.
-Liguei para o delegado. Aquele de Garanhuns, sabe? Ele já tá indo pro restaurante pra prender a Zaira em flagrante.
-Gente, a gente tá com um problema aqui- diz Gabriella, sentada já no sofá externo e superior da van.
-O que você tá vendo aí fora?- Danila questiona.
-Protesto em frente à Praça do Derby!
-De novo? Eu já perdi aula não sei quantas vezes por causa disso, os rodoviários entraram em greve, os professores querem entrar em greve e o povo só resolve mudar essa desgraça de país quando Manjericão tá em perigo? Tá demais! Vou descer agora!
-Não, Thiago. Pode ser perigoso! Fica aqui dentro.
-Apenas observe, Matheus. Apenas observe!- desce do veículo.
-O povo não é bobo! Abaixo a Rede Globo! Pra tudo há limites! Abaixo a Globo Filmes!- os revoltosos estão contra até a nossa produtora.
-Manifestantes: tá rolando uma reunião sobre o aumento de passagem no restaurante Sol e Brasa, lá na rua do prédio mais alto da Federal. Os secretários do Governo tão lá.
Os figurantes correm a pé para o bairro da Várzea. Thiago retorna à van, e todos batem palmas.
A turma chega ao “Recanto do Leblon” correndo, mas são contidos por seguranças. Danila, num acesso de realismo fantástico, tira uma guitarra da van e começa tocá-la de modo ensurdecedor, fazendo com que os brutamontes saiam correndo. Matheus fica encantado com a desenvoltura da moça com o instrumento.
-Não te disse que você precisava fazer um solo comigo? Perdeu, meu amor- entra junto com os outros, deixando o garoto de queixo caído.
E por falar em caído, todos ficam apavorados quando veem Manjericão estatelado no chão. Thiago corre e se abaixa, levantando a cabeça do amigo.
-Fala comigo. Fala comigo, por favor! Manjericão, reage! Dr. Breno, chama a ambulância!
-Não adianta, Thiago. O meu tempo... Ele tá acabando- todos choram com as palavras do rapaz.
-Vai dar tempo, fica calmo!
-Brigadão, cara. Por você e o Matheus terem tentado abrir meus olhos. Por vocês que me deram força quando eu tentei vencer na vida. Mas não deu, gente...
-Manjericão, você tem que viver. A gente gosta muito de você! Todo mundo aqui torce pelo seu futuro.
-Eu mesma não- retruca Zaira.
-Só quero que vocês sejam felizes. Felizes como eu fui quando eu corria atrás dos meus sonhos.
-Cada um deles tá esperando por você, cara. Reage, por favor.
-Um dia, a gente vai lembrar de tudo isso e vai ter uma boa recordação. Deletando, é claro, essa parte triste. Quem sabe você não escreve um filme sobre a estória do clipe?
-Só se for com final feliz.
-Vocês vão ter. Eu...
-Manjericão?
Mais uma vez, ele desfalece. Matheus percebe que há pedaços da fruta que Zaira colocou no copo.
-Foi você! Foi você, desgraçada! Você!- Mabi parte pra cima de Zaira, mas é impedida por Breno, Caio, Gabriella e Danila.
-O Manjericão passou mal, teve um ataque aqui na minha frente. Todo mundo é testemunha!- após a declaração de Zaira, Thiago se levanta, com muita raiva.
-Não seja cínica, Zaira! Você provocou tudo isso! Esse jantar, esse mau súbito, é o quê? Obra do acaso? Bandida!- Breno reage à moça.
-Dr. Breno? Caio? O que vocês... Ah, já entendi tudo... Vocês me enganaram! Disseram que os dois tinham passado desta para uma melhor!
-Cínica!- Thiago joga Manjericão no chão- Eu aguentei essa desgraçada por quase trinta sequências de cenas, e ainda por cima sou calmo... Mas agora chega. Ela vai ter o que merece agora!- puxa Mabi.
-O que você tá fazendo, Thiago?
E o universitário joga a modelo em cima da Zaira, fazendo com que Mabi esbofeteie a vilã, que cai sentada.
-Você me paga!
-Não, quem vai te pagar é ela. Eu sou um cavalheiro.
-Tá pensando o quê? Que esse simples tapa vai mudar o que aconteceu aqui? Manjericão não existe mais! E o dinheiro dele agora é meu! Eu fiz o palerma assinar uma procuração que passa tudo o que era do Damião Mantoanelli pro meu nome! O cachorro assinou antes de...
-Morrer? Você tem certeza que ele foi pro além, Zaira?
-Sem sombra de dúvida, Matheus!
-Finalmente acertou o meu nome. Só não acertou na forma que usou pra acabar com ele: a fruta da “Lagoa Azul”.
-O que você quer dizer com isso?
-Que Manjericão só tá inconsciente. Mas vivo.
-Não pode ser. Eu o vi morrer. Assim como vocês acabaram de ver!
-Você se viu dando um fim nele. Mas logo dessa forma, Zaira? Você não tem competência pra ser nem a Cuca do “Sítio”.
-Pera aí, Matheus- Thiago pede a palavra- Ela usou... Aquela fruta?
-Qual o problema? Eu não sei de fruta nenhuma!
-Essa daqui. Você colocou a fruta que matou Richard e Emmelyne no filme, só pra que pensassem que foi uma coisa natural. Só não contava com a seca, não é?
-Seca?
-A seca do sertão, que fez um monte de frutas, como essa, ficar estragado!
-Saiu até na televisão que a Ceasa tava baixando o preço dessas frutas estragadas.
-Levanta, Manjericão!
-Ufa, já tava cansado de chão.
-Maldito cabeludo! Tanto que eu fiz pra me ver livre de você, e ainda sobreviveu? Desgraçado!
-Muito bem, quem é que ligou pra delegacia?- chegam o delgado e o policial.
-Senhor, eu tenho que fazer uma denúncia espetacularrrr!
-Tira esse garoto de perto de mim! Essa voz aguda me fez agendar dois meses de consulta com o psicanalista!
-O que está acontecendo? Quem é o elemento e qual a acusação?- o policial toma as rédeas, com o descontrole do chefe.
-A acusação? Ih, meu filho, senta que Zaira sabe de cor o Código Penal.
-É mentira do Thiago! Eu não fiz absolutamente nada.
Todos arregalam os olhos.
-Por que vocês estão me olhando desse...
E a antagonista leva uma seringada de Gabriella.
-Não me lembro de qual seriado eu tirei essa ideia, mas funciona.
-Gabriella, você ficou doida? O que tem dentro dessa seringa?- pergunta Breno.
-Soro da verdade. Só assim essa miserável confessa tudo. Vamos aproveitar que a polícia tá aqui pra que ela conte como ela tentou dar um fim no meu pai.
-Pai?- os homens ficam boquiabertos.
-Ah, minha gente, como é que vocês acham que eu saí da cadeia por assédio e agressão física contra Matheus? Tendo um advogado pai de uma amiga, o Dr. Breno- esclarece Danila.
-Foi por isso que ele veio falar com a Gabriella pra devolver a câmera, e não com a turma toda. Mas porque você não disse nada quando a gente viu o Dr. Breno na escola?
-Porque você não me deixou falar, besta quadrada.
-Para mim, foi muito fácil encontrar a câmera. A última fotografia que minha filha tinha feito foi de um box de DVDs da série “House”, da qual ela é fã. Como a Zaira não apagou as imagens que existiam na câmera, conferi com o Manolo Monte Carlo e recuperei a máquina.
-O estrangeiro dos pen drives?
-Exatamente, Matheus.
-Querem saber a verdade? Fui eu, sim. Porque o Breno me contou que o Manjericão iria receber uma fortuna, e eu não quis deixar de usar essa bolada também. Era uma compensação por ter aturado esse traste durante anos! Só que quando eu vi ele se derretendo todo pra Mabi, percebi que ele seria capaz de dividir tudo com a biscate.
-Você me respeita!- exige a modelo.
-Ué, não me deram o soro da verdade? Vamos falar a verdade!
-Depende do ponto de vista... – avalia Thiago.
-Cometi vários crimes pra tentaram abalar a confiança que a Mabi tinha no Manjericão. E também tentei flopar o videoclipe, porque sabia que o pessoal dava a maior força pro romance. Foi aí que eu pus a iogurteira proibida na mochila dele, foi aí que eu enfiei o Breno num metrô que ia pra estação da Copa das Confederações...
-E roubou a câmera pra que as gravações fossem interrompidas. É claro!- Manjericão fala.
-Isso foi uma consequência. A verdade é que eu levei a câmera para vender ao Manolo Monte Carlo, porque com o dinheiro, eu pagaria ao Caio para ter as fotos da Mabi!
-Fotos? Que fotos são essas?
-Ah, e podem incluir na minha pena chantagem, porque chantageei a biscate da taça. Disse que se ela não se afastasse de você, eu revelaria que ela tirou fotos pelada para a revista PlayMobil!
“Esquilo dramático”!
-Não acredito que você teve coragem pra isso!
-Manjericão, foi na época da taça do Gugu! Você precisa entender que...
-Foram feitas dentro do “Pineapple”! Afinal, vai me dizer que nunca percebeu o quanto ela ficava nervosa com o slogan...
-“Hotel Pineapple: descasque esse abacaxi e coma a maçã do amor!”- todos repetem.
-Vocês duas não merecem o meu amor. Quer saber de uma coisa? Cansei! Eu vou virar padre.
-Só se você chegar ao Vaticano de skate e contando que se atracou com a Mabi no elevador. Levem essa mulher daqui!- ordena Matheus.
-E se a gente não quiser?- revoltam-se os policiais.
-Diremos aos manifestantes o caso do descaso da polícia, e ainda afirmaremos que vocês estão colaborando para o aumento na passagem!- Thiago ameaça.
-Olha que vocês são bons assuntos para o “Conexão repórter”.
-Não adianta vocês me prenderem. Eu tenho um documento que comprova que...
-Esse aqui?- Gabriella segura o documento, após tirá-lo do bolso da vilã.
-Não se atreva, sua pirralha cinéfila!
-A Gabriella não vai fazer nada. Eu vou!- Manjericão rasga o documento- Levem a Zaira pra cadeia!
-Zaira Machado, você está presa por... Nem sei, mas é melhor te deter!- anuncia o delegado.
-A vingança é um prato que se come frio. Mas eu faço questão de pôr no freezer para que vocês se engasguem com ela! Malditos patifes!
-Cala essa boca! Nem os lanterninhas do UCI querem ver essa besteira, quanto mais uma continuação pra você se vingar.  E outra coisa: você não vai falar mais nada, porque eu sou o roteirista dessa joça e vou proibir suas falas agora- decreta o universitário.
-Vamos embora- o policial algema Zaira e o delegado a conduz até a viatura.
-E agora, para o blog da Bella Café, que sou eu, vamos ver em que vai terminar o romance entre Manjericão e Mabi.
-Se eu soubesse o que te falar pra te convencer do quanto eu quero ficar com você...
-Palavras... Coisas que você não tem, pra me provar que é sincera. Impressionante que você só é sincera comigo quando se sente encurralada. Você não queria reconstruir sua vida quando foi fazer o clipe? Talvez seja a minha vez de fazer isso... Longe de você.
-Manjericão! Volta pra mim?
-Nunca.
E o rapaz sai do “Recanto do Leblon” enquanto todos ficam abatidos com o desfecho do romance... Pra essa cena. Tudo, ao som de Amedeo Minghi naquela música que toca quando o personagem está bem deprimido.

CENA 128
Uma semana depois...
Thiago está no laboratório de informática da faculdade. Abre o Facebook.
-Mensagem? De quem?
-Oi.
-Fala, Matheus. Tudo bom?
-Tudo.
-Então, tchau.
-Peraí, bestão. Tu vai pra Abertura dos Jogos no sábado?
-Estou esperando por esse evento há sete anos. Nem na época em que eu estudava lá eu fui.
-Será que o Manjericão vai? Os meninos chamaram.
-Acho difícil. Começa de que horas?
-De três.
-Três e quinze eu chego. Nada começa na hora mesmo...

CENA 129
Thiago chega à quadra da Escola Municipal Correta Decisão. Está tocando “Quero mais que tudo aconteça”, da banda 1e99. Motivo: fala sobre Rio de Janeiro, e os estados brasileiros são o tema da festa (embora só a bandeira de Pernambuco esteja pregada na parede).
Matheus chega e cumprimenta o amigo.
-Grande Thiago Gabriel!
-Nem me lembra. Só de imaginar aquele sufoco do clipe de novo...
Chegam Caio e Isabela.
-Olha só quem veio ver a gente.
-Cadê o bebê, gente?
-Deixa eu explicar a situação. A minha mãe...
-E o meu pai...
-Estão cuidando do bebê enquanto eu vou cobrir o que anda fazendo a Mabi Gutierrez depois de todo aquele fuzuê.
-Imagino como deve ser difícil pra vocês. Jovens desse jeito, e com um bebê pequeno pra cuidar.
-Pois é, Matheus. Você não sabe o perrengue que eu passei pra cuidar desse bebê quando os pais dele não estavam.
-Os pais... Peraí, quer dizer que... Eu pensei que os dois...
-Não, Bella, deixa que eu explico pra ele: o meu pai e a mãe dela se casaram há uns meses.
-E ela casou buchuda, detalhe!
-Na lua de mel, eles foram fazer um cruzeiro no Capibaribe. Só que aquilo estava tão poluído que eles desembarcaram e passaram quase um ano hospedados no Hotel Pineapple, sem dar notícia pra gente.
-Tivemos que cuidar do nosso irmãozinho. E o Caio teve que fazer bico como fotógrafo enquanto os nossos pais estavam se divertindo horrores. Agora vocês vão me dar licença. Temos que entrevistar a Mabi, a única subcelebridade dessa escola.
-Vão lá- diz Thiago.
-Como é que pode? Eu pensei que o bebê fosse filho deles!
-É, Matheus. Existe mesmo amizade entre homem e mulher- vê Danila- Menos naquele caso.
-Se bem que aquele caso finalmente me convenceu...
-Você quer dizer que...
-Finalmente, chegou a chance da Danila.
-Oi, meus amores- chega a garota, acompanhada de Jeferson- Eu tenho uma novidade: tô apaixonada!
-Modéstia à parte: quem não sabe disso? Ou melhor: quem não sabe por quem?
-Meninos, eu quero apresentar a vocês o meu novo namorado: Jeferson.
-Jeferson quem?- Matheus não crê no que ouve.
-Esse Jeferson.
-Tá de sacanagem, né?
-Não tenho mais tempo pra isso, meu querido.
-Mas Danila...
-Olha que foi difícil achar alguém que faça um solo de guitarra comigo e tenha um pescoço pra que eu morda, mas eu consegui...
-Criatura, eu tô disponível. Precisa nem de senha!
-Disponível? Tarde demais. Aliás, eu vou contar a verdade: eu fui chamada pela Gabriella. É, ela tava a fim de te dar o troco por você ter obrigado a participar de toda essa palhaçada de “Furo Decisão”. Só que depois eu não queria mais te infernizar e passei a gostar de você...
-Quer dizer que...
-Que eu me cansei.
-Danila, você não pode...
-Claro que eu posso, meu bem. Estou na seca há anos! E sinceramente, não estou interessada em fazer você ser do meu tipo.
-É, meu amigo. Parece que você virou corno antes mesmo de começar a namorar a Danila- constata Thiago.
-Pois é, Matheus. Toda essa situação me faz lembrar de uma música da época em que eu era criança: “Ai, você faz ‘mom’”...
-‘Mom’!- Jeferson muge e assusta os garotos.
-“Ai, você faz ‘mom’”...
-‘Mom’!
-“Ai, você faz ‘mom’”... Vai ver o que é bom... – e circula pela quadra agarrada a Jeferson e cantando este brega da Banda X. Não, não é que o nome não possa ser dito. É Banda X mesmo.
-Eu... Eu to-to-tô...
-‘Totô’? O que foi? Fez nas calças?
-Eu tô besta com essa! Como é que ela pôde trocar o Julio Iglesias de Jardim São Paulo, que sou eu, por aquele...
-Sem ressentimentos, Matheus.
-Aquela vadia!- brada, com agressividade.
-O que é isso? Isso é jeito de falar assim com uma garota?
-Não tô falando dela, e sim do Jeferson. Já é a terceira mulher que ele me rouba nesse ano!
-Tá bom, Matheus. Chega por hoje. Gente, tá um silêncio aqui. O DJ tá sentado e não tá botando nada pra tocar.
-Vou pedir pra ele colocar uma música.
-Pede infantil.
-Por quê?
-Já viu que tem mais criança que adulto hoje?
-Bom, é uma escola municipal.
-Justamente por isso que tem que tocar.
-Hum, conheço uma música infantil massa... Ó, enquanto eu falo com o DJ, tu pode ir à cantina comprar um pacote de Fandangos pra mim?- tira o dinheiro do bolso e entrega a Thiago.
-Dá pra ir.
-Peraí, que eu já volto.
Enquanto Matheus sai correndo para alcançar o DJ, Thiago vai à cantina e compra um pacote de Fandangos. Lê bem a embalagem.
-“Incluindo dois brindes: um anel e um tazo”. Ainda existe tazo?
Ao voltar para a quadra, avista Mabi de longe, sendo abordada por fãs (funcionários da escola) desde a época da taça do Gugu... De repente, aquela visão horrenda: diversas crianças se jogando nas paredes e ao chão como calangos desenfreados dançando “Fica só olhando”, da Anitta. Matheus fica perto do amigo.
-Segura, se prepara... Vou provocar... Se controla e repara... Eu rebolar... Se controla, que eu encosto, mas não vou grudar; faz parte do que eu gosto. Gosto de atiçar.
-Mas o que foi que você botou?
-O que tu pedisse.
-Eu pedi uma música infantil.
-Mas Anitta é infantil. Presta atenção.
-Não jogue ideia pra mim, beijo tu manda pra Xuxa. Sai e nem pense que posso ser sua! Não adianta insistir, vá procurar uma ajuda. Sai e nem pense que posso ser sua! Não jogue ideia pra mim, beijo tu manda pra Xuxa. Sai e nem pense que posso ser sua! Não adianta insistir, vá procurar uma ajuda. Sai e nem pense que posso ser sua!- e uma coreografia mal ensaiada é executada por Matheus.
-Ela tem razão. Você precisa de ajuda mesmo! Profissional! Vou sair daqui antes que essas crianças acabem com minha inocência adulta.
-Ei! Volta aqui com meu Fandangos, palhaço!
-Matheus, tu visse Thiago?
-Hum, olha quem tá aqui. Gabriella. Descobri o plano, safada.
-Que plano?
-Deixa pra lá. Já que eu tô solteiro mesmo, vou aproveitar pra fazer minhas danças que atiçam a mulherada.
-Mas não vá pensando que eu tô te chamando, não. Eu já tô avisando: fica só olhando- enquanto Anitta é ouvida, Danila usa seu corpo malemolente para dar um show na quadra com Jeferson, o que deixa Matheus tristonho.
-Fica olhando, Matheus. Fica só olhando mesmo- Gabriella sai da quadra e passa por Thiago, sem percebê-lo. Na entrada da Escola Municipal Correta Decisão, o jovem quase é atropelado pelo skate de Manjericão.
-Cara, o que tu veio fazer aqui?
-Me convidei. Estudei aqui na época que a escola era particular. Ralei pra pagar, mas nunca vinha às aberturas dos jogos.
-Por quê? Tinha que pagar?
-Não. Era na Ilha do Retiro e dava preguiça de ir até lá. Ficava em casa vendo “Sessão Premiada” e a pirâmide do Portiolli.
-Deve ser a única que você viu até hoje, porque a social...
-Falando nisso, já pensou no que fazer com o dinheiro do teu avô?
-Não vou fazer nada com ele enquanto não decidir o que fazer com a minha vida pessoal primeiro.
Sem perceber, Thiago abre o pacote de salgadinhos de Matheus. E Manjericão vê Mabi de longe, mas ela não o nota.
-O que ela tá fazendo aqui?
-Você não sabia? Mabi Gutierrez estudou aqui quando tinha a idade dos meninos. É convidada de honra. Até a Bella Café veio cobrir a Abertura.
-Que bom. É um ótimo pretexto pra eu zarpar daqui. E dessa vez, de uma vez por todas.
-Manjericão...
-Thiago, não! Nem você nem ninguém vai me convencer de dar mais uma chance pra ela.
-Bicho, eu estudei aqui há sete anos e no início, eu odiava esse lugar. Só que depois, eu percebi que os melhores e piores anos da minha adolescência foram vividos aqui. Eu dividia minha vida com oitenta e cinco pessoas, era uma espelunca desde aquela época, mas eu fui feliz.
-Ao contrário de mim, que não fui.
-Faz que nem a loja Luxus: mas pode ser.
-Não é “mas pode ter”?
-Você não entendeu?
-É...
-Deixa eu te entregar uma coisa. Fecha os olhos.
-Uma brechinha?
-Não. Senão, eu te chamo de Espaguete Cirol pro resto da vida. Bota a mão no olho!- e tira o anel do pacote, jogando-o longe- Agora abre.
-Cara, isso é ametista? Eu conheço pedras preciosas, você sabe?
-Muito bem, inclusive.
-Que anel é esse?
-Eu comprei pra uma ocasião especial. Dividi em vinte e nove vezes, uma a cada setembro da vida.
-Por que isso? Essa pedra é da formatura de Letras. Thiago...
-Escuta uma coisa: eu torço pra felicidade dos poucos amigos que eu tenho. Sabe por que depois de sete anos eu continuo vindo aqui? Porque eu quero que todo mundo possa escrever uma estória tão legal quanto a minha. E eu vou te apoiar sempre que esse amor que você tem pela Mabi te fizer raciocinar.
-A Mabi não é perfeita. Não pra mim.
-Se ela quiser ser por si mesma, quem melhor do que você, que gosta mesmo dela, pra ajudar? Tá preparado pra conquistar a mulher da sua vida?
-OK. Estou sempre. E você, meu amigo?
-Vou fazer que nem a música: não preciso ser Alain Delon, não preciso ser tão lindo assim, só ser o homem que dá carinho pra menina que merecer.
-A filosofia da Magnificência Científica... Quem diria que ela funcionaria comigo?
-Vamos ver se funciona mesmo- os dois vão para a quadra. Gabriella está com Breno e Danila com Jeferson. Matheus está no palco com Julianne, Vic e Bia, representando o Pará ao som de Gaby Amarantos:
-É a lenha, é o dia, é o fim da picada, é a garrafa de cana, o estilhaço na estrada, é o projeto da casa, é o corpo na cama, é o carro enguiçado, é a lama, é a lama!
Thiago sussurra no ouvido de Gabriella, que retira a câmera do bolso. Acaba-se a apresentação. Enquanto as meninas estão agradecendo ao público pelas ovações, Matheus recebe a notícia do plano pelo amigo. Toma o microfone.
-E atenção, galera. A gente vai aproveitar pra lançar o novo astro da internet. Um astro espetaculaaaar!
-Com vocês... –Thiago faz suspense.
-Leonardo Manjericão!- os meninos anunciam e os ex-alunos vão ao delírio!
-Manjericão? Astro?- Mabi estranha.
-Onde foi parar meu pacote de Fandangos?- Matheus se afasta do microfone e pergunta ao amigo.
-Quando você ficar famoso, pode até comprar uma caixa de caramelo Embaré.
Manjericão sobe ao palco, de skate. Matheus põe a música no celular. É “Diversão”, da Nila Branco.
-Já tô cheio de problemas, e você mandando assim...
-De repente, esquece quem sou eu- os meninos fazem as vozes de fundo, fingindo tocar guitarras.
- Não se enxerga que talvez eu saiba o que é melhor pra mim.
-Meu coração não morreu!
-Pode crer... Pode crer que, quem sonhar um dia, o sonho vem! Ah, eu não desisto dessa ideia de poder comemorar... Você vai ver...
-Que tudo vai mudar! Esta noite eu quero ir mais além, eu não devo nada pra ninguém. Vamos dar um tempo pra nós dois, que a saudade vem melhor depois... – Manjericão divide os vocais com Matheus e Thiago. As pessoas que estão na quadra batem palmas e Gabriella se aproxima do palco para fazer suas tomadas.
-Olhe bem para os meus olhos: tente ver o brilho que eles têm.
-Eles vão mostrar o meu amor.
-Você sabe que eu sou um homem, minha parte eu faço bem...
-Meu coração não mudou.
-Mudou, não! Amanhã, quem sabe, até te pago um cinema? Mas é que hoje eu já chamei os meus amigos pra sair, e se eu puder...
-Eu vou me divertir! Esta noite eu quero ir mais além, eu não devo nada pra ninguém. Vamos dar um tempo pra nós dois, que a saudade vem melhor depois...
-Pode crer... Pode crer que, quem sonhar um dia, o sonho vem! Ah, eu não desisto dessa ideia de poder comemorar... Você vai ver...
-Que tudo vai mudar! Enquanto os backing vocals arrebentam, Manjericão pega o skate e percorre toda a quadra, dando um show nas manobras. Matheus aproxima o celular do microfone e deixa a parte instrumental da canção tocar. O cantor se aproxima de Mabi e pede nos versos:
-Olhe bem para os meus olhos: tente ver o brilho que eles têm.
-Eles vão mostrar o meu amor- manifesta-se novamente o apoio moral dos rapazes.
-Você sabe que eu sou um homem, minha parte eu faço bem...
-Meu coração não mudou.
-Mudou, não! Amanhã, quem sabe, até te pago um cinema? Mas é que hoje eu já chamei os meus amigos pra sair- aponta para Thiago e Matheus- E se eu puder...
-Eu vou me divertir! Esta noite eu quero ir mais além, eu não devo nada pra ninguém. Vamos dar um tempo pra nós dois, que a saudade vem melhor depois... – novamente, os três.
-Esta noite eu quero ir mais além, eu não devo nada pra ninguém!
-Vamos dar um tempo pra nós dois, que a saudade vem melhor depois...
Quando a canção acaba, Manjericão se abaixa e tira o anel do bolso para entregá-lo à Mabi.
-Só vou te perguntar uma vez: Maria Beatriz Gutierrez, quer se casar comigo?
Todos vibram com o pedido e ovacionam o rapaz.
-Manjericão, eu... –fica nervosa com o pedido.
-Duas opções: “sim” e “com certeza”.
-Vou me dar uma terceira alternativa.
-Que alternativa?- fica apreensivo.
“Esquilo dramático” novamente.
-A terceira opção é: “sem dúvida”! Claro que eu aceito. Eu não me vejo mais sem você.
-Te amo, capa da PlayMobil!
-E eu te amo mais, traficante de Top Therm- ambos vão às lágrimas.
Mabi e Manjericão se beijam e toca, mais uma vez, “Um ser amor”. A turma da arquibancada se levanta e os meninos aplaudem pelo fato do plano ter dado certo.
-Adoro finais felizes- chora Matheus.
-Um lixo entrou no teu olho? Eu espero que seja.
-Não... Não vai me dizer que...
-O filme não acabou. Falta ainda a cena final.
-E eu pensando que ia voltar pra Jardim São Paulo depois dessa...

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