30/06/2017

VIDA LOUCA/ CAPÍTULO 27: NÃO TEMER, SÓ SORRIR (ÚLTIMOS CAPÍTULOS)

Bete fica ansiosa para saber a quem conseguiu acertar com seu tiro, esperando que tenha sido Gabriela. Mas a moça levanta-se rapidamente do chão, assustada ao ver seu irmão ferido.
-Eduardo! Eduardo, fala comigo!- a moça toca no ombro do rapaz, atingido pelo projétil.
-O que é que foi isso?- Ariane abre a porta para saber o que causou o barulho e encontra o filho quase desmaiado- Eduardo? Meu filho, o que foi? Eduardo, fala comigo, meu filho! Eduardo!
-Ela vai fugir... – Eduardo fala em voz baixa- Queria te matar, Gabriela... – mesmo sem escutá-lo, Bete foge da rua.
-Quem queria me matar, Eduardo?
-A Bete. Ela atirou pra matar você.
-Gabriela, chama uma ambulância. A gente tem que tirar o seu irmão daqui, rápido.
-Eu vou ligar do telefone lá dentro...
-Liga do teu celular, Gabriela! Não perde tempo! Você vai ficar bem, meu filho! Fica tranquilo, que ela vai pedir ajuda!

Fábio desperta e encontra os pais, cansados sobre o sofá.
-Pai...
-Fala, Fábio- Caio chega perto do adolescente.
-Quanto tempo eu tô aqui?
-Já tem alguns dias, meu filho.
-Contaram pra vocês por que eu tô aqui?
-A Gabriela e o Eduardo te acharam na rua, Fábio. Você passou mal e te trouxeram pra cá- revela Alice.
-Passei mal? De que jeito, Mãe? Eu não me lembro de nada.
-Você teve uma overdose. Por isso que está internado.
-Então, tudo que o senhor me contou... Não era coisa da minha cabeça?
-Não. Mas você precisava saber. Eu contei pra nunca mais você se atrever a nos causar esse desgosto de novo.
-Quem sabe que eu tô aqui? Vocês contaram pra alguém?
-Todo mundo já sabe, meu filho. A Ariane ficou sabendo através dos filhos e passou parte do tempo aqui, querendo saber notícias suas. Só que ela teve que ir embora porque estava preocupada com a Gabriela.
-Gabriela? O que foi que houve com ela?
-Fica tranquilo, ela está bem. Só ficou muito desnorteada com algumas coisas que você andou dizendo pra ela.
-Ficou incomodada com a verdade, é isso?
-Eu não sou ninguém pra duvidar do imenso carinho que essa moça sente por você, Fábio. Isso nós temos que reconhecer.
-Outra, no lugar da Gabriela, teria desistido de você.
-Já jogou a toalha faz muito tempo, Pai. Só eu que não vi, ou não quis ver.
-Nós somos testemunhas do quanto essa moça te ama. Eu mesmo sou capaz de botar a mão no fogo por ela.
-Mas eu não defendo.
-Fábio, você já pensou que talvez essa ideia que você tenha a respeito da Gabriela seja coisa da sua cabeça?
-Pensando o quê, Mãe? Que é efeito de droga? Não é, não. Eu sei dos motivos fortes que eu tenho pra nunca mais confiar nela. Não tenho que pedir perdão a ninguém, a não ser a vocês.
-A nós dois?
-É, Mãe. Eu sei que vocês, mesmo longe um do outro, não querem ver o meu mal. Por isso que eu peço desculpa por tudo que eu fiz. Vocês conseguem me perdoar?
-Filho, a gente não tem nada pra perdoar você- Alice compadece-se do filho.
-Lógico que tem, Mãe. Tudo que eu fiz, que eu jurei que ia fazer, que eu disse...
-Todo amor de pai é incondicional, Fábio. Não importa quanto tempo um filho fique longe da gente. O que a gente pode fazer é esperar, o tempo que for, que ele volte pros nossos braços. Agora você tem que focar na sua recuperação. Na nossa recuperação.
-O senhor vai me internar?
-Você precisa. Não é pra entender isso como uma punição.
-Queremos te ver com saúde, meu filho, longe de todo esse problema que você arranjou. É pedir demais?
Fábio fica em silêncio, deixando uma lágrima cair, e resignado com o seu próprio futuro.

Bete volta para o sobrado no qual mora e liga para Sal mais uma vez. O rapaz e seu irmão estão escondidos em um terreno baldio desde o assassinato de Victória.
-Sou eu, Bete.
-Ligou pra quê? Pra dar parabéns pelo serviço que a gente fez com a moça noutro dia?
-Eu não tô pra brincadeira!
-Nem eu, Bete! Ninguém aguenta mais ficar se escondendo! A garota era modelo, ia fazer carreira internacional. A polícia tá toda na minha cola e na cola do Lipe!
-Presta atenção: eu vou conseguir tirar vocês do rastro da polícia.
-Como?
-Tudo que vocês têm que fazer é dar fim num cara pra mim!
-Olha aqui, Bete, a gente não é assassino de aluguel, não! Ainda mais fazendo serviço de graça!
-Agora são! Já mataram a Victória a sangue frio, não vai ser nada eliminar outra pessoa! Eu não quero que vocês pensem na minha proposta, eu quero que aceitem e topem ainda hoje, OK?
-Mas que droga! Por que toda confusão que você se mete agora a gente tem que limpar a tua lambança?
-Cala a boca e me ouve! O nome do cara é Eduardo Acioly e vocês vão até a casa dele saber como ele tá, se tá tudo bem, o estado de saúde dele. Sonda os vizinhos e eles devem dizer alguma coisa.
-Tá, e daí?
-Descobre em que hospital ele tá e apaga o cara.
-No hospital? Nem pensar!
-Sal, é a tua chance de sair do país com o Lipe! Eu não posso me expor nem deixar que aquele imbecil conte o que eu aprontei. Vocês dois têm um carro, né?
-O Lipe que dirige.
-Ótimo. Então, ele te leva pro hospital e um dos dois risca o Eduardo do mapa.
-Mas como é que a gente vai entrar no hospital e matar um cara, Bete?
-Que é isso, ela pirou?- Lipe escuta a ligação.
-Rende um médico, obriga a dizer em que quarto o Eduardo tá, rouba a roupa dele e tranca no armário, não sei. Mas não deixa o Eduardo sair vivo de onde ele estiver! Vocês só têm essa chance de fugir. A fuga eu garanto com um traficante amigo meu, ele resolve isso pra mim.
-Tá. Me dá o endereço da casa do cara.
-Sal, não topa! Não topa essa loucura, a polícia vai pegar a gente!
-Fora daqui, a gente tá mais seguro, Lipe! Faz o que a Bete tá dizendo! Ninguém vai atrás da gente por causa de roubo, de droga, da morte da modelo, de crime nenhum! Faz o que ela tá mandando, cara!
-Se pegam a gente, Sal?
-A gente se garante. Se garantiu da outra vez, se garante nessa. Me escuta, Lipe- Sal corre para anotar o endereço da casa dos Acioly Silveira.

Ariane e Gabriela esperam por notícias do médico que atende Eduardo naquela tarde.
-E então, Doutor? Como é que está o meu filho?
-Eduardo está fora de perigo. A bala não atingiu nenhum órgão vital e conseguimos conter o sangramento.
-Ai, graças a Deus o meu irmão tá bem!- suspira Gabriela.
-Eu posso vê-lo, Doutor?
-Ainda não, Dona Ariane. A senhora tem que prestar queixa aqui no posto policial do hospital.
-Queixa?
-O ferimento do Eduardo foi causado por arma de fogo, não foi acidente. A senhora tem que dar depoimento pra polícia investigar.
-Meu filho disse que foi uma tal de Bete. Mas eu não sei quem pode ser, não conheço ninguém que tenha esse apelido.
-Eu sei quem é.
-Sabe como, Gabriela?
-A Bete é uma garota que estuda na minha sala. O tiro não era pro Eduardo, e sim pra mim. Ele viu que foi ela quem atirou, e era pra me matar.
-Filha, que história é essa?
-Calma, Mãe. Eu vou contar tudo o que eu descobri sobre essa menina.

Sal está dentro do carro do irmão, esperando o rapaz concluir o serviço encomendado pela traficante. Lipe segue à risca as instruções dadas por Bete e, na madrugada daquele dia, o jovem viciado veste um jaleco e toma a prancheta do médico que atendeu Eduardo, trancando-lhe na sala de reanimação, vazia naquele momento, mas não sem antes confiscar-lhe o celular para que não pedisse ajuda. Lendo a prancheta, descobre que o número do quarto é 28 e caminha pelo corredor que dá acesso ao dormitório.
Ao avistar Eduardo dormindo pela janela, Lipe não perde tempo e entra no quarto.
-Perfeito. Todo mundo vai achar que ele morreu dormindo- Lipe tira um travesseiro que está sob a cabeça do estudante, que desperta.
-Quem é você?
-Eu sou o médico. Vim trazer a medicação pra você dormir- Lipe sufoca Eduardo com o travesseiro.

29/06/2017

VIDA LOUCA/ CAPÍTULO 26: ESSA MENINA AINDA TEM O TROCO (ÚLTIMOS CAPÍTULOS)

-Não acredito que você me seguiu até aqui, você é maluca?
-Fiz bem, não foi? Bem que eu desconfiei de que ia descobrir o que vocês dois tavam tramando.
-Peraí, baixa a bola pra falar comigo! Tá pensando que tá falando com quem?
-Com uma vagabunda! Só isso pra explicar você querendo acabar com o meu namoro com o Fábio!
-O Fábio não me interessa como homem. E pelo estado que ele tá, não deve servir nem pra resto de lixo.
-Desgraçada! O que é que você quer? Acabar com a gente?
-E pelo que tô vendo, consegui, né? Já dá pra ver que você perdeu o controle. Mas nada que se compare ao teu namorado. Esse tá definhando em cima de uma cama de hospital.
-Por sua culpa, cachorra!
-Não. Por culpa dele. Quem procurou se entupir de droga foi ele!
-Tá pensando que eu não ouvi nada do que vocês dois falaram aqui? Eu sei que a overdose do Fábio é obra sua! O que é que você tem contra mim pra inventar essa mentira toda? Você tá afim dele?
-Gabriela, não viaja, tá bom? Aquele dali só me serve se for estirado dentro de um caixão.
-Cala a boca!
-Se você já sabe da verdade, pra quê tá me confrontando?
-Como é que você teve a capacidade de se filmar com esse cara pra ele te ajudar a melar o namoro da gente?
-Eu juro que não tive culpa de nada, a Bete me botou contra a parede...
-Fica quieto você também!- Gabriela grita com Nonato.
-Gabriela, deixa de ser hostil, menina. No fundo, eu acabei te fazendo um favor. Livre do Fábio, você não vai ter que enfrentar o vício dele. E, de quebra, não vê a derrocada daquele infeliz.
-Você é doente, psicopata! Gosta de ver o sofrimento dos outros! Por isso que você armou isso tudo!
-Dos outros não. Só da família nojenta daquele cretino, e eu não vou descansar até acabar com um por um!
-Qual é o teu problema com eles, hein, Bete?
-Descobre sozinha!
-Você vai me falar agora, senão eu...
-Senão o quê?- Bete ameaça a moça com um canivete- Fala, Gabriela! Não tava tão afoita? O que foi? Perdeu a coragem de repente?
-O que é que você pretende com isso tudo?
-Não se preocupe. Marcar sua linda carinha de top model não tá nos meus planos. Agora se você se meter contra mim, eu acabo com a tua vida!
-Mas acaba com a do Fábio também? O que você tem contra ele, Bete?
-Tudo! Mas é melhor você ficar quietinha, na sua. Enquanto eu, meu bem, vou assistir de camarote à queda do teu grande amor.
-Não chega perto do Fábio! Senão eu acabo com você! Eu não tô brincando, Bete! Eu juro que te caço, nem que seja no inferno, e acabo com você!
-Vai fazer nada, mosca morta! Porque se fizer, antes do Fábio ir pro túmulo eu vou dar a notícia em primeira mão: a de que a namorada dele foi eliminada.
-O que é que você vai fazer comigo? Abaixa isso, Bete! Eu tô pedindo...
-Tá falando manso agora, depois de botar moral pra cima de mim? Agora você vai ter o que merece, Gabriela...
-Não, Bete!- Nonato tenta impedir o assassinato de Gabriela segurando Bete por trás.
-Me solta, estúpido! Deixa eu acabar com a cara dessa cretina! Me larga, Nonato!
-Você tá maluca? Vai acabar se sujando por causa dessa imbecil? Para com isso!
-Eu já disse pra você me largar, seu desgraçado!
-Ai!- Nonato sente o ferimento acidental causado pela traficante, que cortou sua mão- Olha o que você fez, sua demente!
-Foi pra você aprender a não se meter comigo! Eu te avisei pra deixar eu acabar com essa vagabunda!- Bete avança contra Gabriela, e as duas se engalfinham enquanto Nonato foge do sobrado, sangrando um pouco.
-Você não vai me vencer, Bete! Eu vou te entregar pra polícia, cretina!
-Antes, eu te jogo daqui de cima!- Bete está prestes a empurrar Gabriela da escada do sobrado- Diz que vai me denunciar! Fala!
-Tá pensando que vai acabar comigo, é?
-Eu não tô pensando! Eu vou!
-Só que eu te arrasto junto comigo, vagabunda!- Gabriela agarra a blusa de Bete ao sentir que está prestes a cair.
As jovens acabam despencando da escadaria do imóvel e o canivete escapa da mão da traficante. As garotas não desmaiam, e a filha de Ariane levanta para pegar o objeto cortante e colocá-lo sobre o rosto de Bete, caída de bruços.
-Não é isso que você quer? Aproveita a chance. Me mata se você tem coragem mesmo!
-Fala por que você armou esse circo todo. Fala e eu poupo a tua vida.
-O motivo você nunca vai saber, Gabriela- Bete levanta-se aos poucos, ainda imponente- Cadê a sua coragem? Acabou?
-Não me provoca, que eu não sei o que sou capaz de fazer!
-Corta, imbecil. Rasga o meu rosto. Quero ver se você tem peito pra... – Bete é interrompida com um corte no nariz- Olha o que você fez comigo, desgraçada!
-Isso... - guarda o canivete no bolso, após lembrar-se do sofrimento de Fábio durante a overdose- É pelo que o Fábio sofreu por sua causa. Agora isso daqui, cachorra... – Gabriela esbofeteia Bete- É por mim!
-Não vai ficar assim, não! Eu vou chamar a polícia e dizer o que você fez comigo, que tentou me matar!
-Te matar com o quê? Com o canivete que é seu? Fala pra polícia e eu vou contar que foi você que drogou o Fábio. Conta se você é mulher! Nunca mais você aparece na minha frente, senão eu faço um estrago maior do que esse!- Gabriela volta para o táxi, um pouco machucada pela queda, e Bete fica desesperada com o enfrentamento que teve. A bandida sobe para o interior do sobrado e quebra diversos objetos, num claro ataque de fúria.
-Cavou a cova, Gabriela! Agora é você que tá me devendo! E eu vou cobrar o que você fez comigo, cadela!

Luciano chega ao hospital em que Fábio está internado e encontra Ariane e Eduardo, que levanta do sofá, surpreso com a presença do policial.
-O senhor aqui?
-Eu vim saber notícias do Fábio. Como é que ele está?
-Bem melhor- Alice aparece na recepção- Meu filho vai se salvar, ao contrário do que alguns querem e tramam pra isso- responde, ríspida.
-Alice, eu vou pra minha casa. Estou desesperada sem saber notícias da minha filha.
-Peraí, Mãe. Eu vou com você.
-Tudo bem, Ariane. Obrigada por ter ficado conosco até agora.
-Se você tiver alguma notícia do Fábio, alguma novidade, não deixa de ligar pra minha casa. O Eduardo te deu o nosso número.
-Tenho anotado na agenda. Pode deixar que, se precisar, eu ligo, sim.
-Então, boa noite.
-Boa noite- Eduardo cumprimenta Luciano e Alice e vai embora com Ariane. O policial aproxima-se da mãe de Fábio.
-Como é que você está?
-Destruída, Luciano. Mas isso você pode imaginar. E imagina como ninguém.
-O Vinícius ficou sabendo no colégio que o seu filho teve uma overdose e me contou.
-“O Vinícius ficou sabendo”? Pois eu poderia jurar que ele estava presente no momento em que meu filho tomou aquelas drogas de novo. Se existe algum culpado nessa história toda, é o Vinícius. O teu filho.
-E você quer me condenar por isso? Pelo erro do meu filho?
-Olha, Luciano... Eu não vou entrar em detalhes sobre o que aconteceu com o Fábio, mesmo que já estejam comentando a respeito, mas eu vou te pedir só uma coisa.
-Fala, Alice. Se estiver ao meu alcance...
-Com certeza está. Eu quero que você saia das nossas vidas, e de preferência, leve o seu filho com você.
-Por mais que seja difícil de dizer isso, e de você acreditar, eu não quero que o que houve com os nossos filhos interfira de alguma maneira com o que nós sentimos um pelo outro.
-Mas interfere. Sinto muito, mas interfere, sim. Só de olhar pra você, eu volto pro inferno que estou vivendo. E que o seu filho me colocou quando levou o meu filho pro mau caminho. Você foi conivente com isso, Luciano. Não tente dizer que não.
-Esse é o seu plano de vida no momento? Procurar culpados pela tragédia que aconteceu?
-Se não fosse a educação que certamente você deu pro seu filho, nada teria acontecido com o meu.
-Alto lá! Eu não vou tolerar que ninguém venha criticar o amor que eu dei pro meu filho. Nem o Vinícius, nem você. E não se trata só da criação que eles receberam, Alice. Eu sei muito bem, ou devo imaginar, a mãe maravilhosa que você deve ter sido. Mas se alguém quis tomar a decisão de se envolver com isso foi o seu filho. Cabe a você fechar os olhos pra essa atitude do Fábio ou não- Luciano resolve deixar a clínica, mas volta para dizer mais uma coisa- Diga ao Fábio que, no que depender de mim, o meu filho não chega mais perto dele. E que eu, do fundo do meu coração, sinto muito pelo que aconteceu- declara deixando, por fim, o centro médico. Alice senta no sofá e chora em silêncio pelo fim de uma relação que não chegou a começar.

-Você fez o quê?- Eduardo, no quarto da sua irmã, conversa às escuras com a moça.
-Fala baixo! Quer que a Mamãe acorde?- a adolescente coloca uma compressa de gelo sobre o joelho, ferido em decorrência da queda que sofreu.
-Você ficou maluca? Cortou a cara da Bete? Que loucura é essa? Pirou de vez, foi?
-Minha vontade era de esganar aquela menina, devia estar fazendo isso até agora! Quando eu vi essa infeliz quase me atacando, eu fiquei fora de mim, Eduardo! Parti pra cima mesmo. O que é que eu ganhei sendo compreensiva, sendo a passiva da história? Montaram em cima de mim. Agora o meu namorado não acredita que eu seja fiel, e tudo por culpa daquela vaca!
-Me diz o que foi que você fez com o canivete que tirou dela. Deu fim nele, não foi?
-Pensei nisso no meio do caminho. Pedi ao taxista pra me deixar em outra rua e joguei aquilo na lata do lixo. Mas eu sei que ela não vai me denunciar. Ela vai querer tirar o corpo fora da responsabilidade do que houve com o Fábio.
-Cada vez eu tô gostando menos dessa história. Não bastasse a internação do Fábio, você pirou de vez.
-No meu lugar, você ia fazer do mesmo jeito.
-Agora me explica: por que essa menina resolveu inventar a história de que você tinha perdido um bebê?
-Não sei, isso ela não disse. Mas tava na cara que ela quer acabar com o Fábio.
-Se ela conseguiu a droga que fez ele entrar em overdose...
-Você acha o quê? Que ela é a traficante?
-Depois dessa, não duvido nada. E teve uma situação bem estranha.
-O que foi, Eduardo?
-No dia que a Dona Alice levou a gente pra casa e teve aquele rolo com a Mãe... Eu fui até a sala e vi a galera que anda com a Bete fumando.
-Vai ver ela só experimenta, sei lá. Tem gente que curte essas paradas.
-Mas você não acha muita coincidência o namorado dela morrer porque fumou um “baseado”? Depois, o Fábio teve uma overdose. E ela assumiu que foi a responsável por dar a droga que levou o Fábio pro hospital.
-Você não tá pensando que... O Diego morreu por culpa dela, né?
-Se o Fábio quase morreu por causa dela, quem dirá o Diego? Pode ser.
-Mas por que essa desgraçada quer tanto acabar com o Fábio?
-Tá na cara, Gabriela! Todo mundo sabe que o Fábio dava dinheiro pro Vinícius procurar um traficante. Se o Fábio resolve abrir a boca e conta que a traficante é ela, como eu acho que é, ela vai pra cadeia!
-Não é só isso. A Bete não ia inventar toda essa história da minha gravidez, chantageando um médico com um vídeo de sexo só pra manter o Fábio calado. Se fosse só por ser uma traficante, ela ia ameaçar o Fábio e pronto.
-Se bem que a gente não sabe quando exatamente o Fábio e o Vinícius começaram com essa história toda de drogas.
-Mesmo assim. Se fosse só por esse motivo, ela ia chantagear o Fábio. Mas como é que eu entrei na jogada?
-Pra detonar com o Fábio. Mas a troco de quê? Assim, do nada?
-É isso que eu vou descobrir.
-Como, Gabriela? O médico já foi pego por você, conversando com a Bete. Você acha mesmo que ele vai contar mais alguma coisa? Com essa filmagem que a Bete fez, ele vai ficar calado!
-Tive uma ideia: pedir ajuda pra Dona Alice. Quem sabe ela não consegue investigar alguma coisa? Ela não enfrentou a Bete como eu enfrentei; então, ela não vai despertar suspeita em ninguém se investigar essa menina por conta própria.
-Por que você não conta tudo que aconteceu pra Mamãe?
-E depois dessa sujeira toda, ela me proibir de namorar o Fábio? Nem pensar!
-Com tudo o que tá rolando, você quer mesmo ficar com ele ainda, Gabriela?
-Sinceramente, eu não sei mais. Mas eu vou tirar essa história a limpo, Eduardo.
-Tá bom. Eu fico de boca fechada. Mas vê se toma cuidado, a Bete já mostrou que não tá de brincadeira.
-Já sei até o que vou fazer. Amanhã, a gente vai pro colégio, volta pra almoçar em casa e depois vou até a clínica falar com a Dona Alice.
-Do jeito que ela tá interessada em ajudar o filho, não vai se negar a investigar essa garota. Eu também vou contigo. Aproveito pra saber notícias do meu amigo.
-Tomara que ele não tenha nenhuma recaída, Eduardo. Que ele largue mesmo. Será que o Seu Caio vai internar ele mesmo?
-Se dependesse do Fábio, nada ia acontecer. Mas já que a decisão tá na mão do pai dele, com certeza ele vai parar numa reabilitação. Vai ser o melhor, pra ele e pra todo mundo.

Durante a madrugada, Vinícius olha o perfil de Bete em uma rede social, prometendo executar uma vingança contra a meliante.
-Pode demorar o tempo que for. Eu vou achar um jeito de tirar você do meu caminho. Vou vingar a Vicky, Bete. Nunca mais você vai chegar perto de nenhum de nós. Nem do Fábio, nem de mim, nem de ninguém.

Eduardo e Gabriela voltam do colégio e ficam à porta da casa onde moram. Não veem que, atrás de uma árvore, está Bete, esperando para eliminar a nova inimiga com um disparo.
-Gabriela, você saiu com a chave? Acho que deixei a minha lá dentro...
-Como sempre, né, Edu?- Gabriela tira um molho do bolso e tenta abrir a porta de casa.
-Queria tanto acabar com você, Fábio? Mas é melhor você desaparecer depois que soube que seu grande amor virou lenda. Até nunca mais, idiota!
-Parece que a porta tá emperrada...
-Toca a campainha, a Mamãe deve estar lá dentro... – neste instante, Eduardo vê a colega de sala apontando uma arma de fogo para a sua irmã, e corre para abraçar-lhe, a fim de proteger Gabriela- Não, Gabriela!
Bete dispara uma única vez e os Irmãos Acioly Silveira caem ao chão de olhos fechados.

28/06/2017

VIDA LOUCA/ CAPÍTULO 25: CAMA DE GATA (ÚLTIMOS CAPÍTULOS)

-Você vai sair da minha sala agora!- Nonato abre a porta do consultório, que é fechada violentamente por Gabriela, que levanta o tom de voz.
-Só se eu fosse louca! O único que vai sair daqui é você, porque eu vou te denunciar pra secretaria de saúde por dar diagnóstico falso!
-E quem disse que era falso? Quem disse que você não tava grávida mesmo?
-Olha aqui, você deixa de onda comigo! Eu faço um escândalo aqui e jogo essa porcaria de carreira que você tem no lixo!
-Eu só disse pro tal de Fábio que você tinha perdido o bebê que esperava. Seu namorado ficou preocupado com o seu estado de saúde, eu só quis dizer a verdade.
-Ah, é? Então, por que eu não fiquei sabendo disso? Por que essa informação se tornou exclusiva pro Fábio?
-Vai ver você não sabia da gestação, ainda estava muito no começo...
-Impressionante a força que você faz pra mentir, mesmo com a verdade sendo esfregada na tua cara!
-Eu não estou mentindo. Já te falei que talvez você não soubesse que tava esperando um bebê.
-Nunca estive, Nonato! Só tem duas explicações: ou você se enganou ou contou isso pro Fábio de caso pensado, e eu só consigo acreditar na segunda alternativa. Fala por quê!
-Olha aqui, se você não sair da minha sala agora, eu vou chamar o vigilante!
-Chama quem você quiser: o exército, a marinha, a aeronáutica! Quem você quiser! Mas eu vou aproveitar pra chamar a polícia também pelo falso diagnóstico que você me deu! É isso que você quer?
-O que você quer de mim?
-Que você fale a verdade pra mim e pro meu namorado, que tá internado num hospital pensando que eu traí ele com outro cara! Conta a verdade, Nonato! Por que você quis me prejudicar pro Fábio?
-O que eu tinha pra dizer sobre esse assunto, eu já disse. Você que se resolva com o seu namorado.
-Quer que as coisas fiquem mais difíceis pra você, Nonato? Pois muito bem. Melhor você saber que eu não vou dar o braço a torcer.
-E o que é que você pretende pra que eu diga aquilo que você quer?
-Uma hora ou outra, eu vou fazer a verdade aparecer.
-A verdade é a que eu disse, não tem outra.
-Eu quero ver o laudo!
-Como é que é?
-Para de me fazer de idiota e me mostra o laudo. Com certeza, ele tá aqui, né?
-O laudo não fica comigo. Pacientes antigos têm os laudos mandados pra secretaria de saúde, e só os médicos podem ter acesso...
-Que conveniente pro senhor, Doutor Nonato...
-Vai embora daqui, Gabriela!
-Tudo bem. Eu já imaginava que você fosse negar a tua canalhice. Só é uma pena que eu não vou me dar por vencida. Quer dizer, uma pena pra você. Com ou sem a sua ajuda, eu vou descobrir toda a verdade. E é melhor, pro seu bem, que seja com a sua ajuda.
-Caso contrário, você vai fazer o quê? Me matar?
-Vontade não me falta.
-Eu não tenho medo de uma adolescente que acha que já é mulher.
-Uma pessoa que esconde uma traição e uma gravidez já é uma mulher, Nonato. Agora vamos ver se você tem coragem de enfrentar a mulher que você criou. Babaca!- Gabriela deixa o consultório, mas esconde-se no estacionamento do hospital. Nonato fecha a porta e abre a gaveta, de onde tira um cigarro e acende-o, procurando acalmar-se.
-A maldita da Bete tá me prejudicando com essa história. Mas não vou deixar barato mesmo!

Vinícius volta para a escola e se isola em um canto do pátio na hora do intervalo. Um dos alunos que frequentam a “boca” criada por Bete, um jovem conhecido como “Muçulmano”, aproxima-se do modelo.
-Quer companhia, cara?
-Não, obrigado.
-A Bete veio hoje. Por que você não paga um “barato” a ela? Vai te fazer bem.
-Tô sem vontade. Desde que... Desde que aquilo tudo com a Victória rolou, eu não consigo mais. Parece que eu travei, entende?
-Saquei. Melhor você parar com isso mesmo.
-Por quê?
-Desculpa aí, “mano”, mas... Tava na cara que você tinha perdido o controle de tudo.
-Um cara como eu nunca perde o controle. Já devia saber disso.
-Pena que o Fábio não pensa igual a você... Coitado!
-Fábio? Rolou o quê com ele, Muçulmano?
-Ficou sabendo, não? Tá internado por conta de uma overdose!
-Impossível... O cara conseguia o “bagulho” comigo! E o pai dele descobriu tudo. Como é que ele teve uma overdose?
-Vai saber, né? Quem sabe ele não procurou outra pessoa pra fazer o meio de campo?
-Ou a própria Bete. Só pode ter sido ela.

Joyce examina Fábio enquanto este adormece. Caio e Alice acompanham o procedimento médico.
-E como ele está, Doutora?
-Agora ele não corre mais risco de morte, Alice. O Fábio está a salvo.
-Ah, graças a Deus!- declara Caio- Já não aguentava mais essa agonia. Pelo menos a gente já sabe que o Fábio vai ficar bem.
-Por enquanto, Caio.
-“Por enquanto” por quê, Doutora?
-Bem, Alice, vocês sabem que o Fábio teve uma overdose. Nós conseguimos controlar a saúde dele porque está em abstinência, mas isso não resolve o problema definitivamente.
-O que é que a gente pode fazer, então?
-Caio, o melhor é que o filho de vocês faça um tratamento de reabilitação. O que precisam fazer, enquanto responsáveis por ele, é internar o Fábio num centro de apoio psicossocial.

Nonato deixa o hospital muito tarde e entra em seu carro para ir ao sobrado de Bete. Mas Gabriela chamou um táxi, que está no estacionamento, e ele segue o veículo do médico.
-Não perde ele de vista, moço, por favor.
-Fica tranquila.
Toca o celular de Gabriela. O visor mostra que a ligação é feita através do aparelho de Eduardo.
-Fala, Edu.
-Sou eu, Ariane- diz a mãe, acompanhada do filho na clínica onde está a família de Fábio.
-Oi, Mãe.
-Onde é que você se enfiou, minha filha?
-Tô num táxi, indo atrás do cafajeste.
-Gabriela, isso é um absurdo. Você tá o dia todo sem dar o seu paradeiro pro Eduardo! Vai pra casa agora.
-Eu coloquei o cretino contra a parede. Ele teve a cara de pau de negar tudo. Miserável... Mas ele não vai fugir de mim, não.
-Gabriela, vai pra casa. Isso pode ser perigoso, minha filha!
-Só se for pra ele.
-Você já cogitou a possibilidade de que o Fábio falou dessa gravidez quando estava se enchendo de droga?
-O Fábio nunca ia dizer nada de mim se não tivesse certeza.
-Se você conhecesse o Fábio tão bem, teria desconfiado do comportamento dele. Olha bem o que você está fazendo: comprando uma briga com alguém que não tem nada a ver com o seu problema.
-A minha intuição diz que é exatamente o contrário.
-Já a minha está mandando você voltar. Diz o teu endereço pro taxista e volta pra casa. Agora!
-Eu não vou voltar enquanto não descobrir o que aquele pilantra tá escondendo.
-Gabriela!
-Não, Mãe! Eu não vou desistir agora- desliga o celular.
-Gabriela? Gabriela, me responde; eu estou falando com você! Gabriela!
-O que foi, Mãe?
-Desligou na minha cara. Eu não estou gostando nada disso, Eduardo.
-Se esse médico não tem nada a ver com o que o Fábio falou, se foi mesmo “viagem” da cabeça dele, ele não vai fazer nada contra ela.
-Pode ser. Prefiro acreditar que vai ficar tudo bem mesmo.
O carro de Nonato estaciona em frente à entrada do sobrado. O taxista para, à larga distância.
-O que a gente faz agora?
-Espera pra ver aonde ele vai, moço- ao ver Nonato entra no sobrado, Gabriela tira o cinto de segurança- Me espera aqui. Se eu não voltar em quinze minutos, você chama a polícia.
-Que é isso, menina? Eu não me meto com bandido, não.
-Eu menos ainda. Daqui, você me leva pra casa; a minha mãe já tá preocupada comigo. Mas me espera- Gabriela deixa o táxi, correndo para o imóvel. Antes de chegar até a escadaria do sobrado, a garota se esconde, mas ouve Nonato batendo na porta insistentemente. Bete o atende.
-O que foi, hein?- a traficante passa a mão esquerda nos olhos- Eu já tava dormindo...
-Quem te conhece sabe que você não dorme cedo. A prova disso é a hora que você costuma atender teus clientes. Deixa de mentira.
-Até onde eu sei, ninguém me conhece tão bem. Muito menos você.
-Se engana, Bete! Eu conheço você muito bem pra saber do que você é capaz.
-Bete?- Gabriela reconhece a voz da colega de sala.
-Veio fazer o quê aqui, hein?
-Apenas te contar que a mentira que você me obrigou a contar me deu uma nova dor de cabeça.
-O que aconteceu?
-Depois do Fábio, foi a vez da Gabriela me procurar pra saber por que eu menti.
-Tá certo. Agora me fala a parte do que eu tenho a ver com isso.
-Eu não tô aguentando mais ficar calado, Bete! A culpa do que tá acontecendo é sua!
-E sua também. Se você tivesse inventado um laudo falso pra culpar a Gabriela, o Fábio esfregaria o documento na cara dela. Mas não!
-Me libera desse compromisso e me entrega o vídeo que você fez de nós dois juntos no hospital! Aquela garota não vai descansar enquanto não ficar sabendo de tudo, eu vi nos olhos dela.
-Não quero nem saber. Muito menos agora, que eu sei que mirei num objetivo e acertei no outro.
-Mas do que você tá falando?
-Quando eu mandei que você inventasse uma falsa gravidez pro Fábio, era pra ele pensar que tinha provocado o aborto do bebê, já que ela só sofreu o acidente por estar com ele. Mas quando você me contou que ela é virgem, foi genial. Vi que eu tinha dado a tacada de mestre. Só que agora ele pensa que ela colocou chifre nele. Não podia ser melhor!
-Por que você quer tanto acabar com esse cara?
-Desde quando eu falo que isso não é da sua conta? Ah, é: desde sempre!
-Pouco me importa isso também. O que eu quero é que você destrua aquele vídeo e faça aqueles dois se afastarem de mim!
-A Gabriela eu não tenho como controlar. Já o Fábio não vai te procurar tão cedo, isso eu tenho certeza.
-Como é que você sabe disso? Como pode ter tanta certeza?
-Pelo que eu fiquei sabendo, o Fábio teve uma overdose.
-O Fábio é drogado também?
-Pois é, né? Daí, ele exagerou e tá no hospital. Praticamente sem chance de cura.
-Tem um dedo seu nessa overdose do cara, não é?
-E eu lá sou mulher de dedo? Tem a mão inteira nisso.
-De onde você conhece esse cara?
-Do mesmo lugar que você: das drogas, meu bem. Sem contar que... Esquece. O fato é que ele não vai se recuperar.
-Por que diz isso?
-Porque o idiota não conseguiu esconder por muito tempo que comprava droga. E eu tinha uma pessoa que ele enviava pra comprar droga comigo. Os pais dele descobriram que ele é usuário. Pra chegar até mim, Nonato, é um pulo. Por isso que eu quis me livrar dele. O imbecil do Fábio foi me procurar e me pediu, desesperado, pra que eu vendesse droga. Disse que só os cigarros que ele comprava não iam ser o bastante. Foi então que eu dei uma injeção... Ele ficou muito assustado quando eu coloquei a seringa no braço dele.

-O que é isso? O que você fez?
-É pra te acalmar, bobinho. Relaxa.
-O que foi que você me deu, Bete?
-Tudo o que você precisa. Daqui a uns minutos, sua agonia vai passar. Fica tranquilo, que eu cobro baratinho. Você vai ver que eu tô vendendo minha “fuga” pra você a preço de banana.

-Mentira que você fez isso com o cara...
-Eu não fiz nada, Nonato. As drogas que fizeram. Qualquer médico vai mostrar que ele exagerou, vão achar vestígios no sangue do Fábio. Pra todos os efeitos, o Fábio tomou a injeção porque não mediu a quantidade certa de entorpecente que queria. Resumindo: o cara não se controlou, parceiro; fazer o quê, velho? A vida é louca, “nêgo”...
-Desgraçada!- Gabriela sobe à escadaria e fica cara a cara com a traficante e o médico.
-Gabriela?
-Eu mesma, cachorra! Agora você vai dizer na minha cara o que você disse pra ele. Fala!