11/06/2017

VIDA LOUCA/ CAPÍTULO 8: HOJE EU VOU SAIR DE CENA

-A Gabriela? O senhor tá mentindo pra mim, não tá?
-Olha, eu sinto muito... Pensei que ela havia contado pra você sobre a gestação. Mas pelo visto você foi pego de surpresa...
-Tem certeza de que ela tava mesmo esperando um bebê?
-Sim. Ainda não cheguei a conversar com ela sobre isso porque está desacordada, mas vou falar- Nonato olha para Bete mais uma vez- Eu vou avisar ao seu pai pra que ele venha ser o seu acompanhante.
-Pede pra ele esperar um pouco...
-Desculpe, eu não entendi.
-Não quero ver nem falar com ninguém, pelo menos não agora.
-Imagino que tenha sido um choque pra você. Mas por favor, procure não se culpar. O que aconteceu com vocês foi uma fatalidade.
-Me deixa sozinho, Doutor. Por favor, eu preciso.
-Como quiser, Fábio. Depois eu autorizo seu pai a entrar. Com licença.
Fábio começa a pensar que a sua namorada lhe foi infiel, pois jamais teve nenhum tipo de contato íntimo com a irmã de seu amigo Eduardo. Bete não chegou a pensar nessa hipótese- desejava apenas que ele se sentisse culpado pelo “aborto sofrido” por Gabriela, mas teve o mesmo efeito devastador. Deixa o hospital triunfante.

Passadas algumas horas, Fábio está monossilábico. Caio e Alice até tentam fazê-lo falar, mas não obtêm êxito. Os pais do adolescente trazem Nonato até a enfermaria para que ele examine o garoto.
-Como ele está agora, Doutor?
-Melhor, Seu Caio. Acredito que eu já possa autorizar a alta médica.
-Ah, graças a Deus!- suspira Alice.
-Só recomendo que venha daqui a uma semana tirar os pontos da cabeça.
-Então, eu já posso ir pra casa?
-Pode, sim, Fábio.
-Ótimo. Não quero ficar nem mais um minuto aqui dentro- tenta levantar-se sozinho, sendo amparado por Alice em seguida.
-Doutor, será que o senhor poderia...
-Por favor, Seu Caio. Me chame de Nonato, não é preciso tanta cerimônia assim.
-Tem algum problema se você autorizasse meu filho a visitar a namorada na enfermaria em que ela está?
-Por mim, não há problema algum.
-Mas pra mim tem- surpreende Fábio a todos- Não ouviram o que eu falei? Passei a noite acordado, à base de remédio na veia... Tudo o que eu quero agora é ir pra casa, será que dá pra ser?
-Tudo bem, filho- Alice estranha a agressividade do filho- Vai ser como você quiser.
-Se quiserem, eu posso chamar um táxi.
-Não precisa, Doutor Nonato. Viemos no carro do meu... Do Caio. Mas obrigada mesmo assim.
-Tenham um bom dia.
-Obrigado por tudo, Doutor- Fábio se pronuncia.
-De nada, Fábio... Se cuida- Nonato fica envergonhado pela mentira que contou ao adolescente.

Já na escola, no dia seguinte, Eduardo comenta com alguns colegas sobre o acidente que vitimou Fábio e Gabriela. Em um corredor distante da sala de aula da turma, Bete e Vinícius estão negociando mais uma vez.
-Você soube do que houve com Fábio?- o modelo tenta disfarçar, para que não o vejam entregando dinheiro à jovem.
-Não é, menino? Que coisa triste... E você ficou sabendo como é que eles estão?
-Fábio já teve alta e já foi pra casa, pelo menos foi isso que eu ouvi Eduardo contando antes da aula começar.
-Mas e a irmã dele?
-Parece que ainda não recebeu alta, nem ela nem o taxista. Mas tá fora de perigo.
-Aproveitando essa chance, eu quero falar uma coisa contigo.
-O que foi?- começa a falar baixo- Te dei o dinheiro certinho, ou não dei?
-É outro assunto, Vinícius.
-Fala, Bete.
-O Fábio fumou um desses que eu te vendo, né?
-Como é que você sabe?
-Fumou ou não? Só quero saber isso.
-Certeza eu não tenho, mas eu deixei um cigarro lá, na pia do banheiro. Se ele usou ou não, aí já é outra história.
-Quer explicar pra mim por que você tinha que fazer isso justo com ele?
-O cara tava pilhado com essa treta dos pais se separando, Bete. Achei justo dar um pra ver se ele se acalmava. O que é? Fábio ficou cheio de não-me-toques pra você?
-Quero que você faça uma coisa pra mim.
-Se eu puder ajudar, diz aí.
-Como realmente a situação dele é complicada, eu quero que você se aproxime mais dele, que seja um ombro amigo dele.
-Ombro amigo do Fábio? A gente mal se cruza, não vai ser da noite pro dia que ele vai querer conversa comigo. Se bobear, depois que eu dei aquele cigarro, não vai mesmo. Mas sei aonde você quer chegar.
-Sabe?
-Você quer que o Fábio peça outro cigarro, e me procure pra saber onde eu consigo. Daí ele chega até você. E do jeito que a família do cara é boa de vida, você vai acabar se fazendo.
-Entende rápido as coisas. Gosto assim.
-Bete, vou te mandar a real.
-Por favor, Vinícius.
-Não mexe com ele, não. O cara pode estar perdido, mas não é disso.
-Cara, entende uma coisa: se você não disser pra ele o que eu faço, Fábio vai acabar me procurando. Só precisa inventar uma desculpa e vai vir atrás do que eu tenho pra oferecer.
-Parece até que você não conhece ele. Vive só pros estudos, e quando muito pra namorada. Acredita mesmo que ele vai te procurar pra comprar droga?
-Que palavra pesada essa, “droga”. Eu, hein? Só faço negócio se for pra vender “prazer”, “fuga”, “felicidade”. Não é crime vender felicidade. Se fosse, você, que tem um pai policial, tinha sido o primeiro a me entregar pra justiça.
-Como é que você sabe da profissão do meu pai?
-Vinícius, o que é que você acha que eu não sei de quem compra a mim? Fica a dica pra nunca tentar passar a perna em mim. Eu sou ótima amiga, mas como adversária, sou imbatível- adverte, deixando o modelo ensimesmado.

Alice ajeita dois travesseiros para Fábio colocar sua cabeça, já em sua casa.
-Cadê o meu pai?
-Teve uma reunião no trabalho, saiu bem cedo de casa. Disse que ligaria pra saber como você estava.
-Tão cedo assim?- pergunta o adolescente, ao constatar que ainda são sete da manhã através do celular, que pega do criado-mudo.
-Pois é. Eu também estranhei- a campainha da mansão toca- Eu vou buscar o seu café da manhã.
-Mãe, relaxa. Eu posso ir até cozinha, sem problema.
-Nada de esforço, Fábio. Você precisa relaxar. Daqui a pouco, eu volto- Alice deixa o quarto. O rapaz devolve o aparelho telefônico ao criado-mudo, pondo-o junto de um porta-retratos com a imagem de Gabriela ao seu lado. Olha para a foto fixamente, chegando a tocá-la, mas depois joga o objeto no chão.
-Ficou bem claro mesmo que você não quer me ver.
-Gabriela?- Fábio se assusta com a presença do affair, ainda ferida por conta do acidente.
-Agora você resolveu se desfazer da foto que a gente mais gosta de tirar? Por que você atirou o retrato no chão?

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