-É
isso mesmo que a gente tá vendo, Pai? O senhor e a Dona Ariane?
-Fábio,
meu filho... A gente precisa conversar.
-Que
desculpa você vai inventar pro seu filho, Caio? Vai tratar a gente como se
fôssemos um bando de imbecis? Não está claro esse beijo que você deu nessa
mulher? Como é que você teve coragem de fazer isso comigo?
-Alice,
para com esse escândalo!
-Por
quê? Pra poupar a honra da tua amante? Há quanto tempo vocês dois têm um caso
pelas minhas costas?
-Caio
não é meu amante, Alice.
-“Óbvio
que não”. É natural vocês se cumprimentarem com beijo na boca? Como você é
dissimulada!
-Alto
lá, eu não vou ser desrespeitada dentro da minha casa!
-Cínica!
-Mãe,
para com isso, por favor!
-Acho
melhor você ir com seus pais pra casa, Fábio. Tua mãe tá muito nervosa- sugere
Eduardo.
-Melhor
mesmo, Edu...
-O
Caio não vai voltar pra casa comigo.
-Mãe!
-Não
vai voltar, Fábio, eu já disse!
-Quem
você pensa que é? Aquela casa é tão minha quanto sua.
-Mas
eu não quero você lá, e você não vai voltar.
-Isso
é o que a gente vai ver!
-Vocês
dois vão se entender em casa, não aqui.
-Com
ele, eu não tenho nada pra conversar, Gabriela! Agora com essa mulher, essa
pistoleira...
-Veja
o tom que você usa pra falar comigo!
-Uso
o tom que eu quiser- Alice se aproxima de Ariane- Ontem, nós viemos a sua casa,
comemorar o namoro dos nossos filhos, e hoje eu encontro você agarrada com o
meu marido! Aposto que estavam rindo de mim, porque nunca desconfiei que vocês
tivessem um caso!
-Ariane
não é minha amante... A verdade é que eu a conheço há muitos anos, antes mesmo
da gente se casar.
-Mãe,
por que é que você não falou que conhecia o Seu Caio?- Eduardo questiona.
-Eu
não sabia que ele era o pai do Fábio. Fiquei surpresa quando eu o vi aqui em
casa, ontem à noite.
-E
fingiu que não o conhecia. Mas também, o que esperar de uma mulher tão baixo
nível feito você?
-Melhor
você medir suas palavras ao meu respeito, Alice!
-Pra
quê? Por acaso, tem medo de que seus filhos constatem o que eu percebi? Que o
meu marido é infiel e que você não passa de uma vagabunda?
Ariane
reage à provocação dando uma bofetada no rosto.
-Mãe!-
Fábio ampara Alice.
-Isso
eu não vou admitir de jeito nenhum, entendeu? Não vou!- decreta Ariane.
-Leva
a Dona Alice pra casa, Fábio. Por favor!- pede Gabriela.
-Vem,
Mãe. Vai ficar tudo bem... Acho que o senhor não tem mais nada pra fazer aqui,
já que tem que conversar com ela, não é, Pai?
-Tem
razão, Fábio. Vamos pra casa- vira-se para Ariane- Eu juro que não quis que as
coisas acontecessem desse jeito.
-Mas
aconteceram, Caio. Agora, por favor, vai embora daqui.
Alice
deixa a casa de Ariane com o filho, sendo seguida pelo marido. Eduardo fecha a
porta e cobra explicações da mãe.
-Será
que dá agora pra senhora explicar o que foi que aconteceu?
-De
onde você conhece o pai do Fábio, Mãe?
-Acho
melhor vocês sentarem. A história é muito longa. E complicada também.
Quando
os Prado Vasconcelos voltam pra casa, Alice vai ao seu quarto e senta na cama,
chorando em seguida. Fábio corre atrás da mãe, tentando consolá-la. A esposa de
Caio está com a cabeça abaixada até que o marido entra no quarto.
-Pai,
é melhor deixar a gente sozinho. Não é hora pro senhor conversar com ela.
-Nós
temos que falar agora.
-De
você, eu não quero ouvir coisa nenhuma- Alice levanta da cama- Você vai tirar
suas coisas desse quarto. Não vou deixar que você fique nem um só minuto nessa
casa.
-Mãe,
para com isso. Depois vocês conversam, vão acabar se entendendo.
-Como,
Fábio? Depois do que eu vi? Do que nós vimos?
-Pra
começar, eu não vou sair dessa casa. Vocês merecem, sim, uma explicação, e eu
vou dar. Mas não espere, Alice, que eu assuma uma postura de culpado diante do
que fiz e me puna. O que eu falei na casa da Ariane eu repito aqui: essa casa é
tão sua quanto minha.
-Não
menciona o nome daquela desgraçada aqui dentro. Como é que você pôde ser tão
canalha e manter um caso com ela? Com a mãe da Gabriela, namorada do nosso
filho? O que é que você tem pra me explicar, Caio?
-Eu
tive um relacionamento com Ariane, mas antes de te conhecer, Alice.
-Se
isso fosse verdade, por que você teria de esconder? Por que não falou sobre
isso ontem, quando Gabriela e Eduardo apresentaram a mãe deles? E o que nós
vimos naquela casa agora há pouco, foi alguma ilusão?
-O
que vocês viram foi um beijo, da minha iniciativa. Ariane não teve nada a ver
com isso. Nós não temos um caso.
-Então,
por que você ficou calado, Pai? Por que não disse que conhecia a Ariane?
-Quando
eu tinha a sua idade, Fábio, eu me apaixonei por ela. A gente teve um romance
breve e... Ela foi a minha primeira mulher.
-Não
quero mais ouvir isso...
-Vai
ter que escutar, Alice. Vocês merecem uma explicação.
-O
namoro que a gente teve foi rápido, durou só seis meses- Ariane explica o
relacionamento com Caio para os filhos.
-Como
foi que vocês se conheceram, Mãe?- pergunta Eduardo.
-Na
escola, bem como a sua irmã e o Fábio.
-A
senhora sentia o quê por ele?- Gabriela busca ser compreensiva diante da
situação delicada.
-Com
certeza, é algo muito diferente do que eu sinto agora. Eu tinha por ele uma
paixão urgente, desenfreada, imaginava passar a minha vida ao lado dele, até
que...
-“Até
que”...
-A
gente teve uma briga e eu tomei a iniciativa de acabar com o que a gente vivia.
-Brigaram
por quê?
-Por
favor, Eduardo! Isso é um assunto da minha esfera pessoal...
-A
gente tem o direito de saber também. Se envolve a senhora, envolve a gente
também! A Dona Alice te viu beijando o marido dela, te chamou de vagabunda, a
senhora reagiu com um tapa e quer que a gente faça de conta que não viu nada
acontecer?
-Fala,
Mãe- Gabriela pede- Por que você terminou o namoro com o Seu Caio?
-Essa
dúvida vocês vão ter que esclarecer com ele... Isso, é claro, se ele quiser
listar os motivos.
-Foi
traição?
-Gabriela,
para! Já disse que não vou deixar vocês invadirem minha intimidade. O que os
meus filhos precisam saber, e não aquela mulher, é que o beijo que Caio me deu
partiu dele.
-Se
aquela mulher não tomou a iniciativa, por que você escondeu que já a conhecia?-
Alice continua incrédula.
-Porque
fiquei em estado de choque, eu não sabia que o Fábio namorava justamente a
filha da Ariane. Como é que vocês acham que eu ia chegar e dizer no jantar:
“olha, eu tive um romance com essa mulher há mais de vinte anos”? Fábio, depois
que eu terminei os estudos, eu nunca mais soube de nada relacionado a ela, não
soube se ela casou, se constituiu família...
-E
por que você deu um beijo nela?- Alice fica enfurecida com o marido tentando se
explicar.
-Porque
eu não me sinto mais feliz! Eu me sinto incomodado com a minha vida, com a
maneira que eu a estou levando, com a minha rotina, com o meu casamento, com
tudo! Quando eu vi aquela mulher no jantar de ontem, eu quis reviver alguma
coisa que se perdeu de mim há muito tempo! Eu quis me dar a chance de ser feliz
de novo, mesmo que fosse por um instante! Não é isso que vocês queriam ouvir de
mim? A verdade? Pois é essa: eu não estou feliz!
-Então,
trate de levar essa infelicidade pra longe de mim, porque eu não vou mais
dividir a minha vida com alguém que não sabe ser fiel! Você vai sair dessa casa
agora!
-Casa
que eu comprei, quando você ainda nem sonhava em trabalhar, não é, Alice? Mas
eu não vou sair daqui! Se você está incomodada em ter de morar debaixo do mesmo
teto que eu, mude-se você!
-Chega!-
Fábio grita com os pais, mas nem isso os impede de continuar discutindo.
-Minha
decisão já está tomada. Eu não vou sair dessa casa, Alice.
-Muito
menos eu. Conviva com a sua crise existencial, traga quantas amantes tiver
vontade... Daqui, eu só saio morta!
-Eu
já disse pra vocês dois pararem com isso! Vocês... Vocês vão se acalmar e
conversar depois.
-Peça
pra empregada transferir suas coisas pro quarto de hóspedes, Caio. Prefiro evitar
ter o mínimo de contato com você. O seu desrespeito comigo eu não vou tolerar.
-Tudo
bem, então. Se você prefere que vivamos como dois estranhos, eu aceito. Só que
eu não vou mais calar o que eu sinto.
-Pouco
me importa o que você sente. Pouco te importou a sua família quando você quis
me trair com aquela mulher. Viva a sua vida, Caio, e seja bem infeliz com ela.
Caio
vai ao quarto de hóspedes e deixa Fábio, um tanto abalado pelos últimos
acontecimentos, com a mãe.
-Me
diz quando foi que vocês chegaram a esse ponto.
-Não
sei, meu filho. Mas o seu pai não pode me decepcionar mais do que ele fez. Eu
vou pedir o divórcio.
-Pensa
direito, Mãe. A senhora ainda tá com a cabeça quente.
-Não
tem conversa com o Caio, Fábio. Enquanto eu não estiver separada legalmente, eu
fico aqui. Mas pra ele eu não volto nunca mais.
No
fim daquela tarde, Bete e Diego estão num velho sobrado do centro da cidade,
onde a jovem mora sozinha. Esquecendo-se do tempo, os dois transam sobre a
velha cama onde dorme a adolescente. Diego beija todo o corpo desnudo da
namorada, que permanece fria. O rapaz percebe que, apesar das carícias, Bete
está distante.
-O
que foi, gata?
-Nada,
por quê?- enrola-se num lençol.
-Parece
que nem tava aqui.
-Só
tava pensando.
Diego
se levanta e veste a roupa lentamente.
-Já
sei. Tá com medo de Eduardo dar com a língua nos dentes e dizer pro diretor que
a gente fumou dentro da sala...
-Por
mim, que diga.
-Não
fala isso nem de brincadeira. A gente é bolsista, esqueceu?
-Mas
duvido muito que aquele cara diga alguma coisa. Qualquer coisa, eu dou uma
lição nele.
-Hum...
– Diego se abaixa pra falar com a moça, ainda deitada- Se você quiser, eu mesmo
dou um corretivo nele- morde os lábios da jovem.
-Até
parece que não me conhece. Sei me virar sozinha.
-Mas
é como se não conhecesse.
-Tá
falando do quê?
-Nunca
fala da tua vida, por que mora aqui sozinha...
-Vamos
lá: a gente se conhece há quanto tempo?
-Um
ano, mais ou menos.
-Pois
é. Lembra como a gente se viu? Onde foi que a gente se encontrou pela primeira
vez? Na boca de fumo. Eu te vendi um cigarro, a gente se curtiu, foi pra cama e
pronto. Só isso que precisa saber.
-Tanto
mistério assim pra quê?- beija o pescoço da namorada, enquanto puxa lentamente
o lençol no qual ela está enrolada- Hein?
-Não
é assim que funciona? Então, pronto. Não me pergunta mais nada, tá?
-O
que é você tanto faz questão de esconder? Me diz. Eu não conto pra ninguém.
-Diego,
Diego... Você não devia ter vestido essa roupa agora.
Bete
empurra o namorado na cama e tira a camisa do rapaz, passando suas mãos sobre o
peitoral do rapaz e desabotoando com urgência a calça que ele acaba de colocar.
Tudo para demovê-lo do intento de saber o que ela esconde.
A
noite do dia seguinte reserva um problema para o jovem Vinícius. A sua
namorada, a modelo Victória, está caracterizada para um ensaio fotográfico, mas
demonstra estar apreensiva. A fotógrafa se aproxima.
-Vicky,
que cara é essa?
-Já
deu pra perceber, né? É o Vinícius, que não me atende!
-Olha,
meu bem, infelizmente eu não posso fazer nada. Sei que você até pediu pra fazer
uma média por ele, mas...
-Tudo
bem. Eu entendo, Lúcia. Até te peço desculpa por esse atraso, tô prejudicando a
tua equipe inteira por causa disso...
-Esquece
essa bobagem e muda essa cara. O cliente não está interessado nas nossas
preocupações. Ainda mais nesse caso, quando elas são cotidianas. Vai pra sua
marca, querida, que a gente não pode esperar mais.
Quinze
minutos depois, Vinícius entra afobado no estúdio.
-Victória?-
o modelo se surpreende com a namorada trabalhando sem ele- Você começou sem
mim?
-Começou
e vai terminar sem você também, Vinícius- adverte Lúcia.
-Olha,
me desculpa, Lúcia, mas é que eu peguei um trânsito infernal...
-Isso
não serve como desculpa nem pra você, rapaz. A Victória vai ser o único rosto
da campanha da Casual Models.
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