Eduardo
mal consegue acreditar na atitude extrema que o melhor amigo está prestes a
cometer.
-Fábio!-
o rapaz grita pelo filho de Caio e Alice, que vê, através de uma alucinação, o
rio subindo. Cada vez mais ludibriado pela visão que tem, Fábio não hesita em
colocar a outra perna para fora da ponte, apoiando-se no corrimão da mesma.
-Fábio,
não!- Gabriela aproxima-se do namorado, ajudando Eduardo a evitar o suicídio do
moço ao puxar o seu tronco para trás, fazendo-lhe cair sobre a calçada. Um
ônibus lotado passa pelo local, e diversos passageiros põem a cabeça nas
janelas para assistir à cena.
-Que
é isso? Me solta!
-Não,
Fábio! Para!
-Me
larga, Eduardo! Me larga!- Fábio consegue levantar-se mais uma vez, sendo
contido por Gabriela e por Eduardo.
-Não,
você não vai pular! Não vai, Fábio!
-Me
deixa sair daqui! Me solta, cara!
-Calma,
a gente vai te ajudar!- Gabriela consegue fazê-lo sentar na calçada aos poucos.
-Calma,
rapaz... – Eduardo pede, e Fábio abaixa a cabeça.
-Fábio,
me diz o que é que tá acontecendo, por favor!
-Não
tá vendo ou não tá querendo ver? Você é o quê? É cega ou é burra mesmo? Não tá
vendo que você e aqueles dois têm culpa?
-Culpa
de quê, Fábio? Me fala, que a gente vai te ajudar..
-Eu
não quero ajuda! Eu só quero que vocês me deixem viver a porcaria da minha vida
em paz, que deixem eu usar o que eu quiser em paz!
-Como
é que é? Você tá mentindo pra mim! Você não pode fazer isso com você, nem com a
gente! Fábio, me escuta: a gente vai te levar pra casa e vai cuidar de você.
Vem com a gente...
-Tá
na cara o que você quer: me jogar numa clínica, me internar como o Caio ameaçou
fazer. Pensa que eu não sei que vocês dois estão juntos pra acabar com a minha
raça?
-Fábio,
por que você tá falando assim?
-O
Vinícius... Você conseguiu falar com ele e ele te deu droga de novo, não foi?
-E
você? Me fala, o que é que você quer de mim?
-Te
salvar! Tirar você desse inferno que você se colocou! Olha o que você tá
falando, tá colocando ao teu melhor amigo como se fosse seu inimigo!
-Você
não é nada meu. Não passa de um lixo! Pensa que eu não sei, Eduardo, que você
se juntou àqueles dois parasitas do Caio e da Alice pra me matar? Que essa
conversa de querer me ajudar é pra dar um tiro na minha cara e sumir sem deixar
pista?
-Fábio,
para! Você tá ficando maluco, cara?
-Vamos
levar ele pra casa, Eduardo... – Gabriela tenta levantar o namorado.
-Você
também tá envolvida nessa sujeirada toda! Para de querer me fazer de imbecil!
-Cala
a boca!
-Quero
ver você me calar, desgraçada- Fábio empurra Gabriela, que é amparada por
Eduardo, e corre para fugir da dupla. Por intermédio de outra alucinação, vê
ambos do outro lado da calçada, e dentro de cada veículo que passa pela ponte.
Apavorado fica quando a estrutura da ponte “desaba aos poucos”. Com medo de
morrer, Fábio atravessa a rua apressadamente e é quase atingido por um carro,
chegando a encostar suas mãos no para-brisa.
-Tá
doido, tá, moleque?
-Fábio!-
Gabriela acena para que os carros parem, sendo acompanhada por Eduardo.
-Quer
morrer e jogar a culpa em mim, é? Fala alguma coisa, ficou mudo por quê?-
esbraveja o motorista, calando-se quando Fábio apresenta um quadro de epistaxe.
-Fábio,
o que foi? O que é que você tem?- Eduardo segura o rosto do amigo, que imagina
o chão desabando e todos caindo num abismo escuro. O adolescente desfalece no
asfalto.
-Alguém
ajuda aqui, o moleque tá passando mal!- o motorista desce do carro.
-Chama
a ambulância, Eduardo, ele tá morrendo?
-Fábio!
Fala comigo! Fala comigo, Fábio! Reage!
-Eu
não conseguindo ouvir ele respirando, Eduardo!- Gabriela encosta o ouvido esquerdo
no tórax do rapaz, ainda sangrando- O Fábio tá morrendo!
-Não,
eu não vou deixar!- disca o número da ambulância.
-Não
vai dar tempo de chegar uma ambulância aqui com esse trânsito. Melhor levar
esse cara pro hospital que tem aqui perto!
-A
gente tá a pé, moço!- Gabriela justifica.
-Bota
ele aqui dentro, eu levo vocês- o motorista carrega Fábio até o banco traseiro
do carro, com a ajuda de Eduardo, que segura sua cabeça. Gabriela entra no
veículo e senta no banco da frente, sempre olhando para o namorado,
inconsciente. O automóvel segue até o hospital mais próximo.
Horas
depois, Caio e Alice chegam ao hospital onde Fábio está sendo atendido. Eduardo
e Gabriela esperam por notícias a respeito do estado de saúde do rapaz.
-Ainda
bem que vocês chegaram!
-O
que foi que houve com meu filho, Eduardo? Por que vocês trouxeram o Fábio pra
cá?
-A
gente não sabe o que houve, Dona Alice; foi tudo muito rápido.
-Gabriela,
o Fábio está bem?
-Não
tá... O Fábio tentou se atirar de uma ponte, Seu Caio...
-Meu
filho vai ficar bem, Gabriela? Diz que meu filho vai sair daqui bem, por favor!
-Tudo
que a gente queria era dizer isso, mas o Fábio... Foi horrível. A gente
conseguiu evitar que ele se matasse, mas ele fugiu e depois... Por que é que o
meu amigo tinha que se meter com aquilo? Por quê?- Eduardo fica desolado e
esmurra a parede da recepção.
-Não
foi culpa nossa, Eduardo!- Gabriela tenta consolar o irmão- A gente fez tudo o
que podia pra levar o Fábio pra casa!
-Mas
o que foi que aconteceu, afinal? Por que vocês trouxeram o Fábio pro hospital?
-Teve
um sangramento no nariz, Seu Caio. Depois disso, ele perdeu a consciência e
caiu no meio da rua. Até agora ele não acordou.
-E
cadê essa médica que não apareceu até agora pra dizer nenhuma notícia?- Eduardo
não contém seu nervosismo.
-Qual
de vocês é acompanhante de Fábio Prado Vasconcelos?- Joyce aparece na recepção.
-Somos
os pais dele- Caio apresenta-se para a médica.
-Alguma
notícia do meu filho?
-Como
é que tá o Fábio?- Gabriela fica atrás de Alice, ansiosa pelo que Joyce tem a
dizer.
-O
quadro clínico do paciente é preocupante. Há pouco Fábio teve uma parada
cardíaca.
-A
senhora quer dizer que... O Fábio morreu?
-Não,
felizmente conseguimos salvá-lo a tempo. Mas foi difícil, senhor. A equipe
médica chegou a acreditar que seria impossível de trazê-lo de volta.
-E
como que o Fábio tá agora?
-Estável,
mas o quadro de saúde do rapaz inspira cuidados.
-O
meu filho vai se salvar? É só isso que eu quero saber!- Alice é incisiva com
Joyce.
-Isso
eu não posso assegurar, senhora. O seu filho esteve a ponto de ir a óbito há
poucos minutos.
-Por
quê? O que o meu filho teve, Doutora?
-Pelos
sintomas que nós checamos através dos exames, constatamos que seu filho sofreu
uma overdose.
-O
meu Fábio? Uma overdose? Você tá mentindo, não é? Fala que isso é uma mentira.
-Sei
que é muito difícil de acreditar pra qualquer pai, mas não resta dúvida. Houve,
sim, um acréscimo excessivo de substâncias ilícitas no corpo do paciente. O
exame de sangue acabou de chegar do laboratório, não deixa dúvidas.
-Mas,
Doutora...
-O
seu filho já tinha se envolvido com entorpecentes?
-Não...
Quer dizer... O Fábio teve, há poucos dias, um envolvimento com drogas, mas
estava “limpo”. Ele largou as drogas definitivamente, não tinha como ele sofrer
uma overdose- justifica Caio.
-De
alguma maneira, ele conseguiu e usou de maneira excessiva. Vocês não haviam
notado nenhum comportamento estranho demonstrado pelo paciente?
-O
Fábio falava umas coisas desconexas antes de chegar aqui... – Gabriela recorda-se
do que houve na ponte.
--Chegou
a tentar o suicídio, Doutora. Disse que todos estavam unidos pra matarem ele.
-A
paranoia é um dos sintomas de overdose do paciente.
-O
que podemos fazer pra ajudar o Fábio, Doutora?
-Eu
quero entrar pra ver o meu filho- Alice passa à frente do ex-marido- Diz em que
quarto ele está porque eu quero vê-lo.
-Bem,
eu não sou especialista em casos clínicos como o do seu filho, mas eu sei que é
muito raro uma pessoa largar o vício da primeira vez, e ainda por cima
voluntariamente. Um dependente químico não entende que precisa de ajuda, que
seu caso é clínico. Pensa que pode parar de usar a droga quando assim desejar,
sem causar dano à família ou a si próprio. Hoje em dia, com o crack, é ainda mais difícil, porque ele
vicia já na primeira vez que o usuário experimenta...
-Chega!-
Alice interrompe a médica- Eu não quero ouvir mais nada. A não ser o número do
quarto onde meu filho está.
-Se
eu fosse a senhora, não negaria a condição do Fábio. Isso é prejudicial pra ele
e pra todos que o rodeiam.
-Eu
sei o que eu faço com o meu filho!
-Alice,
por favor!
-Você
acha que, nessa altura dos acontecimentos, eu vou aceitar que alguém me diga
que eu não soube cuidar do meu filho, Caio?
-A
senhora vai me desculpar a indelicadeza, mas pra quem vende droga não importa
de quem ele seja filho, se seu ou do presidente da república! O Fábio precisa
de ajuda porque está doente. E não vai ser virando as costas pro problema que a
senhora vai conseguir a cura do seu filho.
-Desculpe,
Doutora. Eu estou muito nervosa.
-Venham
comigo, eu levo vocês dois até lá.
-A
gente espera vocês aqui, tá bem?- Gabriela avisa à Alice e a Caio.
-Assim
que nós sairmos, autorizamos a entrada de vocês, Gabriela- promete Caio, sendo
conduzido por Joyce até o quarto.
-Será
que ele vai se salvar, Edu?
-Tomara,
Gabriela. Tomara que ele escape dessa. Vamos torcer, que vai dar certo.
A
tarde do dia seguinte é reservada para o velório de Victória. Vinícius fica o
tempo inteiro ao lado do caixão, enquanto Luciano fica junto do filho.
-Vinícius,
senta um pouco.
-Não
quero.
-Desde
que o corpo chegou, você está em pé, meu filho.
-Prefiro
assim. Quero ficar com ela até o último instante.
Lúcia
chega ao velório e, ao encontrar Vinícius chorando sobre o caixão da modelo,
tenta confortá-lo.
-Eu
sinto muito, Vinícius. Imagino o quanto você deva estar sofrendo com essa
perda.
-A
Victória admirava muito você, Lúcia. Você era como se fosse o ídolo dela.
-Mas
você era o grande amor da vida dela. O único, aliás. Ela ia gostar de saber que
você se importa com ela. Que morte estúpida, meu Deus! Tão cheia de vida... –
Lúcia chora bastante, demonstrando falta de ar.
-Você
está bem?- pergunta Luciano.
-Desculpe,
eu estou devastada. A Victória é como se fosse uma filha pra mim...
-Não
é melhor você tomar um copo d’água, Lúcia?
-Pode
deixar, que eu te levo- Luciano é gentil com a fotógrafa.
-Obrigada-
é acompanhada pelo policial.
De
óculos escuros, Bete chega ao velório de Victória e surpreende Vinícius.
-Bete?
-Eu
sei que eu não era próxima da Victória, mas eu sei o quanto ela significava pra
você, Vinny. Vim te dar o meu apoio.
-Por
que você veio pra cá?
-Ah,
meu querido... – Bete abraça o modelo e fala em seu ouvido- Eu sei o quanto dói
a gente se separar de quem a gente ama. Por isso, eu quis dividir essa sensação
com você.
-Do
que você tá falando? A Victória morreu depois de reagir a um assalto, já o
Diego...
-Também
morreu como a Victória. Por obra do destino. Ou obra minha.
-Você
tá dizendo que...
-Shhh...
Fala bem baixinho comigo, tá? A Victória te amou tanto que quis dividir todos
os segredos da vida dela com você. Até a causa da morte você sabe. Fui eu que mandei
apagar a tua Victória.
Nenhum comentário:
Postar um comentário