-Lúcia,
você me pegou de surpresa. Eu não tava esperando por uma oportunidade com essa,
e ainda mais fora do Brasil.
-Sei
que a ética me obriga a te informar sobre as decisões que te envolvem,
Victória, mas é que eu não pensei num rosto que representasse melhor a Casual
fora do Brasil do que o seu. Mas e então? O que é que você me diz?
-Eu...
Eu posso pensar? Me dá um tempo pra pensar, por favor.
-Por
que você precisa de tempo?
-Eu
tenho que pedir a opinião de uma pessoa.
-Do
seu namorado, o Vinícius.
-Ele
não é mais meu namorado.
-Mais
um motivo pra você não ponderar. Se ainda fosse pra terminar os estudos, eu até
entenderia sua possível recusa, mas pelo Vinícius?
-Mesmo
não tendo mais nada com ele, eu preciso contar sobre isso, entende?
-Sinceramente,
nem um pouco.
-Vinícius
é muito importante na minha vida. Por favor, deixa eu falar com ele.
-Você
é dona da sua vida, Victória. Se dependesse de mim, eu te colocava no avião com
destino à Alemanha agora- as duas riem- Mas tudo bem. Você nunca me
decepcionou, portanto, eu vou te dar esse voto de confiança. Só não demora
muito pra me dar uma resposta, tá?
-Ainda
não tô acreditando, Lúcia- Victória abraça a chefe- Parece que eu tô sonhando.
-Pensa,
meu anjo. Pensa com carinho. Eu confio em você e sei que vai tomar a decisão
correta.
Alice
vem da farmácia onde comprou um anti-inflamatório para o filho, e na mesma rua,
Luciano está numa banca de jornal. De longe, ele avista um menor de idade,
bastante suspeito, seguindo a mãe de Fábio de perto, sem que ela percebesse.
Nas costas da ex-esposa de Fábio é colocada uma arma, quando o garoto anuncia o
assalto.
-Fica
quietinha aí, dona.
-Não
faz nada comigo, por favor- Alice sente o bandido posicionar lentamente o
revólver contra o seu ventre, ficando agora ao seu lado.
-Pode
ficar calma, que eu não vou fazer, não, viu? Só tem que colaborar comigo.
Luciano
puxa bruscamente o braço armado do garoto, que cai para trás, deixando o
revólver na mão do policial e assustando Alice ainda mais.
-Não
vai fazer nada mesmo, moleque.
-O
que é? Vai atirar em mim? Atira, então!- provoca o bandido, ao ver o oficial
com a sua arma.
-Pensa
que eu não sei que essa aqui é de brinquedo, não? Com ela, eu não posso fazer
nada, mas pode ter certeza de que... – puxa do bolso uma arma verdadeira- Esse
daqui funciona.
-Tá
me tirando, tio? Abaixa essa arma!
-Não
faz nada com ele, por favor- pede Alice.
-Não
vai prestar queixa contra ele, não?
-Eu
estou bem, não precisa. Guarda esse revólver, por favor.
-Olha
aqui- Luciano fala com o menor- Só porque ela pediu. Mas eu marquei tua cara,
rapaz. Da próxima vez que eu te vir rondando essas bandas... Ou melhor, não vai
ter próxima vez. Se manda daqui, vai!- a ordem é obedecida e o garoto sai
correndo- Tudo bem com a senhora?
-Tudo
bem. Graças a Deus, e o ao senhor também. Obrigada por ter me salvado.
-É
o meu trabalho, senhora. Pelo menos eu sei que a senhora está bem.
-Mesmo
assim, muito obrigada- Alice deixa a rua, ainda um pouco assustada.
Victória
sai do trabalho e vai para a casa de Vinícius. Antes, telefona para o local pra
ter certeza de que seu ex está lá, mas nem mesmo Luciano atende à ligação. De
qualquer maneira, ela queria ir pessoalmente contar a proposta que a Netnetz
lhe fez através de Lúcia.
Caminhando
pela calçada da praia naquela tarde, a modelo da Casual encontra um par de
sapatos da cor bege, o mesmo com o qual havia presenteado Vinícius em seu último
aniversário. Achando que ele está por perto, Victória desce até a areia e
avista o viciado em drogas deitado perto das ondas, com um cigarro na boca e
olhando para o alto. Aproxima-se do amado, extremamente magoada.
-Eu
não acredito que eu tô vendo isso de novo...
-Victória?
Tá fazendo o quê aqui?
-Esse
é o caminho do trabalho pra casa, esqueceu?
-Só
se for da Casual pra minha casa.
-Pois
é. Mas eu precisava ir até lá de todo jeito. Precisava conversar contigo.
-“Precisava”?
Não precisa mais?
-Até
que sim, sabia? O problema é que não adianta. Aconteceu uma coisa tão bacana na
minha vida hoje e eu queria dividir com você. Queria saber o que você acha, mas
não vai mudar em nada a situação da gente.
-O
que foi? Por acaso, você tá precisando de ajuda? Fala o que é, quem sabe eu
desenrolo?
-Eu
só queria que você voltasse a fazer parte da minha vida, Vinícius. Mas aí já é
pedir demais.
-Você
não saiu do trabalho e veio me procurar até me encontrar aqui só pra dizer
isso, né? Conta, Victória. Qual é o problema?
-Deleta,
Vinícius. Não vale a pena pra você. Aliás, nada que seja relacionado a mim.
-Você
acha mesmo que eu não te amo, né? Que eu não sofro por estar longe de você?
-Agora
não adianta saber se você me ama ou não. Me faria muito mais feliz se eu
soubesse que você se ama, e que vai lutar pra viver. Cada vez mais eu vejo o
contrário. Faz o seguinte: esquece que eu estive aqui, OK?- a modelo abandona a
areia da praia e volta pra casa, desolada.
-Victória!
Victória, espera aí, vamos conversar! Victória!- grita inutilmente.
Nonato
deixa o seu carro no estacionamento do hospital para um plantão e fica atônito
ao ver Fábio aproximando-se apressadamente naquela noite.
-Fábio?
-Tudo
bem, Doutor?
-Eu
não esperava que você voltasse aqui. Pensei que tinha falado pra voltar depois
de uma semana, pra que eu tirasse seus pontos.
-O
assunto que me fez vir até aqui é muito mais grave do que o acidente.
Inclusive, tem muito a ver com ele.
-Desculpa,
mas eu não entendi bem.
-Eu
vou explicar. Eu vim aqui, Doutor, pra fazer uma proposta pro senhor.
-Proposta?
Do que você tá falando?
-Eu
lembro muito bem quando o senhor disse que minha namorada tinha sofrido um
aborto por causa da batida...
-Por
favor, eu não quero tocar nesse assunto... É... É doloroso demais, tanto pra
você quanto pra ela.
-Mas
eu preciso. E só o senhor pode me ajudar.
-Eu
já disse tudo o que eu tinha pra falar sobre este caso.
-Não
quero falar mais. Tá na hora de agir.
-Afinal,
aonde você chegar com esse papo?
-Quanto
é que o senhor quer pra me entregar o exame que prova que a Gabriela tava
grávida antes do acidente?
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