04/06/2017

VIDA LOUCA/ CAPÍTULO 1: LEVAVA UMA VIDA SOSSEGADA



-Pra quê você quis me encontrar aqui, nesse lugar?
-Você quem quis me ver, Vinícius. Achei que era melhor a gente vir até aqui.
-Que é isso, Bete? Medo da polícia?
-Nem da polícia, nem de ninguém. Olha só, se é pra falar da tua dívida comigo, esquece que eu não vou...
-Eu tenho o que você quer. Quer dizer, eu acho que posso te dar.
-Então, você conseguiu a grana que estava me devendo?
-O que eu tenho pra te fazer é uma troca. Com mais vantagem pra você do que pra mim.
-Melhor você parar de blefar comigo, Vinícius. O que eu quero de você são os dez mil reais que você me deve, mais nada.
-Tem uma coisa que te importa bem mais do que isso, Bete.
-Posso saber o quê?
-Acabar com o Fábio, de uma vez por todas.
-O que é que você tem a ver com o Fábio?
-Eu sei por que você odeia o Fábio, por que quer destruir a vida do cara.
-Sabe do quê, Vinícius?
-De tudo. Acabei ficando amigo do cara, ele me contou tudo da vida dele depois que a gente ficou próximo. Uma amizade que você mesma ajudou a começar. O Fábio já sabe que você não deu ponto sem nó, Bete. Sabe que você odeia a mãe dele, e que por isso manipulou o Fábio contra a Gabriela, que me usou pra que ele se drogasse como a gente...
-“A gente”? Aceita uma coisa, Vinícius: o controle da situação sempre foi meu. Não me coloca na mesma laia que você e o Fábio! O que você quer, afinal?
-Uma troca razoável, Bete: você perdoa a minha dívida e eu te conto como destruir o Fábio.
-Pensando bem... – Bete tira uma arma da calça e aponta para Vinícius- Melhor fazer uma mudança de planos.
-Que é isso? Abaixa essa arma, Bete!
-Pensando o quê, seu imbecil? Que eu sou idiota, igual a você?
-Bete, abaixa a arma!
-Implorando pela vida, que lindo... Mas não me convence de jeito nenhum!
-Larga esse revólver, Bete, eu tô te pedindo!
-Que revólver? Ficou maluco? Não tem arma nenhuma aqui. Assim como não tem nenhuma confissão minha. Quer me incriminar, cretino? Aposto que deve ter um gravador escondido em você, pronto pra qualquer escorregada que eu der, não é?
-Eu já sei tudo sobre você, Bete; todo mundo sabe agora, inclusive o Fábio.
-Ótimo. Não preciso me esconder mais de ninguém, vai ser um jogo limpo a partir de agora. Vou começar fazendo um favor ao mundo e me livrando de um verme: você. Adeus, Vinícius...
A vilã vira de costas e atira contra a parede, deixando Vinícius desesperado.
-Fábio!
-Aparece, desgraçado! Aparece na minha frente!
Com medo, o adolescente deixa de se esconder e fica frente a frente com Bete. Vinícius teme pela vida do jovem.
-Os dois juntos, e ainda por cima pra armar contra mim? Essa é nova!
-Bete, não faz essa besteira. Abaixa o revólver. Teu problema é comigo, não é com o Vinícius.
-Esse traíra pensou que ia me passar a perna, mas se ferrou ainda mais comigo. Eu não vou me esquecer disso, e sabe por quê, Fábio? Porque ninguém que me enfrenta ficou vivo pra contar a história.
-Tá falando de quem exatamente? Do Diego, que você matou?
-Não toca no nome dele!- a antagonista grita para o adolescente.
-E a Victória? Hein?- Vinícius provoca a moça- O que ela te fez pra acabar do mesmo jeito que o Diego, assassina?
-Não fui eu que matei a Victória, Vinícius: foi você quem matou. Quem apertou o gatilho foi você.
-Desgraçada!- Vinícius tenta agredir Bete, mas é contido por Fábio.
-Não chega perto de mim...
-Você não vai atirar na gente.
-Em você, principalmente!
-Ainda não. Não sem antes ouvir o quanto eu tenho nojo de você! Eu não tenho culpa do que te aconteceu quando você era criança!
-Pode não ter, mas vai pagar do mesmo jeito! A não ser que você ajoelhe e peça pra te deixar vivo. Pede, Fábio.
-Quer que eu me humilhe pra você, é isso?
-Não faz isso, Fábio!
-Ah, ele vai fazer! Pode ficar certo que ele vai fazer, se quiser salvar a sua vida e a dele. E então, Fábio? Vai se humilhar ou assinar a sentença de morte, sua e do Vinícius?

Seis meses antes...

A turma do terceiro ano do ensino médio está à espera do professor de literatura, atrasado há cinco minutos. Ao lado dos amigos que sempre a acompanham, Bete tem a certeza de que o docente não aparecerá naquela segunda-feira.
-E pensar que tem aula até doze e meia- crava Diego, o namorado da jovem, prestes a retirar algo de um dos bolsos da calça.
-Pelo menos as duas primeiras com Everton não.
-Pensou alto demais, Bete. Ele chegou...
Bete vira e encontra o professor entrando na sala e desejando “bom dia” aos adolescentes. O casal entra a passos lentos, até mesmo ignorando a ameaça de Everton de fechar a porta com eles largados no corredor.
-Meninos, hoje é o último dia de apresentações do seminário, e segundo o meu cronograma, o grupo formado por Diego, Elizabete e Vinícius tinha que se apresentar hoje, já que não conseguiu apresentar ao público o enredo do livro que eu indiquei na semana passada. E então? Trouxeram o trabalho sobre “Predadores da inocência”?
-Foi mal, professor- Diego tenta se justificar- Mas era muito difícil de encontrar informações desse livro que o senhor passou. Nem na biblioteca a gente achou, e olha que a gente já foi a umas três!
-Engraçado você dizer isso, Diego... Prova por A mais B que vocês não se esforçaram nem pra me dar uma desculpa decente. O livro que eu passei pro grupo de vocês foi “Dom Casmurro”, de Machado de Assis- a turma começa a rir de Bete e Diego- E esse daí eu sei o quanto é fácil de encontrar, mais do que “Predadores da inocência”. Não vejo outra saída a não ser atribuir zero pro grupo, já que nem trabalho escrito vocês trouxeram. Aliás, cadê Vinícius? Faltou de novo?
-Pois é, professor- Bete usa um tom debochado- Não veio pra aula de novo, acredita? E logo hoje, no dia do nosso grupo.
-Vou até a coordenação contar o que está acontecendo. Tudo bem que ele é modelo, mas já faz um mês que não vem pra minha aula, já tinha faltado à prova... Assim não dá... Bom, parece que eu vou ter que dar assunto novo, já que o outro grupo não apareceu.
-Desculpa o atraso, Professor- Fábio entra na sala, acompanhado da namorada, Gabriela, e do irmão desta, Eduardo.
-Meu melhor aluno chegou.
-Pronto. Começou a “rasgação” de seda... – Bete reclama, em voz baixa.
-Já devia ter se acostumado, toda apresentação do Fábio ele fala isso- pontua Diego.
-Ele e todos os professores.
-Não vou nem perguntar se leram o livro de vocês, porque é óbvio que leram. Por favor... – Everton sinaliza para que o trio vá ao quadro negro e faça a explanação.
-Bom, o nosso grupo trouxe uma obra da década de setenta chamada “O estudante”, escrita por Adelaide Carraro- Gabriela inicia a apresentação.
-O livro fala a respeito de Renato, um adolescente que tem um bom comportamento e, aos poucos, começa a se envolver com drogas- Eduardo passa a descrever detalhes da sinopse.

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