-Pra
quê você quis me encontrar aqui, nesse lugar?
-Você
quem quis me ver, Vinícius. Achei que era melhor a gente vir até aqui.
-Que
é isso, Bete? Medo da polícia?
-Nem
da polícia, nem de ninguém. Olha só, se é pra falar da tua dívida comigo,
esquece que eu não vou...
-Eu
tenho o que você quer. Quer dizer, eu acho que posso te dar.
-Então,
você conseguiu a grana que estava me devendo?
-O
que eu tenho pra te fazer é uma troca. Com mais vantagem pra você do que pra
mim.
-Melhor
você parar de blefar comigo, Vinícius. O que eu quero de você são os dez mil
reais que você me deve, mais nada.
-Tem
uma coisa que te importa bem mais do que isso, Bete.
-Posso
saber o quê?
-Acabar
com o Fábio, de uma vez por todas.
-O
que é que você tem a ver com o Fábio?
-Eu
sei por que você odeia o Fábio, por que quer destruir a vida do cara.
-Sabe
do quê, Vinícius?
-De
tudo. Acabei ficando amigo do cara, ele me contou tudo da vida dele depois que
a gente ficou próximo. Uma amizade que você mesma ajudou a começar. O Fábio já
sabe que você não deu ponto sem nó, Bete. Sabe que você odeia a mãe dele, e que
por isso manipulou o Fábio contra a Gabriela, que me usou pra que ele se
drogasse como a gente...
-“A
gente”? Aceita uma coisa, Vinícius: o controle da situação sempre foi meu. Não
me coloca na mesma laia que você e o Fábio! O que você quer, afinal?
-Uma
troca razoável, Bete: você perdoa a minha dívida e eu te conto como destruir o
Fábio.
-Pensando
bem... – Bete tira uma arma da calça e aponta para Vinícius- Melhor fazer uma
mudança de planos.
-Que
é isso? Abaixa essa arma, Bete!
-Pensando
o quê, seu imbecil? Que eu sou idiota, igual a você?
-Bete,
abaixa a arma!
-Implorando
pela vida, que lindo... Mas não me convence de jeito nenhum!
-Larga
esse revólver, Bete, eu tô te pedindo!
-Que
revólver? Ficou maluco? Não tem arma nenhuma aqui. Assim como não tem nenhuma
confissão minha. Quer me incriminar, cretino? Aposto que deve ter um gravador
escondido em você, pronto pra qualquer escorregada que eu der, não é?
-Eu
já sei tudo sobre você, Bete; todo mundo sabe agora, inclusive o Fábio.
-Ótimo.
Não preciso me esconder mais de ninguém, vai ser um jogo limpo a partir de
agora. Vou começar fazendo um favor ao mundo e me livrando de um verme: você.
Adeus, Vinícius...
A
vilã vira de costas e atira contra a parede, deixando Vinícius desesperado.
-Fábio!
-Aparece,
desgraçado! Aparece na minha frente!
Com
medo, o adolescente deixa de se esconder e fica frente a frente com Bete.
Vinícius teme pela vida do jovem.
-Os
dois juntos, e ainda por cima pra armar contra mim? Essa é nova!
-Bete,
não faz essa besteira. Abaixa o revólver. Teu problema é comigo, não é com o
Vinícius.
-Esse
traíra pensou que ia me passar a perna, mas se ferrou ainda mais comigo. Eu não
vou me esquecer disso, e sabe por quê, Fábio? Porque ninguém que me enfrenta
ficou vivo pra contar a história.
-Tá
falando de quem exatamente? Do Diego, que você matou?
-Não
toca no nome dele!- a antagonista grita para o adolescente.
-E
a Victória? Hein?- Vinícius provoca a moça- O que ela te fez pra acabar do
mesmo jeito que o Diego, assassina?
-Não
fui eu que matei a Victória, Vinícius: foi você quem matou. Quem apertou o
gatilho foi você.
-Desgraçada!-
Vinícius tenta agredir Bete, mas é contido por Fábio.
-Não
chega perto de mim...
-Você
não vai atirar na gente.
-Em
você, principalmente!
-Ainda
não. Não sem antes ouvir o quanto eu tenho nojo de você! Eu não tenho culpa do
que te aconteceu quando você era criança!
-Pode
não ter, mas vai pagar do mesmo jeito! A não ser que você ajoelhe e peça pra te
deixar vivo. Pede, Fábio.
-Quer
que eu me humilhe pra você, é isso?
-Não
faz isso, Fábio!
-Ah,
ele vai fazer! Pode ficar certo que ele vai fazer, se quiser salvar a sua vida
e a dele. E então, Fábio? Vai se humilhar ou assinar a sentença de morte, sua e
do Vinícius?
Seis meses antes...
A
turma do terceiro ano do ensino médio está à espera do professor de literatura,
atrasado há cinco minutos. Ao lado dos amigos que sempre a acompanham, Bete tem
a certeza de que o docente não aparecerá naquela segunda-feira.
-E
pensar que tem aula até doze e meia- crava Diego, o namorado da jovem, prestes
a retirar algo de um dos bolsos da calça.
-Pelo
menos as duas primeiras com Everton não.
-Pensou
alto demais, Bete. Ele chegou...
Bete
vira e encontra o professor entrando na sala e desejando “bom dia” aos
adolescentes. O casal entra a passos lentos, até mesmo ignorando a ameaça de
Everton de fechar a porta com eles largados no corredor.
-Meninos,
hoje é o último dia de apresentações do seminário, e segundo o meu cronograma,
o grupo formado por Diego, Elizabete e Vinícius tinha que se apresentar hoje,
já que não conseguiu apresentar ao público o enredo do livro que eu indiquei na
semana passada. E então? Trouxeram o trabalho sobre “Predadores da inocência”?
-Foi
mal, professor- Diego tenta se justificar- Mas era muito difícil de encontrar
informações desse livro que o senhor passou. Nem na biblioteca a gente achou, e
olha que a gente já foi a umas três!
-Engraçado
você dizer isso, Diego... Prova por A mais B que vocês não se esforçaram nem
pra me dar uma desculpa decente. O livro que eu passei pro grupo de vocês foi
“Dom Casmurro”, de Machado de Assis- a turma começa a rir de Bete e Diego- E
esse daí eu sei o quanto é fácil de encontrar, mais do que “Predadores da
inocência”. Não vejo outra saída a não ser atribuir zero pro grupo, já que nem
trabalho escrito vocês trouxeram. Aliás, cadê Vinícius? Faltou de novo?
-Pois
é, professor- Bete usa um tom debochado- Não veio pra aula de novo, acredita? E
logo hoje, no dia do nosso grupo.
-Vou
até a coordenação contar o que está acontecendo. Tudo bem que ele é modelo, mas
já faz um mês que não vem pra minha aula, já tinha faltado à prova... Assim não
dá... Bom, parece que eu vou ter que dar assunto novo, já que o outro grupo não
apareceu.
-Desculpa
o atraso, Professor- Fábio entra na sala, acompanhado da namorada, Gabriela, e
do irmão desta, Eduardo.
-Meu
melhor aluno chegou.
-Pronto.
Começou a “rasgação” de seda... – Bete reclama, em voz baixa.
-Já
devia ter se acostumado, toda apresentação do Fábio ele fala isso- pontua
Diego.
-Ele
e todos os professores.
-Não
vou nem perguntar se leram o livro de vocês, porque é óbvio que leram. Por
favor... – Everton sinaliza para que o trio vá ao quadro negro e faça a
explanação.
-Bom,
o nosso grupo trouxe uma obra da década de setenta chamada “O estudante”,
escrita por Adelaide Carraro- Gabriela inicia a apresentação.
-O
livro fala a respeito de Renato, um adolescente que tem um bom comportamento e,
aos poucos, começa a se envolver com drogas- Eduardo passa a descrever detalhes
da sinopse.
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