Victória
está feliz pela oportunidade, mas fica gélida ao perceber que Vinícius
compareceu à confraternização idealizada por Lúcia. Os representantes da
empresa cumprimentam a modelo, enquanto o filho de Luciano mal consegue esconder
sua insatisfação. Um dos donos da empresa, acompanhado de uma tradutora, faz um
discurso enaltecendo a felicidade da pareceria que fechou com a Casual Models.
Após o discurso, Lúcia anuncia que a festa está liberada para os convidados.
A
música começa e os modelos tentam cumprimentar Victória, que passa sem olhar
para as pessoas, procurando apressadamente por Vinícius, que decide deixar a
festa.
-Vinícius,
espera! Espera, por favor!
-Era
isso que você queria me falar? Não se preocupe, agora eu já sei... Todo mundo
sabe.
-É,
era isso mesmo que eu queria contar. Eu queria que você fosse o primeiro a
saber.
-Claro.
Pra esfregar sua felicidade na minha cara! Muito obrigado, Victória!
-Queria
te falar porque você é importante pra mim.
-Dá
pra notar. Tanto sou que você está me deixando.
-Se
naquele dia você tivesse me escutado e me pedido pra ficar, eu não pensaria
duas vezes em recusar esse convite.
-Fique
fria, não vou empatar a sua vida. A gente não tem mais nada, lembra?
-A
questão é que eu ainda sou apaixonada por você. Vai agir desse jeito, como se
eu não significasse nada?
-Eu
é que não quero significar nada pra você. Segue em frente e, por favor, esquece
que eu existo.
-Não
me pede isso...
-Você
tem que tocar a sua vida. O que você pensa que eu posso te oferecer, sendo um
nada, um zero à esquerda?
-Porque
você quer. Se dependesse de mim e do seu pai, esse inferno em que você vive já
tinha acabado.
-Sem
lição de moral, tá? Eu não quero que você fique comigo por pena.
-Eu
te amo, imbecil! Sou capaz de enfrentar o mundo pra ficar contigo, será que
você não enxerga isso?
-Mas
eu não sou capaz. Não quero me desfazer do que vocês querem que eu me livre.
Acabou, Victória. Vai ser feliz- Vinícius deixa a agência e Victória chora
disfarçadamente. Os outros modelos vêm atrás da moça e a cumprimentam, o que a
faz distribuir sorrisos tímidos.
Bete
volta para o sobrado no qual mora e, antes de subir às escadas, é puxada por
Nonato, à espreita desde a manhã.
-O
que é isso? Endoidou?
-Tenho
que falar com você. Te esperei o dia todo.
-Esperou
porque quis, eu não tenho nada pra falar com você. Aliás, o assunto que você
tem comigo é o mesmo que todo mundo tem. Passa amanhã de manhã bem cedo, que eu
tô muito cansada e não vejo a hora de me jogar na cama.
Diego
vem visitar a namorada e encontra o médico conversando com a traficante. Quando
está para anunciar a sua chegada com um aceno, escuta Nonato fazendo a seguinte
pergunta:
-Destruiu
aquela gravação?
-Do
que você tá falando?
-Para
de brincar comigo! Você sabe que é a fita que você gravou onde a gente transou
no consultório!
-Fala
baixo, alguém pode ouvir! Quer que todo mundo saiba? Não vai ter vantagem
nenhuma pra você!
-Acabou
ou não com a filmagem que você fez?
-Vem
cá, por que essa dúvida agora? Eu já te falei que só ia usar aquilo se você não
me ajudasse a mentir pro Fábio.
-Foi
por causa dele que eu vim.
-Qual
o problema? O Fábio acreditou mesmo que Gabriela tinha perdido um bebê por
causa do acidente, deve estar morrendo de culpa até agora.
-Acreditou,
sim, mas não pelos motivos que você pensa.
-O
que quer dizer?
-Ele
acha que a namorada traiu ele com outro cara. Por isso que está com raiva,
porque o filho não poderia ser dele.
-Sério
isso? Então saiu melhor do que eu esperava. Bendita hora que eu bolei esse
plano!
-Qual
é a tua, hein? Por que você quer tanto desestabilizar o Fábio?
-E
desde quando isso te interessa?
-Ele
veio me procurar.
-Pra
quê? O que ele queria com você?
-Que
eu vendesse o exame que comprova que a namorada teve mesmo um aborto
espontâneo.
-Caramba,
ele deve estar desesperado mesmo, hein? No seu lugar, sabe o que eu ia fazer?
Forjar um. Você se livra do chato de galocha e ainda arranca uma grana dele.
-Você
pirou? Eu não posso fazer isso, Bete! Não posso entrar no hospital e mentir
sobre o diagnóstico de uma paciente!
-Querido,
o impossível meio que não existe pra você, né? Prova disso é que você transou
no horário de serviço dentro do seu consultório. Tá tudo documentado.
-Me
diz que você apagou a gravação da tua câmera.
-Meu
trunfo? De jeito nenhum!
-Eu
não apareço sozinho naquelas imagens. Você também, Bete. O que eu fiz não fiz
sozinho. Também posso prejudicar você contando pro seu namorado que você fez
sexo comigo só pra me chantagear.
-Só
que você tem muito mais a perder. Aquela gravação cai e você não arruma emprego
nem em clínica clandestina de aborto.
-Destrói
aquela porcaria, eu tô te pedindo! Já fiz tudo que você queria, Bete!
-Até
eu conseguir acabar com o Fábio, eu não vou acabar com aquela filmagem. Quem
sabe eu não vou precisar de você depois? Além disso, o Diego confia em mim de
olhos fechados. Ele sabe que eu não ia trocar um homem como ele por um cara com
quem eu transei uma vez, ainda mais pra conseguir o que eu queria. Se manda
daqui, Nonato.
-Eu
só espero que aquele garoto não venha me procurar de novo. Senão, eu vou contar
pro Diego.
-Conta
nada. Não vai querer correr o risco de alertar meu namorado e fazer com que ele
procure esse vídeo pra te ferrar. Dá o fora daqui, Nonato, eu já falei.
-Você
me paga, Bete!
-Tô
morrendo de medo de você- Bete entra no sobrado e Nonato deixa o prédio velho
sem ver Diego à espreita, possesso com o que ouviu.
-Pode
até ser que você não acabe com essa gravação, Bete. Mas eu acabo com você e
esse filho da mãe. Pode escrever- Diego promete, em tom de ameaça.
Fábio
está sozinho em um quiosque da praia e, vendo que a noite estava dublada, levou
um guarda-chuva para sua proteção. Toma uma água de coco quando começa a garoa.
O filho de Caio e Alice levanta da cadeira para voltar à casa, quando é
advertido pelo vendedor.
-Melhor
esperar, rapaz. Agora é que vai arrear mesmo e demora pra estiar de novo.
-Tem
nada, não. Minha casa é perto daqui. Se muito for, é só uns dez minutos- paga a
água de coco- Valeu, amigo.
-Até
a próxima, Fábio.
O
adolescente arma seu guarda-chuva e deixa o quiosque, receoso de voltar pra
casa por conta de alguma discussão que seus pais estejam tendo no momento.
-Melhor
eu dar mais um tempo e ficar lá na casa da Gabriela. Se bem que... Como é que
eu vou encarar ela de novo?- reflete, até ver Vinícius vindo em sua direção,
mas sem vê-lo, desolado com a discussão tida recentemente com Victória- Ei! Ei,
onde é que você vai?
-Me
deixa, cara; me deixa!
-Espera
aí, Vinícius. O que é que você tem?
-Eu
só quero ir pra casa...
-Nessa
chuva? Deixa que eu te levo...
-Pode
deixar que eu me viro sozinho.
-Nem
pensar. Tá se vendo que você não tá bem. Vem aqui- Fábio oferece o guarda-chuva
para dividir com o colega de classe e o leva para a sua casa, onde jamais havia
ido. Vinícius tira o molho de chaves do bolso mas, ansioso, não consegue abrir
a porta- Não tem ninguém em casa, não?
-Meu
pai deve estar trabalhando.
-A
essa hora? Ele é o quê? Médico?
-Não.
Trabalha na polícia- destranca a porta. Fábio entra junto e desarma o
utensílio, vendo o rapaz correr para o quarto.
-Troca
de roupa logo, pra não pegar uma gripe- o adolescente aproxima-se do sofá e
fica surpreso ao ver Vinícius, ainda molhado, saindo do quarto com um isqueiro
na mão e um cigarro na outra.
-Até
que enfim- coloca o cigarro na boca.
-O
quê que é isso?
-Parece
que você não tá conseguindo ligar o nome à pessoa. Já tava me vendo doido.
Fiquei um dia inteiro sem experimentar- Vinícius dá um trago- Agora não preciso
mais ficar sem ele.
-Eu...
Acho melhor eu ir embora...
-Por
que a pressa?
-Vim
te trazer até em casa porque fiquei preocupado contigo. Nós já chegamos,
pronto. Vou voltar pra minha casa.
-Não
foi impressão sua, não. Tava numa bad
terrível. Mas sofro por quem não merece. Depois passa.
-Com
isso aí? Você acha mesmo que passa com isso?
-Pelo
menos, a gente esquece.
-“A
gente” vírgula.
-Qual
é? Bancando o puritano agora?
-Só
usei isso uma vez. Pra nunca mais.
-Eu
dizia a mesma coisa, e olha como eu tô agora.
-Porque
quer. Larga isso, Vinícius.
-Pra
quê? Não vai resolver minha vida, nem trazer de volta o que eu perdi. Ou
melhor, quem eu perdi. Sabe o que é ser impotente?
-Tô
vivendo isso agora.
-Por
causa da separação dos teus pais?
-Por
causa de tudo.
-E
quando você diz “tudo”, quer dizer o quê?
-Tudo
que eu preciso deletar da minha cabeça. Mas eu não consigo.
-Então,
vê se não me julga- entrega o cigarro a Fábio.
-Não,
eu não quero.
-Não
é pra mim que você tem que dizer, é pra você mesmo. Aposto que naquele dia você
deve ter ficado com aquele que eu te dei. Foi bom, não foi? Teve vontade de
repetir, mas não teve coragem de dizer. Relaxa aí. Não tem ninguém além da
gente aqui. Pega. Ninguém vai ficar sabendo- Vinícius fica com a mão estendida
esperando que Fábio segure o cigarro que ele oferece.
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