15/06/2017

VIDA LOUCA/ CAPÍTULO 12: E NÃO PENSE MAIS EM DESISTIR

-Vocês estão dispostos a seguir adiante com a ideia do divórcio?
-Sem dúvida alguma- Alice enfatiza.
-Que mal lhes pergunte, mas já chegaram a conversar com o Fábio sobre a atual conjuntura de vocês?
-Doutor, se a sua preocupação é se o nosso filho sabe da nossa separação, ele já está ciente.
-E o que pensa ele a respeito, Caio?
-Obviamente não reagiu bem. Mas é necessário esse rompimento meu com a Alice.
-Por quê?
-Dr. Lewgoy, eu não quero entrar em detalhes sobre minha vida particular.
-Mas eu sim. Não tenho problema nenhum em falar.
-Alice, vamos evitar uma cena constrangedora, por favor.
-Como você quer que seu advogado ajude no processo de divórcio e não dá os pormenores? Bem, Doutor, meu marido descobriu que a vida dele foi uma completa mentira. Isso inclui o nosso casamento.
-Desculpe, Alice, mas eu continuo sem entender.
-O Caio casou comigo apaixonado por outra mulher. Um amor que ele não conseguiu realizar.
-Olha só, eu chamei o Dr. Lewgoy pra não deixar nem você nem o Fábio desamparados judicialmente. Quero que ele esclareça aqui tudo a que vocês têm direito. Não acho justo você ter sido minha esposa e eu não pensar numa forma de compensar os anos que vivemos juntos.
-Que estranho, Caio! Realmente, é muito estranho você tocar nesse assunto. Quer me compensar, mas por qual razão? Por ter vivido um casamento comigo sem ter me amado?
-Pra quê você quer que eu responda? Não é óbvio que eu não te amo?
Fábio sobe para o quarto, fechando a porta com a chave, e procura deixá-la cerrada enquanto a reunião de seus pais com o Dr. Lewgoy não acaba.
-Concordo que Fábio e você têm direitos sobre o patrimônio do Caio, Alice. Mas vamos deixar uma coisa bem clara aqui: apesar do filho de vocês não ser uma criança, é o bem comum que há entre vocês. Portanto, o melhor que vocês têm a fazer é refletir sobre essa decisão, priorizando o bem estar do Fábio.
-Ao contrário do que a Alice pensa, eu priorizo o que eu acredito ser melhor pro nosso filho. Por isso mesmo que eu não quero submetê-lo a nenhum tipo de sofrimento por causa de qualquer decisão que eu venha a tomar.
-Não se justifique por minha causa, Caio. Eu não valho tanto a pena assim pra você.
-Nós estamos nos desviando do assunto principal, que é o Fábio- alerta o advogado- Caio, você sabe que ele tem direito a uma pensão alimentícia até os vinte e quatro anos, ou pelo menos quando terminar a universidade.
-Sim, eu sei, mas eu quero que o senhor me esclareça as vantagens que Alice também terá com a nossa separação.
-Pra falar a verdade, nenhuma. Afinal de contas, nenhum casal contrai matrimônio pretendo uma separação- a declaração deixa Caio e Alice constrangidos- Olha, Alice, como você está legalmente casada em comunhão de bens, tem direito à metade do que o Caio adquiriu durante o casamento.
-Quanto a mim, não há por que se preocupar. Dr. Lewgoy.  O meu pai, antes de morrer, fez um testamento em que eu sou praticamente a única herdeira. Metade do que ele tinha ficou em meu nome e a outra parte ficou pro Fábio, que só pode tocar no dinheiro quanto completar vinte e um anos. Até lá, eu administro a fortuna dele e a minha também. O dinheiro que venha do Caio não é o meu objetivo, e sim o divórcio. O quanto antes. Agora sou eu quem faz questão de acabar com esse casamento.
Tanto o advogado quanto o ex-casal ouvem a porta da frente sendo batida fortemente. Da janela do escritório, Caio e Alice veem Fábio andando depressa.
-Aonde é que você vai, filho?- Caio indaga o adolescente dentro da mansão, sem obter resposta.
-Entendem agora quando eu digo que não é fácil pra nenhum filho ver os pais se separando, ainda mais nessa hostilidade toda?- observa Lewgoy.
-Deve ter ido pra casa da namorada. Ela vai colocar a cabeça dele no lugar, vai saber ouvir o Fábio... – acredita Alice.

Vinícius volta à Casual Models, sem estar sob efeito de alucinógenos, e encontra Lúcia chegando à agência.
-Nossa! Faz dias que você não aparece por aqui, hein?
-Queria te pedir desculpa pela mancada que eu dei, Lúcia.
-Hum, sei... Vem até a minha sala- a fotógrafa é seguida pelo modelo- Essa voz toda mansa eu sei bem o que você quer. Trampo, não é?
-É, você me conhece. Sabe que eu não gosto de ficar parado.
-Realmente, eu queria falar contigo, Vinícius.
-Pode falar. O que é pra fazer? Desfile ou ensaio?
-Nem uma coisa nem outra.
-Lúcia, você... Você não tá me colocando pra fora da agência, tá?
-Deveria, não é, Vinícius? Deveria. Mas não. Hoje eu não tinha marcado nada pra você, nem sabia que você viria até aqui.
-Mas então, o que você quer falar comigo?
-Como você me abordou na entrada, vai ser o primeiro a saber. De qualquer forma, eu ia anunciar aos outros modelos.
-Fala o que é, Lúcia, não me deixa mais nervoso.
-Eu preciso que todo o casting da Casual esteja aqui amanhã à noite.
-Ah, é isso?- fica aliviado de não se um anúncio de demissão- Mas o quê que é? Alguma festa?
-Sim, é uma confraternização.
-Tem um motivo em especial?
-Sim, mas é uma surpresa.
-Você anda muito misteriosa, Lúcia...
-O que eu estou é feliz, Vinícius. Amanhã a Casual vai dar um passo importante e eu tenho que anunciar a todos. Espero que você esteja presente e, se possível, sem nenhuma alteração.
-A que horas é pra chegar aqui?
-Às nove. Você vem, não vem?
-Vou ser o primeiro a chegar, prometo.
-Assim eu espero.
-Lúcia, eu queria te fazer uma pergunta.
-Claro, Vinícius. O que você quer saber?
-Eu tive a impressão de que Victória queria falar alguma coisa pra mim da última vez que a gente se viu. Como você é mais próxima dela, pensei que soubesse de alguma coisa.
-Sei, sim. Mas é melhor ela mesma contar. Hoje à noite ela vai estar aqui na Casual, e vocês vão ter a oportunidade de conversar.
-Quanto mistério...
-Garanto que é uma notícia boa. Se você ainda tem algum carinho por ela, eu garanto que vai ficar feliz quando souber do que se trata.

Alice vai às compras num supermercado perto da sua casa e, ao entrar, tenta puxar um carrinho de compras. Emperrado, ele não consegue ser retirado pela mãe de Fábio. Luciano vê a mulher de costas, porém não a reconhece. Diante da dificuldade em retirar o carrinho, ele se disponibiliza a ajudar.
-Com licença- o policial puxa o utensílio e Alice o reconhece como o homem que lhe salvou.
-O senhor?
-Como é que você está?
-Queria mesmo falar com o senhor, mas não sabia onde te encontrar.
-Por favor, me trate por “você”. O que é que você queria falar comigo?
-Preciso te pedir desculpas. Você salvou a minha vida e eu fui muito ríspida quando me aconselhou a denunciar aquele bandido.
-Normal. Você estava tomada pelo choque. Não precisa se desculpar, eu não fiquei com má impressão sua. Só lamento que tenhamos nos conhecido numa situação desagradável como aquela. Nem o seu nome eu soube.
-Prazer, meu nome é Alice. E o seu?
-Luciano- aperta a mão da mulher.
-Eu moro aqui há anos e nunca te vi nesse supermercado.
-Ih, moro lá na Imbiribeira. Mas venho comprando muito aqui ultimamente, porque é mais em conta.
-Entendo.
-E como hoje eu ganhei uma folga do trabalho, pude vir.
-Que bom, Luciano. Bom, eu não vou demorar. Tenho que comprar as coisas pro almoço.
-Muito bom te ver de novo, Alice.
-O mesmo eu digo sobre você. A gente se vê- cumprimenta com um abraço- E obrigada de novo- Alice puxa o carrinho e entra no primeiro corredor que vê, encabulada com o olhar de encanto que o policial lança sobre ela.

Chegou a oportunidade de Vinícius provar o quanto é responsável e comparecer à festa que Lúcia organizou na Casual Models. Um dos modelos aborda o jovem e pergunta.
-Tá sabendo por que é que inventaram essa festa?- pergunta, fumando um cigarro.
-Não faço ideia. A Lúcia tá fazendo um suspense danado.
-Tem até jornalista daquele programa de entrevista, vê só- aponta para a equipe televisiva- E aí, Vinny? Vai querer um?- oferece um cigarro.
-Hoje eu tô limpo, cara. Super de boa.
-Negando cigarro agora? Pode pegar o meu, Bete me vendeu um maço inteiro.
-Não é isso, não. É que eu prometi que ia me comportar na festa. Cada vez mais difícil pra mim arrumar um trabalho aqui na agência. Não quero me complicar ainda mais com a Lúcia.
-Vem cá, e a Vicky? Não veio contigo, não?
-A gente rompeu.
-Mentira... Sério mesmo, velho?
-Pois é, mas relaxa aí. É vida que segue, brother.
No palco armado para a confraternização sobe Lúcia. Vinícius inicia uma salva de palmas para a fotógrafa e dona da agência.
-Uma boa noite a todos os jornalistas, repórteres e modelos da Casual Models. É como muito prazer que eu convoquei o casting e a imprensa pra anunciar uma decisão que visa à expansão do nosso nome. E eu começo declarando que o sucesso da nossa agência vai ultrapassar fronteiras, literalmente falando.
-O que será que ela vai anunciar, hein, Vinny?
-Não sendo corte de pessoal, qualquer coisa vai ser bem-vinda pra mim.
-A Netnetz, uma rede social situada na Alemanha, nos concedeu a honra de escolher um rosto da Casual para estampar todas as campanhas publicitárias do site, no período de um ano. A pessoa escolhida está de mudança para Berlim dentro de alguns dias, representando a beleza brasileira numa das empresas que, embora tenha pouco tempo de serviço, já é considerada uma marca de renome no campo da tecnologia. Com o maior orgulho do mundo, anuncio que Victória Zimmerman é a nova cara da Netnetz.
-Não pode ser... – Vinícius fala entrementes, vendo a moça subir ao palco.

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