30/08/2025

ATRAÍDOS PELO SILÊNCIO | CENAS 16 E 17

 Cena 16 (ruas de Afogados)

(fundo musical original: “O que é” – “é o que é, né, Zé? É o que é! É o que é!”)

Três propagandas da banda Raiz de Vento surgem num outdoor, numa placa e num painel em Led do bairro de Afogados.

• No outdoor da Rua São Miguel (Edifício Nossa Senhora de Belém), aparece a capa do álbum “Canto de tudo que clareia”, com a inscrição “disponível nas plataformas de música”;

• Em uma placa próxima ao prédio, indicando o cruzamento da Rua São Miguel com a Rua Bezerra da Palma, lê-se “Raiz de Vento / O que é”;

• No painel em Led da Estrada dos Remédios (próximo ao Novo Atacarejo), Pedro Lemos aparece traduzindo para a Libras o trecho executado da canção (extraído do videoclipe original).

A transição termina mostrando a antena da TV Leão do Norte.


Cena 17 (corredor da emissora/ estúdio da emissora)

Bel está largando do trabalho, sendo seguida por suas colegas repórteres (à exceção de Márcia), até ser surpreendida pela aparição de Alex.

ALEX: Espera.

BEL: Você aqui?

ALEX: Eu preciso conversar com você.

BEL: É sério? Você falando Língua de Sinais?

ALEX: Aprendi por sua causa. Foram os dois anos mais difíceis da minha vida.

BEL: Porque a Libras é difícil?

ALEX: (olha para cima) Também. O pior foi ficar longe de você.

BEL: (bota as mãos sobre a boca, incrédula) Aprendeu mesmo! Até a expressão facial de nervosismo!

ALEX: Pode ser pressão alta.

BEL: (ri) Mas você veio aqui só pra mostrar a Libras?

ALEX: Não. Também vim pra te perguntar: a gente pode começar de novo?

Num primeiro momento, Bel olha comovida para o rapaz. Mas muda a feição ao dizer:

BEL: Você sabe que isso que você fez é Português Sinalizado, né?

Impaciente, Alex volta à sua língua materna e declara:

ALEX: Me abraça logo, Bel! A única coisa que eu sei é aquilo que Reginaldo Rossi cantava: “eu não presto, mas eu te amo” (faz concomitantemente o sinal de “eu te amo” na Língua de Sinais)!

As jornalistas acompanham apreensivas o desenrolar da situação.

(fundo musical original: “Tanto faz” – “mas o inverno vai passar/ e esse dia vai chegar/ e você vai voltar pra mim/ eu sei, eu sei/ eu sei”)

Rendida, Bel retoma o namoro com o abraço solicitado. Laura, Zélia, Carolina e Vera aplaudem a cena.

(obs.: enquanto a música é executada, as imagens são exibidos em câmera lenta. A câmera perpassa os rostos felizes do casal, e faz alguns giros pelo cenário – mas de maneira que não fique evidente que as atrizes gravaram em dias diferentes de Fernanda e Rafael)

Helena sorri, filma a reconciliação de Alex e Bel e envia o vídeo para Matheus. Ele vê por alguns segundos e coloca o celular sobre a bancada do jornalístico, para depois falar consigo mesmo.

MATHEUS: Sério mesmo que ela ficou com esse cara, que nem bonito é? O amor é cego mesmo, hein?

Márcia simula ser cega e volta ao estúdio do “Jornal Sensorial” usando óculos escuros e chegando perto de Matheus.

MÁRCIA: Ótimo! Se o amor é cego, a solução é tocar subitamente ela puxa o apresentador e beija sua bochecha direita)!

Créditos finais

Dirigido, escrito e interpretado por

ANA PAULA SANTOS

(“Laura”)

ANA TEREZA GUEDES

(“Helena”)

CELIA BISPO

(“Zélia”)

CLAUDIA TIANY

(“Márcia”)

FERNANDA SANTOS

(“Bel”)

HILBER GONÇALVES

(“Natália”)

RAFAEL PATRÍCIO

(“Alex”)

TACIANA KARINE

(“Carolina”)

THIAGO BARROS

(“Matheus”)

THIAGO SALES

(“Pedro”)

e

VERÔNICA ALICE

(“Vera”)

Participações

CAUÃ ARAUJO

(“Dinho”)

e

RAIZ DE VENTO

professores

FABIO HENRIQUE MOTA

LUIZ HENRIQUE COSME

edição

INSHOT

KINE MASTER

efeitos visuais

PAINT

efeitos sonoros

CAPCUT

KINE MASTER

MOISES

XRECORDER LITE

Fontes de pesquisa

DIÁRIO DE PERNAMBUCO

(“Censo: Pernambuco tem a 3ª maior proporção de pessoas com deficiência do Brasil” – Milena Galvão)

DISCOGS

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

(“Direitos e saúde sexual das pessoas com deficiência” – Laís S. Costa e colaboradores)

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SANTA CATARINA

(“O que é capacitismo e como podemos combatê-lo” – Giovana Perine, com colaboração de Sabrina D'Aquino e Liane Dani)

G1 PERNAMBUCO

(“Em Pernambuco, 74,5% das pessoas com deficiência estão fora do mercado de trabalho” – Nathalia Dielú)

GOVERNO FEDERAL

(“Confira o panorama dos surdos na educação brasileira” – Assessoria de Comunicação Social do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira)

JORNAL DO COMMERCIO

(“Pernambuco tem 10,3% da sua população com deficiência e o desafio de prover acessibilidade e inclusão” – Adriana Guarda)

RÁDIO NACIONAL

(“Brasil tem mais de 10 milhões de pessoas surdas, segundo o IBGE” – Sayonara Moreno)

TERRA

(“3 tipos de surdez e suas formas de tratamento” – Cidiana Pellegrin)

YOUTUBE MUSIC

músicas adicionais

“SONHOS”

Compositor e intérprete: Peninha

“SÓ VALE COM VOCÊ”

Compositor: Lupa Mabuze

Intérprete: Luciana Mello

“LEMBRANÇAS”

Compositores: Erasmo Carlos e Roberto Carlos

Intérprete: Kátia

“CONTRA O TEMPO”

Compositor: Vander Lee

Intérprete: Rita Benneditto

“ESCALADA”

Compositores: Carlos Sergio e Jorge Silva

Intérprete: Augusto César

“CHEIA DE MANIAS"

Compositor: Luiz Carlos

Intérprete: Raça Negra

“NA PAZ DO SEU SORRISO”

Compositores: Erasmo Carlos e Roberto Carlos

Intérprete: Roberto Carlos

“MEU COFRINHO DE AMOR”

Compositores: Elias Soares e João Martins

Intérprete: Elino Julião

“MEU HOMEM (NOBODY DOES IT BETTER)”

Compositores: Carole Bayer Sager e Marvin Hamlisch

Versionista e intérprete: Fafá de Belém

“MR. FUNKY SAMBA”

Compositor: Jamil Joanes

Intérprete: Leo Gandelman

“O QUE É”

Compositor: Franklin Silva

Intérprete: Raiz de Vento

“TANTO FAZ”

Compositores: Anayle Lima e Michael Sullivan

Intérprete: Raimundo Fagner

Agradecimentos

BRUNA PIRES

CAUÃ ARAUJO

GERALDA REIS

LUIZ HENRIQUE COSME

PEDRO LEMOS

Esta é uma obra independente de ficção, produzida para a Semana Estadual da Pessoa com Deficiência, baseada na livre criação artística e sem compromisso com a realidade.

© 2025 Secretaria de Educação e Esportes / Gerência Regional de Educação Recife – Sul / Escola de Referência em Ensino Médio Amaury de Medeiros


29/08/2025

ATRAÍDOS PELO SILÊNCIO | CENAS 13, 14 E 15

 Cena 13 (estúdio da emissora – painel da pomba)

MATHEUS: Você sabia que as pessoas com deficiência têm o direito de trabalhar na legislação brasileira?

A tela é dividida ao meio mais uma vez.

MATHEUS: Desde quando, Zélia? Conta pra gente.

ZÉLIA: No ano de 1991, foi estabelecido que até 5% dos funcionários das empresas brasileiras sejam pessoas com deficiência.

MATHEUS: Essa lei é respeitada na prática, Zélia?

ZÉLIA: Não, Matheus. Os dados são mais preocupantes: 71% das pessoas com deficiência que estão aptas a trabalhar estão fora do mercado.

MATHEUS: E se a deficiência for cognitiva?

ZÉLIA: A porcentagem sobe para 80%!

MATHEUS: Quais são as ações do Governo para esse público?

ZÉLIA: Em 2023, o Ministério dos Direitos Humanos criou o plano Novo Viver Sem Limites. O objetivo é combater a violência e a discriminação contra estas pessoas, além de promover a inclusão e a acessibilidade.

MATHEUS: Vamos torcer pra dar certo. Zélia, obrigado pela participação.


Cena 14 (estúdio da emissora)

MATHEUS: Tire as crianças da sala! Vamos receber agora a Márcia Annenberg, que escreveu uma tese de doutorado sobre os desejos das pessoas com deficiência... (olha para os lados e não encontra a escritora) Cadê ela?

(fundo musical original: “Meu homem (Nobody does it better)” – “não tinha notado você se chegando”)

Márcia surge de costas para a câmera, soltando os cabelos em câmera lenta e depois olhando para o âncora.

MÁRCIA: Estava me procurando?

MATHEUS: Sim. Boa tarde, Márcia.

MÁRCIA: (olha Matheus de cima a baixo) Muito boa... (passa a língua sobre o lábio superior)

MATHEUS: O que você descobriu quando fez a pesquisa sobre sexualidade?

MÁRCIA: Muitos acreditam que as pessoas com deficiência têm uma redução dos seus desejos (abaixa-se, para depois aparecer subitamente atrás de Matheus)... Mas é mentira!

MATHEUS: (expressa surpresa) Ah, é? Isso tem base em quê?

MÁRCIA: Na Lei Brasileira de Inclusão, que diz que a deficiência não afeta a capacidade de decidir.

MATHEUS: Interessante...

MÁRCIA: Vai ficar mais ainda! (abaixa-se novamente)

Matheus procura a pesquisadora, mas não a vê.

MATHEUS: Ela já foi? Que pena! Queria perguntar quais são os direitos relacionados à sexualidade.

Enquanto Matheus está ainda à procura de Márcia, ela surge sentada sobre a bancada, surpreendendo o apresentador depois de dizer algumas palavras.

MÁRCIA: Respeito a todos os corpos, e acesso a educação sobre o tema. Conversar sobre isso faz com que “o sinal não seja avançado”...

A explicação é interrompida quando Márcia sente um cheiro incomum no estúdio.

MATHEUS: O que foi?

MÁRCIA: (aproxima-se do rosto de Matheus) Cheiro de homem! O que você está usando, querido?

Receoso, Matheus coloca sobre a bancada um desodorante corporal Natura Homem Cor.agio. Um zoom mostra o produto com a inscrição “vendido pela Bunitinha Cosméticos”.

Terminado o zoom, Márcia está atrás do âncora, em pé.

MATHEUS: Você tá muito romântica hoje, hein?

MÁRCIA: Se o amor é crime, eu sou traficante!

(fundo musical original: “Meu homem (Nobody does it better)” – “tentei me esconder do seu olhar, do seu amor ”)

Márcia, então, puxa Matheus para a parte de trás da bancada, como se fosse beijá-lo. Os dois ficam quatro segundos sem aparecer para o público.


Cena 15 (estúdio da emissora)

Tentando recuperar-se, Matheus submerge da parte traseira da bancada com a gravata na boca, a camisa desabotoada e uma das mangas esticadas até o pulso.

MATHEUS: Antes de encerrar o jornal, vamos à previsão do tempo. Isabel Kovalick, como está o clima em Pernambuco?

BEL: Boa tarde, Matheus. Boa tarde a todos. O clima aqui está quente, mas lá fora não.

MATHEUS: (recompõe-se aos poucos) Muito frio?

BEL: Demais! (passa a mostrar um gráfico projetado para os espectadores) Calor só vai ter no Sertão, onde a temperatura vai chegar aos trinta e cinco graus.

Imediatamente, Matheus e visto abanando-se com a própria camisa. A imagem passa a ter um filtro amarelo, indicando o calor.

MATHEUS: E no Agreste?

BEL: A temperatura no Agreste é mais baixa, e a velocidade dos ventos é de cem quilômetros por hora.

Um vento forte toma conta do estúdio. Matheus parece agarrar a algo para não voar. Desesperado, pergunta:

MATHEUS: E na Zona da Mata?

BEL: Muito frio, com temperatura de vinte e um graus até o começo da madrugada. Temos algumas nuvens e muitas pancadas de chuva.

Subitamente, um rolo de macarrão atinge a cabeça de Matheus, que cai ao chão. A câmera permanece estática, e vê-se a mão trêmula do âncora tentando levantar. Quando ele se põe de pé novamente, questiona com enfraquecimento:

MATHEUS: Como está o Litoral?

BEL: Litoral? Pior do que todos!

MATHEUS: (apavorado) Mais chuva?

BEL: Não, pode ficar tranquilo.

Matheus enxuga a testa, demonstrando alívio.

BEL: Mas a Apac percebeu que tem raios chegando.

Bel fica assustada quando um clarão invade o estúdio, acompanhado de uma trovoada. Neste momento, Matheus está completamente cinza, soprando fumaça.

BEL: Bem... O “Jornal Sensorial” fica por aqui. Voltaremos amanhã, depois que a ambulância chegar. Boa tarde.

As luzes são desligadas e os créditos finais são exibidos. Bel organiza uma série de papéis sem nada sinalizar.

(fundo musical original: “Mr. Funk Samba”)

(fundo musical alternativo: “[News] Music for news programs 40 (1478902)”)

Editora-chefe

Iaci Guedes

Editoras

Demylli Vitória

Irene Vitória

Produtora

Mariane Vitória

Editora de imagens

Mikaelly Cristina

Câmeras

Renan Gustavo

Richard Cauan

Coordenadora

Carla Fernanda

Editora-chefe de arte

Anne Karoline

Arte

Ana Paula Sena

Videografismo

Tereza Silva

Sonoplasta

Josenete Melo

Diretor de imagens

Pyerre Rogério

Produtora de tecnologia

Silvana Tenorio

Supervisor de imagens

Alex Lucena

Chefe de reportagem

Rafaella Briane

Gerente de jornalismo

Ian Lemos

Diretora de jornalismo

Alexsandra Rocha

Realização

TV Leão do Norte

© 2025

www.tvleaodonorte.com.br


28/08/2025

ATRAÍDOS PELO SILÊNCIO | CENAS 10, 11 E 12

 Cena 10 (corredor da escola entre a cantina e o banheiro)

Natália está sobre um banco sem encosto, simulando uma cadeira de rodas. A câmera faz uma espécie de zigue-zague com os alunos – ora aproximando-se deles, ora afastando-se. Pedro vem na direção contrária da moça, caminhando com ar de seriedade. Ambos olham para a filmadora.

NATÁLIA: C-A-P-A-C-I-T-I-S-M-O.

PEDRO: “A deficiência sempre vai estar acima de quem a pessoa é”.

NATÁLIA: “Uma pessoa com deficiência nunca será superior a quem é normal”.

PEDRO: “Os lugares estão prontos, a pessoa com deficiência é quem não consegue se locomover”.

NATÁLIA: “Se você não tem um corpo bonito e forte, você não é normal”.

PEDRO: “Eu sempre vou perguntar pra outras pessoas, deficientes não são capazes de responder”.

NATÁLIA: “Essas pessoas tinham que ter uma sala de aula só pra elas”.

PEDRO: “Eu consigo fazer tudo sozinho, elas não”.

Finalmente Pedro fica face a face com Natália. Ele parece olhar-lhe com desprezo. Surpreendentemente, ele abaixa-se para ficar à altura dela.

NATÁLIA: Mude de ideia.

A tela escurece e a voz de Pedro é ouvida.

PEDRO: Siga uma nova rotina: acrescente uma dose de respeito a cada dia.

LETREIRO: Erem Amaury de Medeiros.


Cena 11 (Rua 5 de Novembro) 

(fundo musical original: “Meu cofrinho de amor” – introdução / “volta, meu bem, meu amor, minha vida; estou te esperando/ volta depressa, que o meu coração está quase parando”)

A cena começa com a câmera posicionada de maneira torta, filmando a Rua 5 de Novembro. Filma-se Alex pedalando para a direção norte, e depois as imagens acompanham a expressão de aflição que o rapaz faz, temendo não chegar a tempo de encontrar Bel novamente.


Cena 12 (estúdio da emissora – painel dos pirulitos)

MATHEUS: Em novembro vai acontecer o Enem. Surdos podem fazer a prova, Carolina?

A tela se divide ao meio.

CAROLINA: Podem, sim, Matheus. Em 2023, trinta e oito mil pessoas pediram atendimento especializado pra fazer a prova.

MATHEUS: Por que, Carolina?

CAROLINA: Porque estas pessoas declararam ter algum tipo de deficiência.

MATHEUS: Os surdos terão acesso a quais recursos?

CAROLINA: O primeiro é um intérprete de Libras e o segundo é a leitura labial.

MATHEUS: Não se esqueceu de nada, Carolina?

CAROLINA: Ah, verdade. Também tem a videoprova em Libras: o edital e as opções de resposta são interpretadas nesta língua.

MATHEUS: Sabe quais são os dias da prova?

CAROLINA: 9 e 16 de Novembro.

MATHEUS: E qual o valor da inscrição?

CAROLINA: (faz cara de dúvida antes de retrucar) Acabou o prazo, macho!

MATHEUS: Vou fazer no ano que vem.

CAROLINA: Pra qual curso?

MATHEUS: Engenharia, a gente ganha mais. Obrigado, Carolina.


27/08/2025

ATRAÍDOS PELO SILÊNCIO | CENAS 7, 8 E 9

 Cena 7 (estúdio da emissora – painel “quem ama, cuida”)

MATHEUS: Começa hoje uma propaganda idealizada por alunos de uma escola pernambucana. Laura Padrão traz os detalhes pra gente.

A tela se divide ao meio.

LAURA: Boa tarde pra todos que estão nos assistindo. Os alunos são da Escola de Referência em Ensino Médio Amaury de Medeiros, localizada em Afogados.

MATHEUS: E qual é o tema do projeto?

LAURA: Deficiência física é o tema do vídeo, Matheus. O objetivo é evitar o preconceito contra as pessoas que possuem deficiência motora.

MATHEUS: Quais são os alunos?

LAURA: Os nomes dos alunos são Pedro e Natália. A gravação aconteceu dentro da escola.

MATHEUS: Muito bom! Quando vamos ver isso?

LAURA: Não vai demorar. É hoje, na hora do intervalo comercial do nosso jornal. Não desliga a TV.

MATHEUS: Tô ansioso já! Obrigado, Laura. Boa tarde.

LAURA: (com irritação, mas sem olhar para a câmera) Se a tarde fosse boa, eu estaria na Praia do Buraco da Velha... (arrepende-se do que diz) Próxima notícia, por favor.


Cena 8 (estúdio da emissora – porta do Charles Chaplin)

Matheus percebe o constrangimento e coça a nuca rapidamente, mas prossegue com o programa.

MATHEUS: 788.647 pernambucanos declararam ter algum tipo de deficiência no último censo. Quem vai falar sobre isso é a Vera Niz.

VERA: É isso mesmo, Matheus. O Nordeste é a região com maior porcentagem de pessoas com deficiência. Pernambuco está empatado com o estado do Ceará, na terceira posição.

MATHEUS: Os primeiros, quais são?

VERA: O primeiro é Alagoas e o segundo é o Piauí.

MATHEUS: Por que o Nordeste tem o maior número?

VERA: Algumas razões: o envelhecimento da população, a desigualdade econômica e o acesso limitado aos serviços básicos.

MATHEUS: Tem uma lista das cidades de Pernambuco divulgada pelo IBGE?

VERA: Sim, Matheus. Recife é a cidade de Pernambuco com mais pessoas com deficiência. Depois vem Jaboatão dos Guararapes, Caruaru, Paulista e Olinda.

MATHEUS: Tem quantos em Recife?

VERA: 122.861 pessoas, muita gente!

A tela se divide ao meio.

MATHEUS: Verdade. Muito obrigado, Vera.

A tela volta a exibir somente Matheus.


Cena 9 (estúdio da emissora – painel “love”)

MATHEUS: Você sabe como uma pessoa com deficiência visual pode aproveitar as belezas de Pernambuco? Explica pra gente, Helena Henning.

A tela se divide ao meio.

HELENA: Verdade, Matheus. O Governo de Pernambuco criou um projeto chamado “Paisagens sonoras”.

MATHEUS: Como funciona?

HELENA: Através da audiodescrição, as pessoas com deficiência visual têm acesso a nove lugares de Pernambuco. Alguns desses lugares são o Litoral, o Sertão e a Zona da Mata.

MATHEUS: Precisa agendar, Helena?

HELENA: Não precisa, Matheus. É só entrar no site: www.paisagenssonoras.com.br e descobrir as belezas do nosso estado.

MATHEUS: Agora que você falou, eu reparei: a cada dia você está mais bonita, hein?

(fundo musical original: “Na paz do seu sorriso” – “e a beleza é nada/ se for comparada/ com tudo que eu vejo em você”)

Helena é vista de perto, sorridente e passando o dorso de sua mão esquerda sob o queixo.

Quando a música para, as imagens voltam ao ponto no qual Helena foi filmada inicialmente. Ela lança um olhar sedutor enquanto comunica-se com o âncora.

HELENA: Meu bem, você ainda não viu nada!

MATHEUS: Bom trabalho pra você, Helena. Depois do intervalo, a previsão do tempo para o estado.

(fundo musical: “[News] Music for news programs 40 (1478902)”)

Exibe-se a transição do estúdio para um painel em Led com uma propaganda do salão de beleza de Danilo Alves, que trabalhava como ator nos curtas-metragens anteriores (“No lugar do outro” e “Mãos proibidas”). O horário marca: 14:15.

PAINEL: Danilo Alves Spa dos Cabelos/ ife/ (81) 99712-7897.


26/08/2025

ATRAÍDOS PELO SILÊNCIO | CENAS 4, 5 E 6

 Cena 4 (sala de aula)

O céu é filmado e a câmera desce até a porta da sala 01. Alex chega diante da entrada e fica reticente em ingressar. Após alguns segundos de indecisão, ele toma coragem e entra no local. Ao sentar-se, vê que no quadro há uma frase dita pelo pedagogo Paulo Freire: “Me movo como educador porque, primeiro, me movo como gente”. Acima dela, a data corrente: 04/03/2022.

As mãos de Dinho são vistas quando ele está a caminho de onde o estudante novato está. O professor de Libras está portando uma caneta hidrográfica preta. O ex-namorado de Bel está com o rosto abaixado, levantando-o quando o educador chega, já estranhando o nervosismo do aluno. Temendo o que o profissional dirá, o protagonista masculino desata a falar.

ALEX: Você deve ser o professor, né? Vê só, cara: eu sou uma negação nesse assunto, sabe? E até um tempo atrás eu não via importância nenhuma. Eu pensava: “aprender pra quê?”. Mas aí a minha ex, que é surda...

Sobre a imagem ouve-se o ruído de uma freada de automóvel, no exato momento em que Dinho exclama:

DINHO: Para! Não pode falar Português!

ALEX: (com decepção, continua usando a linguagem oral, olhando para o chão) Ele também é... Cara, vou te falar que esse negócio é muito complicado! Pra você ter uma ideia...

DINHO: (faz de maneira veloz) Qual é o teu nome?

ALEX: (repete o sinal de “seu nome”) Pô, eu tô ligado que eu tô falando mais que a boca, mas não precisa me cortar... (é surpreendido quando o professor põe a mão em seu bolso e grita) O que é isso? Tem uma nota de duzentos aqui!

Dinho retira a identidade do estudante e aponta para a foto de Alex.

ALEX: (aponta para si) Eu?

DINHO: (balança a cabeça afirmativamente e olha para a carteira antes de soletrar o nome do aluno) A-L-E-X (aponta para o estudante, que tenta fazer a datilologia do próprio nome).

ALEX: A...L... Como é o resto?

(fundo musical original: “Só vale com você” – parte instrumental que antecede a primeira interpretação do refrão)

Desanimado, Dinho joga a identidade para o alto. Subliminarmente, a data do quadro muda para 16/09/2022, indicando que o tempo vai passar enquanto Alex é ensinado.

Através de uma mescla de tomadas, o público pode ver Alex treinando alguns dos sinais que Dinho interpreta em sala de aula. A cada vez que o professor for focalizado, a data muda no quadro: para 02/03/2023, 23/06/2023 e 15/12/2023. E sempre que Alex for visto treinando com o professor, um livro é acrescentado à sua carteira.

Uma imagem das folhas das árvores, embaladas pelo vento, surge para fazer a transição para a cena seguinte.


Cena 5 (sala de estar / bicicletário)

Chegamos à data de 29 de agosto de 2025. Alex (agora de camisa preta) senta-se numa poltrona e liga a TV, sintonizada numa emissora chamada Leão do Norte. O estudante presta atenção quando o locutor anuncia:

LOCUTOR: Assista agora: “Jornal Sensorial”... Na TV Leão do Norte.

De maneira que parece compreender a vinheta como um sinal, Alex balança a cabeça afirmativamente e sai da sala de estar.

(fundo musical original: “Contra o tempo” – “corro contra o tempo pra te ver/ eu vivo louco por querer você/ morro de saudade, a culpa é sua”)

Correndo pelo pátio, Alex vai à grade na qual sua bicicleta está amarrada, desprende-a e deixa o local.

Obs.: para dar o aspecto de rapidez, a corrida de Alex é filmada em dois ângulos – atrás do rapaz e do seu lado esquerdo – mesclando as imagens captadas na edição do filme.


Cena 6 (estúdio da emissora – escalada)

O telejornal apresentado por Matheus começa com uma vinheta de patrocínio.

LOCUTOR: Potencialize a sua autoestima com itens de beleza indispensáveis. Bunitinha Cosméticos oferece: “Jornal Sensorial”.

Matheus é flagrado cochilando, trajando uma bermuda, calçando um chinelo Havaianas e com as pernas sobre a bancada do noticioso. Ele acorda e começa a conduzir o programa.

MATHEUS: Boa tarde. Veja as notícias de hoje.

A partir daí, a maioria das jornalistas aparece por meio de links ao vivo.

LAURA: Alunos da Erem Amaury de Medeiros fazem campanha contra o preconceito.

HELENA: As belezas do estado podem ser aproveitadas por quem tem deficiência visual.

ZÉLIA: A situação das pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

CAROLINA: Surdos querem ingressar na universidade através do Enem.

VERA: Mais de setecentas mil pessoas são deficientes em Pernambuco.

Matheus dorme novamente, agora de boca aberta e com o rosto sobre a mão fechada, cujo braço está apoiado na bancada.

(fundo musical original: “Escalada” – “e continua longa a escalada”)

Ele volta a despertar quando quase despenca no chão.

MATHEUS: Também tem a previsão do tempo. O “Jornal Sensorial” começa agora.

(fundo musical original: “Cheia de manias” – introdução)

(fundo musical alternativo: “[News] Music for news programs 40 (1478902)” – introdução)

A vinheta do noticioso exibe tomadas do bairro de Afogados durante a tarde, com um filtro alaranjado, e ao final o seu logo: as letras J e S em Sign Writing.

25/08/2025

ATRAÍDOS PELO SILÊNCIO | CENAS 1, 2 E 3

 Cena 1 (área externa do shopping)

No meio da tarde, o trânsito está intenso na Rua São Miguel. Bel (vestida de azul) contempla as vitrines do shopping enquanto Alex (trajando uma camisa amarela), do lado de fora, caminha em direção à faixa de pedestres dando máxima atenção ao que vem escrevendo no celular. A jornalista sai do centro de compras e dirige-se ao ponto de ônibus, do qual o rapaz chega perto.

Distraído, o futuro namorado de Bel não vê que, ao pisar no asfalto, vem rapidamente um coletivo da cor amarela. Porém, ele acaba sendo salvo pela moça e ambos caem na calçada. Os dois, ainda assustados, passam a se olhar – como se ainda não tivessem entendido o que acabou de acontecer.

(fundo musical original: “Sonhos” – “uma mudança muito estranha: mais pureza, mais carinho, mais calma, mais alegria no meu jeito de me dar”)

Obs.: primeiro, o filme mostra a reação de Bel; depois, o rosto de Alex.

A música é interrompida subitamente quando o personagem recebe uma bofetada. Automaticamente, ele pergunta, irritado:

ALEX: Tá doida, miséria?

BEL: (repreende o moço rapidamente, comunicando-se em Libras) O ônibus quase bateu em você, presta atenção!

ALEX: É o quê?

BEL: Ah, não (fecha os olhos e balança a cabeça negativamente)... Outro ouvinte!

A partir deste ponto, vê-se o rosto do homem, mas sua voz pode ser ouvida por meio da locução.

NARRADOR: Uma coisa todos os romances têm em comum: acontecem sem avisar, igual o motorista do Vila Dois Carneiros acelerando perto do Viaduto Capitão Temudo!


Cena 2 (interior do shopping)

(fundo musical: “A happy moment”)

A locução continua, mas os personagens caminham lentamente pelo shopping. Enquanto Bel conversa tranquilamente usando a sua língua materna, Alex passa a vê-la de forma apaixonada. O momento serve para exibir os logos da Secretaria de Educação, da Gre Recife Sul e da Erem Amaury de Medeiros.

ALEX: Você já nasceu sem ouvir?

BEL: Não, perdi a audição na idade adulta.

ALEX: (finge que entende a língua utilizada pela moça) Ah, tá.

A música de fundo para. Enquanto a narração acontece, o público vê Bel contemplando as vitrines do shopping e apontando para Alex os itens que lhe interessam.

NARRADOR: Esta é a Bel, uma das dez milhões de pessoas surdas que existem no Brasil. A surdez dela é neurossensorial, que tem tratamento. Existem outros dois tipos. O primeiro é o condutivo, que pode ser revertido através de terapias e intervenções cirúrgicas. E o segundo é a surdez mista, que tem características dos outros tipos.

Obs.: enquanto Alex narra, são projetados sobre o casal os tipos de surdez existentes: neurossensorial, condutiva e mista.

Numa transição rápida, o casal aparece sentado diante de uma mesa do restaurante.

ALEX: Modéstia à parte, mas eu me acho muito inteligente.

BEL: Um ignorante em matéria de sinais, mas eu gosto mesmo assim.

ALEX: Desculpa, eu não parei de falar de mim hora nenhuma. Queria saber mais sobre você, mesmo sem entender.

BEL: Quer ser meu namorado?

ALEX: Hum... Eu tô sacando o que você quer...

(fundo musical original: “Só vale com você” – “com você eu vejo o dia nascendo; tudo, tudo mesmo a esperar por nós/ vai dizer que não sabe o que eu digo porque ainda é criança no amor?”)

(fundo musical alternativo: “A happy moment”)

Bel toma a iniciativa e coloca a sua mão direita sobre a esquerda de Alex, fazendo com que o estudante abra um sorriso.

Em câmera lenta, vê-se o casal recém formado rindo no meio das árvores que embelezam o estacionamento. A câmera afasta-se dos dois é o título do filme aparece inscrito na parede cinza.


Cena 3 (casa lotérica)

Agora, as cores das roupas de Alex e Bel estão invertidas – sutilmente demonstrando que eles não entram em acordo quase nunca.

NARRADOR: Apesar de a Libras ser reconhecida como uma das formas oficiais de comunicação, e de a dificuldade para ouvir ser a terceira maior causa de deficiência no país, eu nunca fui bom de perceber o mundo ao meu redor... Pelo menos, não o mundo que me interessava.

O casal está na frente de uma loja do shopping que fica ao lado da casa lotérica. Alex, empolgado, caminha um pouco à frente da namorada, enquanto Bel demonstra impaciência.

ALEX: A bandeira da conta da luz veio vermelha nesse mês. Mas eu descobri como economizar a energia elétrica lá de casa sem fazer “macaco”. A gente só precisa calcular a raiz quadrada de B² - 4 a.c! E se X equivale a cem quilowatts, o valor de Y é igual a...

BEL: Para! Você não percebeu o que tá acontecendo? A gente não se entende.

ALEX: Hã?

BEL: A gente não tá falando a mesma língua, entendeu?

ALEX: Ih... Pela cara tá rolando uma D.R...

BEL: Tá, sim! Olha quanto tempo estamos juntos! Você não conseguiu aprender nada comigo! Nem se esforça!

Alex dá um lento bocejo (mesmo sem compreender o que Bel diz, deixa o seu jeito entediado evidente).

BEL: Se eu te perguntar o que é que eu faço da vida, duvido que você saiba!

ALEX: Bel, tá muito acelerada! Vai com calma!

BEL: (passa a sinalizar vagarosamente) Não tá dando certo... Acho melhor a gente terminar.

Alex coloca as mãos sobre a cabeça e roda olhando para Bel. Ela o olha na esperança de que ele tenha entendido o fim da relação e peça desculpas, mas ele dispara:

ALEX: Tô na mesma, continuo sem entender.

Bel revira os olhos, segura Alex pelos ombros, vira o corpo do rapaz para que ele fique de costas e dá-lhe um chute no traseiro.

(fundo musical original: “Lembranças” – “e hoje, o silêncio que ficou/ eu sinto a tristeza que restou/ há sempre um vazio em minha vida/ quando relembro nossa despedida”)

Ela sai bastante irritada, e num primeiro momento a câmera mostra a moça passando no meio dos transeuntes. Entretanto, quando a câmera mostra Alex atônito com o que acaba de acontecer, o equipamento aproxima-se dele reduzindo a velocidade. Em outra tomada, também em câmera lenta, é possível ver Bel indo em direção à saída do shopping. O jovem falante fica decepcionado por entender o que está acontecendo.

A tela é tomada por uma transição de fade out.