-A
Gabriela? O senhor tá mentindo pra mim, não tá?
-Olha,
eu sinto muito... Pensei que ela havia contado pra você sobre a gestação. Mas
pelo visto você foi pego de surpresa...
-Tem
certeza de que ela tava mesmo esperando um bebê?
-Sim.
Ainda não cheguei a conversar com ela sobre isso porque está desacordada, mas
vou falar- Nonato olha para Bete mais uma vez- Eu vou avisar ao seu pai pra que
ele venha ser o seu acompanhante.
-Pede
pra ele esperar um pouco...
-Desculpe,
eu não entendi.
-Não
quero ver nem falar com ninguém, pelo menos não agora.
-Imagino
que tenha sido um choque pra você. Mas por favor, procure não se culpar. O que
aconteceu com vocês foi uma fatalidade.
-Me
deixa sozinho, Doutor. Por favor, eu preciso.
-Como
quiser, Fábio. Depois eu autorizo seu pai a entrar. Com licença.
Fábio
começa a pensar que a sua namorada lhe foi infiel, pois jamais teve nenhum tipo
de contato íntimo com a irmã de seu amigo Eduardo. Bete não chegou a pensar
nessa hipótese- desejava apenas que ele se sentisse culpado pelo “aborto
sofrido” por Gabriela, mas teve o mesmo efeito devastador. Deixa o hospital
triunfante.
Passadas
algumas horas, Fábio está monossilábico. Caio e Alice até tentam fazê-lo falar,
mas não obtêm êxito. Os pais do adolescente trazem Nonato até a enfermaria para
que ele examine o garoto.
-Como
ele está agora, Doutor?
-Melhor,
Seu Caio. Acredito que eu já possa autorizar a alta médica.
-Ah,
graças a Deus!- suspira Alice.
-Só
recomendo que venha daqui a uma semana tirar os pontos da cabeça.
-Então,
eu já posso ir pra casa?
-Pode,
sim, Fábio.
-Ótimo.
Não quero ficar nem mais um minuto aqui dentro- tenta levantar-se sozinho,
sendo amparado por Alice em seguida.
-Doutor,
será que o senhor poderia...
-Por
favor, Seu Caio. Me chame de Nonato, não é preciso tanta cerimônia assim.
-Tem
algum problema se você autorizasse meu filho a visitar a namorada na enfermaria
em que ela está?
-Por
mim, não há problema algum.
-Mas
pra mim tem- surpreende Fábio a todos- Não ouviram o que eu falei? Passei a
noite acordado, à base de remédio na veia... Tudo o que eu quero agora é ir pra
casa, será que dá pra ser?
-Tudo
bem, filho- Alice estranha a agressividade do filho- Vai ser como você quiser.
-Se
quiserem, eu posso chamar um táxi.
-Não
precisa, Doutor Nonato. Viemos no carro do meu... Do Caio. Mas obrigada mesmo
assim.
-Tenham
um bom dia.
-Obrigado
por tudo, Doutor- Fábio se pronuncia.
-De
nada, Fábio... Se cuida- Nonato fica envergonhado pela mentira que contou ao
adolescente.
Já
na escola, no dia seguinte, Eduardo comenta com alguns colegas sobre o acidente
que vitimou Fábio e Gabriela. Em um corredor distante da sala de aula da turma,
Bete e Vinícius estão negociando mais uma vez.
-Você
soube do que houve com Fábio?- o modelo tenta disfarçar, para que não o vejam
entregando dinheiro à jovem.
-Não
é, menino? Que coisa triste... E você ficou sabendo como é que eles estão?
-Fábio
já teve alta e já foi pra casa, pelo menos foi isso que eu ouvi Eduardo
contando antes da aula começar.
-Mas
e a irmã dele?
-Parece
que ainda não recebeu alta, nem ela nem o taxista. Mas tá fora de perigo.
-Aproveitando
essa chance, eu quero falar uma coisa contigo.
-O
que foi?- começa a falar baixo- Te dei o dinheiro certinho, ou não dei?
-É
outro assunto, Vinícius.
-Fala,
Bete.
-O
Fábio fumou um desses que eu te vendo, né?
-Como
é que você sabe?
-Fumou
ou não? Só quero saber isso.
-Certeza
eu não tenho, mas eu deixei um cigarro lá, na pia do banheiro. Se ele usou ou
não, aí já é outra história.
-Quer
explicar pra mim por que você tinha que fazer isso justo com ele?
-O
cara tava pilhado com essa treta dos pais se separando, Bete. Achei justo dar
um pra ver se ele se acalmava. O que é? Fábio ficou cheio de não-me-toques pra
você?
-Quero
que você faça uma coisa pra mim.
-Se
eu puder ajudar, diz aí.
-Como
realmente a situação dele é complicada, eu quero que você se aproxime mais
dele, que seja um ombro amigo dele.
-Ombro
amigo do Fábio? A gente mal se cruza, não vai ser da noite pro dia que ele vai
querer conversa comigo. Se bobear, depois que eu dei aquele cigarro, não vai
mesmo. Mas sei aonde você quer chegar.
-Sabe?
-Você
quer que o Fábio peça outro cigarro, e me procure pra saber onde eu consigo.
Daí ele chega até você. E do jeito que a família do cara é boa de vida, você
vai acabar se fazendo.
-Entende
rápido as coisas. Gosto assim.
-Bete,
vou te mandar a real.
-Por
favor, Vinícius.
-Não
mexe com ele, não. O cara pode estar perdido, mas não é disso.
-Cara,
entende uma coisa: se você não disser pra ele o que eu faço, Fábio vai acabar
me procurando. Só precisa inventar uma desculpa e vai vir atrás do que eu tenho
pra oferecer.
-Parece
até que você não conhece ele. Vive só pros estudos, e quando muito pra
namorada. Acredita mesmo que ele vai te procurar pra comprar droga?
-Que
palavra pesada essa, “droga”. Eu, hein? Só faço negócio se for pra vender
“prazer”, “fuga”, “felicidade”. Não é crime vender felicidade. Se fosse, você,
que tem um pai policial, tinha sido o primeiro a me entregar pra justiça.
-Como
é que você sabe da profissão do meu pai?
-Vinícius,
o que é que você acha que eu não sei de quem compra a mim? Fica a dica pra
nunca tentar passar a perna em mim. Eu sou ótima amiga, mas como adversária,
sou imbatível- adverte, deixando o modelo ensimesmado.
Alice
ajeita dois travesseiros para Fábio colocar sua cabeça, já em sua casa.
-Cadê
o meu pai?
-Teve
uma reunião no trabalho, saiu bem cedo de casa. Disse que ligaria pra saber
como você estava.
-Tão
cedo assim?- pergunta o adolescente, ao constatar que ainda são sete da manhã
através do celular, que pega do criado-mudo.
-Pois
é. Eu também estranhei- a campainha da mansão toca- Eu vou buscar o seu café da
manhã.
-Mãe,
relaxa. Eu posso ir até cozinha, sem problema.
-Nada
de esforço, Fábio. Você precisa relaxar. Daqui a pouco, eu volto- Alice deixa o
quarto. O rapaz devolve o aparelho telefônico ao criado-mudo, pondo-o junto de
um porta-retratos com a imagem de Gabriela ao seu lado. Olha para a foto
fixamente, chegando a tocá-la, mas depois joga o objeto no chão.
-Ficou
bem claro mesmo que você não quer me ver.
-Gabriela?-
Fábio se assusta com a presença do affair,
ainda ferida por conta do acidente.
-Agora
você resolveu se desfazer da foto que a gente mais gosta de tirar? Por que você
atirou o retrato no chão?
Nenhum comentário:
Postar um comentário