Ariane
está em sua casa quando chega uma visita inesperada naquela manhã, ainda cedo.
-Caio?
-Eu
posso entrar?
-Claro,
entra- titubeia, antes de permitir- O que está fazendo aqui?
-Vim
saber notícias da Gabriela.
-Que
curioso. Você veio e Fábio não?
-O
que quer dizer com isso, Ariane?
-Não
é mera insinuação, Caio. Se trata da verdade. Fábio não é mais o mesmo com a
minha filha.
-Você
há de concordar que os dias têm sido difíceis. Pra todos nós.
-Concordo,
mas essa mágoa da minha filha é injustificável. O Fábio deixou o hospital horas
depois do acidente. Já se passaram três dias e ele não ligou pro celular da
Gabriela, não foi ao hospital, não veio aqui, não procurou saber...
-Porque
ele estava abalado. Eu mesmo insisti que o médico deixasse meu filho ver a
Gabriela, mas ele não quis.
-O
motivo é óbvio e você não quer entender. Seu filho não quer cruzar comigo.
-Não
pensa besteira, Ariane. Parece até que você não conhece o Fábio.
-Ele
está transferindo pra mim a responsabilidade pelo fim do seu casamento, deixou
bem claro da última vez que esteve aqui.
-Bem,
eu espero que você não veja tudo o que aconteceu como um empecilho pra que
Gabriela e Fábio fiquem juntos. Eu não iria me perdoar se tivesse destruído a
felicidade dele por causa da minha insatisfação com a vida. Já basta ter sido
culpado pelo que nos aconteceu no passado.
-Por
favor... Não ficou claro pra você que eu não quero mais bater nessa tecla?
-O
que é que o senhor tem pra contar, Seu Caio?- Eduardo vem do seu quarto- Fala.
-Eduardo,
o que pensa que está fazendo? Eu estou tendo uma conversa particular com o
Caio.
-Desculpa,
Mãe, mas não é mais tão pessoal assim. Desde que Seu Caio veio aqui pela última
vez, a gente não teve um minuto de paz. Nem Fábio, nem Gabriela.
-Pelo
que eu estou vendo, você está certo de que eu tenho a culpa do que aconteceu.
-Tô
certo, sim.
-Eduardo,
por favor!- Ariane tenta acabar com a discussão.
-Pelo
seu filho e pela minha irmã, todo mundo merece uma explicação.
-O
que, exatamente, você quer saber? Se eu ainda sou apaixonado pela sua mãe?
-Não.
Mas esse romance interrompido veio à tona e tá trazendo consequências graves no
namoro de Fábio e Gabriela.
-Aonde
você quer chegar, meu filho?
-Que
motivo a senhora teve pra largar o Seu Caio?
-Essa
história só diz respeito a mim e ao Caio.
-A
todo mundo. Aos seus filhos e à família dele. A gente tem o direito de saber.
-Mas
não vão. Eu não reapareci na vida da Ariane pra reabrir ferida nenhuma. Tudo o
que eu queria era saber se nós dois poderíamos retomar a nossa relação.
-E
o senhor fala assim, nessa calma, como se não fosse casado?
-Eu
não sou mais casado, Eduardo.
-Porque
deixou alguma coisa pendente com a minha mãe, e que eu quero saber o que é.
-Se
você pensa que Caio e eu somos amantes, ou que eu fui infiel ao seu pai, não é
nada disso, meu filho...
-Então,
fala! Fala por que você não ficou com ele lá atrás, quando vocês se conheceram!
-Porque
eu cometi um erro. O pior erro da minha vida. E por causa dele, eu tive que
sacrificar o meu relacionamento com a sua mãe. É tudo que eu posso dizer e é só
isso que eu vou falar. Com licença- Caio deixa a residência.
-Satisfeito?
Satisfeito em nos expor dessa maneira, Eduardo? Já te falei que não quero mais
falar do que houve quando eu era namorada do Caio. Aliás, você não deveria ter
saído pra escola?
-É,
mas eu... Eu passei no quarto da minha irmã, pra dar um beijo e ver como ela
tava.
-A
sua irmã já acordou?- enxuga as lágrimas.
-A
Gabriela sumiu, Mãe.
-O
quê?
-Será
que dá pra explicar por que você quebrou o nosso retrato, Fábio?
-Escorregou
da minha mão, só isso. Além do mais, você me assustou. Você não avisou que
vinha aqui.
-Agora
eu preciso fazer isso na casa do meu namorado?
-Não
é isso, é que... Pô, eu podia, sei lá, estar trocando de roupa...
-É
que eu encontrei a sua mãe e ela me deu permissão pra subir. Se quiser, eu
volto outra hora.
-Claro
que não. Fica.
-Senti
tanto a sua falta no hospital. Você saiu no mesmo dia, mas não foi lá me ver.
-O
médico disse que era pra fazer o máximo de repouso. Por isso fiquei aqui. Como
é que você tá agora?
-Viva.
Mas a minha ansiedade acabou. Claro que eu não tô cem por cento, mas eu tava
morrendo de saudade de você, meu amor- beija a boca do namorado, um pouco frio.
-Você
não tem nada pra me contar, Gabriela?
-Tem
alguma coisa que você queira saber?
-Não,
não é isso, é que...
-Fala,
amor.
-Nada,
esquece. Também tava com muita saudade sua.
-Tava
mesmo? Então por que você não foi me ver? Nem mandou saber pelo Edu se eu tava
bem...
-Porque...
Por vergonha.
-Vergonha
de mim, Fábio? Que história é essa?
-O
acidente você sofreu porque tinha ido atrás de mim. Não tive coragem de encarar
sua mãe, nem seu irmão. A culpa do que aconteceu foi minha.
-Não
repete isso nem de brincadeira. Não quero saber de você se culpando por nada.
Podia ser com qualquer um, o motorista que bateu na gente ultrapassou o sinal
vermelho- abraça o rapaz- Não fica assim, não aconteceu nada demais.
Durante
o abraço, ecoa a pergunta na mente de Fábio:
-Como
ela consegue mentir pra mim desse jeito? Eu não sei até quando vou aguentar,
mas eu vou jogar a verdade na cara da Gabriela. Disso eu tenho certeza.
Mais
um dia de trabalho na Casual Models, e a manhã já começa com boas notícias
recebidas por Lúcia. Em sua sala, avisa à secretária pelo telefone.
-Assim
que Victória chegar, pede pra ela vir até a minha sala.
-Ela
já chegou à Casual, Lúcia.
-Então,
localiza e manda ela entrar.
Passados
alguns minutos, a promissora modelo vai ao encontro de sua chefe, ansiosa pelo
que ela tem a dizer.
-Aconteceu
alguma coisa, Lúcia?
-Aconteceu,
sim. Eu fiz uma coisa sem o seu consentimento e queria me explicar.
-Como
assim? Explica isso direito.
-Olha,
Vicky, eu fiz uma seleção das suas melhores fotos e enviei pra alguns contatos
que eu tenho no exterior. E uma empresa se interessou pelo material.
-Que
empresa é essa? Alguma grife?
-Uma
nova rede social, que já conta com adeptos no país de origem, a Alemanha. Os
executivos da empresa querem ter você como o rosto único da rede, desde a
divulgação nos países em que o site será implantado até a página de login. Eles te querem, Victória.
Disseram que você tem o rosto perfeito.
-Você
tá falando sério?
-Acha
que eu ia brincar com uma coisa dessas, menina? É a tua chance de ouro!
-E
quando essa empresa vai vir ao Brasil pra eu participar das campanhas de divulgação?
-Aí
é que está o ponto que precisamos discutir. A empresa não vem.
-Não?
-A
Netnetz quer você trabalhando lá na Alemanha. Por dois anos. Se você aceitar a
proposta e assinar contrato, vai ter que deixar o Brasil.
-Ir
embora daqui?
-Pensa
na proposta, Victória. É uma oportunidade sem igual. Você consegue se imaginar
longe do Brasil?
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