-O que foi, Seu Bruno?
-Silvia, você lembra se essa
moça... Enfim, se ela veio com alguma coisa na mão? Uma bolsa, uma sacola, algo
do tipo?
-Se eu não me engano, ela
apareceu aqui com uma mochila.
-E você não deu pela falta de
nada?
-Só da caixa que eu
organizei, com os pertences da Virna. Mais nada, senhor.
-Pelo menos, você a viu
saindo com isso?
-Bom, quando eu trouxe o copo
d’água pra ela, eu voltei e ela não estava mais aqui.
-Isso explica muita coisa.
-Continuo sem entender.
-Funcionário não entende,
Silvia, executa o que a gente manda fazer. Mas tudo bem. Eu acho que já soube o
suficiente.
-Espero não ter feito nada de
errado.
-Pode ficar certa de que não
fez. Eu só preciso saber como isso interferiu na... Deixa pra lá. Guarde esse
levantamento que amanhã eu vou analisá-lo.
-Tenha uma boa tarde, doutor.
-Pra você também.
|||||
O bandido contratado por
Valentina já está no apartamento de Bruno e Giovanna. Ele escuta quando a jovem
chega ao local.
-Bruno? Bruno, você chegou?
A bailarina encontra um buquê
com muitas rosas em sua casa. Lê o cartão que o acompanha.
-Que elas simbolizem um
casamento regado a um amor que nunca se acaba, e que se multiplica através
dessa criança. Bruno.
-Se eu conseguisse acreditar
em você, a minha agonia acabava... – amassa-o, ressentida.
Giovanna suspira e joga o
buquê sobre o sofá, subindo para tomar banho. O delinquente vê que a moça está
prestes a entrar no quarto e se esconde atrás do guarda-roupa, afastando-o
vagarosamente para que não seja percebido.
Ao entrar, Giovanna não sente
o quão perto o móvel está de si e da entrada do quarto. Tira a roupa e vai para
debaixo do chuveiro. O meliante sai do esconderijo ao ouvir Bruno chegar. Coloca
o capuz e tranca a porta de maneira a não fazer a bailarina escutar.
-Giovanna?- pergunta Bruno,
após ver o buquê jogado e o cartão amassado. É surpreendido com o ladrão
descendo às escadas, vestido de preto, com a arma em punho.
-Quem é você?
-O que foi, irmão? Quer que
eu mostre minha identidade também?
-Cadê a minha mulher? O que
você fez com ela?
-O que eu vou fazer, “né”? Mas
vai depender de você. Se fizer direitinho o que eu mandar, ninguém se machuca.
Apaga a luz.
-Como é que é?
-Apaga a luz agora!- grita,
fazendo Bruno obedecê-lo.
|||||
Na cozinha da mansão, Plínio
se dirige à Noêmia.
-A que horas posso mandar servir
o jantar, doutor?
-Acredito que umas sete e meia.
-Mas tão tarde?
-William foi fazer um
trabalho da escola na casa de um amigo dele.
-Eu notei que ele estava um
tanto triste hoje, quando saiu. Era impressão minha?
-Conversamos sobre a mãe
dele. Contei como a conheci, como nos envolvemos.
-Mas por que o senhor
resolver falar disso?
-Ele não me deu escolha, acabou
fazendo muitas perguntas. Uma hora, a gente cansa de tanta mentira, de tanto
segredo... Era direito dele de saber.
-Só que a verdade é muito
dolorosa.
-O que na minha vida não é,
Noêmia? A começar pelo meu primogênito.
|||||
No pequeno escritório do
apartamento, estão Bruno e o bandido armado. O primeiro está diante do
computador, na mira da arma do segundo.
-O que é que você quer? Por
que me trouxe pra cá?
-Grana, imbecil! Pensou que
era o quê? Uma visita? Você vai passar todo o dinheiro da sua conta pra essa
daqui- entrega-lhe os números em um papel.
-Eu não posso fazer isso! Não
todo o dinheiro!
-Quer que eu dê um fim na
cadela que “tá” lá em cima? Ou quer que eu me livre do filho dela?
-Você não vai tocar no meu
filho!- levanta-se.
-Não vou se tu “colaborar”-
empurra-lhe, fazendo-o cair novamente na cadeira. Agora manda o dinheiro pra
essa conta, rápido!
Bruno realiza a transferência
após digitar os números.
-E agora? Vai embora daqui?
-Não, ainda não. Agora, apaga
o histórico de senha.
-Pra que isso?
-Não banque o esperto comigo.
Pensa que eu não sei que vai tentar descobrir a minha conta? Anda logo, apaga o
histórico do dia.
O procedimento é realizado.
-Sai daqui! Deixa a minha
mulher e a mim em paz- diz, em tom frio.
-Tudo bem. Mas vai me
acompanhar pra ninguém desconfiar de nada. Até a porta da frente.
-“Tá”. Mas some daqui de uma
vez.
O bandido põe a arma na
calça, e sai lentamente do escritório, ao lado de Bruno. Quando ambos chegam à
sala, o arqueólogo encontra uma arma ao lado do buquê e do cartão. Sem pensar,
o rapaz segura o revólver e aponta para o meliante, de costas.
-Você vai sumir, sim... Mas
antes... Vai devolver o meu dinheiro.
Buscando se defender da
ameaça, o ladrão se vira e bate na arma, jogando-a longe. Começa, então, uma
luta entre Bruno e o marginal, que consegue empurrá-lo contra um vaso da sala,
correndo pelas escadas. Em determinado segundo, o arqueólogo perde a
consciência, mas segue procurando a arma.
-Bruno?- indaga Giovanna em
voz baixa, ao ouvir o barulho do vaso quebrando na sala, devido ao baque
sofrido por Bruno. Neste momento, ela se enrola na toalha, ao passo que o
ladrão destranca a porta do quarto sem que ela perceba. Ele entra em outro
quarto do apartamento e foge pela janela do primeiro andar, entrando em outra
casa.
Ao levantar-se, Bruno procura
o revólver que encontrara há pouco tempo. A sala está escura, mas ele não se lembra
de ativar o interruptor.
|||||
Noêmia sente uma palpitação.
-Noêmia? “Tá” tudo bem?
-Não, doutor. O Bruno!
-O que tem ele?
-Ele está correndo perigo. A
gente tem que ajudar ele.
-Ajudar? Ajudar como, Noêmia?
Do que você “tá” falando?
-Eu não sei, doutor, não sei!
Mas alguma coisa diz no meu coração que ele está correndo um perigo muito
grande!
|||||
Em silêncio, Giovanna desce
às escadas. A vista de Bruno ainda está turva com a pancada que recebeu devido
ao empurrão dado pelo ladrão. O que ele vê é apenas a sombra da moça, descendo
lentamente por estar com medo do que se aproxima.
O jovem encontra o revólver,
e aponta para a parede que exibe a sombra. Giovanna vê que o marido segura um
revólver e abre a boca pra chamá-lo, mas ele dispara contra a parede. O susto
faz a bailarina rolar às escadas, gritando. Ao chegar ao chão, está
desacordada. Bruno, enfim, reconhece a voz da esposa.
-Giovanna? Giovanna, fala
comigo! Meu amor, acorda! Acorda, Giovanna!- bate no rosto dela repetidas
vezes- Giovanna, me responde! Por favor, Giovanna! Socorro! Socorro! Alguém
ajuda a minha mulher, Socorro!
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