-O que você pensa que vai
fazer?
-Se a gente conseguir que o
Bruno ponha em risco a vida da esposa dele, a polícia finalmente vai se
convencer que ele é perigoso.
-Presta atenção: você vai acabar
se rebaixando ao nível dele. Isso não tem como dar certo.
-Eu só preciso que você fale
com um dos seus “amigos”. O resto fica por minha conta.
-E se o Bruno desconfiar?
-Desconfiar como? Bruno acha
que todo mundo é inferior a ele, que ele é a única pessoa inteligente do
planeta. Vai se ferrar na mão da polícia, e não vai nem saber que fui eu. Me
arruma esse homem de confiança pra daqui a alguns dias.
-Mas pra quê isso?
-A Giovanna “tá” grávida.
Quer apostar quanto que ela vai desistir de se separar agora que descobriu a
novidade?
-Tem razão. O Bruno vai
manipular essa mulher ainda mais depois que ele souber.
-Só que quando o Bruno
colocar a vida dela e do bebê em risco, ela larga dele em três tempos.
-OK. Vou falar com um cara.
Daqui a uns dias, ele vem te procurar.
-Vou esperar.
|||||
Giovanna está chegando à
casa, quando encontra o apartamento às escuras. Acende a luz, e se depara com Bruno
sentado no sofá.
-Que susto...
-Ultimamente, você acha que
eu só tenho te trazido isso.
-Eu não vou discutir, já nem
tenho força pra isso.
-Por que você demorou hoje?
-Cheguei no horário normal,
Bruno.
-São sete da noite. Você “tá”
atrasada duas horas.
-O trânsito “tava” horrível,
o que você quer que eu faça?
-Olha, eu preparei um jantar
porá nós dois. Troca de roupa, que eu ponho os pratos.
-Jantar? Nossa, como você é
previsível...
-Disso você não pode me
acusar. É a última coisa que eu sou.
-Ontem, eu tinha feito o
mesmo. Você preferiu “jantar” com o Abílio.
-Não vamos falar disso, por
favor.
-Em algum momento, nós vamos
ter que falar desse assunto.
-Às vezes, penso que você só
toca nesse tema pra me irritar.
-O que eu exijo é que você me
dê explicações sobre essas mortes que sempre estão relacionadas a você.
-Giovanna, isso é uma
armação. Eu não faço ideia de quem possa estar por trás disso, mas...
-A questão, Bruno, não é quem
fez, e sim o que você seria capaz de fazer.
-Não... Você não pode pensar
isso de mim.
-Me diz que, em nenhum momento,
você chegou a contribuir com isso. Porque essa estória de que o Abílio “tava”
com medo de contar o que sabia, sobre o golpe dado pelo instituto, é que você
tentou acalmá-lo é mentira. “Tá” mais do que na cara!
-OK. Quer que eu fale? Pois
muito bem. O Abílio encontrou provas que mostravam que alguém que trabalha no
instituto desviava dinheiro das remessas que o Governo Federal nos mandava.
-Obviamente, o suspeito era
você.
-Abílio não disse claramente
que desconfiava de mim, mas ficou de segredinho com o Plínio. Claro que isso
despertou a minha atenção. Imaginei que o Plínio teria pedido sigilo sobre o
que o Abílio tinha descoberto, mas decidi ir atrás dele.
-Na noite do jantar? Da análise
de relatórios?
-Foi, justamente ontem.
-Enquanto isso, o Plínio leva
o filho caçula ao hospital. Ao invés de acompanhá-lo, você preferiu aterrorizar
o Abílio.
-O que eu queria é que ele
confiasse em mim e contasse o que sabia. Eu sou um funcionário como outro qualquer.
-Bruno... Tem uma coisa que você precisa
saber. E eu espero, do fundo do meu coração, que o que vou dizer agora te
impeça de continuar fazendo besteira.
-Giovanna, não me dê outra
notícia ruim.
-Depende do ponto de vista.
-Tudo bem- respira fundo- Que
forninho você quer que eu segure?- ironiza o tom dramático da esposa.
-Nós dois... Eu e você...
-Hum?
-Nós vamos ter um filho. Você
não vai dizer nada, Bruno?
|||||
William está no quarto,
sentado em frente ao computador, e Plínio o observa.
-Tudo bem, filho?
-Tudo. O que foi que houve? Passei no seu
quarto de madrugada e o senhor não “tava”.
-Problemas com o seu irmão,
como de costume.
-De novo?
-A coisa foi séria mesmo. Mas
eu não quero falar disso.
-Pai, promete que não vai
brigar comigo?
-O que você fez? Você nunca
faz nada de mau, nem tem porque eu perguntar isso.
-Eu “tava” olhando os álbuns
de fotos, do tempo que a mamãe “tava” viva, que eu era pequeno, sabe?
-Sei.
-Eu vi um diário. O diário dela.
-Você abriu?
-Abri.
-Certo... E o que foi que você leu?
-Só a parte que ela disse que
a sua ex-mulher, a que era a mãe do Bruno, viu vocês dois juntos e saiu
correndo. A minha mãe conhecia a mãe do Bruno?
-Por que essa pergunta?
-Porque ela disse que o
senhor queria ser acertar com ela. Eu fiquei sem entender.
-William, eu tenho, durante
todos esses anos, tentado evitar que a verdade aparecesse pra você. Mas já que
você me indagou a respeito, eu acho melhor falar.
-Falar o quê, pai?
-Quando eu conheci a sua mãe,
ela era solteira, e eu ainda era casado com a mãe do Bruno.
-Mas como vocês se
conheceram?
-Uma vez, eu saí com uns amigos
do trabalho e fomos pro bar. Foi aí que eu conheci a Letícia. Começamos a
conversar e sempre, sem que eu marcasse, eu acabava esbarrando com ela no bar.
-E a mãe do Bruno? Quando ela
conheceu a minha mãe?
-Conheceu no dia em que ela
sofreu aquele acidente de helicóptero e faleceu.
-E vocês dois, o senhor e a
minha mãe, “tavam” no seu quarto?
-Foi, William.
-Vocês eram amantes? É por
isso que o Bruno não gosta de mim? Porque a minha mãe era sua amante? Foi por
causa disso que a mãe dele morreu? Porque pegou vocês dois juntos?- as
indagações do garoto vêm com lágrimas nos olhos, e Plínio sente vontade de
desistir da conversa.
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