Leandro e Iago chegam à porta
da casa de Valentina. Diversos vizinhos, aflitos com o incêndio, veem o marido
da dona de casa e avisam, entre si, sobre a sua chegada. O rapaz vê que a porta
da frente está trancada.
-Liga pro 193, Iago!- pede
Leandro, enquanto tira a chave.
-Não sei o que é! “Tá” sem
sinal, Leandro!
-Droga! Eu vou ter que
resolver isso- destranca a porta.
-O que você vai fazer? É muito
arriscado, você pode morrer lá dentro!
-Antes eu do que a minha
mulher!- entra na casa.
-Leandro, espera!- Iago tenta
impedir o amigo, mas Leandro sobe às escadas.
-Socorro! Socorro!- a voz de
Valentina vai ficando ofegante com o acúmulo de fumaça.
-Valentina! Valentina! Você “tá”
aí?- Leandro se aproxima das chamas do corredor!
-Leandro, me ajuda! Me trancaram
no quarto! Socorro!
Rapidamente, o delegado tira
o paletó e segura com ele a chave do quarto do casal. Iago tenta chamar o Corpo
de Bombeiros novamente. Ao entrar, Leandro encontra Valentina caída no chão, e
tossindo devido à inalação da fumaça.
-Meu amor, vem comigo! Vem
rápido!
-Foi ele, Leandro! Ele quis
acabar comigo...
-Calma, a gente tem que sair
daqui! Confia em mim!- Valentina segura no pescoço do marido e ambos descem às
escadas correndo. Algumas pessoas que moram nos arredores tentam apagar o fogo
jogando baldes com água, enquanto os bombeiros não chegam. Leandro a leva até a
calçada, onde está Iago, com o celular em mãos.
-Você “tá” bem? “Tá” tudo bem
com você?
-Foi ele, Iago! Eu tenho
certeza!
-O Bruno?
-Ele sabe que ninguém ia
procurar ele aqui. Veio pra acabar comigo, porque eu denunciei ele pela morte
da Virna! Só pode ter sido ele. Eu quero ir pra delegacia agora, vou prestar
outra queixa contra esse assassino desgraçado! Já não basta o que ele fez com a
mulher e o filho dele, além da minha irmã?
-Primeiro, você tem que ir ao
hospital. Tem que ser atendida por um médico...
-Eu não quero saber de
médico, Leandro! Daqui a pouco, esse miserável aparece de novo, e sabe lá o que
ele vai fazer!
-Leandro “tá” certo,
Valentina. Deixa um médico te examinar,
e depois você nos procura pra formalizar a queixa. Isso vai fazer com que a
mídia toda fique alerta pra achar o Bruno. Mas você tem que ser examinada
antes.
-Tudo bem. Me leva pro
hospital, Leandro- diz em meio a acesso de tosse, decepcionada por não ir
imediatamente à delegacia.
|||||
No escritório da mansão,
Noêmia serve um copo de suco para Plínio.
-E o William?
-Jogando videogame.
-Não comentou nada sobre a
mãe dele?
-Por quê? Voltou a mexer no
diário?
-Sim. No dia que Bruno fugiu,
ele tentou lê-lo. Por sorte, eu o peguei a tempo de não ver o que não devia.
-Me desculpe, patrão, mas...
Por que o senhor não se desfaz desse diário? Não acrescenta em nada, e ainda
pode causar uma briga entre vocês- Plínio tenta levantar o copo, mas não
consegue.
-Apesar da forma como
terminou o nosso casamento, Letícia não deixou de ser a mulher que eu mais amei
na vida.
-Mas o senhor não pode deixar
que isso se reflita na forma como trata os seus filhos. Não pode amar o William
desprezando o Bruno.
-Depois das falhas tentativas
de aproximação, eu acho até bom Bruno e eu não sermos tão próximos. Fico em
pânico só de me lembrar das coisas que ele fez. Se não fez, não deixa de ser
capaz de fazer- Plínio levanta o copo com muita dificuldade, para o espanto de
Noêmia.
Em seguida, o arqueólogo deixa
o copo cair.
-Eu vou trazer outro.
-Sim, por favor.
-Não é a primeira vez que
isso acontece.
-Pois é. Venho sentindo essa dormência
nos músculos. Às vezes, parece que minha energia paralisa.
-Noutro dia, foi uma tontura.
Quase não saiu pra trabalhar.
-Uma indisposição, nada mais.
Não é motivo pra colocar meu nome no obituário- ironiza.
-Quando é que o senhor vai
procurar um médico? Pra marcar uma consulta?
-Desde quando homem procura
médico pra se consultar, Noêmia?
-Tudo bem. O senhor é quem sabe.
-Nenhuma palavra disso com
ninguém. Eu não quero preocupar o William, ainda mais agora com esse problema
do irmão dele.
-Está bem, doutor. Vou pedir
à empregada pra preparar outro suco... E limpar essa sujeira. Com licença.
Plínio fica apreensivo com o
que acaba de ocorrer.
-O que será que eu tenho?
|||||
No dia seguinte, o padre Felipe
Verdelho compra uma edição da “Gazeta de Alagoas”. Para pra lê-lo ainda na banca,
quando se depara com uma notícia, ao fim da primeira página.
-Incêndio relacionado a
Reinchenbach: testemunha de acusação do assassinato de Virna Viana é vítima de um
incêndio em sua casa, ontem pela manhã. Bruno Reinchenbach, ainda foragido da
justiça, foi apontado como suspeito do crime.
-Bruno? Ontem pela manhã? Então,
quer dizer que ele estava certo? Alguém está tentando incriminá-lo...
|||||
Poucos minutos depois, Bruno
está saindo da igreja. Felipe o encontra em pé.
-O que pensa que está
fazendo?
-Depois de tudo o que eu
falei, não tem sentido eu continuar hospedado aqui.
-Você ainda não está se
sentindo bem...
-Putz... O que isso te
interessa, padreco? Não é você que ficou chocado com tudo o que eu contei?
Pouco importa se eu “tô” bem ou não. Aqui, eu não posso ficar mais.
-Então, é melhor você dar uma
olhada nisso. Olha. No fim da página.
-Incêndio relacionado a
Reinchenbach: testemunha de acusação do assassinato de Virna Viana é vítima de um
incêndio em sua casa, ontem pela manhã. Bruno Reinchenbach, ainda foragido da
justiça, foi apontado como suspeito do crime.
-Eu não “tô” acreditando
nisso...
-Ontem, você estava sob meus
cuidados, debilitado, ardendo em febre e, hoje você é suspeito de ter tentado
matar essa tal de Valentina num incêndio.
-Mentira dessa infeliz!
-Modere suas palavras, você
está numa casa sagrada! Eu sei que é mentira, mas ninguém mais sabe além de
mim.
-Tudo bem, desculpe. O que eu
faço, então? Aqui, eu não posso ficar, e também não posso procurar minha mulher
porque seria detido.
-Quem disse que não pode
ficar? Eu, muitas vezes, pedi um sinal que me mostrasse se deveria manter você
aqui. Está na sua mão- aponta para o jornal.
-Padre, tem certeza do que “tá”
fazendo?
-Você vai ficar aqui o tempo
que precisar. Até conseguir provar a sua inocência, ficará sobre a minha
proteção.
-Pra ser sincero... Eu não
tenho como agradecer... É a primeira vez que alguém tenta me ajudar.
-É comum ao ser humano se
sentir suficiente. O seu caso, meu querido. Mas eu vou mantê-lo aqui até que as
coisas se esclareçam. Só não volte agora. Sinto que essa estória do incêndio é
uma armadilha pra te pegar.
-Claro que foi! Da Valentina!
Assim como ela fez com o Abílio... E...
-E o quê?
-A minha mulher caiu da
escada porque eu disparei... Através de um revólver que estava na sala da minha
casa. Jogado no sofá...
-O revólver do bandido.
-Não, ele estava com outro.
Como aquela arma foi parar lá?
-Outra armação, com certeza.
-Isso quer dizer que eu não
sou o culpado pela morte do meu filho.
-Se você não tinha porte, a
polícia não vai querer saber de quem era a arma. O delito continua sendo seu.
-Mas tem algo por trás disso
também. Como essa cilada do incêndio.
-Só espero que você não faça
eu me arrepender de te abrigar aqui. Confesso que estou fazendo tudo isso sem
conseguir enxergar quem você é de verdade.
-Isso é o que os padres
chamam de fé: enxergar no escuro. Mas não se preocupe. Todos vão descobrir quem
eu sou de verdade, incluindo o senhor.
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