15/04/2015

LEVE-ME DAQUI/ CAPÍTULO 15: NAS ÁGUAS DO OCEANO ATLÂNTICO



Sozinho, Juliano está fazendo um lanche nas areias da praia, que fica perto do prédio em construção onde trabalha com Cícero. Quer dizer, não totalmente sozinho. De longe, ele é vigiado pelo pai e pelo irmão, que conversam sobre as afirmações que ele fez após escutar Lívia.
-Você quer que eu fale com ele?
-Tenta sondar um pouco, mas só se ele insistir muito nessa estória.
-Você não acredita em nada do que ele disse?
-Painho, nem tem como. Lívia era metida, achava que era mais que todo mundo... Aí vem pedir ajuda logo pra Juliano, que ela ignorava? E ainda mais do jeito que tá?
-Toni, não foi só isso que ele falou. Ele disse que aquela menina foi estuprada, isso é muito sério...
-Eu sei, eu sei, e é por isso que eu tô te pedindo pra ficar de olhar em Juliano. Isso de ficar escutando voz não é normal, de dar atenção pra alguém que não consegue nem abrir os olhos.
-Vou avisar à sua mãe...
-Não. Por favor, não conta nada pra Mainha. Ela pode se preocupar à toa.
-E você não tá preocupado com seu irmão, Toni?
-Tô.
-Mas afinal de contas, você tem medo de quê?
-A gente não sabe quem é o pai do filho da Lívia, como que ela ficou grávida, quem deu esse remédio pra ela tomar, onde ela conseguiu. Se Juliano for atrás dessa estória, ele pode se dar mal.
-Olha, no trabalho, eu posso ficar de olho nele... Mas a verdade é que ele se dá melhor com você. Juliano sempre foi muito fechado, e a gente nunca tentou contrariar isso. Se ele insistir, só você que pode pôr um freio no teu irmão. Faz ele desistir de inventar isso aos poucos. Juliano não é de mentir, e não vai fazer isso agora.

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Ainda bastante abatida, Heloísa está voltando da venda, sem coragem de encarar os vizinhos. Encontra um carro da Polícia Civil na porta de sua residência.
-Bom dia?
-Bom dia. Eu estou procurando Heloísa dos Santos Figueira. Me disseram que ela mora nessa casa, mas ninguém atende.
-Sou eu. Fui comprar umas coisas na esquina. Quem é o senhor?
-Muito prazer. Eu sou Salviano Paranhos, delegado.
-Prazer... O que o senhor quer comigo?
-Eu recebi uma denúncia feita pelo doutor Rafael Duarte Tosak, que está cuidando de sua filha, Lívia. Ele disse que sua filha está internada em estado grave por conta de uma hemorragia.
-Pois é. Em coma. Mas por que o senhor veio aqui?
-Como a senhora deve saber, aborto é proibido por lei. Estamos tentando averiguar o que levou sua filha a querer tirar o bebê.
-Acho que foi medo. Eu sempre fui muito amiga, muito conselheira de Lívia e... Ela sabia que eu não ia perdoar se me aparecesse aqui grávida. Ainda mais porque ela não sabe nem que é o pai.
-Pelo visto, a senhora também não faz ideia.
-Pois é. E não foi da boca dela que eu ouvi a verdade.
-E de quem foi, então?
-De uma amiga de Lívia, uma moça chamada Karen. Assim que eu soube da gravidez, coloquei ela contra a parede, e ela me contou que minha filha... Enfim, o senhor entende.
-Mas tem uma coisa que interessa pra polícia: quem foi que forneceu o LMD, o abortivo que colocou sua filha entre a vida e a morte?
-Não sei, não, senhor. Se quiser mais informação, só mesmo perguntando à menina que eu lhe falei, a Karen.
-Tem como a senhora me dar o endereço dessa moça?

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Rafael e Patrícia assistem à televisão na sala, até que Danilo chega, radiante.
-Podem pedir champanhe. Hoje é noite de comemoração.
-O que foi que houve, filho?
-Resolvi dar um jeito na minha vida, Pai. No próximo semestre, eu volto pro meu curso.
-Que maravilha, meu filho... E essa atitude, tem algum motivo especial?- Patrícia pergunta, ansiosa demasiadamente.
-Tem: a Karen. Nós dois voltamos.
-Fico feliz por isso, meu filho. Muito feliz por você.
-Viu só? Agora não tem mais motivo pro senhor não confiar em mim. Eu mudei, Dr. Rafael. E vou retribuir tudo de bom que você fez a vida toda, Pai.
Emocionado, Rafael dá um abraço no jovem. O plano de estabilidade montado por Patrícia dá certo...

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Só que Lívia continua sem entender o porquê de estar vivendo uma experiência de quase morte. Tampouco que Karen tenha protegido Danilo descaradamente. Mas ao olhar seu corpo, esperando que ele reaja de alguma forma, a consciência da estudante de Jornalismo traz à tona uma conversa que teve com sua ex-amiga no dia em que Toni a socorreu.

-Agora que você tá mais calma... Pensou no que pode fazer?
-Continuo sem saber, Karen. Tô me sentindo sozinha, perdida.
-Não é pra menos, Lívia, mas...
-Mas o quê?
-Eu acho melhor você contar a verdade pro Danilo.
-Isso não!
-Ele tem o direito de saber, é pai dessa criança...
-Não! Eu não queria ter nada dele, nada que me lembre o rosto daquele monstro, daquele desgraçado, nojento...
-Mas tem, Lívia. Já pensou se essa criança nasce? Toda vez que você bater o olho nela, é o cafajeste do Danilo que vai estar vendo.
-Como é que eu faço, então, Karen?
-Lívia... Eu sei que o que eu vou te falar é difícil, pode até nem me perdoar por te dizer isso, mas...
-Fala, Karen! Pelo amor de Deus!
-Se você não quer contar pro Danilo que você tá grávida, e não vai dizer dessa gravidez pra Dona Heloísa, eu só vejo uma saída.
-Que saída?
-Tira esse bebê. Tira esse bebê, Lívia, e você enterra essa estória do Danilo de uma vez por todas.

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